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segunda-feira, 9 de maio de 2016

O LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR - Bibliografia utilizada no 2º bimestre

Bom dia, pessoal!

No 2º bimestre, entre outros conteúdos, trabalharemos "O livro negro do açúcar".
Este livro pode ser encontrado AQUI. Leiam até o capítulo "Açúcar causa dependência".

Autor de O livro negro do açúcar, o historiador Fernando Carvalho começou a pesquisar o tema há dez anos quando descobriu que tinha diabetes. Desde então, vem percebendo como o açúcar é encarado na sociedade e qual a verdadeira face dessa substância. "Para mim, o açúcar responde pela atual era de doenças crônicas porque ele agride o organismo de diversas formas sistêmicas: ao fazer funcionar irregularmente a produção de insulina, agride o metabolismo que é o processo de construção e manutenção do nosso corpo. Levando isso em consideração, fazer uso de uma ração açucarada é o mesmo que tentar construir um edifício com cimento adulterado", explicou ele durante a entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line.

Fernando Carvalho é graduado em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Integrou o conselho editorial da revista Presença e, como cartunista amador, publicou alguns trabalhos no PasquimO livro negro do açúcar foi escrito em 2009 e está disponível em PDF na internet. Em 2011, a obra foi reeditada sob o título Açúcar: o perigo doce (São Paulo: Ed. Alaúde, 2011).

ENTREVISTA COM O AUTOR 
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Fernando Carvalho
Rua Santa Clara, 86/304 Copacabana. Cep 22041-010. Rio de Janeiro
Fone: (21) 2548-3841
E-mail: ferdo@oi.com.br
O LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR

Algumas verdades sobre a indústria da doença

O APOGEU DA CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR
A DIETA AÇUCARADA MODERNA
A ERA DAS DOENÇAS CRÔNICAS E DEGENERATIVAS
OBESIDADE MÓRBIDA E GORDURA SAUDÁVEL
AS MULHERES, OS MÉDICOS, OS JUDEUS E O AÇÚCAR
O MOVIMENTO AÇÚCAR ZERO
GAÚCHOS DERROTAM A DITADURA DO AÇÚCAR
2006
Rio de Janeiro
copyright by Fernando Antonio Carneiro de Carvalho
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Dedicado in memoriam a William Dufty
e Robert Atkins.
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Um comia
basicamente arroz integral, o outro
carnes e gorduras. Ambos sabiam o
nome do verdadeiro veneno da dieta do
homem contemporâneo.
-Açúcar?
Polidoro recusou. Balinho, indiferente,
encheu-lhe a xícara de açúcar, fazendo
mossa da recomendação.
- Vai fazer bem. É indicado para
emoções fortes.
Do romance A Doce Canção de Caetana de
Nélida Piñon
Se o açúcar fosse denunciado dos
púlpitos científicos como um pecado,
essa atitude comprometeria seriamente
uma cultura industrial que se sustenta
mutuamente, de alimentos e
medicamentos.
Robert Atkins
A moderna fabricação do açúcar nos
trouxe doenças inteiramente novas. O
açúcar nada mais é do que um ácido
cristalizado que está provocando a
degeneração dos seres humanos e é hora
de insistir num esclarecimento geral.
Robert Boisler
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As mais avançadas fontes de saúde,
graças a uma misteriosa distorção,
tornaram-se fontes de penúria.
Karl Marx
O maior consumo mundial do açúcar não parece vir resultando de uma
pura pressão econômica de consumo sobre produção. E sim, também,
de facilidades tecnológicas para a transformação do simples açúcar em
regalos industrializados. O papel desempenhado pelo anúncio nesse
aumento de consumo é considerável. As técnicas de comunicação, de
persuasão, de propaganda não se apresentam como simples servas de
interesses econômicos, mas também como expressões de outros afãs no
sentido da dominação de massas por grupos que se vêm constituindo
em novas formas de poder.
Gilberto Freyre
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Em 1984, George Orwell revela-nos o retrato
de um mundo tétrico no qual todos são vigiados
sem o pedido cínico de um sorriso pelo fato de
estarem sendo filmados.
Quem vigiava e controlava até mesmo o
pensamento era o Big Brother, espécie de George
W. Bush e Idi Amin Dada numa só pessoa com o
poder total nas mãos.
O cenário sinistro da distopia orwelliana
pouco fica a dever ao mundo capitalista de hoje
em guerra com o terrorismo que ele mesmo
engendrou.
No tempo do BigBrother os lemas do Partido
eram:
Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força.
Inspirado no mundo em que vivemos eu
acrescentaria:
Dulçor é morte. _______________________________________________________________________________

Agradecimentos
Agradeço primeiramente a meus pais, o ferroviário Plácido Carvalho in memoriam e à
doceira dona Ivonete que hoje só faz para mim doces com adoçante; a minha amiga Márcia
Ribeiro que ajudou a por o livro em pé; a Marcello Anelhi, que levou os primeiros originais
para o computador , o Marcello é um que riscou o açúcar de sua dieta e deixou para trás 20
quilos de gordura; a Aliedo pelas ilustrações; a Rafaela Capibaribe pela fotografia; ao
jornalista José Gorayeb pelo copidesque; ao poeta Alexei Bueno pela revisão; ao doutor
Sérgio Puppin pelo prefácio; às pessoas que leram os originais: Mônica Caire, Sérgio de
Vasconcellos, Lisiane e a brizolista dona Iracema; os atkinianos Flávio Terra e Thereza
Macruz; Maria Helena Imbassaí; meus irmãos Paulo e Jorge, a psicóloga Raquel Staerke;
minha dentista Karinny Figueiredo; e aos amigos que formam uma espécie de torcida que
me ajudou com estímulos, cobrança e também sugestões bibliográficas: o pintor Antonio
Santos da Silva, a historiadora Jordana Ribeiro Urquiza, a festeira Leila Oliveira, o personal
Léo; os livreiros Sérgio Calvoso, Francisco Olivar, Pimentel, Cláudia Stumpf e Alberto; o
artista popular Raimundo Parabelum; o sociólogo Thomas Weiss; o comerciante Geraldo
Filgueiras; o violonista Oldemário Carneiro da Cunha; o baterista Luiz Carlos Figueiredo; o
aposentado João Baptista; o ator Guilherme Nogueira; o poeta e cantor Anísio Vieira, a
saxofonista Suly, o encadernador Nina; o orientalista Jesualdo Corrêa; Mário Saldanha - o
homem livro; o gastrônomo Carlos Ditadi; Lila, Marcos e Erick; e finalmente agradeço aos
traficantes de açúcar: não fosse eu uma vítima da dieta açucarada moderna, não teria
escrito este livro.
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PREFÁCIO
Açúcar, o doce amargo.
SÉRGIO PUPPIN
A Humanidade evoluiu durante milhares de anos nutrindo-se dos alimentos que a
natureza lhe oferecia.
E quais foram os alimentos responsáveis por nossa evolução através dos tempos?
Simplesmente aqueles que estavam ao alcance da mão: frutas, raízes, frutos do mar, aves,
ovos, carnes em geral, gorduras e leite. O homem depois de descobrir que alimentos
lavados na água do mar ganhavam um sabor especial, incorporou o sal à sua dieta. Em
contrapartida, verificou que o mel conferia um sabor doce aos alimentos - e este passou a
ser o seu adoçante. E assim, como temperos e condimentos, o homem foi selecionando
gradualmente o que hoje se tornou requinte nas melhores cozinhas do mundo.
Apesar de na Antigüidade a vida média das pessoas ser menor, devido às duras
condições de existência, muitas das doenças que atualmente são quase epidêmicas, naquele
tempo eram menos freqüentes, dentre elas as doenças cardiovasculares e o próprio câncer.
Há menos de dez mil anos o homem dominou o cultivo das sementes, dando início
à agricultura moderna. Há menos de mil anos conseguiu extrair o açúcar da natureza e há
pouco mais de 400 anos praticamente universalizou seu consumo. Certamente este foi um
dos principais fatores da disseminação da obesidade, do diabetes e outras doenças crônicas.
Atualmente a bioquímica humana revela que o coração é dependente de gorduras,
proteínas, vitaminas e sais minerais, mas de nem um miligrama sequer de açúcar. Por outro
lado o cérebro necessita da glicose proveniente dos alimentos. Por que então não ingerir
grandes quantidades de açúcar para nutrir nosso cérebro? A glicose, leia-se o açúcar dos
alimentos, não faz mal à saúde. O problema está no açúcar refinado. Durante o refino ,
inúmeros produtos químicos são utilizados para que o veneno doce fique branco, bem
solto e bonito. Nesta hora, as fibras, os sais minerais, as proteínas e demais nutrientes são
eliminados e o que sobra é um produto químico que é apenas calorias vazias. Afora isso, o
consumo de açúcar produz um estado de superacidez que desmineraliza o organismo. O
corpo então passa a ter falta de cálcio, magnésio, zinco, cobre e selênio, dentre outros
nutrientes.
A sacarose é constituída de duas moléculas, uma de glicose e outra de frutose. A
glicose que o açúcar refinado fornece à dieta é supérflua e nociva; a frutose, por sua vez, é a
matéria-prima para formar colesterol. Assim, o açúcar refinado contribui duplamente para
elevar o colesterol, já que a glicose estimula a produção de insulina e esta sinaliza para
maior produção de colesterol pelo fígado.
Para aqueles que consideram o colesterol um verdadeiro assassino culpado pelas
doenças cardiovasculares, lembro que tanto a hiperinsulinemia quanto a hiperglicemia
fenômenos exacerbados pelo consumo de açúcar - são fatores maléficos mais importantes
do que o colesterol. Por isso há uma tendência entre os médicos a recomendar taxas de
glicose abaixo de 100 mg/dl e de insulina inferiores a 8 moUI/ml.
O culto do açúcar se inicia ainda nos primeiros dias de vida, quando as mamães
mergulham as chupetas no açucareiro para acalmar os bebês e evitar que chorem. E
continua ao longo da infância sendo estimulado pelos pais que oferecem doces e balas aos
seus filhos, como presentes e prêmios. Sem contar com a televisão, que nos bombardeia
com anúncios sedutores para induzir-nos a consumir esse doce que nos mata.
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Tornar-se escravo dele é muito fácil, pois sua absorção é extremamente rápida, logo
alcançando o cérebro, onde juntamente com a insulina libera triptofano, que se converte
em serotonina, a qual tem ação tranqüilizante. Por isso é que quando uma pessoa está
nervosa logo se oferece um copo de água com açúcar, que acalma .
Este O LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR dá continuidade à luta iniciada com a obra
Sugar blues de William Dufty. Fernando Carvalho, porém, atualiza e confere mais
consistência e dureza à crítica do açúcar feita pelo autor americano. Escrita num estilo
franco e corajoso ela é um verdadeiro desafio aos homens e instituições responsáveis pela
saúde pública em nosso país.
De forma didática, às vezes um tanto menos doce , mas com um toque de humor,
o autor expõe a saga do açúcar desde seu advento na história, e sua evolução através dos
tempos; mostra como o açúcar hoje impregna e encontra-se oculto nos mais diversos
produtos, sobretudo nos alimentos industrializados. Seu livro é um verdadeiro eu acuso! ,
um alerta para as conseqüências desastrosas dessa situação. Fernando Carvalho defende a
tese de que o açúcar, apenas ele, é o aditivo químico responsável pelo caráter patogênico da
dieta humana e propõe, nada menos, que ele seja abolido da mesa com açucareiro e tudo .
Parte da comunidade médico-científica e dos profissionais de saúde será tomada de
surpresa.
Fruto de um trabalho de pesquisa bem documentado, o alvo deste livro é o público
em geral, mas tenho a certeza de que sua leitura proporcionará mesmo aos médicos e
nutricionistas importantes esclarecimentos. Uma obra que efetivamente contribuirá para
SALVAR MUITAS VIDAS!
Sérgio Puppin, cardiologista e nutrólogo, é professor do Curso de Geriatria
e Gerontologia da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, membro da
Academia de Ciências de Nova York e autor dos livros Doenças cardiovasculares,
verdades e mitos e Ovo, o mito do colesterol.
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ÍNDICE
Apresentação 13
Onde foi que eu errei ? 15
NO PRINCÍPIO ERA O AÇÚCAR
A revolução, a ditadura e a civilização do açúcar 17
O conceito de alimento 19
Alimento versus calorias 21
A teoria dos açúcares 22
Açúcar não é açúcar: o simples e o complicado 23
A diferença entre o do açucareiro e o das frutas 25
Os açúcares do açucareiro 26
A frutose 27
Pureza e perigo 27
O excesso de açúcar 28
DAS DIETAS
A guerra das dietas 29
A dieta patogênica 30
Dieta hipocalórica 33
O elogio da gordura e do colesterol 34
O sal e o açúcar na mesa 36
Sal Assassino? 37
Olfato e paladar 38
Calorias negativas 39
Açúcar e álcool 39
Dos adoçantes 40
PEGANDO PESADO
O green card do açúcar 41
Alimento ou veneno de rato? A toxicologia do açúcar 43
O lixo químico fino do açúcar 44
Alimento ou explosivo? Bombas de açúcar 46
Açúcar e cárie dentária: a paranóia e a parafernália 47
Açúcar causa dependência 51
Açúcar e câncer 52
Açúcar, obesidade e diabete 53
Açúcar e crime I e II 54
Açúcar e lavagem cerebral 55
A EXPANSÃO DO IMPÉRIO DO AÇÚCAR
A magia do açúcar 56
O pão nosso que o diabo amassou 56
Chocolate com pimenta 57
O leite da moça 59
Cerveja com açúcar 60
Barriga de cerveja 61
Vinho com açúcar 62
Açúcar para cachorro 63
Picadinho açucarado 64
A DITADURA EM AÇÃO
Falsificação de sucos de frutas 66
A indústria da doença e a ciência 67
A ditadura do açúcar e o aspartame 68
A TROPA DE CHOQUE DO AÇÚCAR
O nutrólogo da Universidade de Harvard 69
O químico da Universidade de Pittsburg 70
O médico brasileiro 71
Os três mosqueteiros australianos 73
A DITADURA EM FLAGRANTE
The New Sugar 75
A Ingestão Diária Recomendável de açúcar 76
Crítica da análise das recomendações médicas sobre o açúcar 76
O Ministério Público e o açúcar 78
Parecer do Conselho Federal de Nutricionistas 79
A Organização Mundial de Saúde e o açúcar 83
Tio Sam entra na briga 84
A doce aliança (Lula, Bush, Fidel) 85
O teor de açúcar dos alimentos 86
Do fome zero ao açúcar zero 88
2000 calorias e Governo de açúcar 89
O subversivo da cesta básica 90
Maçã com açúcar 90
Café na merenda 91
DOCE ENCICLOPÉDIA
Diabete e guerra 91
Índio quer açúcar 92
Gandhi e o açúcar 92
Índia desdentada 93
Micropatriologia 93
Os judeus e o açúcar 93
Eça... é de Queirós 94
Carvão e Diamante de açúcar 95
Plástico de açúcar 95
Mais doce que açúcar 95
Espíritos e açúcar 96
Açúcar nas formigas 96
AS MULHERES E O AÇÚCAR
Celulite, Estrias 97
Enxaqueca 97
Endometriose 98
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Menopausa, Menstruação e TPM 98
Pré-Eclâmpsia, Picamalacia 99
Diabete gestacional 100
Bebê balofo 101
Rugas de açúcar 101
A luta para largar o açúcar 102
Supermercado o templo da perdição 103
MEDICINA E AÇÚCAR
Os médicos e o açúcar 105
O vertiginoso amigo do Dr. Fukuda 107
A vida ou a morte do bebê? 109
Açúcar e gastroenterologia 110
A ecologia clínica 111
O Dr. Joslin e o açúcar 112
DIABETANDO
Anamnésia 113
Teste de tolerância à glicose 113
Açúcar e radicais livres 115
A gênese dos bonecos de açúcar 115
Teoria geral do diabetes 118
Pau de açúcar 120
Angola é aqui 121
Estreptozotocina e açúcar 121
Os ratos diabéticos 121
Diabetologia ontem e hoje 122
CLÍNICA GERAL
Açúcar e candidíase 123
Açúcar e memória 124
Açúcar e sistema imunológico 124
Açúcar e doenças 125
Açúcar e mau colesterol 125
Açúcar antibiótico 126
Açúcar e folclore medicinal 126
Crime caseiro 126
Açúcar e cromo 126
O sedentário, o obeso; o tranqüilo e o gordinho 127
Atividade física e açúcar 127
Corra e morra mais rápido 128
Obesidade nos Estados Unidos 129
Açúcar pela contra mão 130
GUERRA AO AÇÚCAR
Paulada na ADA 131
As mentiras da Coca-Cola 132
Açúcar na mídia 134
William Dufty responde 136
Programas de Saúde 139
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Açúcar nos dicionários e enciclopédias 140
A RESISTÊNCIA À DITADURA
Sugar Blues 144
O fator homocisteína 144
A dieta revolucionária 145
O episódio Waerland 146
Hebert M. Shelton 147
Fordismo nutricional 147
Alimentação dissociada do Dr. Hay 147
Os adventistas do sétimo dia 148
Os naturalistas 149
Os macrobióticos 150
Alimentos ácidos e alcalinos 150
Gaúchos derrotam a ditadura do açúcar 151
Ciência ocidental e sabedoria oriental 152
EPÍLOGO
Aonde se esconde o açúcar 153
Doce holocausto 156
O custo humano e ecológico do açúcar 157
ANEXOS
Doce glossário 160
146 ways sugar can ruin your health 165
Bibliografia 175
Sobre o autor 177
Contracapa 177
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APRESENTAÇÃO
Este trabalho pretende dar continuidade, em novo patamar, à luta simbolizada pelo
livro Sugar blues, de William Dufty, falecido em 28 de junho de 2002 com 86 anos em
Birmingham, Estado de Michigan, Estados Unidos. Eu tinha esperança de que ele chegasse
a conhecer o desdobramento que seu livro inspirou em condições tropicais. Já havia um
rebento primogênito, o Sem açúcar, com afeto de Sônia Hirsch.
O livro de Dufty, por sua vez, foi publicado na esteira de outros tantos como o
pioneiro Body, mind and sugar de Pezet & Abrahamson; The sweet malefactor, de W. Aykroyd;
Saccharine disease de T. L. Cleaver; Low bloody sugar and you, de Frederick & Godman, e Sweet
and dangerous de John Yudkin. Nenhum deles foi traduzido para o vernáculo.
Sugar blues, no entanto, se destacou como o mais famoso libelo sobre o açúcar.
Apareceu nos Estados Unidos em 1975; a edição brasileira é de 1978. Hoje o livro anda
meio esquecido, além de marcado pela passagem do tempo. Conheço gente bem informada
que o ignora; portanto creio oportuna a edição deste, que pretende, humildemente, ser o mais
formidável dossiê jamais escrito sobre o açúcar.
Aqui há informações que são, eu diria, surpreendentes mesmo para quem leu o
Sugar blues. Por exemplo, sobre a toxicologia ou as propriedades explosivas do habitante do
açucareiro.
O tratamento que dou ao tema e a maneira de expor são diferentes da utilizada por
Dufty. Amarrando o assunto há uma hipótese ou teoria geral explicativa, ausente no Sugar
blues, dando conta da revolução que o açúcar representou na história do gênero humano,
desde seu advento como uma estranha droga doce consumida pelas elites até seu atual
estatuto de novo ópio do povo que impregna quase tudo que entra pela boca do ser
humano.
Partindo desse quadro geral procuro em seguida mostrar, tomando como exemplo
produtos básicos para a humanidade como o pão, o vinho, a pizza e o molho shoyo, como
todos eles foram um a um sendo adulterados pela adição de açúcar e as conseqüências
patológicas dessa brincadeira que inaugurou uma nova era na história da humanidade - a era
das doenças crônicas, metabólicas e degenerativas.
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Desnudo aqui o grande esquema prático e teórico montado em torno do açúcar que
constitui a indústria da doença - a relação comensal estabelecida entre fabricantes de açúcar,
indústrias de alimentos e bebidas e indústria farmacêutica-; e a cortina de açúcar - o aparato
ideológico usado por todo o pessoal direta e indiretamente envolvido na propaganda e na
institucionalização da dieta açucarada moderna. Rasgando essa cortina, coloco em pratos
limpos, por exemplo, a teoria dos açúcares e desmistifico alguns conceitos muito usados
pelos profissionais da área de saúde. Confesso aqui também meu débito intelectual para
com Robert C Atkins, o mercador de gorduras da medicina oficial, autor do famoso A
Dieta Revolucionária doDr. Atkins. Ele olhou, viu e mostrou como funcionava a indústria da
doença, apenas não quis fazer uso desse conceito.
Se a humanidade quiser erradicar, como já erradicou tantas doenças infecciosas,
esse mar de doenças de etiologia desconhecida , como dizem os médicos, terá que deter o
avanço da ditadura do açúcar. Minha contribuição nessa luta começa com este livro que
pretende ser um instrumento dessa causa. Tenho certeza de que ele ajudará o povo
brasileiro a viabilizar o movimento Açúcar zero.
Movimento que parte do princípio de que o açúcar não é, como parece, um
componente natural da mesa, mas um corpo estranho nocivo que invadiu a mesa há apenas
alguns séculos, conferindo à alimentação da humanidade um caráter patogênico.
Movimento de tolerância zero em relação a esse agente causador das mais vergonhosas
epidemias que assolam a humanidade: da cárie dentária, da obesidade mórbida (sim, porque
há uma obesidade saudável, veremos isso mais adiante), das doenças cardiovasculares e do
diabetes, uma doença cada vez mais popular.
Minha maior preocupação é a reação das pessoas diante de revelações tão
escabrosas sobre um troço tão familiar quanto o açúcar. A tendência é não levar a sério.
Essa reação é motivada pelo fenômeno psicológico, que não sei se tem nome, que faz com
que as pessoas só vejam aquilo que querem ver. Porque o que faço aqui é desempenhar o
papel daquele menino da fábula - estou dizendo que o rei açúcar está nu. Preocupa-me
também a cultura da morte. Já ouvi de um adolescente que não vai deixar de curtir seu
refrigerante hoje por causa de um diabetes que só viria daqui a quarenta anos.
A leitura dos originais deste trabalho suscitou algumas críticas e como o livro ainda
não foi para o prelo tenho a oportunidade de poder respondê-las: Demonização do
açúcar . Se o açúcar fosse um alimento inocente, uma demonização dele seria factível, mas
trata-se, como veremos, de um veneno infiltrado na mesa, ou seja, um demônio travestido de
anjo. Logo, o que faço ao arrancar-lhe as asinhas postiças e a peruca está mais para uma
desanjificação ; Panfletário . Até que, em alguns momentos, assumo que usei da
veemência típica do estilo panfletário. Como dizer que estão colocando veneno na merenda
das crianças sem um mínimo de indignação? Caberia o tom fleugmático de um professor
britânico? Uma coisa este livro não é: anódino; Conspirativo . Essa crítica deve ter a ver
com o toque anticapitalista do livro que também assumo, confesso que tenho nojo desse
regime. Além do mais acho que deve ficar para o leitor o julgamento se existe ou não a
ditadura da dieta açucarada que denuncio aqui, como uma imposição dos de cima contra
nós o povo cá embaixo.
Procurei dar ao texto uma lógica de começo, meio e fim, tratei nos capítulos iniciais
de esclarecer conceitos, do advento e da expansão do açúcar na vida moderna e por fim do
que seria o movimento de resistência a essa ditadura. Mas o livro tem um quê da estrutura
de uma coletânea de tópicos e pode ser lido como uma enciclopédia. Como menciono
conceitos novos e algum vocabulário técnico, há no final do volume o Doce glossário.
Este livro é uma obra em aberto. O texto foi revisado por dois amigos meus ambos
cobras. Gorayeb trabalhou no Jornal do Brasil, no Globo e na assessoria de imprensa do
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BNDES. Alexei Bueno, dispensa apresentação. Mas eu mexi no texto até o último segundo
em que tive oportunidade. E perdi o controle das partes nas quais mexi. De modo que se
passou algum senão ortográfico a culpa é minha.
Peço ao leitor que queira acrescentar alguma informação, fazer alguma crítica etc.
que me escreva, por favor. Para tanto, os endereços estão no verso da falsa folha de rosto
Finalmente reconheço que alfinetei o tempo todo os médicos, os nutricionistas e os
químicos com base no princípio: a quem mais é dadomais lhe será cobrado. Em verdade é com
eles que eu conto para a tarefa de denunciar e combater o açúcar. Quanto ao fato de eu ter
escrito este livro sem ser médico, nutricionista ou químico, gostaria de impetrar um habeas
corpus preventivo: Para alguém receitar uma droga a outra pessoa é preciso que tenha
estudado medicina. Estou aqui apenas pedindo às pessoas que parem de consumir uma droga.
Para isso não é preciso ser médico.
Onde foi que eu errei?
Por mim eu não incluiria este tópico, pelo que contém de pessoal, mas como este
livro é conseqüência de algo que aconteceu comigo, ele se faz necessário. Prometo que
vou direto ao assunto.
Desde meus 17 anos, quando estive envolvido com esoterismo, passei a me
preocupar vagamente com alimentação. Pedia-se nos círculos esotéricos que evitássemos o
consumo de carne, especialmente a vermelha, e se fosse possível que se adotasse o
vegetarianismo. Mas como nunca fui homem de um livro só, eu sabia que os médicos
recomendavam a carne como fonte de proteínas de alto valor biológico . Também
sempre levei em consideração o fato de que a maioria da humanidade sempre comeu carne.
Fiquei no meio termo - reduzi o consumo de carne vermelha, preferindo peito de frango
sem pele e peixe. Dava preferência aos vegetais integrais e sempre gostei de leite, aveia e
frutas. Nunca fumei; aprendi a tragar e cheguei a desfilar com um maço de cigarros no
bolso da camisa quando era menino, mas chupar fumaça, e sabendo que isso faz mal, não
era comigo. Bebida alcoólica, preferencialmente cerveja ou chope, e com moderação.
Sedentário nunca fui; servi ao Exército Brasileiro na Bateria de Canhões (Bia Can) da
Fortaleza de São João, na Urca, Rio de Janeiro. O Forte fica numa encosta e para chegar à
Bia Can tinha-se que subir ladeira, o que eu fazia várias vezes ao dia, e muitas delas
carregando um fuzil de quase cinco quilos. Antes do serviço militar já havia freqüentado
uma intituição esotérica onde pratiquei ioga e lutas marciais. Depois do serviço militar
praticava cooper. Minha profissão? Apesar de formado em História e também ser cartunista
na prática tenho sido mais livreiro, dono de sebo, ou seja, um trabalhador braçal: livro pesa
muito. Em resumo, eu achava que tinha um estilo de vida saudável e bons hábitos
alimentares, e que estaria destinado a uma vida longa e com saúde.
O fato é que depois dos quarenta fui surpreendido pelo diabetes. Fiquei
estarrecido, atônito e fulo da vida: eu me cuidava e não era para ter ficado doente.
Ignorava absolutamente esse distúrbio metabólico . Para mim se o diabo fosse animador
de um programa de televisão as dançarinas seriam as diabetes. Passei a ler sobre o assunto e
cheguei, como veremos, a conclusões diferentes da diabetologia.
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Volto a fazer uma retrospectiva levando em consideração o açúcar.
Eu não sabia o que era açúcar... Para mim era um alimento como outro qualquer e
que fazia parte da mesa de um modo inteiramente natural. O saleiro tinha um pó branco
usado para salgar os alimentos e o açucareiro para adoçar; algo de estranho? Não. Diziam
que o açúcar provocava cárie, mas só para quem não escovava os dentes. Nunca estranhei o fato
de uma substância exigir escovação, fio dental, flúor, selante, etc. pelo simples fato de entrar
em contato com os dentes, o tecido mais duro do organismo. Uma idéia-clichê dizia que o
açúcar em excesso fazia mal e engordava, mas isso só deveria valer para quem tem tendência a
engordar . Quem não é sedentário e queima calorias não precisaria se preocupar com isso.
Minha mãe sempre gostou muito de açúcar; em geral ela põe tanto açúcar no que
faz que a coisa vira um melado. Quando eu era criança, ela conta, tive problemas com
absorção de leite de vaca, e um conceituado médico lá de Pernambuco receitou para mim
leite condensado, que minha mãe transformava em leite líquido adicionando água quente.
Ela diz, ainda hoje, com uma ponta de orgulho: Nandinho consumia uma lata de Leite
Moça todo dia . Coitado do meu pâncreas.
Uma vez eu reclamei que ela havia estragado uma vitamina de abacate com tanto
açúcar. Mas o máximo que eu conseguia era ofendê-la: imagine uma vitamina bem docinha
feita com amor por sua mãe. Não havia clima para reclamações.
Quando numa lanchonete pedia um suco de laranja, eu mesmo colocava açúcar e
tinha a impressão de que, de alguma forma, o suco de laranja ficara enriquecido. Além
de doce, talvez enriquecido de energia .
Influenciado pelos naturalistas, sempre evitei Coca-Cola, mais por ser um líquido
artificial. Jamais deixei de preferir um suco de fruta (com açúcar) a uma Coca, embora
estivesse cansado de ler em revistas que um copo de suco de laranja tem mais calorias que
um copo de refrigerante.
Eu não bebia refrigerantes; mas guaraná natural, acerola com laranja e mate natural...
tudo devidamente açucarado; e no verão, especialmente, bebia muito mais.
Só depois de me tornar diabético é que vim a ler o Sugar blues. Para ficar sabendo
que eu consumira muito açúcar ao longo de minha vida e que o açúcar se encontra até em
alimentos salgados. Minha bebida preferida, a cerveja, vim a descobrir que se trata de uma
água suja de açúcar e que até o vinho soi disant seco também leva açúcar.
Hoje sou tomado pela sensação de que fui enganado a vida inteira. Tivesse sido
informado sobre o que era o açúcar eu o teria evitado, riscado de minha dieta e não teria
ficado doente.
Escrevi este livro com o objetivo de alertar as pessoas quanto a esse problema.
Hoje quem fuma sabe o mal que o cigarro faz; fuma tendo consciência disso.
Conheço gente que fuma alegando que o cigarro não é nada diante das condições de vida
oferecidas pelo capitalismo contemporâneo. Penso diferente: não é porque a vida está uma
merda que vou fazer mal a mim mesmo. Além do mais, como dizia um personagem de
Eles não usam black-tie, a merda se transforma.
Com este livro pretendo somar forças ao movimento que já existe, liderado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), visando impor limites a indústria de alimentos da
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mesma maneira que faz com a indústria de cigarros. Deixo claro, porém, que o movimento
Açúcar zero é contra apenas a presença do açúcar na mesa. É ele que adicionado à dieta a
transforma numa ração patogênica. Aos fabricantes de açúcar resta o consolo de que com o
açúcar é possível se fazer muitas outras coisas, até explosivos.
Acredito que, como um primeiro passo, deve haver, como acontece com o cigarro e
o álcool, advertência do Ministério da Saúde nos rótulos dos produtos açucarados
alertando quanto aos perigos do consumo excessivo de açúcar e informando o teor de
sacarose refinada. É o mínimo que se pode fazer...
Algum filósofo libertário pode achar que isso é algo condenável, que envolve
controle e repressão por parte do Estado. Acho, porém, uma sacanagem muito maior
permitir-se que um inocente desavisado consuma um veneno pensando que se trata de
alimento.
NO PRINCÍPIO ERA O AÇÚCAR
Ver é uma ousadia. Fazer falar o que se viu ou desmistificar a cegueira alheia é ousadia dupla.
Affonso Romano de Sant´Anna
A revolução, a ditadura e a civilização do açúcar
A civilização do açúcar não foi apenas um hiato na história do Brasil - o datado e
localizado Ciclo do açúcar, com aquela sociedade, cultura, ecologia e paisagem que
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emolduravam o engenho de açúcar, tendo como núcleo duro o senhor de engenho com seu
chicote, seus capitães-do-mato e seus escravos. O que aconteceu no Brasil nos séculos XVI
e seguintes foi apenas o capítulo inicial da revolução do açúcar, um processo de vocação
histórico-universal de caráter permanente e expansivo.
A humanidade ao longo da História conheceu outras revoluções tecnológicas,
como a que instituiu a agricultura, superando o nomadismo, ou a que introduziu a
eletricidade, deixando para trás o vapor. Mas a revolução do açúcar, pouco destacada na
historiografia, ainda vai dar o que falar especialmente por causa de suas implicações
patológicas.
Essa revolução abrange a trajetória do açúcar desde seu começo como uma
estranha droga doce vinda do Oriente para consumo de reis e nobres europeus, sua
evolução para a condição de fármaco, dando corpo e sabor doce a xaropes, o posterior
avanço para a condição de especiaria apreciada pelas elites burguesas e finalmente o salto
para a mesa de refeições. Tal trajetória só foi possível graças a uma produção de açúcar que
ganhou escala cada vez maior depois que espanhóis e portugueses trouxeram para o Novo
Mundo a cultura da cana-de-açúcar.
O açúcar extraído da cana já era produzido desde a Antigüidade por indianos e
persas. Os árabes é que o apresentaram aos europeus por volta do século X como uma
especiaria exótica e caríssima. No século XIV um quilo de açúcar equivalia a dez cabeças de
gado. Poucos séculos depois os europeus já estavam fabricando açúcar na bacia do
Mediterrâneo. Quando o Brasil foi descoberto os portugueses já eram os principais
produtores de açúcar da época, faziam-no na Ilha da Madeira. Com a entrada em cena do
açúcar produzido, em larga escala, no Novo Mundo, especialmente no Brasil e nas
Antilhas, teve início o processo de açucaramento da mesa do europeu. E como se não
bastasse o açúcar de cana para encharcar a mesa da humanidade, por ocasião do Bloqueio
Continental imposto aos ingleses Napoleão Bonaparte incentivou o desenvolvimento da
tecnologia de extração do açúcar de beterraba: em decorrência disso, já em 1850 14% da
produção mundial eram de açúcar de beterraba, e na virada do século esta percentagem já
tinha saltado para 62%. Ao longo do século XX esse quadro se inverteu, passando o açúcar
de cana a ser hegemônico.
Na revolução que o uso generalizado do açúcar causou na Europa do século XVI,
o Brasil, principalmente o Nordeste, desempenhou papel importante - diz Gilberto
Freyre. Sabe-se que antes de 1500 o europeu adoçava seus alimentos e suas bebidas com
um pouco de mel: desconhecia o açúcar .1 A comilança de açúcar na Europa foi
lentamente aumentando ao longo do século XVI. O século XVII marca um grande
aumento do consumo de açúcar, sobretudo depois que a população começou a consumir
bebidas também tropicais como chocolate, café e chá da Índia. O historiador alemão
Edmund von Lippmann descreve em detalhes a evolução do que ele chama de consumo
generalizado de açúcar na Europa . E cita um professor da época: Hoje em dia, não há
banquete em que não se gastem muitos artigos de açúcar (...) quase nada se come sem
açúcar, usa-se nos temperos, no vinho, em vez de água se bebe água com açúcar, carne,
peixes e ovos são servidos com açúcar, finalmente não se usa mais sal que açúcar . E um
livro de culinária de 1570: açúcar com canela, amêndoa , uva, açafrão e água de rosa é
usado em torta, bolos, pastelões, etc., como também em pratos de carne, aves, peixe,
manjar branco, etc., sempre segundo o princípio: antes mais que menos .2
É dessa época a advertência do Dr. Hurt. Em 1633, o médico naturalista britânico
James Hurt disse em livro que o açúcar, ao ser usado em grandes proporções, provoca
efeitos nocivos no corpo; ou seja, o uso desmesurado dele, e igualmente de outros
produtos adocicados, aquece o corpo, engendra caquexias, consunções, apodrece os

1 Freyre, Gilberto. Civilização do Açúcar. In: Enc. Barsa. Rio de Janeiro: Encicl. Britânica, 1967, p. 65.
2 Lippmann, Edmund von. História do açúcar. Rio de Janeiro: IAA, 1942, tomo II, p. 40.
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dentes, tornando-os negros, provocando às vezes, um hálito terrivelmente desagradável.
Sendo, portanto, aconselhável que os jovens estejam atentos para não se envolver
demasiadamente com ele .3 O enorme aumento do consumo de açúcar, que causou logo de
saída uma epidemia de cárie dentária, é que deve ter motivado o Dr. Hurt a fazer o alerta.
Ele provavelmente foi um dos primeiros a diagnosticar as primeiras manifestações do que
seria uma nova era na história da humanidade, a era das doenças do açúcar ou doenças
crônicas, metabólicas e degenerativas.
Voltando a Gilberto Freyre, a fartura de açúcar acirrou a tendência ao
açucaramento da dieta dos portugueses e dos brasileiros. A expansão da indústria de cana
estimulou a mesma tendência na Louisiana, nos Estados Unidos. (...) Na Europa o açúcar,
tendo começado a aparecer quase exclusivamente como remédio, nos boticários, passando
de artigo de farmácia a especiaria invadiu cozinhas de gentes aristocráticas, de burgueses e
de quase toda a população, tornando-se ingrediente importante não só de pudins, doces,
sobremesas como de molhos e acompanhamentos adocicados, de carnes de carneiro e de
pato . 4
O advento e a expansão do açúcar de um ponto-de-vista geohistórico foi assim
resumido pelo autor de Casa Grande& Senzala: Com a manufatura do açúcar de cana, o
açúcar tornou-se presente e, depois de presente, importante na alimentação do homem
civilizado. No da Europa, principalmente; e nas sub-Europas que, do Século XVI ao
começo do Século XX, tornaram-se grandes extensões coloniais no Oriente, na América e
na África . 5
O aspecto mais imediato dessa revolução foi a substituição do mel de abelha pelo
açúcar como adoçante. Mas longe de limitar-se à simples substituição do mel na mesa da
humanidade, a revolução do açúcar desencadeou a partir do século XVII um processo de
açucaramento de tudo o que entra pela boca do ser humano: alimentos, bebidas,
medicamentos e até pasta de dente e fumaça de cigarro. Empenhada neste processo de
açucaramento da vida moderna, a sucroquímica vive a descobrir novas aplicações para o
açúcar, o produto químico puro mais abundante e barato do mundo. A sacarose e seus
polímeros hoje estão espalhados pelos mais diversos setores da economia. Produto químico
polivalente, o açúcar pode ser aproveitado nas indústrias de plástico, cosmético, fertilizante,
inseticida, cimento, adoçante artificial e até como explosivo.
Durante os séculos XVI e XVII, quando a produção mundial de açúcar ainda se
contava em milhares de sacos, aquela fartura de açúcar, segundo Gilberto Freyre,
originou uma tendência ao açucaramento da dieta de brasileiros, norte-americanos e
europeus. Hoje a fartura de açúcar produzida anualmente, incluindo os açúcares de cana e
de beterraba, se aproxima dos 200 bilhões de toneladas para uma humanidade de menos de
sete bilhões de bocas. Ensacada e enfileirada essa quantidade de açúcar dá para ir até a lua e
voltar.
Na mesa da humanidade aquela tendência avançou, inexoravelmente, com a lógica de
uma ditadura, num crescendo que vem até os dias de hoje. Assim, o médico americano,
Robert Atkins viu esse processo: De dois quilos de açúcar por ano passou-se a oitenta
quilos por pessoa por ano, em apenas onze gerações. Esta pode ser, talvez, a mais drástica
mudança dietética na evolução do homem em seus cinqüenta milhões de anos de
existência . 6
O açúcar não é o que pensam dele: um alimento inocente para a maioria das
pessoas ou um carboidrato como outro qualquer para a maioria dos médicos, dos químicos
e dos nutricionistas. É um agente químico agressor do organismo, um corpo estranho na

3 Apud Dufty, William. Sugar blues. Rio de Janeiro: Ground, 1978, p. 56.
4 Freyre, Gilberto. Açúcar, Coleção canavieira nº 2. Rio de Janeiro: IAA, 1969, p. 17.
5 Freyre, Gilberto. Op. cit. p. 27.
6 Atkins, Robert. A Dieta Revolucionária do Dr. Atkins. Rio de Janeiro: Artenova, 1980, p. 61.
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mesa que transformou o alimento do ser humano de meio de vida em meio de doença e
morte.
A ditadura do açúcar, uma ditadura de pacote tecnológico,7 impôs goela abaixo da
humanidade a dieta açucarada moderna, a ração patogênica que empurrou o ser humano
para a era das doenças crônicas, metabólicas e degenerativas.
A historiadora Elsa Avancini referiu-se à sociedade colonial brasileira como uma
sociedade montada para a produção de açúcar .8 Hoje, quinhentos anos depois, o mundo
vive o apogeu da civilização do açúcar. Nas palavras do doutor Leão Zagury uma
sociedade estruturada afetivamente em torno do consumo de açúcar .9
O conceito de alimento
Definir alimento, convenhamos, é um assunto meio complicado, mas nesse terreno
até os nutricionistas concordam em algumas questões suficientes para uma definição
satisfatória. E talvez ela ajude a deixar claro pelo menos o que não é alimento.
O Dr. Cleto Seabra Veloso assim define alimento: Toda e qualquer substância,
orgânica ou mineral, que introduzida no organismo em proporções convenientes é capaz
de assegurar-lhe o desenvolvimento e a conservação normais no meio em que vive . Para
completar sua definição o Dr. Cleto pede a ajuda do seu colega Dr. Sebastião Barroso:
O alimento deve ser comível, ser digerível, e ser nutriente .10
A nutricionista Dra Rebeca de Angelis diz que alimento é aquilo que entra no
organismo para fornecer energia, matéria viva de crescimento, manutenção, reparo,
reprodução e excreção .11
Dessas duas definições depreende-se que os alimentos desempenham papéis no
organismo: plástico, energético, regulador e protetor. O papel plástico (construção do
corpo) cabe, grosso modo, às proteínas; o papel energético aos carboidratos e gorduras; e o
papel regulador e protetor às vitaminas e sais minerais.
Um assunto polêmico envolve o papel energético dos alimentos, certamente uma
subversão do conceito de alimento inventada para que o açúcar entrasse de contrabando no
rol dos produtos alimentícios. Segundo o fundador da medicina experimental, Claude
Bernard desde Lavoisier que se repete a comparação entre alimento e combustível, A
comparação entre alimento e combustível é pouco exata, porque o organismo não emprega
para as suas atividades o calor de combustão dos próprios alimentos, mas utiliza
diretamente a energia química neles contida e no oxigênio, energia química que por
comodidade é medida calorimetricamente, mas que no corpo realiza outras transformações:
distribui-se em soluções de concentrações diversas, em sistemas complexos; transforma-se
abundantemente em energia de superfície que, por sua vez, cria forças tensoras e atrativas
(absorção); estabelece potenciais de membranas e finalmente reflui irreversivelmente no

7 O conceito de ditadura de pacote tecnológico foi assimilado de Bautista Vidal que fala do pacote do
petróleo.
8 Avancini, Elsa Gonçaves. Doce Inferno. São Paulo: Atual, 1991, p. 42.
9 Zagury, Leão et alii. Diabetes sem Medo. Rio de Janeiro: Rocco,1985, p. 34.
10 Veloso, Cleto Seabra. Trinta regimes alimentares. Rio de Janeiro: Leitura, 1968, p. 40.
11 Angelis, Rebeca C. de. Fisiologia da nutrição. São Paulo: Edart/USP, 1977, p. 22.
mar morto da energia menos nobre, a mais degradada, que é a energia térmica, e sob essa
forma, se não há trabalho externo, abandona o organismo .12
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E aprofundando o assunto com nosso Dr. Seabra Veloso: Na máquina mecânica o
combustível desenvolve energia que se traduz em força, em trabalho, em movimento, mas
as peças se gastam; na máquina orgânica, porém, além da energia e do calor resultantes, o
alimento repõe os gastos ocorridos, e refaz as células, tecidos e órgãos. De modo que esses
se renovam automaticamente. Constitui isso uma das maravilhas da vida .13
Levando em consideração o exposto, faço a pergunta: açúcar pode ser considerado
um alimento? Acredito que não.
Se levarmos em consideração todas as definições de alimento que vimos, de Cleto
Seabra Veloso, Rebeca de Angelis, Sebastião Barroso e Claude Bernard, o açúcar não se
enquadra em nenhuma delas; sai reprovado em todas. A alma do conceito de alimento é
ser fonte de nutrientes e o teor de nutrientes do açúcar é ZERO! Aquilo a que o açúcar se
propõe - fornecer energia - é uma proposta de fazer chover no molhado, posto que
TODOS os alimentos (carboidratos, gorduras e proteínas) já fornecem a energia de que o
corpo precisa ao mesmo tempo em que o nutrem. A capacidade do açúcar de repor os
gastos ocorridos, e refazer as células, tecidos e órgãos é igualmente ZERO! E o que é
pior: o açúcar além de não fornecer nenhum nutriente ainda vai precisar de nutrientes das
reservas do corpo para poder ser metabolizado, desvitaminizando, desmineralizando e
desidratando o organismo.
O açúcar, a meu ver, sequer pode ser considerado um alimento concentrado ou um
alimento derivado, como erroneamente o qualifica o mencionado Dr. Cleto Veloso. A partir
de determinado ponto em seu processo de refinação ele deixa de ser alimento e assume o
caráter de um composto químico puro.
O açúcar engana muita gente pelo fato da sacarose ser constituída de duas
moléculas uma de glicose e outra de frutose, dá a falsa impressão de que o açúcar é uma
fonte desses nutrientes. O mel, um alimento de verdade, é fonte de glicose e frutose.
Acontece que o mel oferece esses açúcares simples já prontos para uso, previamente
hidrolisados pelas abelhas que possuem enzimas específicas para tanto; além de ser rico em
outros nutrientes. O famigerado do açucareiro terá que ser hidrolisado pelo nosso
organismo.
A maioria dos médicos pensa que a fácil e rápida hidrólise da sacarose é gratuita.
Deixando de lado o fato de ser fator sine qua non de cárie dentária, o açúcar para ser
aproveitado pelo corpo necessita de uma hidrólise onerosa para o organismo. O açúcar é
depletor de nutrientes, rouba vitaminas, sais minerais e até desidrata, e vem acompanhado
de resíduos de produtos químicos de implicações toxicológicas desconhecidas.
A ingestão de açúcar como vimos altera o funcionamento das glândulas
endócrinas, pâncreas, supra-renais, pituitária e até do fígado. Puxado pela hiperinsulinemia
o sistema glandular endócrino, com o tempo, entra em pane, e o pâncreas perde a sintonia
fina que existe entre níveis de glicose e doses de insulina, o glucagon e até a adrenalina
entram nessa dança. E o abuso de oferta de insulina faz com que, com o tempo, ela perca a
eficácia. O equilíbrio ácido/base e o equilíbrio osmolar, também são alterados e nuvens de
12 Apud Veloso, Cleto Seabra. Op. cit., p. 40.
13 Veloso, C. S. Op. cit., p.40.
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radicais livres invadem seu corpo. A glicação14 que toma conta de proteínas do sangue, de
órgãos e tecidos é algo semelhante a cupim atacando móvel de madeira ou ferrugem
atacando uma máquina de ferro. O sistema imunológico e o metabolismo também são
debilitados. A festa que o açúcar faz no corpo humano ainda está para ser mapeada pela
medicina com ajuda da bioquímica.
Um bom critério para deixar clara a nulidade nutricional do açúcar é examiná-lo a
partir de um ponto-de-vista negativo. Quando uma pessoa deixa de ingerir um nutriente
essencial contrai uma doença, são as chamadas doenças carenciais ou avitaminoses. Assim,
quem deixa de consumir alimentos que contenham vitamina A contrai cegueira noturna.
Povos cujo alimento básico da sua dieta era o arroz integral, rico em vitaminas do
complexo B, ao transitar para o arroz branco polido e pobre dessas vitaminas contraíram
beribéri. A falta de vitamina C gera escorbuto. E assim por diante. Sabem o que acontece
a uma pessoa que deixa de comer açúcar? Não só não vai contrair doença nenhuma como
ainda vai ficar livre da possibilidade de cáries dentárias, obesidade, diabetes, doenças
cardíacas e outras do largo espectro das doenças crônicas, não transmissíveis.
Com certeza todos os órgãos do seu corpo vão cantar em coro para o açúcar aquele
verso de conhecido samba sabe quem perguntou por você?Ninguém .
Alimento versus calorias
Desde que a humanidade existe - pode ir bem longe, ao tempo do Australopitecus,
por exemplo - que o organismo animal está adaptado à relação matemática existente entre
alimentos e calorias. Todo mundo que tem um pingo de noções de nutrição conhece essa
relação: 1 grama de carboidrato ou proteína equivale a 4 calorias e 1 grama de gordura
equivale a 9 calorias. E sabe também que todo e qualquer alimento, glicídio, lipídio ou
protídio, fornece a energia de que o corpo necessita. Quando o Australopitecus capturava
um animal e o comia cru ou assado, ou um chinês, há cinco mil anos, comia uma tigela de
arroz, o pâncreas deles sabia qual a quantidade de insulina que deveria produzir para aquela
quantidade de comida. Uma espécie de calculadora biológica (nós não temos um relógio
biológico?), combinada com uma espécie de sistema endócrino de injeção eletrônica preparado pela
evolução das espécies, entrava em ação prontamente. O organismo lidava com um bolo de
alimento que ao mesmo tempo nutria e fornecia energia.
Esse mecanismo biológico veio a ser perturbado depois da introdução do açúcar,
ou melhor, da intromissão do açúcar na mesa da humanidade. Isso porque o açúcar não era
um novo alimento que estava chegando à mesa, mas um produto químico, uma substância
não nutritiva que apenas adicionava calorias aos alimentos, além de sabor doce. Calorias
inúteis que se revelaram nocivas à saúde. O açucareiro deu uma cotovelada no pote de mel
da mesa e se instalou como um adoçante com pretensões hegemônicas.
Com o advento do açúcar na mesa da humanidade o ser humano se viu diante de
uma situação nova, para a qual seu organismo não estava preparado: a de lidar com um
bolo de alimentos que quebrava aquela antiga relação alimento-caloria, com a qual estava
14 Sobre esse conceito vide o tópico A gênese dos bonecos de açúcar.
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acostumado desde seu avô Australopitecus. O açúcar adicionado à comida provoca reações
complexas nos sistemas hormonais endócrino, parácrino e autócrino. Mas há quem pense
diferente, o médico americano Barry Sears autor da, com licença da palavra, Dieta da Zona,
acha que os cereais é que são os responsáveis pelo conflito entre alimentos e
funcionamento hormonal. Ele chega a lamentar a revolução agrícola, acontecida há dez mil
anos, pela introdução dos grãos na dieta humana. E é completamente cego para o produto
químico que caiu de paraquedas na mesa da humanidade há apenas quinhentos anos.15
Com o açucaramento da dieta a calculadora biológica entrou em pane ao passar a lidar
com um bolo de alimentos estranhamente enriquecido de calorias, o que demandava
mais insulina. Conforme Arthur Guyton, o trânsito de glicose para o interior das células,
quando o pâncreas secreta grandes quantidades de insulina, é dez ou mais vezes mais
rápido que o normal.16 A dieta açucarada criou uma situação de estresse permanente no
metabolismo. Segundo a médica portuguesa Luísa Sagreira a hiperinsulinemia é responsável
por alterações lipídicas e das proteínas, aumento de VLDL-colesterol e de triglicerídeos,
diminuição de HDL-colesterol, hipertensão arterial, possibilidade de se acompanhar de
tolerância diminuida à glicose; e por último é responsável por uma mortalidade
cardiovascular aumentada e prematura.17 Desde que os europeus passaram a produzir
açúcar aos milhares de sacos no Novo Mundo recém descoberto até os atuais 200 bilhões
de toneladas métricas por ano, o açucaramento da dieta humana tem sido progressivo. E o
doutor Atkins adverte: Quanto mais açúcar você come mais anormal torna-se a resposta
do organismo ao açúcar .
Ante a dieta açucarada, o pâncreas reagia produzindo uma quantidade de insulina
maior para fazer face às calorias extras, funcionava em ritmo de trabalho forçado e a
insulina ajudava a transformar o açúcar extra em gordura, gerando obesidade e seus
corolários mórbidos. A continuidade desse processo torna a insulina cada vez menos
eficaz. Essa resistência insulínica provoca pane no próprio mecanismo de administração da
insulina.
Perturbando o funcionamento do metabolismo, através da dieta açucarada, a
revolução do açúcar inaugurou na história da humanidade a era das doenças crônicas,
metabólicas e degenerativas uma série de novas doenças não transmissíveis para as quais
a medicina não estava preparada. Começando pelas cáries dentárias o açúcar abre caminho
para o lento desenvolvimento dessas doenças num leque bem conhecido: sobrepeso,
obesidade, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Tais doenças são tão
relacionadas entre si que a medicina já criou o conceito de Síndrome X ou plurimetabólica
que empacota várias delas.
Resta à humanidade lutar contra essa situação patológica através do movimento
Açúcar zero. Ele não defende nenhuma dieta nova, apenas recomenda que se elimine o
açúcar da mesa. Quanto ao mais, cada um deve comer de acordo com suas inclinações,
apetite, idade, sexo, trabalho, clima, geografia, cultura, etnia etc. Se for guloso será gordo,
porém saudável. É o açúcar que gera doentes gordos ou magros. O movimento Açúcar
zero pretende contrarrestar a ditadura do açúcar. É um saudável movimento de fuga da
imposição da dieta açucarada.
Como um primeiro passo basta que você, que está lendo esse livro, por exemplo,
pare de comer açúcar e além disso, ajude a causa tirando o doce da boca das crianças.

15 Sears, B. O ponto Z, a dieta. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
16 Guyton, Artur. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: editora Guanabara, 1989, p. 642.
17 Dislipidemia. In: Duarte, Rui (org.). Diabetologia clínica. Lisboa: Lidel, p. 296.
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A teoria dos açúcares
Quando você ler ou ouvir a palavra açúcares tome cuidado, estão querendo
enganar você: trata-se da teoria dos açúcares. Segundo essa teoria existem diversos tipos de
açúcar. A glicose ou dextrose, a frutose ou levulose, que são os açúcares das frutas. A
lactose, que é o açúcar do leite. Há a sacarose ou sucrose, que é o açúcar comum de mesa,
feito de cana ou de beterraba. Há mais outros tantos tipos de açúcar, como maltose,
dextrina, ribose, xilose (açúcar de madeira), arabinose (açúcar de goma), manose (açúcar de
coco), etc. Tem até açúcar-álcool. Sem contar aquela história de que tudo o que você
come, pão, batata, verduras e legumes, em sua barriga vai tudo virar açúcar.
A teoria dos açúcares existe em conseqüência de um engano dos químicos oriundo
do século XIX, quando batizaram a classe dos compostos orgânicos de fórmula geral
Cn(H2O)n (carbono, hidrogênio e oxigênio) de hidratos de carbono (ou carboidratos) ou
ainda açúcares .
A confusão aconteceu porque nos compostos da família, apesar de os átomos de
hidrogênio e oxigênio estarem presentes na mesma proporção que na água, neles não
existem moléculas de água, não são átomos de carbono hidratados, como o nome supõe, e
sim átomos de carbono unidos a outros grupos químicos. Usar a propriedade do sabor
doce para caracterizar os carboidratos e chamá-los de açúcares, também gera confusão,
porque na família há substância que não é doce, ao passo que existem substâncias mais
doces que açúcar em compostos de outras classes. Os químicos em convenção decidiram
adotar o termo glicídios cuja etimologia ainda remete a doce em grego (glykys).
Essa confusão conceitual veio a calhar para a ditadura do açúcar, que pôde expandir
e consolidar seu império em segurança. Quando algo de errado no campo da patologia
vinha à tona epidemia de cárie, obesidade, diabetes - a culpa era dos açúcares .
Chamar qualquer carboidrato de açúcar é um verdadeiro absurdo. Carboidrato é
uma classe de compostos abundante e diversificada na natureza. Celulose, por exemplo, é
carboidrato; logo, papel e tecido teriam que ser chamados de açúcares . Há carboidrato
(quitina) até no exoesqueleto (carapaça) de escorpiões e lagostas. Por outro lado, chamar
açúcar de carboidrato, como faz a indústria de alimentos, tem o objetivo de ocultar a
quantidade de açúcar que você está ingerindo. Numa barra de chocolate ou numa lata de
leite condensado se informa o teor de carboidratos mas esconde-se a quantidade de açúcar.
Atualmente a Food and Drug Administration (FDA) e a União Européia chamam
de açúcar o açúcar mesmo e de açúcares aqueles naturalmente presentes nos alimentos.
E os nutricionistas já distinguem os acúcares intrínsecos (os naturais) dos extrínsecos
(os adicionados). Quanto aos açúcares-álcoois, poliálcoois ou polióis (manitol, sorbitol,
xilitol) a União Européia, que detém a patente, considera-os carboidratos. A FDA não.
O objetivo dessa teoria complexa é ocultar por mimetismo o único açúcar que faz
mal ao ser humano. Ele mesmo, o açúcar propriamente dito, o habitante do açucareiro,
que os químicos chamam de sacarose refinada. O açúcar encontra-se camuflado na floresta
dos açúcares , mas o objetivo deste livro é justamente segurá-lo pelo rabo, sacudi-lo e
denunciá-lo, repito, como sendo o único açúcar nocivo à espécie humana.
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Açúcar não é açúcar: o simples e o complicado
Açúcar não é açúcar. Parece confuso? Concordo, a culpa é da teoria dos açúcares.
Açúcar de verdade, aquele de que seu corpo necessita e que fornece energia para você
viver, só existem dois: a glicose e a frutose. Apenas esses dois açúcares foram preparados
pela natureza para consumo humano, se é que isso existe.
Glicose e frutose são chamados de açúcares simples porque já estão prontos para
ser utilizados pelo organismo. Do jeito que forem ingeridos serão assimilados, não sofrem
nenhuma ação de enzimas digestivas, não dão trabalho ao organismo. Glicose e frutose são
irmãos gêmeos, possuem a mesma fórmula química (isomeria) e são fontes diretas de energia.
A rigor, açúcar em última instância é a glicose; a frutose, apesar de ser assimilada enquanto
tal pelo organismo, no fígado se transforma em glicose. Esses dois açúcares de verdade é
que são oferecidos a você de bandeja, nas frutas maduras e no mel das abelhas.
Ainda hoje alguns médicos e nutricionistas referem-se ao açúcar do açucareiro
como sendo um açúcar simples . Estão enganados. Açúcar simples é um conceito
científico. Simples são os açúcares que não são hidrolisáveis a unidades menores, espécies
de átomos de açúcar que não podem mais ser divididos. Chamam-se também de
monossacarídeos por constituírem uma unidade. Exemplos desses açúcares são glicose,
frutose, manose e galactose. Se você ligar dois monossacarídeos por meio de uma ligação
glicosídica terá um dissacarídeo, exemplos: sacarose, maltose e lactose; se ligar três terá um
trissacarídeo, e assim por diante. Todos eles são chamados também de açúcares .
Os açúcares constituídos de dois até seis monossacarídeos são chamados de
oligossacarídeos. De seis para cima são os polissacarídeos: por exemplo, amido e celulose
no reino vegetal e glicogênio no animal. Os mono e os oligossacarídeos têm gosto doce, já
entre os açúcares da classe dos polissacarídeos, alguns são até amargos. Por outro lado
existem substâncias que não são açúcares , isto é, carboidratos, mas que são tão doces que
põem o açúcar no chinelo. Taumatina e monelina, proteínas extraídas de plantas africanas,
são três mil vezes mais doces que açúcar.
O açúcar complicado (ele mesmo, o do açucareiro) não é açúcar de verdade. A
sacarose, como o açúcar é conhecido pelos químicos é, a rigor, uma substância de reserva
dos vegetais. A sacarose antes de ser utilizada pelas plantas ou pelo organismo humano
tem que ser decomposta (hidrolisada) em suas partes constituintes, justamente glicose e
frutose. A sacarose, portanto, é fonte de glicose e frutose; estas duas é que são fontes de
energia. Em outras palavras, sacarose não é açúcar e sim fonte ou reserva de açúcares.
Poderíamos chamá-la também de substância precursora de açúcar A sacarose segundo
Lehninger, clássico da bioquímica, é a principal forma de transporte de açúcar das folhas
para as demais partes das plantas, via sistema vascular (...); sua propriedade não redutora a
protege do ataque oxidativo ou hidrolítico por parte de enzimas vegetais até que ela atinja
seu destino no interior da planta .18
O destino da sacarose nos vegetais, portanto, é transformar-se em glicose e frutose.
Enquanto circula nos vegetais ela é instável. A cana-de-açúcar, por exemplo, depois que é
cortada no canavial, tem que ser levada às pressas para a usina a fim de ser espremida e
misturada com produtos químicos antes que a sacarose comece a transformar-se em açúcares
redutores (glicose e frutose) como dizem os químicos. Lehninger considera um enigma da
natureza o fato de a sacarose também não ser um açúcar redutor. Na verdade o açúcar é
um enigma semântico ou um caso de falsidade ideológica: deram o nome de açúcar a uma
substância de reserva de açúcares.

18 Lehninger, A. Bioquímica. São Paulo: Edgar Blucher, 1976, p. 487.
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E a sacarose em estado natural, como no caldo de cana, por exemplo,
acompanhada de nutrientes é digerível embora tenha contra-indicações. O Dr. João Curvo
alerta que caldo de cana deve ser evitado durante as diarréias e que em excesso pode
acarretar vômito e flatulência.19 O problema é a sacarose refinada A cana e a beterraba em
si são alimentos; a sacarose refinada é apenas a parte combustível do alimento
cirurgicamente isolada. Outro problema é que todos os alimentos já fornecem energia, de
modo que o açúcar acrescentado transforma os alimentos açucarados numa bomba calórica
patogênica.
Do exposto fica claro que o açúcar ideal para o consumo humano são apenas dois:
a glicose e a frutose, presentes nas frutas e no mel. Aliás os melhores méis de abelha são
justamente aqueles em que a sacarose está ausente, como o mel da abelhinha Jataí. As
abelhas possuem enzimas que hidrolisam a sacarose para oferecer no mel apenas glicose e
frutose; e o teor de sacarose numa fruta é residual quando ela está madura e docinha. Por
que então os homens fizeram questão de industrializar uma substância de reserva e não os
verdadeiros açúcares? Pela simples razão de que a sacarose é muito mais abundante na
natureza. A glicose e a frutose encontram-se no fruto maduro e doce. A sacarose se
encontra em todas as plantas, nas folhas, nas raízes, nos caules. O açúcar do açucareiro
vem de onde? Vem do colmo de uma gramínea (a cana), no fundo um capim duro, ou da
raiz da beterraba. Não está claro nisso tudo um recado da mãe natureza de que o açúcar
que ela preparou para consumo de seus filhos está nas frutas e no mel?
Outra substância de reserva de açúcar dos vegetais é o amido, uma espécie de
reserva estratégica, estacionária. O amido concentra muitas moléculas de glicose; depois de
lentamente digerido ele fornece glicose ao organismo, é o famoso alimento que na barriga
vira açúcar. O amido contido nos cereais naturais, porém, não é açúcar puro; é um
alimento importante, rico em fibras, vitaminas e sais minerais. O amido puro , isolado ,
como é o caso da famosa Maizena, é um alimento pobre, sem fibras, vitaminas e sais
minerais.
O açúcar do leite, a lactose, também não é um açúcar de verdade. A lactose, como a
sacarose, é um dissacarídeo (açúcar composto de outros açúcares) e tem que ser hidrolisada
no intestino antes de ser assimilada e metabolizada pelo organismo. O verdadeiro açúcar do
leite é a galactose, monossacarídeo que, assim como a frutose, no organismo humano se
transforma em glicose.
Estou aqui a defender que açúcar de verdade são apenas os monossacarídeos? Sim
e não, porque monossacarídeos existem mais de duzentos na natureza, mas do ponto de
vista de quem tem fome ou da dieta e nutrição humana apenas dois monossacarídeos têm
valor: glicose e frutose, os dois naturalmente presentes nas frutas e no mel. A galactose,
monossacarídeo do leite, embora tenha reconhecida importância dietética, não existe livre
na natureza.
Os naturalistas, as donas de casa e até médicos, nutricionistas e químicos, pelo fato
de o açúcar provir da cana e da beterraba, acham que se trata de um alimento, um produto
natural. Estão todos enganados. Querem ver? Raciocinem junto comigo: o que é que o
açúcar tem em comum com a cana- de-açúcar? NADA. Açúcar é igual a sacarose menos a
cana.
Açúcar é 99,5% de sacarose e os outros 0,5% sequer são cana, mas lixo químico
fino, cinzas e outros produtos tóxicos, inclusive metais pesados.

19 Curvo, J. Magros Yin e Yang. Rio de Janeiro: Rocco, 1990, p. 74.
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Com o açúcar de beterraba a mesma coisa: é sacarose menos a beterraba. Os dois
açúcares, o de cana e o de beterraba, são iguaizinhos, ambos têm a forma de um pó branco.
Se houver alguma diferença entre os açúcares de cana e o de beterraba deve-se ao
seguinte: como nos processos de refinamento usam químicas diferentes - um usa sulfitação,
e o outro carbonatação - a diferença estará no lixo químico fino. Ou então o açúcar não foi
purificado a contento e o de cana ficou com um cheirinho de cana e o outro com um
cheirinho de beterraba.
Já li que o açúcar de beterraba é um pouquinho alcalino comparando com o de
cana. E uma curiosidade: não existe açúcar bruto ou mascavo feito de beterraba por causa
de um princípio amargo nela contido.
Portanto, naturalistas e artificialistas, olho vivo!
A diferença entre o açúcar do açucareiro e o das frutas
Uma tese cara aos médicos sucrófilos é a de que o organismo não distingue entre
o açúcar refinado e o natural, metabolizando-os da mesma forma . O doutor Flávio
Rotman, fellow do American College of Nutrition, chega a assimilar os dois açúcares: Se
realmente a glicose encontrada na sacarose (açúcar refinado) está implicada na gênese da
arterioesclerose, o amido das frutas, os legumes e cereais devem estar também .20
Mas entre os médicos há quem acredite que o açúcar tem qualquer coisa de diferente
em relação aos outros carboidratos.
A sacarose nos vegetais, já vimos, é uma substância instável pronta para se
transformar em glicose e frutose.
Na usina dá-se um jeito de congelar a sacarose através de vários banhos de cal,
sulfitos etc. Sempre fica a pergunta: a sacarose congelada e cristalizada, isolada e quase
pura, não teria sua estrutura molecular de alguma forma alterada?
O doutor Frederick Banting, um dos criadores da insulina, já havia manifestado sua
desconfiança: No processo de aquecimento e recristalização do açúcar natural da cana
alguma coisa é alterada, transformando o produto refinado num alimento perigoso .21
E mais recentemente o doutor Charles McGee, da Sociedade de Ecologia Clínica,
disse que não se sabe exatamente por que o açúcar refinado é danoso, mas estudos com
humanos e animais mostram que é biologicamente diferente dos carboidratos naturais .22
Não só biológica mas quimicamente: a frutose das frutas é diferente da que constitui a
sacarose. De acordo com a literatura química, coisa que só os químicos entendem, a
sacarose não é constituída pela d-frutose comum piranósica , mas a d-frutofuranose que
não muda em furânico o ciclo pirânico, nem mediante calor, nem catalisado por ácido ou
enzima. A fácil hidrólise da sacarose deve-se à constituição furanósica da frutose
componente da molécula de sacarose . A furanose é menos estável que a piranose. Será
que esse babado aí não explicaria a nocividade do açúcar? Com a palavra o pessoal da
Química.
Outra diferença é a que diz respeito à propriedade não-redutora da sacarose.
Esse detalhe químico diz que redutor é o açúcar que apresenta uma hidroxila livre . O
não-redutor não tem essa hidroxila, ela está ocupada ligando os monossacarídeos. Os
açúcares naturalmente encontrados nas frutas e no mel - os monossacarídeos glicose e

20 Rotman, F. A prevenção do infarto para jovens. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 57.
21 Apud Dufty, W. Op. cit., p. 61.
22 McGee, C. T. Como Sobreviver à Tecnologia. Porto Alegre: L&PM, 1986, p. 62.
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frutose - são redutores. O açúcar do leite um dissacarídeo como a sacarose - também é
de natureza redutora. O pouco conhecido dissacarídeo isomaltulose, tido como de baixo
potencial cariogênico , também é um açúcar redutor. Essa propriedade faz da sacarose um
corpo estranho entre os outros açúcares. Lehninger, como vimos, estranhou o fato de a
sacarose ser diferente dos outros açúcares por esse detalhe que segundo ele protege-a do
ataque oxidativo das enzimas enquanto circula pela seiva das plantas. Fica a impressão de
que os açúcares que a mãe natureza preparou para o consumo de seus filhos são os
redutores. Será que essa propriedade não explicaria a nocividade do açúcar? Com a palavra
o pessoal da Bioquímica. E para concluir este tópico com chave de ouro: A trealose natural
é um importante composto a,a que ocorre em plantas. A sacarose é sem dúvida o
dissacarídeo mais importante do grupo trealose. Recentemente a trealose foi identificada
como açúcar do sangue... Dos insetos. 23
Os traficantes de açúcar pensam que nós, a humanidade, temos sangue de barata.
Os açúcares do açucareiro
Mesmo o famigerado do açucareiro apresenta-se sob diversos disfarces: tem o
refinado e branco, o cristal, o demerara, o mascavo, e o de confeiteiro.
Já vi no programa de Ana Maria Braga um sujeito de avental branco à guisa de
cientista explicando quais as diferenças entre os diversos tipos de açúcar do açucareiro.
Algum tempo depois, em fevereiro de 2005 a revista Mundo estranho, da editora Abril, trazia
uma reportagem semelhante. Agora não tenho dúvidas de que se trata de um expediente
propagandístico. Segundo essas espécies de matérias-pagas o que diferencia um tipo de
açúcar do outro é a composição nutricional . Quanto mais perto do estado bruto e
escuro é o açúcar mais vitaminas e sais minerais ele tem .
O açúcar branco apesar do roubo de nutrientes ocorrido durante o refino ele ainda
mantêm resquícios deles . O cristal perde só 90% dos sais minerais . E o demerara tem
valores nutricionais altos . Tudo conversa mole para boi dormir e lagartixa cair da parede.
A grande diferença entre eles é a maior ou menor quantidade de sujidades que cada
um contém. O mais refinado e branco tem uma pequeníssima quantidade de lixo químico
fino. O mais bruto ou mascavo tem sujeira grossa terra, resquícios de plantas, de insetos e
de excrementos. Além de ser úmido, o que facilita o surgimento de fungos. O cristal é
menos sujo que o mascavo e mais sujo que o refinado. O demerara é um açúcar cristal
ligeiramente melecado com melaço. Em termos de sujidades, fica entre o cristal e o
mascavo.
Quanto aos nutrientes que possam existir nos açúcares mais sujos são tão
insignificantes que não compensa correr o risco de cárie, obesidade e diabetes por causa
deles.
Açúcar não devia ser objeto da Nutrição e sim apenas da Química e da
Farmacologia. Todos esses açúcares no fundo são sacarose mais ou menos refinada. E a
sacarose extraída de um capim e adicionada aos alimentos, é responsável direta por uma
série de doenças crônicas. Assunto para a Fisiopatologia.
O peso molecular dos açúcares

23 Karlson, Peter. Bioquímica. Rio de janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1970, p. 354.
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Sacarose 342,30
Galactose 180,16
Frutose 180,16
Glicose 180,16
Está explicado por que o açúcar pesa no estômago.
A frutose
É o famoso açúcar das frutas . As frutas e o mel contêm glicose e frutose. Entre
outras coisas a frutose é o açúcar preferido dos espermatozóides, o muco das vesículas
seminais contém grande quantidade de frutose e o líquido seminal também, para que eles se
mantenham vivos e em movimento na alegre dança que nem sempre termina em
fecundação. É como se a frutose fosse um combustível nobre de altíssima octanagem, é ela
que movimenta o espermatozóide na sua maratona até o óvulo.
Frutose é um açúcar especial, é o mais doce de todos os açúcares, sua absorção é
diferente da glicose e apesar de chamada de absorção facilitada é muito mais lenta, a metade
da velocidade da glicose. A medalha de ouro é da galactose que chega uma cabeça na frente
da glicose à linha de chegada o sistema porta.
Só que a mãe natureza oferece a frutose em quantidades bem pequenas e ela deve ter
boas razões para isso. A glicose perfaz 80% e a frutose apenas 10% da dieta que o Dr
Guyton chama de normal. Se considerarmos que a sacarose da dieta açucarada é
transformada em glicose e frutose meio a meio. O consumo de frutose pelo homem
contemporâneo está perigosamente muito aumentado. Segundo o Prêmio Nobel Linus
Pauling, o consumo de frutose antes do açucaramento da dieta era em torno de 3% (300g
de glicose para 8g de frutose).
A carga de frutose proporcionada pela dieta açucarada moderna é prejudicial de
diversas formas: a frutose pura, vendida em supermercados e farmácias como adoçante,
consumida em excesso dá diarréia. No organismo a frutose é precursora de colesterol
(para quem tem medo dele). Nas células, depois de percorrer a via dos polióis, a frutose
origina radicais livres. Ela, diante de oxigênio, se auto-oxida gerando um dicarbonilo, e o
radical ânion super-óxido, compostos lesivos que levam a um estresse oxidativo nas células.
A glicose que também se auto-oxida, glicosila proteínas mais lentamente e é menos tóxica
que a frutose. Alguns autores por causa disso acham que o fato da glicose ser o principal
açúcar circulante constitui uma vantagem evolutiva das formas mais complexas de vida.
Uma vantagem empastelada pelos traficantes de açúcar que entopem a raça humana com
glicose e frutose desnecessárias. O produto da oxidação da frutose, é responsável pela
maior parte da formação de ligações cruzadas entre proteínas que dão origem aos AGEsprodutos
finais da glicação avançada.24 Estes nada mais são que proteínas prejudicadas
estrutural e funcionalmente depois de reagirem com açúcar, são responsáveis por
patologias crônicas diversas especialmente as chamadas complicações do diabetes. E para
fechar com chave-de-ouro; a página da Merck na internet diz que bastam apenas 25 gramas
de frutose refinada para matar o mesmo ratão que morre com uma dose de 29,7 gramas de
açúcar.

24 Em inglês AGEs Advanced glycation end products. Mais informações em A gênese dos bonecos de
açúcar.
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Pureza e perigo
Açúcar, substância pura e branca, utilizada para adoçar bebidas e bolos. Esse é o
único componente puro da dieta que é ingerido em quantidade, na sua forma simples ou
incluído em outros alimentos tais como geléias doces e biscoitos. Muitos legumes e frutas
também contêm pequenas quantidades de diversos açúcares, e o mel principalmente, mistura
de glicose e frutose .25(itálicos meus.) Esse trecho é do livro Alegria de viver , de Alan
Kingsdon, prefaciado pelo legendário piloto de Fórmula 1 Jackie Stewart. Na citação,
como vimos, o açúcar é vendido como um alimento puro e branco que pode ser
consumido em quantidade enquanto as frutas e o mel apresentam misturas de
açúcares.
Usar o conceito de pureza do açúcar para vender o produto é mais um caso de
propaganda enganosa. Trata-se de um conceito científico. Uma substância é considerada
quimicamente pura quando apresenta uma composição fixa da qual decorre a constância
de suas propriedades. Tais constantes físicas, como ponto de fusão, ebulição, densidade,
coeficiente de solubilidade, índice de refração etc., são verificadas experimentalmente e
comparam-se os valores encontrados com os mencionados na literatura especializada . Do
ponto de vista de quem tem fome, melhor seria que o açúcar não fosse puro. Nos
procedimentos necessários à transformação do caldo de cana no pó branco puro, as
impurezas afastadas através de sucessivas filtrações, evaporações, decantações e
precipitações, provocadas por produtos químicos, são exatamente a parte dieteticamente
interessante da cana: as proteínas, os sais minerais e as vitaminas, ou seja, os nutrientes.
O que sobra, a sacarose pura, não é mais um alimento como eram a cana, o caldo e
até o melaço e a rapadura. Até aí estes derivados da cana podem ser considerados, com
boa vontade, como alimentos concentrados. Com boa vontade porque a fração de
nutrientes é muito pequena para justificar a carga de sacarose, não se iludam rapadura,
melaço, e açúcar mascavo provocam hiperinsulinemia e são tão cariogênicos quanto o
primo rico, o açúcar branco. Sacarose pura é apenas um legítimo produto químico de
laboratório, fica muito melhor dentro de uma retorta do que adoçando uma torta.
O excesso de açúcar
Já foi mencionada no primeiro capítulo deste livro a advertência do médico James
Hurt, no longínquo ano de 1633, alertando para o perigo do consumo exagerado de açúcar
na Inglaterra.
Em 2004, quase quatrocentos anos depois, um médico paulista descendente de
japoneses, o Dr. Yotaka Fukuda, autor de tese de doutorado sobre os malefícios do açúcar
à saúde das pessoas, diz que o açúcar em si é amigo e que o problema é o consumo
excessivo .
26 O consumo de açúcar entre 1633 e 2004 deve ter aumentado um milhão por cento.
O médico inglês usa três expressões relativas a excesso de consumo nas poucas linhas
25 Kingsdon, Alan. Alegria de Viver. São Paulo: Círculo do Livro, s.d., p. 118.
26 Entrevista publicada no jornal on line, www.jj.com.br por ocasião do lançamento de seu livro.
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citadas ( grandes proporções , uso desmesurado e envolvimento demasiado ), uma
verdadeira obsessão. O que explicaria essa ênfase toda? E por que o discurso médico é o
mesmo apesar do enorme tempo que se passou e do aumento absurdo da quantidade de
açúcar envolvida?
Houve um tempo em que o consumo de açúcar era semelhante ao consumo de
cocaína hoje: os privilegiados (reis, nobres e burgueses) lambiam uma carreirinha de açúcar e
davam-se por satisfeitos.
Depois que passou a ser produzido no Novo Mundo em escala cada vez maior, o
açúcar deixou de ser lambido em carreirinhas, pulou para os boticários, onde fez sucesso
como xarope, e depois para a mesa, primeiramente como sobremesa e depois adoçando
pratos antes salgados, como uma gororoba portuguesa à base de galinha, arroz e muito
açúcar mencionada por Gilberto Freyre.
Quanto ao excesso de açúcar, médicos e nutricionistas têm seus corações e
mentes imbuídos desse conceito. Trata-se de um conceito enganoso, um expediente
ideológico muito usado pela indústria da doença para permitir que o açúcar prossiga
fazendo mal à humanidade. Consumo excessivo dá a entender que existe um consumo
moderado ou equilibrado de açúcar. Na verdade o açúcar é prejudicial proporcionalmente à
sua ingestão: pouco açúcar faz pouco mal, muito açúcar faz muito mal. Aos médicos é
ensinado que o açúcar só faz mal quando consumido em excesso . Eu pergunto: qual o
ponto de danificação do açúcar? Assim como o cigarro, é impossível dizer qual o mínimo
de açúcar necessário para causar dano à saúde.
Qualquer quantidade de açúcar adicionada ao alimento é excessiva na medida em
que açúcar é caloria pura desacompanhada de qualquer nutriente. De modo que cada grama
de açúcar adicionado significa quatro calorias inúteis a mais. Inúteis com boa vontade, são
calorias nocivas que resultarão em cárie, desequilíbrio metabólico e obesidade.
Cada grama de açúcar adicionado ao alimento significa ao mesmo tempo um
superavit calórico e um deficit nutricional de conseqüências patológicas.
DAS DIETAS
É raro ver uma menina alimentar-se racionalmente de peixe, carne e vinho. Comem doce e alface, jantam as
sobremesas. A gulodice do açúcar, dos bolos, das natas, é uma perpétua desnutrição. Lisboa é uma cidade doceira,
como Paris é uma cidade intelectual. Paris cria a idéia e Lisboa o pastel. Daí a grande quantidade de doenças de
estômago e de maus dentes. A deterioração pelo doce começa aos quatro anos.
Eça de Queirós
Dieta é uma palavra polissêmica, isto é, que possui vários significados. Na Rússia
dieta é o parlamento. O sentido mais usual é sinônimo de regime , ou seja, uma ração
especial que geralmente suprime ou adiciona alguma coisa do prato devido a algum tipo de
problema. Assim há dietas de supressão ou restrição de sal, de açúcar, de gordura ou de
proteína. Dieta nesse sentido é mais ou menos coisa de doente , posto que o sujeito
normal é aquele que come de tudo . Há, por outro lado, a famosa dieta de
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superalimentação, que é uma dieta de acréscimo na quantidade de comida ou de algum
nutriente específico para fazer alguém engordar, ganhar massa muscular ou sair da
subnutrição. Mas dieta ultimamente vem adquirindo o significado daquilo que antigamente
chamávamos de culinária ou cozinha típica, de modo que posso dizer dieta baiana, chinesa
ou francesa, em vez de cozinha baiana, etc.
A guerra das dietas
Povos como o chinês, o francês e o árabe têm sua cozinha típica estabelecida há
séculos. Não obstante, todas as cozinhas do mundo estão sofrendo um processo de
adulteração pela adição de açúcar. O avanço da ditadura do açúcar não respeita a mesa de
povo nenhum do mundo. Tem sido um processo universal até agora. A pátria da dieta
açucarada moderna são os Estados Unidos da América.
Não é à toa que os Estados Unidos têm sido palco de um verdadeiro festival de
dietas que assola o país . Um livro que trata do assunto é The Clowns Of Commerce (Os
Palhaços do Comércio), de Walter Goodman.27 Nos Estados Unidos dieta é mercadoria
cada autor trata de patentear a sua para poder ganhar dinheiro com ela. O festival de dietas
terminou virando uma guerra de dietas. Como proteína é um alimento acima de qualquer
suspeita, não existe nenhuma dieta famosa que preconize baixos teores de proteínas. A
briga principal terminou ficando por conta das dietas pobres em carboidratos e ricas em
gorduras versus as pobres em gorduras e ricas em carboidratos.
Já no século XIX o Dr. William Banting, que era gordo e sofria de dores nos
ouvidos, ganhou de seu colega Dr.W.Harvey, o qual descobrira que a ingestão de carne não
provocava hiperinsulinemia, a prescrição de um regime. A dieta indicada incluía carne de
veado, ovos e peixes, excluía doces e amidos e permitia algum álcool. Um ano depois
Banting pesava menos vinte quilos e a dor de ouvidos fora curada. Agradecido, Banting
publicou TheBantingDiet (A dieta de Banting), que seria a primeira dieta americana rica em
carnes e gorduras.
No século seguinte ganhou força entre os médicos a teoria das calorias, que virou
um dogma. Baseia-se no conceito de que calorias ingeridas em excesso, isto é, que
ultrapassam a quantidade de calorias que são necessariamente queimadas no dia a-dia,
transformam-se em gorduras. E como as gorduras são alimentos calóricos por excelência e
a obesidade um mal a ser evitado. Considerando também as pesquisas que associavam o
colesterol aos problemas cardíacos, tudo isso ajudou a criar a ideologia médica dominante
da indústria da doença. E a dieta pobre em gordura ganhou foros de dieta oficial. Tal dieta
diaboliza a gordura e faz vista grossa para o açúcar. A gordura, aliás, cumpre o papel de
bode expiatório com o objetivo de ocultar o doce vilão.
A despeito da hegemonia da dieta de baixas calorias e pobre em gorduras, o festival
das dietas continuou e dá para escrever um catálogo sobre elas. Há a dieta das estrelas, da
lua, da zona e do arco-íris; a da água de coco e a do abacaxi, a das fibras, a alcalina e a dos
alimentos crus, a dos astronautas e a dos esquimós; a das sopas e a do milkshake; a
macrobiótica e a dos micronutrientes, a do tipo sanguíneo, a do Demis Roussos e até a do
Emerson Fittipaldi.

27 Apud Taller, Herman. Calorias não engordam . Rio de Janeiro: O cruzeiro, s/d, p. 58.
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A verdade é que ninguém precisa fazer dieta nenhuma. Dieta é coisa para doente;
se a humanidade têm apelado tanto para dietas é porque está doente, e está doente porque
vem sendo obrigada a fazer determinada dieta, a dieta açucarada moderna, uma dieta
supercalórica e patogênica.
É por causa da dieta açucarada imposta à humanidade que existem as epidemias de
cárie dentária, obesidade, diabetes, etc. ou, em outras palavras as doenças crônicas,
metabólicas e degenerativas. Essa falsa guerra das dietas é pura manobra diversionista da
indústria da doença. Carboidratos, proteínas e gorduras são alimentos e é absurda qualquer
dieta que queira eliminar ou restringir qualquer uma dessas categorias de alimentos.
A única dieta que a humanidade precisa fazer é eliminar o produto químico que
transforma sua mesa numa ração doce e doentia. É zerar o açúcar.
Tirando o açúcar da mesa o resto é cada um comer de acordo com seus costumes,
desejos, psicologia, idade, localização geográfica, estação do ano, trabalho, atividade
esportiva, cultura, gosto e apetite. Lembrando que moderação é uma virtude.
A dieta patogênica
Há mais de 2.500 anos Hipócrates disse: fazei do alimento o vosso remédio .
Hoje, em pleno século XXI, a Humanidade tem feito do seu alimento o seu veneno. Até
há algum tempo fazia parte do senso comum dos médicos que a alimentação do homem
contemporâneo tinha problemas. Essa alimentação conheceu várias denominações:
moderna , ocidental , ou civilizada .
Tal constatação, não obstante, revelou-se um tanto perigosa para a indústria da
doença. Alguém poderia querer saber o porquê disso; o que torna a dieta moderna
causadora de doenças? E mesmo esse conceito vago de que a alimentação do homem
moderno era doentia foi abandonado pelo establishment médico em troca de conceitos tais
como maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentário .
A Drª Elisa Biazzi, por exemplo, no livro Diabetes: um guia prático, relacionou treze
fatores patogênicos característicos do estilo de vida moderno, segundo ela colhidos em
entrevistas e estatísticas: falta de exercícios físicos, alimentação rica em gorduras, excesso
de alimentos de origem animal, gula, refeições em horários irregulares, consumo elevado de
refrigerantes, falta de vegetais nas refeições, estresse físico ou emocional, dormir pouco,
obesidade, fumo, álcool, fatores genéticos. E, além disso, ouvir rock metálico...28 Da
vaguidão pulamos para a diluição total.
O Dr. Herman Taller, em seu livro Calorias não engordam, já havia notado que, por
volta de 1930, os médicos, desprezando as teorias metabólicas na determinação de uma
dieta adequada, passaram a considerar os hábitos alimentares defeituosos .29 Atkins dá
mais detalhes sobre esse marco na história da medicina. Os médicos Newburg e Johnston,

28 Biazzi, E. Diabetes: um guia prático. Rio de Janeio: Exped/Páginas Amarelas, 2001, p. 46.
29 Taller, Herman. Op. cit. p. 29.
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da Universidade de Michigan são os autores dos estudos que associavam perda de peso à
deficit calórico. E ele cita a conclusão: Desejamos expor a afirmação de que a obesidade
nunca é causada diretamente por um metabolismo anormal, mas que é sempre devida a
hábitos alimentares não ajustados às necessidades metabólicas . Segundo Atkins essa
afirmação virou um dogma repetido até os dias de hoje.
Coincidentemente com essa inflexão no discurso médico a indústria farmacêutica
colocava no mercado as anfetaminas usadas para inibir a fome. Convenhamos, uma
verdadeira tabelinha da indústria da doença e um gol de placa contra a humanidade. Quando o
povo americano andava consumindo 8 bilhões de doses dessa droga por ano um decreto
federal proibiu a sua fabricação. 30 No Brasil tais drogas são vendidas sem receita médica e
com propaganda em horário nobre da televisão.
De fato, médicos e nutricionistas não estão preocupados, por exemplo, com o que
acontece em termos de transformações químicas com o açúcar no organismo. Se, como
queria o doutor Taller a medicina levasse em consideração o metabolismo o açúcar
substância química portadora de calorias vazias logo seria colocado em xeque.
O açúcar de mesa é um cidadão acima de qualquer suspeita; o culpado é você,
que possui maus hábitos alimentares, ingere muitas calorias e engorda. Foi nesse momento que se
consolidou a diabolização das gorduras. Gordura virou sinônimo de obesidade e se
transformou num espantalho atrás do qual se escondia o açúcar. Há milênios um alimento
básico da humanidade, a gordura, foi anatematizada e usada como bode expiatório para
deixar passar ileso um produto químico moderno que entrou de penetra na mesa da
humanidade há alguns séculos. É antigo o expediente da indústia da doença de arranjar
bodes expiatórios para livrar a cara do açúcar. Na Coletânea de provérbios de Martinho Lutero
(1483-1546) consta: A culpa é minha, falou o queijo, mas foi o açúcar que estragou os
dentes . 31 Até o queijo! Hoje as vítimas são a gordura, o sal e até o mel.
Os conceitos em moda de estilo de vida sedentário e maus hábitos alimentares
são perversos na medida em que os pacientes de vítimas passam a culpados - afinal as
pessoas escolhem seu estilo de vida e seus hábitos alimentares. Trabalho com o conceito de
que a dieta do homem moderno é uma dieta patogênica. Segundo esse conceito, aqueles
que adoecem por causa do que comem são vítimas dessa dieta.
Sou aquele que quer saber por que a dieta é patogênica, o que é que a baiana tem?
O que é que faz com que a alimentação da humanidade de hoje seja uma ração
doentia? Não é preciso ser historiador para se saber que o homem há muito tempo come e
bebe mais ou menos as mesmas coisas: carne, pão, leite, ovos, lentilha, peixe, cereais, frutas,
mel, vinho, cerveja etc. A Bíblia fala muito em comida, o mel é citado umas duzentas
vezes. Então essa parte, digamos, básica da mesa da humanidade, que é a mesma há
muitos séculos, está acima de qualquer suspeita.
Todo mundo sabe que, com o avanço da civilização, entraram componentes na
mesa da humanidade com os quais os autores da Bíblia sequer sonhavam: cereais refinados,
adoçantes artificiais, Coca-Cola, aditivos químicos, agrotóxicos, herbicidas, inseticidas,
alimentos processados, leite em pó e açúcar. Então só pode ser isso: são essas coisas
modernas que tornam a alimentação do homem contemporâneo uma alimentação doentia.

30 Atkins, Robert. Op. cit. p. 90.
31 Fonte: Lippmann, p. 64.
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Mas o que é que exatamente dá o caráter patogênico à dieta? Será o conjunto dos
produtos químicos? Será que dá para dizer que a dieta do homem moderno é doentia por
que consiste em um coquetel de produtos químicos? Em minha opinião, é simpática e
verossímil essa idéia.
A lista dos aditivos químicos já alcança a casa dos milhares, dos mais de 6000
aditivos químicos existentes a maioria deles destina-se a alterar a cor e o sabor dos
alimentos. O consumo do corante caramelo corresponde a 90% de todos os corantes
utilizados, com um consumo mundial aproximado de 200 mil toneladas por ano. Quase
40% do corante caramelo são de açúcares residuais.
Acontece que todos, um por um, os aditivos alimentares são rigorosamente
controlados pelo governo, através de suas agências. Os níveis de toxicidade, ingestão diária
aconselhável, níveis de segurança etc.
O que quero dizer é que não me parece que seja por aí. De per si também,
nenhum dos chamados aditivos químicos, reconhecidos como tal, chega a marcar ou
condicionar a dieta humana. Se eu disser que a dieta moderna é doentia por que é salgada,
isso não soa como verdade. E olhe que o sal não é para ser comparado com um produto
químico moderno, como por exemplo, o acessulfame k. Ou que a dieta é patogênica por
ser colorida de tanto corante. Urucum, corante natural, não faz mal a ninguém. Já os
corantes artificiais são suspeitos de provocar câncer. Em todo o mundo há um movimento
visando a retirada desses aditivos da lista dos permitidos. O país que foi mais longe nessa
direção, a Noruega, aboliu totalmente o uso de corantes artificiais em alimentos no ano de
1975. Se esses corantes em conjunto respondessem pelo caráter patogênico da dieta do
homem civilizado, a Noruega seria um exemplo para o mundo de país dotado de uma dieta
normal, não patogênica. Não é o caso. Uma falácia muito comum, também, é pôr a culpa
numa categoria de alimentos: uns acusam a gordura como o vilão da dieta, outros acusam
os carboidratos. Ambos estão errados - carboidratos e gorduras são alimentos e o veneno
da dieta não é nenhum alimento, é claro. Ou pelo menos deveria ser.
O veneno da alimentação da humanidade contemporânea é um produto químico
barato e abundante que, travestido de alimento, vêm impregnando progressivamente não
só os alimentos, mas tudo o que entra pela boca do ser humano: comida, bebida, remédio,
e até fumaça de cigarro e pasta de dente. Refiro-me ao açúcar, produto químico por
excelência, extraído de um capim e adicionado aos alimentos, agente adoçante e ao mesmo
tempo conservante. Não é considerado como tal nem pelas agências do governo que
controlam os aditivos alimentares. O açúcar consegue enganar até médicos e químicos que
o consideram um carboidrato como outro qualquer. Quando na verdade é o aditivo
químico que mudou o caráter da alimentação do ser humano conferindo-lhe
patogenicidade.
O açúcar, hoje, impregna a alimentação do ser humano de tal modo que a
denominação que melhor a define é dieta açucaradamoderna. É o açúcar o verdadeiro e único
agente que conferiu caráter patogênico à dieta moderna, por adicionar calorias
desnecessárias que prejudicam o metabolismo, além de provocar cárie, ser isento de
nutrientes, roubar água, vitaminas e minerais do corpo, vir acompanhado de lixo químico
fino tóxico, e também de promover o fenômeno da glicação não-enzimática das proteínas
que vai lentamente conduzindo o organismo para a vala comum das moléstias crônicas e
degenerativas (vide A gênese dos bonecos de açúcar).
Os resultados de pesquisas científicas associando o açúcar a uma infinidade de
doenças dá para preencher um catálogo telefônico. Este livro negro é apenas um
bosquejo. As evidências epidemiológicas já assustam a banda honesta da comunidade
científica. E para aqueles que são patológicamente céticos quanto a isso atire a primeira
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pedra aquele que não tiver um dente obturado, não seja diabético (nem tenha resistência à
insulina), não seja obeso (nem tenha sobrepeso), cardíaco ou hipertenso.
A Nutrire, mesmo sendo uma revista apoiada por pesos pesados da civilização do
açúcar (Coca-Cola, Nestlé, Danone, Ajinomoto, etc.), publicou um artigo a respeito do
índice glicêmico dos carboidratos. Antes um parênteses para lembrar que a dieta açucarada
moderna impregna de açúcar não só os carboidratos industrializados, mas as proteínas e as
gorduras também. Segundo esse artigo, o indice glicêmico dos carboidratos variam muito
entre si. Uma mesma quantidade de carboidratos pode provocar respostas glicêmicas (nível
de açúcar no sangue) diferentes dependendo de alguns fatores. Uma porção de carboidrato
refinado, por exemplo, eleva o açúcar do sangue a níveis mais altos que uma porção
equivalente de carboidrato integral.
Na tabela de índices glicêmicos de alguns alimentos que ilustra o artigo da Nutrire,
está que o IG de feijão fava é 42 e o mesmo feijão conservado em água com açúcar é 74;
o IG de iogurte sem açúcar é 27 e com açúcar 48; o de lentilha verde é 42 e conservada em
açúcar 74.
A adição de açúcar eleva o indice glicêmico dos alimentos. E segundo explicações
propostas por estudiosos citados pela revista, dietas com alto índice glicêmico produzem
picos altos de insulina após as refeições, que podem resultar em diminuição de açúcar no
sangue para níveis muito baixos. O que desencadearia uma reação aumentando os níveis de
ácidos-graxos livres e diminuindo a sensibilidade à ação da insulina.32
Outros autores citados sustentam que dieta com alto índice glicêmico induz
alterações hormonais (insulina, glucagon) e metabólicas (redução da produção hepática de
glicose e ácidos-graxos provocada pela alta incorporação de açúcar pelas células musculares
e hepáticas). Isso pode limitar a disponibilidade dos combustíveis metabólicos prejudicando
a homeostase energética e provocando fome. Tomo a liberdade de concluir: com fome o
boneco de açúcar volta a se alimentar da dieta açucarada que novamente irá provocar o
mau funcionamento endócrino e metabólico e assim por diante. Esse sim é que é o
verdadeiro ciclo do açúcar .
O açúcar só não é denunciado como o agente responsável pelo caráter patogênico
da dieta humana por várias razões, entre as quais: a) a existência de uma indústria da
doença em funcionamento: aquela cultura industrial que se sustenta mutuamente de
alimentos e medicamentos ; b) o green card conferido ao açúcar pela FDA; c) o fato de o
açúcar em geral fazer mal à maioria das pessoas de maneira lenta e gradual, se bem que a
cárie é um mal imediato que o açúcar provoca, e obesidade e diabetes estão tendo suas
incidências aceleradas pelo avanço do açucaramento da dieta; d) o fato de o açúcar ser
atualmente o mais dissimulado ópio do povo e até de médicos e intelectuais, e de estar
envolto numa cortina ideológica que o apresenta como um alimento natural; e) e, last but not
least, ninguém quer encarar o ônus de uma denúncia dessa natureza.
O segundo problema da alimentação da humanidade contemporânea é o uso de
cereais refinados. Destituídos de fibras, vitaminas e minerais eles contribuem para a
subnutrição e prisão de ventre. Outros problemas são os agrotóxicos ou um ou outro
aditivo químico potencialmente cancerígeno. Talvez os alimentos transgênicos sejam um
problema, não se sabe. Mas se forem retirados da mesa da humanidade os cereais refinados
(e adotados os integrais), os aditivos perigosos, os agrotóxicos e até os transgênicos e for
deixado o açúcar a dieta continuará com seu caráter patogênico.
32 Caruso, L.; Menezes, E. W. Índice glicêmico dos alimentos In: Nutrire, São Paulo, SP. V.19/20, p.
49-64, 2000.
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Dieta hipocalórica
Desde os anos trinta do século XX que se fazem experiências com animais de
laboratórios (ratos ou macacos), testando tanto as dietas hipercalóricas quanto as
hipocalóricas. Entre os pesquisadores pioneiros destacam-se o Dr. Clive MacCay, da
Universidade de Cornell, Estados Unidos, e também a Dra. Judith Campise, diretora do
Departamento de Biologia Molecular do Laboratório Nacional Berkeley. Uma
preocupação desses pesquisadores é que a dieta hipocalórica não comprometa a ingestão
ideal de nutrientes. Os resultados sempre apontaram na mesma direção: as cobaias
testadas com alimentação de baixas calorias tinham mais saúde, eram mais magras, espertas
e tinham seu tempo de vida prolongado em até 100%. Por outro lado, as dietas de altos
níveis calóricos ficaram associadas a obesidade e a uma incidência maior de câncer de
próstata e possivelmente de mama.
Recentemente a revista Veja (edição 1837) trouxe reportagem sobre pesquisas
recentes levadas adiante pela Calorie Restriction Society, da Califórnia coordenadas pelos
cientistas Brian Manning e outros. Na matéria há uma informação interessante: os açúcares
e carboidratos são praticamente banidos da dieta, mas são mantidas as fontes de proteínas,
gorduras e vitaminas. Em outras palavras a famosa dieta hipocalórica é uma versão da dieta
do doutor Atkins com a diferença de que utiliza uma menor quantidade de comida. Atkins
restringia os carboidratos mas liberava o consumo de proteínas e gorduras animais, as quais
não engordam nem provocam a insulina. A bem da verdade, então, o nome da dieta
hipocalórica deveria ser dieta de restrição de carboidratos. Eis uma verdade dura para a
indústria da doença: juventude e longevidade têm a ver com carnes e gorduras. O doutor
Atkins diz em seus livros que seus pacientes novos que praticavam a dieta oficial
equilibrada/ balanceada que diaboliza gordura e colesterol tinham a pele envelhecida,
macilenta e sem tônus. E aqui no Brasil em 2005 completou 110 anos o baiano de
Macaúba, Raimundo José de Souza. O prato básico de sua dieta é feijão cozido com
toucinho. Ele comemorou seu aniversário com um churrasco oferecido por uma fração de
seus 500 descendentes!33
Nos dias de hoje há até tribos organizadas em torno do ideal de baixas calorias -
ideal que, diga-se de passagem, é dos tempos bíblicos, posto que a gula era tida como
pecado e o jejum praticado periodicamente. Um endereço na internet sobre o tema é
www.calorierestriction.org .
Ainda dentro do tema baixas calorias o Guia de Apoio Nutricional para Diabéticos,
edição coordenada por Alfredo Halpern, diz que o tratamento do diabetes depende
inteiramente da obediência do paciente a duas coisas, às recomendações do médico e a um
plano alimentar de preferência individualizado .
O objetivo do plano alimentar é o controle de peso. O pequeno guia médico
afirma que dietas hipocalóricas e perda de peso ajudam de maneira insofismável no
controle metabólico .
E no capítulo três, sobre necessidades calóricas, está dito que a indicação médica é
de uma redução de 250 a 500 Kcal por dia quando necessário.34

33 O Globo on line e também geraldofreire.uol.com.br.
34Fonte: Halpern, Alfredo. Guia de apoio nutricional para diabéticos. Rio de Janeiro: Lemos Editorial,
s/d.
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A humanidade tem sido feita de cobaia de uma dieta artificialmente hipercalórica, a
dieta açucarada moderna. Tal experiência , levada adiante pelos traficantes de açúcar,
constitui um verdadeiro crime que conta com a conivência de médicos e nutricionistas.
A conclusão que se impõe é a seguinte: quer se trate do carola que procura evitar o
pecado da gula, do tribalista adepto da estratégia nutricional de baixas calorias ou do
médico que cuida de seu paciente diabético, se houver honestidade o primeiro passo no
caminho da redução de calorias é a proibição do consumo de açúcar. A retirada do açúcar
da dieta significa apenas redução de calorias sem que seja necessário abrir mão de um
grama sequer de comida de verdade. E não é só de calorias que se livra, o indivíduo livra-se
também das patologias do açúcar, a começar pelas cáries.
O elogio da gordura e do colesterol
A dieta açucarada moderna é responsável por epidemias que atingem a quase
totalidade da espécie humana: cárie dentária, obesidade, hipertensão, doenças
cardiovasculares e diabetes. Todo mundo tem um amigo ou parente diabético. É o apogeu
da civilização do açúcar.
A ditadura do açúcar, para manter sob seu controle ideológico toda a sociedade,
inclusive a medicina e a nutrologia, tem pronto um pacote teórico para ocultar essa
realidade. A base desse pacote é a diabolização da gordura e do colesterol, a teoria dos
açúcares e os conceitos usados como diagnósticos ad hoc.
A diabolização da gordura ao longo de todo o século XX foi um processo tão bem
conduzido que vejam como o Dr. Barry Sears, Prêmio Nobel de medicina, em seu livro,
teve que se expressar: Qual é a palavra mais temida no dicionário nutricional?
GORDURA. Em nenhuma parte do mundo, a adipofobia é mais grave do que nos Estados
Unidos e em nenhum outro lugar as pessoas são tão gordas. Enquanto os norte-americanos
acreditam que os carboidratos são os salvadores da humanidade, a gordura é considerada o
mensageiro da morte. Já disse e repito: a gordura nutricional não faz com que engorde. E
tem mais e isso é ainda mais impressionante você precisa ingerir gordura para perder
gordura 35
Como a indústria da doença teria dificuldade de ficar tapando o sol apenas com a
peneira da diabolização da gordura, ela criou também um coadjuvante igualmente
diabólico: o colesterol. Gordura e colesterol pagaram o pato pelo problema da obesidade e
das doenças cardiovasculares. A obesidade seria causada por uma alimentação rica em
gorduras , que na verdade era uma dieta crescentemente açucarada. A obesidade moderna,
ou seja, a obesidade mórbida, é filha da alimentação açucarada. Os gordos de antigamente
eram gordos saudáveis. A obesidade só ganhou status de doença na civilização do açúcar,
mas o aparato de propaganda da ditadura vende a idéia de que o consumo de açúcar é
seguro , que o que causa a obesidade é o excesso de calorias proveniente da gordura e
que o colesterol presente nas gorduras é o causador de doenças cardíacas e cerebrais .
Dois livros que arrasam com o castelo de cartas ideológico da gordura e do colesterol são
os do Dr. Kilmer McCully, O fator homocisteína, e de Thomas J. Moore, A saúdedo seu coração.
Mais recentemente o médico brasileiro Sérgio Puppin entrou na briga com o seu livro Ovo,
o mito do colesterol.
35 Sears, Barry. O ponto Z, a dieta. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 21.
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A gordura desempenha um importante papel em nosso organismo. É a principal
reserva de energia, sendo o combustível que faz bater o coração; transporta e armazena as
vitaminas lipossolúveis (A,D,E,K); modula os níveis sangüíneos de testosterona e outros
hormônios sexuais que atuam no desenvolvimento muscular; fornece elementos essenciais
para a formação de células do sistema imunológico; protege o corpo em situação de jejum
ou fome; tem um papel plástico na constituição das membranas celulares; reduz a perda de
calor, devido à sua baixa condutividade térmica; reduz também a velocidade de ingresso de
açúcar no sangue; melhora o sabor dos alimentos e dá sensação de saciedade. A gordura
corporal constitui mesmo um importante órgão do corpo, assim como o endotélio ou os
pulmões, tem função de recheio, sustentação e proteção dos órgãos e do corpo e responde
pela termogênese. A gordura mantém ainda a elasticidade e a juventude da pele. Reduzir a
gordura da dieta pode tornar as membranas celulares, que são compostas de fosfolipídios,
rígidas, pouco permeáveis à entrada de nutrientes nas células, com conseqüente
envelhecimento precoce , diz-nos o Dr. Leone Iribarrem.36 Outro médico, o Dr. George
Cahill, de Harvard, diz-nos que o tecido cerebral utiliza mais facilmente as cetonas do que a
glicose e que os corpos cetônicos são o combustível preferido do cérebro 37. As vitaminas
A, D, E, e K encontram-se apenas na gordura de alimentos como carnes, ovos, queijos e
castanhas.
A raça humana tem vários grupos que são conhecidos por suas dietas ricas em
carnes e gorduras, como esquimós, massai (negros do Norte da África), judeus do Iêmen,
tibetanos e outros. Nômades siberianos consomem diariamente um quilo de carne
vermelha. E todos, até entrarem em contato com a dieta açucarada do homem
civilizado , não sabiam o que era cárie, obesidade, diabetes nem hipertensão.
Quanto ao caluniado colesterol, que nem gordura é, já foi desmascarado como
causa de arterioesclerose pelo Dr. Kilmer McCully, segundo ele esse papel cabe à
homocisteína, um subproduto do metabolismo da metionina, um aminoácido essencial.
Recomendo a leitura do seu livro O fator homocisteína, para que o leitor fique sabendo
sobre a perseguição que o establishment médico americano moveu contra ele por ter peitado
o bonde do colesterol . Nesse livro o leitor verá que o colesterol é um componente
necessário em todas as células; e é produzido no fígado, nos intestinos e em outros órgãos
e depois usado para a fabricação de novas células, especialmente dos tecidos do cérebro,
nervos, e córtex da suprarenal, produção de hormônios e formação de bile, além de ser
precursor de vitamina D; quanto mais colesterol ingerimos menos o nosso corpo o
produz; e a recíproca é verdadeira. E o colesterol contido no ovo da galinha será usado na
fabricação das células e tecidos dos pintinhos , diz brincando o Dr.McCully.
É o próprio McCully quem se encarrega de dizer que as gorduras trans dos óleos
hidrogenados presentes na margarina, sorvete e chocolate entre outros é que são um perigo
para a saúde.
E também são nocivos os oxicolesteróis (aqueles prejudicados por excesso de átomos
de oxigênio).
A medicina oficial inventou uma relação causal entre altas taxas de colesterol
plasmático e doença cardiovascular arterioesclerótica embora, paradoxalmente, a maioria
dos doentes cardíacos apresentem níveis normais de colesterol. E passou a prescrever à sua
clientela uma dieta que abolia gordura animal. Ocorre que seus pacientes, a despeito de
terem tirado da sua mesa quase toda a gordura animal, continuavam tendo altas taxas de
36 Iribarrem, L. Gordo nunca mais. Rio de Janeiro: Razão cultural, 2000, p. 33.
37 Apud Atkins. Op. cit. p. 69.
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colesterol. Para esclarecer este paradoxo um brilhante pesquisador, o Dr. D. S.
Fredrickson, elaborou uma sofisticada teoria classificando as hiperlipidemias em cinco
grupos. Um desses grupos dá conta de uma hiperlipidemia mista na qual o paciente
apresenta altas taxas de colesterol e triglicerídeos. O Dr. Fredrickson notou que, quando
privados de alimentos ricos em gordura animal, os pacientes, para satisfazer seu apetite,
recorriam a doces, bolos, tortas e pudins. Esse açúcar todo era metabolizado
transformando-se em triglicerídios e depois em colesterol.
Mas ao invés de reconhecer que foi bobagem pedir às pessoas que parassem de se
alimentar de carne, ovos, leite, queijo e manteiga, e que para equilibrar as taxas de colesterol
e triglicerídios bastaria zerar o açúcar, os médicos, baseados nas descobertas do Dr.
Fredrickson, passaram a propor que além da gordura animal seus pacientes reduzissem
também os açúcares .38
O sal e o açúcar na mesa
No processo de institucionalização da ditadura da dieta açucarada, o sal exerce o
papel de um inocente útil. A relação de oposição de sabores entre sal e açúcar confere ao
açúcar uma aparência de naturalidade. Hoje a mesa da humanidade inclui dois objetos
indefectíveis, o saleiro e o açucareiro. Um pó branco responde pelo gosto salgado e o
outro pelo gosto doce. Ambos, sal e açúcar, dão a impressão de que a mesa está completa.
Nas festas se comem salgadinhos e docinhos.
Na verdade só o sal é natural na mesa; o açúcar é um intruso, um corpo estranho.
O velho sal da terra acompanha a humanidade desde priscas eras. Há quase 3000 anos
antes de Cristo os chineses já obtinham sal evaporando a água do mar em salinas, ou pela
mineração de rochas de sal. Já houve guerras na Antiguidade por causa dele que já foi
usado até como moeda dando origem a palavra salário . O corpo humano tem
necessidade de sal - uns poucos gramas, apenas, por dia . O brasileiro anda consumindo
entre oito e treze gramas de sal por dia, parece que é muito. O doutor Dean Ornish diz que
essa crença de que a ingestão de sal contribui para elevar a pressão de todos, está
ultrapassada. Segundo ele o corpo mantém uma concentração de sal precisa, e retém água
para diluir o sal e manter uma concentração constante no caso de uma ingestão excessiva.
Mas que, a maior parte das pessoas consegue excretar o sal e a água extras através da urina.
Ainda segundo o doutor Ornish o sal é problema apenas para quem já sofre de pressão
alta, e mesmo assim menos de um quarto das pessoas com pressão alta são sensíveis ao
sal . O sal não é o grande inimigo da saúde, como muitas pessoas acreditam . Diz,
conclusivo .39
Sob as formas de cloreto ou bicarbonato de sódio, o sal controla a pressão
osmótica, o equilíbrio iônico dos líquidos e a irritabilidade dos músculos cardíacos. Sem o
sal o coração não bate, ou melhor, não se contrai. Quem sua muito em atividade física deve
ingerir uns gramas de sal a mais e ao mesmo tempo muito líquido. A supressão do sal
numa dieta acarretaria prejuízos à saúde como distúrbios no córtex adrenal e aumento de
aldosterona na secreção urinária. Portanto, o sal e o saleiro têm direito de cidadania na
mesa da humanidade. Já o açúcar é um intruso que usurpou o lugar do mel. O mel é um
alimento saudável que sempre foi consumido com moderação pela humanidade, ao passo
que o açúcar é um composto químico nocivo que chegou com pretensão totalitária se
aboletou na farmácia impregnando os remédios e até o creme dental, invadiu a mesa
38 www.manuaisdecardiologia.med.br.
39 Ornish, D. Salvando o seu coração. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993, p. 253.
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dominando os alimentos doces e até os salgados, ou seja, tudo o que a humanidade comia.
Achando pouco, tratou de impregnar as bebidas alcoólicas, refrigerantes, chás, café e
chocolate, ou seja, tudo o que a humanidade bebia completando o ciclo. Hoje o açúcar
impregna quase tudo que entra pela boca da humanidade. Até a fumaça dos cigarros em
parte é açúcar queimado. Açúcar é um produto químico barato e abundante que está
transformando a mesa da humanidade numa ração cada vez mais patogênica. Urge jogá-lo
fora, com açucareiro e tudo.
Sal assassino?
Nos anos 80 do século passado (parece uma eternidade) a editora Ground, a mesma
que publicou Sugar blues, traduziu também Sal assassino, de Marietta Whittlesey. De certa
forma esse livro contribuiu para diminuir o impacto da denúncia contida no livro de
William Dufty. Aparentemente ambos seriam coisa de natureba - um demonizando o
açúcar e o outro o sal.
Talvez seja paranóia ou conspirativismo de minha parte achar que Sal assassino visava
mesmo tirar um pouco da seriedade da denúncia do açúcar. O fato é que o livro de dona
Marietta é fraco, as teses em que se baseiam são cheias de ressalvas. O livro pede que se
elimine totalmente o consumo de sal mas com a ressalva de que mesmo as pessoas comuns
falem antes com um médico. As grávidas, os que fazem grandes esforços físicos, e os
vegetarianos para riscar o sal de sua dieta teriam que se cercar de cuidados especiais.
Segundo a autora ninguém, em nenhuma circunstância, deve se colocar numa
dieta totalmente isenta de sal. De fato, mesmo antes de você alterar drasticamente o
consumo de sal, seria, eu acho, uma boa idéia consultar um médico. Lembre-se: sem algum
sal, o equilíbrio dos fluidos vitais do corpo será criticamente alterado e podem surgir varias
desordens .40
Dona Marietta, obcecada com o problema do sal, ignorava completamente o
problema do açúcar. Ela própria sofria de obesidade e achava que isso se devia ao consumo
de sal, depois fazia a ressalva para explicar que obesidade não se reduz à retenção de
líquidos provocada pelo excesso de sal.
É verdade que a quantidade de sal na dieta contemporânea é abusiva, mas encontra
limite no próprio paladar das pessoas: um alimento excessivamente salgado é insuportável.
De modo que a proposta de zerar o sal parece-me fora de propósito.
O livro Sal assassino não foi reeditado e foi esquecido. E de fato, solto no espaço é
apenas uma tentativa de demonização ou uma paranóia contra o sal. Ele encontraria sua
razão de ser se fosse apenas um capítulo de Sugar blues. É a própria autora que denuncia o
fato de que a maioria dos alimentos comerciais para bebês está entre os menos
alimentícios e mais ricos em sódio e açúcar do mercado .41 Ainda segundo ela o hábito
muito difundido do consumo de alimentos salgados como pipoca (que naturalmente já
contém sódio) com mais sal adicionado e ainda manteiga também salgada, provoca uma
secura na boca que leva ao consumo de refrigerante - justamente o maior responsável pelo
transporte de açúcar para a barriga das pessoas.
Recentemente nossa juventude foi bombardeada com a campanha publicitária
pipoca com guaraná . O que deixa claro o papel reservado ao sal na civilização do açúcar:
os alimentos excessivamente salgados são uma armadilha para levar os incautos a um maior
consumo das bebidas açucaradas.
40 Whittlesey, Marietta. Sal assassino. São Paulo: Ground, 1983.
41 Idem, p. 65.
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Olfato e paladar
O gourmet é como um artista, como um poeta. O paladar é um órgão tão delicado,
tão digno de atenção e de aperfeiçoamento quanto os olhos e os ouvidos . Essa frase do
escritor francês Guy de Maupassant, que colhi em Silva Mello (Alimentação, instinto e cultura),
chama a atenção para um detalhe, o fato de que o paladar pode e deve ser aperfeiçoado.
Para se ter uma idéia de até onde pode ir o aprimoramento do senso gustativo e da
sensibilidade do paladar, é ainda Silva Mello quem relata o caso de um provador de vinho
do Porto que não errou uma só vez degustando 500 amostras diferentes.
Outros cultivadores dessa arte são capazes de precisar, com segurança, o ano da
safra, a região de onde procede a uva e até se ela foi adubada com esterco. Ainda segundo
o autor, a língua não é um órgão autônomo no que diz respeito ao paladar; ela trabalha
associada ao olfato. Quando falamos em vinho, antes de provar o sommelier sente o bouquet.
O olfato em termos de acuidade é para deixar o queixo caído. O ser humano é capaz de
perceber o cheiro produzido por um trilionésimo de grama de almíscar. Silva Mello
conclui que nosso olfato pode perceber o cheiro de substâncias que não seriam
reconhecidas pela análise química e espectral senão em concentrações cem mil vezes
maiores!
Uma proposta de educação do paladar passa obrigatoriamente por colocar em
xeque a dieta açucarada. Todo mundo depois de alguns séculos de ingestão de uma dieta
cada vez mais açucarada está viciado no gosto do açúcar. O doutor Andrew Pacheco diz
com a tranqüilidade de quem se refere a conhecimento cientificamente estabelecido: Já
sabemos que tudo que a mãe ingere passa para o seu filho. Se ela não ingerir açúcar durante
a gravidez, não vai transmitir a memória do gosto pelo doce para o bebê .42 Que acontece
por volta do quarto mês de vida intra-uterina quando inicia-se a formação das papilas
gustativas e com elas o desenvolvimento do paladar.
O açúcar forma hábito, ou melhor, vicia e embota o paladar. O vício no sabor
doce, melequento e de gosto duvidoso do açúcar faz com que o viciado só reconheça os
sabores básicos e fortes, o salgado, o ácido e o amargo, mas prefira o doce. Os alimentos
nos fornecem uma gama infinita de sabores, mas o viciado quer tudo adoçado com açúcar.
Certa vez o presidente mundial da Coca-Cola numa entrevista estava se
vangloriando de uma vitória da Coca-Cola sobre a água; ele baseava-se numa pesquisa em
que a maioria dos entrevistados respondia que quando tinha sede o que lhe vinha à cabeça
era a idéia de beber uma Coca bem gelada. Desnecessário dizer que era só uma batalha, a
guerra quem vai ganhar é a água. A própria Coca-Cola já deu o braço a torcer e está
vendendo sua própria água mineral.
Outra pesquisa colocava um grupo de pessoas diante de duas mesas, uma de
docinhos e outra de salgadinhos. A mesa de docinhos foi rapidamente esvaziada pelos
convivas. Que criança hoje prefere um copo de leite puro ao mesmo leite misturado com
um achocolatado contendo 60% de açúcar? O que explicaria o fato de uma pessoa preferir
um refrigerante a água, senão o fato de estar dependente de açúcar?
42 Pacheco, Andrew. A saúde passa pela boca II in: www.tudoperto.com.br.
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O abandono desse vício vai depender de uma pesada campanha semelhante à que o
Governo move contra o fumo. O ideal seria que desde já as mães de crianças pequenas
retirassem o açúcar da mamadeira; com uma cajadada só livrariam seus filhos de cárie
dentária, vício em doces, obesidade infantil, diabetes e outras mazelas crônicas.
Calorias negativas
A internet é também um mar virtual de mentiras e meias verdades. Um conceito
novo fácil de encontrar em sites que tratam de alimentação e saúde é a caloria negativa. O
significado do termo varia de acordo com o gosto do freguês. Já o vi em blogs de
adolescentes significando deficit calórico tipo assim: Andamos muito, precisamos repor as
calorias negativas . Já em outro site as fibras presentes nos alimentos vegetais têm sido
usadas para classificar esses alimentos como portadores de calorias negativas - estas seriam
as calorias deslocadas dos alimentos pelas fibras. Em outro site pessoal o aipo é apontado
como alimento de calorias negativas, porque dá trabalho para digerir e você perde mais
calorias na digestão que as calorias que ele contém.
Agora vamos à verdade dos fatos. Todo alimento é positivamente calórico, não há
alimentos com calorias negativas . Uns são mais calóricos que outros, mas todos contêm
calorias. É certo que mais fibras significam menos calorias, porque as fibras não são
digeríveis pelo organismo humano.
Calorias negativas são, isto sim, as calorias adicionadas pelo açúcar. Já estamos
acostumados com o conceito de calorias vazias, nuas ou frias devido ao fato de todos os
alimentos englobarem nutrientes e calorias e o açúcar aparecer como um corpo estranho
dotado de calorias e despido de nutrientes. A ADA, American Diabetes Association,
chama os carboidratos naturais de carboidratos nutritivos, e o açúcar só pode ser
carboidrato não nutritivo. Talvez venha daí o conceito de calorias negativas - as calorias do
açúcar responsáveis pela formação de gorduras brancas não vascularizadas.
A médica Ana Lídia Carvalho, do Instituto de Medicina Natural da Amazônia,
afirma que as gorduras sem vascularização, produzidas por calorias negativas, são as que
endurecem as paredes dos vasos sangüíneos, dificultando a passagem normal do sangue,
obstruindo as artérias e causando enfartes .
Gordura marrom é gordura humana saudável vascularizada e termôgenica,
encontrada em bebês alimentados pelo leite materno. Encontra-se também em esquimós
legítimos, aqueles que comem peixe cru.
Os médicos da indústria da doença andam tentando vender a idéia de que gordura
marrom é coisa de criança e não de adulto; que esquimó a tem por causa do frio; e que nos
climas quentes ela não existe. Ledo engano: os gordinhos da tropical ilha de Tonga são
saudáveis portadores de gordura marrom.
A doutora Ana Lídia está pesquisando há 16 anos uma enzima chamada leptina que
transforma gordura branca em gordura marrom. O conceito do Açúcar zero é mais
simples: recomenda apenas que as pessoas parem de comer açúcar, o causador de gordura
branca e da obesidade mórbida. Assim elimina-se o mal pela raiz.
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Açúcar e álcool
Açúcar e álcool são como as duas faces de uma mesma moeda: álcool nada mais é que açúcar fermentado e destilado. Os
químicos classificam o açúcar como sendo um poliálcool. O álcool pega fogo, o açúcar oxida tão rapidamente que até explode. O
álcool dá um barato (efeito ansiolítico), o açúcar ativa neurotransmissores que dão uma sensação de bem estar e saciedade. O
álcool vicia, o açúcar se não vicia causa dependência .
O conjunto de fenômenos mórbidos, agudos ou crônicos que resultam de uma
ingestão exagerade de açúcar são semelhantes aos provocados pela ingestão de álcool em
altas doses. No filme Super size me seu protagonista Morgan Spurlock, depois de um período
alimentando-se exclusivamente da dieta açucarada do McDonalds, ficou com seu fígado
semelhante ao de um alcoólatra, segundo o médico que acompanhou a experiência. As
calorias do álcool são calorias vazias (calorias puras desacompanhadas de qualquer
nutriente, vitamina ou mineral) exatamente como são as calorias do açúcar.
Nos Estados Unidos nos anos vinte do século passado, por ocasião da Lei Seca que
proibiu as bebidas alcoólicas, o consumo de açúcar duplicou, como se o açúcar fosse
mesmo um sucedâneo do álcool. O álcool faz mal à saúde, o açúcar também.
As semelhanças param por aqui; na verdade o açúcar é pior que o álcool para a
saúde do ser humano. Aliás o álcool passou, mesmo, a ser um problema para a humanidade
depois que a ditadura do açúcar pôs o tacão no templo sagrado de Baco. Luiz Lobo e
Leopoldo Câmara no simpático livro A arte do rabo de galo dizem, sobre a mistura de bebidas
alcoólicas: O problema está naquilo que vamos misturar e não na mistura. O maior perigo
está no grande consumo de açúcar em combinação com o álcool, porque provoca náusea, e
indigestão. O álcool disfarça o doce, mas a mistura, no caso, é perigosíssima . E mais:
Fora com os doces, que só fazem intensificar os efeitos do álcool .43
O texto completo de uma das epígrafes deste livro, a citação de Robert Boisler,
dentista de Nova Jérsei, datada de 1912, compara o açúcar com o álcool: Se no passado o
preço do açúcar era tão alto que apenas os ricos poderiam utilizá-lo, seu consumo não
provocava do ponto de vista da economia nacional, nenhuma conseqüência. Mas hoje,
devido a seu preço baixo, o alto consumo tem provocado a degeneração nos seres
humanos, é hora de se insistir num esclarecimento geral. A perda de energia provocada
pelo consumo de açúcar no século passado e na primeira década deste, não poderá ser
recuperada, tendo já deixado sua marca na raça humana. Por milhares de anos as bebidas
alcoólicas têm sido usadas sem causar a degeneração de toda uma raça. O álcool não
contém ácidos destrutivos. Aquilo que foi destruído pelo açúcar está perdido e não pode
ser recuperado .44 Que o digam os diabéticos que sofreram amputação de membros; e os
desdentados. O doutor Boisler disse isso numa época em que os americanos consumiam
pouco mais de vinte quilos de açúcar durante um ano inteiro.
O Dr. Atkins pedia a seus clientes que olhassem para os carboidratos como se
fossem porções de açúcar. Já este que vos escreve pede que saboreiem os carboidratos
(alimentos), e olhem para o açúcar do açucareiro como para uma espécie de álcool em pó ou
uma pólvora branca que está sendo criminosamente adicionado à dieta humana, da
mamadeira do bebê à xícara de chá do idoso.
Dos adoçantes
Adoçante artificial deve ser o nome de batismo da sacarina, derivada de alcatrão de
hulha a sacarina foi descoberta ainda no século XIX. Durante o século XX descobriram-se
os ciclamatos, o acessulfame k, o aspartame e a sucralose. Recentemente começou a ser
43 Lobo,L.; Câmara, L. A arte do rabo de galo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, pp. 101 e
102.
44 Boisler apud Dufty, W. Op. cit., p. 28.
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comercializada a estévia, obtida do sumo de uma plantinha, justamente por isso tem sido
chamada de adoçante natural.
A sucralose criada a partir de uma troca de moléculas entre o açúcar do açucareiro e
o princípio ativo da água sanitária deu origem a um problema filosófico - pelo menos para
aqueles que acham que o açúcar é natural porque vem da cana -, é a sucralose natural ou
artificial? Pode um ser natural parir um artificial?
Os adoçantes têm sido usados para substituir o doce malfeitor. Centenas de vezes
mais doces que o açúcar, os adoçantes em geral não são calóricos, nem cariogênicos, e
terão um papel importante na derrocada do império do açúcar. Pesquisas duvidosas que
administravam doses cavalares de adoçantes por longos períodos a animais de laboratório,
conferiram fama de cancerígenos aos adoçantes. Pesquisa assinada pela Merck prova que
uma dose de apenas 29,7 gramas de açúcar mata um rato de um quilo de peso. Mas na
civilização do açúcar não se faz estardalhaço desse fato.45
O termo artificial quer dizer que a substância não se encontra livre na natureza, é
para fazer contraste com natural . A rigor açúcar não dá em árvore e nem a estévia é
espremida de uma planta. Tanto o açúcar quanto a estévia e mais os chamados adoçantes
artificiais, todos são isolados ou purificados quimicamente. Logo são artificiais. Outro
equívoco nesse terreno é o uso do termo adoçante nutritivo para os adoçantes calóricos. O
açúcar é candidato a esse posto, mas está reprovado porque é calórico, porém, desnutritivo.
O único adoçante natural, calórico e nutritivo é o mel de abelhas.
PEGANDO PESADO
O açúcar é, sem dúvida, o assassino número um na história da humanidade. O açúcar é omaior malefício que
a moderna civilização industrial impôs à África e ao Extremo Oriente.
Georges Ohsawa
O Green card do açúcar
A Food and Drug Administration (FDA), a agência do governo dos EUA que
fiscaliza alimentos e remédios, é o equivalente à nossa Anvisa - Agência Nacional deV igilância
Sanitária.
O antecessor mais longínquo da FDA foi o Birô de Química do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos. No início do século XX o Birô foi chefiado pelo Dr.
Harvey Wiley, um Ralf Nader da época. O Dr. Wiley comprou uma briga com a Coca-
Cola por causa de informações de rótulo e áreas de distribuição, mas perdeu. Ele tentou
também fazer aprovar um conjunto de leis que assegurassem a pureza de remédios e
alimentos por meio da proibição do uso de aditivos químicos, tais como sulfitos, ácido
45 Mais informações sobre essas pesquisas sobre adoçantes e a toxicologia do açúcar no próximo capítulo.
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benzóico, dióxido de enxofre, sacarina sódica etc., e ainda tornar obrigatório o uso de
cereais integrais pela indústria de alimentos.
Ou seja, o homem era um naturalista numa agência governamental dos EUA, o
caso típico do homem errado no lugar errado. O final da história era previsível - o Birô de
química foi legalmente desativado, dando lugar à Administração de Alimentos, Drogas e
Inseticidas, precursora da famigerada FDA.46
No tempo do Dr. Wiley havia um grupo de jovens que faziam o papel de cobaia
para testar os aditivos químicos usados pela indústria de alimentos. Esses jovens ficaram
conhecidos como Esquadra do Veneno e o povo acompanhava com interesse, pela
imprensa, os resultados das experiências.
A FDA não deu continuidade a essa prática e ao invés disso instituiu a lista
chamada GCCS (Geralmente Considerada Como Seguro), que arrolava todos os aditivos
químicos, corantes, conservantes, acidulantes, antiumectantes etc. Esta é a base legal da
indústria de alimentos processados.
Por outro lado, a FDA publica uma lista de produtos proibidos quando há
evidências laboratoriais de que são nocivos à saúde de cobaias animais. Os critérios da
FDA em meados do século XX chegaram à beira do irracional por causa da emenda
Delaney à Lei de 1938 da FDA, a qual tratava de substâncias cancerígenas que foram
rigorosamente proibidas independentemente dos termos e da metodologia da pesquisa que
provasse que determinada substância estava associada a câncer em animais de laboratório.
Em função disso os ciclamatos, por exemplo, foram retirados do mercado com base em
pesquisas nas quais se alimentavam ratos com quantidades do adoçante equivalentes a 500
vezes o máximo recomendado para consumo humano.
Também apoiada na emenda Delaney, a FDA propôs a retirada da sacarina com
base em experiências realizadas no Canadá que administravam nas cobaias uma quantidade
do produto equivalente ao consumo de 600 garrafas de refrigerante por dia a longo prazo.
Isso fazia com que esses bichos desenvolvessem câncer de bexiga. 47
Essa rigidez de critérios gerou muita polêmica e os adoçantes foram posteriormente
liberados para consumo até que em 1971 a sacarina foi discretamente retirada da lista
GCCS e seu uso ficou restrito à indústria de alimentos e bebidas dietéticos. O corante red
depois de largamente usado no fabrico de doces, bolos e sucos, com o aval da FDA, em
1990, foi colocado na lista negra em virtude da denúncia pela imprensa de que o produto
era carcinogênico em animais de laboratório, segundo pesquisas independentes.
Recentemente a FDA aprovou para uso a sucralose, o mais novo adoçante artificial
obtido de um troca-troca entre moléculas de cloro e de sacarose refinada. Com isso a
ditadura do açúcar ultrapassou seus próprios limites, conseguiu produzir um substituto
não calórico para o açúcar usando o próprio açúcar como matéria-prima.
Descoberta em 1976, apesar de estar sendo usada no Canadá desde 1992, muitos
países europeus não aprovaram seu uso. Não há até hoje nenhum estudo de longa duração
sobre o consumo de sucralose por seres humanos. Em sua página da internet o doutor
Mercola diz que a sucralose estudada pela FDA tinha 2% de impurezas constituída de
metais pesados, arsênico, metanol, mono e dissacarídeos clorados e óxido de trifenilfosfina.
46 Dufty, W. Idem, p. 130.
47 Krall, Leo P. Manual do diabete de Joslin. São Paulo: Roca, 1983, p. 24.
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Em 1961, uma empresa de Ohio inventou e começou a comercializar um açúcar
enriquecido de vitaminas. O produto continha iodine, ferro, vitamina C, quatro vitaminas
do complexo B e 400 unidades de vitamina A. Um açúcar enriquecido com vitaminas e
minerais provavelmente teria seu caráter danoso eliminado. Acontece que o sucesso de tal
açúcar colocaria em xeque a indústria da doença que se apóia na natureza patogênica do
açúcar. O que os traficantes de açúcar poderiam fazer? Combatê-los ou unir-se a eles? ,
questiona-se William Dufty, que conta essa história em seu livro48, e ele mesmo conclui:
O que aconteceu nas altas esferas da indústria açucareira nós nunca saberemos. A FDA
interveio e o açúcar vitaminado foi confiscado por estar incorretamente rotulado . Os
fabricantes do açúcar enriquecido entraram na Justiça contra a FDA e ganharam o caso,
mas forças ocultas devem ter entrado em ação porque ninguém nunca mais ouviu falar em
açúcar enriquecido de vitaminas.
O Dr. Robert Atkins disse que se um dia fosse eleito presidente dos EUA faria
uma limpeza em algumas coisas em Washington, especialmente na FDA.
Segundo Thomas J. Moore, autor de A saúde do seu coração, livro no qual denuncia o
conjunto de pesquisas que levaram a medicina americana a diabolizar a gordura e o
colesterol, em medicina, certas decisões políticas importantíssimas são tomadas segundo
regras e procedimentos fundamentais que não são encontrados praticamente em nenhum
outro setor da sociedade. (...) A pesquisa médica é comandada por entrosadas comissões de
uma elite de médicos (...) Dentro de uma especialidade, é um clube muito restrito onde os
sócios são conhecidos por seus primeiros nomes .49
Decisões tais como sobre a segurança medicamentosa das drogas vendidas à
população, aprovação ou rejeição de subvenções de muitos milhões de dólares para
pesquisas, ou ainda sobre que novas modalidades terapêuticas devem ser adotadas em larga
escala, e o momento em que outras devem ser abandonadas, são tomadas por uma
aristocracia formada pelos professores das escolas médicas e dos hospitais de ensino. Esta
elite médica compõe as comissões que aconselham a FDA.
Pois bem: é a FDA, a poderosa agência do governo dos Estados Unidos da
América, que garante que o consumo de açúcar é seguro para a saúde das pessoas, mesmo
não sendo o açúcar um alimento e sim uma substância química portadora de um lixinho
químico tóxico, um agente químico conservante, um condicionador de fermentação,
possuir alta osmolaridade, ser abrasivo e até explosivo, depletivo, irritante, acidificante,
cariogênico, carcinogênico, bacteriostático, formicida, raticida, obesificante, causar
dependência, etc., etc., etc. Além de ser absolutamente desnecessário como componente da
dieta humana. O curioso é que o açúcar que tem carta branca é o açúcar refinado, o
puro . O açúcar mascavo, xodó do pessoal naturalista, é considerado pelo FDA
impróprio para o consumo humano por causa das sujeiras que contém.
O açúcar é o único produto químico adicionado a alimentos, bebidas e remédios
que goza desse privilégio. O único aditivo químico acima de quaisquer suspeitas que está
fora do alcance das leis específicas que controlam todas as outras substâncias químicas no
que diz respeito a níveis de segurança toxicológica e índices de ingestão diária
recomendáveis. Quando se trata de açúcar vale sempre o criminoso a gosto para os
bonecos de açúcar e na maioria das vezes o sofisticado quantum satis para a indústria de
alimentos. Fica a pergunta: uma substância que seja adicionada a alimentos e tenha uma
48 Dufty,W. Op. cit., p. 140.
49 Moore,Thomas J.- A saúde do seu coração. Rio de Janeiro: Record, 1994, p. 51.
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ação tipo veneno lento, provocando permanente desequilíbrio no metabolismo e que enfim
leve ao desencadeamento de doenças crônicas e degenerativas, começando pela cárie
dentária, um tal produto pode continuar tendo seus passos livres?
Alimento ou veneno de rato? A toxicologia do açúcar
O açúcar já está presente há séculos na farmacologia. Começou como xarope, mas
hoje é mais comum seu uso como excipiente, conservante ou adoçante. Mas a sacarose é
um produto químico polivalente e tem sido estudado pelas multinacionais farmacêuticas
como tal. Recentemente a Johnson & Johnson modificou a molécula de sacarose usando
cloro e criou a sucralose, o mais novo adoçante químico.
Na página da Unimed há um texto sobre experiência com açúcar como anestésico
em bebê. Quando uma substância química mostra possibilidade terapêutica ela tem que a
princípio ser testada em animais de laboratório, mas como o açúcar é um lobo em pele de
cordeiro, ou seja, é um produto químico travestido de alimento, usam-se bebês como
cobaias.
A Merck, uma reconhecida autoridade mundial em
química, autora do famoso Merck Chemical
Database, um banco de dados sobre produtos
químicos obra de referência usada por universidades e
empresas de todo o mundo, já fez com o açúcar os
estudos de praxe, inclusive os toxicológicos.
A Merck achou a toxicidade do açúcar. Toxicidade é o quociente, expresso em
quilos, da quantidade duma substância necessária para matar um animal.
A dose letal do açúcar (DL 50 oral rat) - dose que mata 50% dos animais testados -
é de apenas 29,7 gramas, quantidade suficiente para matar um animal de um quilo de peso.
Vinte e nove gramas equivalem a apenas duas colheres de sopa de açúcar, uma medida
muito usada pelas donas de casa ao preparar mingaus para seus filhos e maridos. Quando
eu disse isso a um amigo, desses que defendem o açúcar por amor, a princípio ele recusouse
a acreditar. Depois, diante das provas, conformou-se com o argumento de que para se
matar um ser humano de 80 quilos seriam necessários mais de dois quilos de açúcar. Pois
bem, no tópico A vida ou a morte do bebê, mostro que é recomendado, em livro escrito por
médico famoso, a título de laxante suave, a dose de duas colheres de sopa bem cheias de
açúcar para bebês de apenas 15 dias de nascidos. Em pesquisa realizada pela USP sobre o
consumo de alimentos industrializados na dieta de crianças de zero a 60 meses, no
município de São Paulo, R. C. Aquino constatou que os dois alimentos mais consumidos
foram o leite seguido pelo açúcar. Sendo que o açúcar era consumido em quantidade que
variava de 30,7 a 45,0 gramas por dia.50 Considerando o corpinho de um bebê dessa idade
isso equivale a quantos por cento de uma dose letal do veneno?
Da experiência da Merck participaram dois gabirus, um dos quais morreu. A
Merck não informa, mas o bichinho que sobreviveu deve ter ficado bem mal.
Seria interessante que a Merck informasse a causa mortis do animal. O que o açúcar
fez no organismo do rato que o levou à morte: um choque anafilático, um grave
50 Aquino apud Sigulem, D. M. et alii. Obesidade na infância e na adolescência. In: www.pnut.epm.br.
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desequilíbrio ácido-base, uma hemorragia interna, uma diarréia osmolar ou uma glicação
generalizada?
A Merck poderia também enviar um fax ou um e-mail para a Food and Drug
Administration (FDA) com o resultado destas experiências. Nos EUA quando uma
substância química prejudica animais em experiências de laboratório ela passa a ser proibida
para consumo humano.
Logo, se 29 gramas de açúcar não provocam câncer no rato, MATAM-NO logo de
uma vez, isso não justificaria o fim dessa conversa mole da FDA de que o açúcar é de
consumo seguro? Não justificaria a colocação do açúcar na lista de produtos impróprios
para o consumo humano? Não justificaria, pelo menos, a obrigatoriedade de advertência
nos rótulos de açúcar alertando para manter o produto fora do alcance de crianças?
Mesmo assim os bioquímicos e farmacólogos ainda ficam devendo à sociedade
mais informações a respeito do efeito do açúcar no organismo humano, como
biotransformação e reações tóxicas de curto e longo prazo; características de absorção,
excreção, efeitos comportamentais, variação de peso, apetite, possibilidade de lesão
oftálmica etc.
Prevejo para o açúcar um destino semelhante ao da talidomida quando a cortina de
açúcar for rompida (como aconteceu com a Cortina de Ferro) e açúcar for associado à
macrossomia de bebês, típica manifestação teratológica devida às calorias negativas da
sacarose.
Quadro da toxicidade do açúcar comparado com a de
herbicidas usados em plantações de cana-de-açúcar
Terbacil DL 50 oral Aguda do rato 5.000 mg/kg
AÇÚCAR DL 50 oral Aguda do rato 29.700 mg/kg
Dalapan DL 50 oral Aguda do rato 7.570 mg/kg
Devrinol DL 50 oral Aguda do rato 5.000 mg/kg
Diuron DL 50 oral Aguda do rato 3.400 mg/kg
Oxadiazon DL 50 oral Aguda do rato 8.000 mg/kg
TCA DL 50 oral Aguda do rato 5.000 mg/kg
O lixo químico fino do açúcar
O açúcar não é um produto químico 100% puro; há nele um resíduo que denomino
de lixo químico fino.
Esse lixinho concentra desde restos da sujeira mais prosaica, como a terra que
acompanha a cana desde o canavial, que provavelmente inclui fezes de alguns bichos, a
ferrugem do facão do cortador de cana etc., até os resíduos dos diversos agrotóxicos que
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são usados no canavial durante a vida da cana e também dos produtos químicos usados
durante a via crucis da cana dentro da usina.
Entre os produtos químicos usados no canavial estão desde os herbicidas que
realizam o trabalho que antes era feito manualmente, como a carpa (retirada do capim) e
agrotóxicos para o controle das pragas até os chamados maturadores químicos, cujo
objetivo é impedir a floração e o crescimento da planta, visando poupar sacarose, evitando
sua transformação em açúcares redutores.
Na usina a cana é esmagada, filtrada, fervida e sofre uma outra sucessão de banhos
de produtos químicos: leite de cal, carbonatação ou sulfitação logo no começo, e na reta
final os branqueadores, como cloreto de dialquil dimetil etc.
Ao fim e ao cabo temos o bom e velho açúcar do açucareiro ou, para os químicos,
sacarose, sucrose, poliidroxialdeido ou poliidroxicetona.
Abaixo uma lista daquilo que, no açúcar refinado, não é sacarose, colhida de
diversas fontes.
Relação do lixo químico fino do açúcar
- Resíduos de calcinação (em SO4) 0,01% a 0,02%
- Perdas por evaporação (a 105ºC) 0,03% a 0,1%
- Metais pesados (em Pb) 0,0005%
- Sulfato (SO4) 0,005% a 0,006
- Sulfito (SO2) 0,0015%
- Substâncias insolúveis em água 0,005%
- Açúcar invertido 0,04% a 0,05%
- Acidez 0,0008meq/g
- Compostos de Nitrogênio 0,001%
- Cloro (Cl) 0,002% a 0,005%
- Arsênio 0,0001%
- Metais pesados 5ppm
- Titr. Acid 0,0008meq/g
- SO2
3 e SO2
4 0,005%
- Cálcio 50 mg/kg (ppm)
- Cádmio 5 mg/kg (ppm)
- Cobalto 5 mg/kg (ppm)
- Cobre 5 mg/kg (ppm)
- Ferro 5 mg/kg (ppm)
- Magnésio 20 mg/kg (ppm)
- Manganês 5 mg/kg (ppm)
- Niquel 5 mg/kg (ppm)
- Chumbo 0,5 mg/kg (ppm)
- Zinco 5 mg/kg (ppm)
- Endotoxinas 250 iu/g
Fontes: Aldrich Catalog Handbook of Fine Chemicals;
http://avogadro.chem.iastate.edu
www.chemdat.de; www.panreac.com; www.emedico.com
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Será que as mães quando colocam açúcar na mamadeira de seus filhos sabem que
juntamente com o açúcar está indo essa tralha toda de lixo químico fino? É verdade que as
quantidades são pequeníssimas, mas acontece que o açúcar é consumido em escala cada vez
maior nos dias de hoje. E segundo o Dr. Carlos Antunes, ginecologista cearense, a
capacidade do organismo de eliminar as toxinas do açúcar é de apenas 60 miligramas.51
A página da Dra. Shirley, na internet, www.drashirleydecampos.com.br, diz que os
metais pesados são tóxicos e relacionam-se com atraso no crescimento, vários tipos de
cancro, lesões no rim e fígado e doenças autoimunes52 . Os metais pesados são prejudiciais,
pois competem com sais minerais, afetam ainda a absorção de nutrientes e atrapalham as
reações químicas normais, podendo causar graves transtornos . E conclui: Apesar de
existirem provas abundantes dos efeitos nocivos que quantidades muito pequenas exercem
sobre a saúde, as normas legais não são suficientes .
Com a palavra, o Ministério da Saúde.
Alimento ou explosivo? Bombas de açúcar
Perdão, amiga leitora, ou leitor de inclinação gastronômica, mas bomba de açúcar
aqui não tem nada a ver com bomba de chocolate. A receita abaixo é de uma bomba de
fumaça de fabricação caseira.
Quem quiser conferir a informação ligue o computador, abra o Google e busque o
assunto: açúcar + explosivo. Aparecerão endereços de várias páginas educativas oferecendo
receitas de bombas de fabricação caseira cujo ingrediente principal chama-se açúcar.
Bomba de Fumaça
Ingredientes:
4 medidas de açúcar
6 medidas de nitrato de potássio
Alguns palitos de fósforo
Modo de preparo:
Junte o açúcar e o nitrato numa panela.
Mexa em fogo baixo até derreter.
Coloque num pote de cerâmica ou numa lata e antes de solidificar jogue alguns
palitos de fósforos por cima à guisa de pavios.
Assim que esfriar, a bomba está pronta.
Ao atear fogo, assim que a mistura inflamar a fumaça surgirá.
Bomba de explodir
Agora, uma receita de bomba de explodir mesmo.
Açúcar, sacarose refinada para os químicos, é um produto muito versátil, sua
propriedade edulcorante é a mais sem graça de todas. Interessante mesmo é a sua
propriedade geradora de energia .
51 Jornal O Povo on line. Ceará, 01/01/ 2003. Vide também o tópico Menopausa, menstruação e TPM.
52 Nota do autor: Diabetes Tipo 1 é uma doença autoimune.
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Explosivo é toda substância capaz de gerar, por meio de uma reação química
brusca, um grande volume de gases, que são elevados a alta temperatura pelo calor
desprendido na reação.A expansão dos gases produz a explosão.
De acordo com a enciclopédia Delta Larousse, a decomposição de um explosivo
nada mais é que uma combustão muito viva. Entre os combustíveis estão o carbono, o
hidrogênio, o enxofre etc.; o comburente é o oxigênio geralmente fornecido por
compostos químicos muito oxigenados: nitratos, cloratos e percloratos. Um explosivo
pode deflagrar ou detonar. Deflagra quando a produção de gases é progressiva, com
velocidade de decomposição compreendida entre alguns milímetros e algumas centenas de
metros por segundo; e detona quando a velocidade varia de dois a sete quilômetros por
segundo numa onda explosiva. Exemplos de alto explosivos brisantes ou rompedores são
o TNT, a dinamite e o algodão pólvora. Os principais explosivos deflagrantes ou
propulsores são a pólvora negra, as pólvoras sem fumaça e a pólvora branca . Falarei
apenas sobre as pólvoras negra e branca .
Pólvora negra é a velha conhecida de todos. Resulta da mistura em proporções
variadas de salitre, enxofre e carvão. Pólvora branca é uma pólvora feita com açúcar. Se
a pólvora feita com carvão é negra, outra feita com açúcar só pode ser pólvora branca.
Estou lançando o neologismo.
Quando se misturam os cloratos e percloratos com substâncias facilmente
inflamáveis, tais como carvão, enxofre, fósforos, açúcar, sulfetos e mononitrobenzeno
(gosto de ver o açúcar entre seus pares), obtêm-se pólvoras brisantes de grande violência
na decomposição explosiva, muito sensíveis e perigosas 53.
Os livros de química, atuais, não tocam no assunto, mas livros antigos abrem o
jogo: O ácido crômico e o clorato de potássio, com aquecimento, oxidam vivamente o
açúcar de cana com explosão . 54
Uma outra bomba caseira de facílima confecção tem como ingredientes açúcar,
cloro e água, sendo o cloro um suporte inerte que contribui apenas pelo seu volume. O
perigoso mesmo é o açúcar.
Leio ainda em página da International Labour Organization (www.ilo.org) que a
simples mistura de açúcar refinado com o ar já resulta em um composto explosivo. As
informações atuais dos rótulos de açúcar pedem para mantê-lo longe de produtos de
limpeza e substâncias químicas . Ainda aqui o risco é de explosão também.
E em livro de química antigo que o açúcar no escuro, quando quebrado ou
friccionado contra um corpo duro, torna-se fosforescente.55
E, finalmente, os fogueteiros também usam o açúcar como propelente para seus
foguetes.
Depois que descobri mais essa virtude do açúcar, substância altamente explosiva
e perigosa, pergunto-me: como podem as mães colocar essa pólvora branca nas mamadeiras
de seus filhos? Ou melhor, como podem as autoridades da área de saúde permitir que isso
aconteça?
A acetona não se encontra mais à venda em farmácias porque é utilizável no refino
de cocaína.
Indago-me: o Brasil está em plena campanha de desarmamento da população. Não
seria o caso de o Ministério da Defesa mandar retirar dos supermercados o açúcar,
substância química que pode ser usada como componente de alto poder de explosão em
bombas caseiras, bombas de fumaça, e até propelente de foguetes?
53 Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Delta, 1960, p. 40.
54 Terra, Barros. Chimica organica. Rio de Janeiro: Casa Leuzinger, 1936, p. 402.
55 Ribeiro Nobre, F. Tratado de química elementar. Porto: Lelo, 1933, p. 366.
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Açúcar e cárie dentária: a paranóia e a parafernália
O homem das cavernas, os esquimós da Groenlândia , os araucanos do Chile, os
romanos do tempo de Júlio César, os ingleses do tempo do rei Henrique VIII, os pigmeus
africanos, os franceses do tempo de Carlos Magno, os chineses da dinastia Ming. Todos
eles, fosse o peixe cru dos esquimós, um frango ou um veado assado, ou uma tijela de
arroz, depois que comiam ou iam descansar , ou fazer amor , ou fazer a guerra. Os
nômades, depois que comiam, iam procurar outro lugar para ficar. O homem
contemporâneo depois que come fica paranóico: preciso escovar os dentes e aciona a
parafernália da higiene bucal. Nenhum dos povos mencionados escovava os dentes; e
tinham os dentes perfeitos. Por que será?
Há muito tempo que se desconfia da relação entre consumo de açúcar e formação
de cárie. No Brasil colonial, por exemplo, Gilberto Freyre e cronistas estrangeiros já
haviam notado que o pessoal da Casa Grande, que comia muitos doces, tinha péssimos
dentes, enquanto os escravos das senzalas, que chupavam cana com os dentes, os tinham
brancos e saudáveis . Silva Mello cita uma pesquisa motivada pela relação observada entre
péssimos dentes comuns entre empregados de confeitarias, exemplo clássico , segundo
ele. Por essa pesquisa, realizada in vitro, empregou-se uma solução fermentada de açúcar
sobre a coroa de um dente que foi capaz de atacar e tornar áspera (desmineralizar, digo eu)
a superfície da coroa dentária em um período de apenas 17 horas.56
Silva Mello, em Alimentação, instinto e cultura, diz que, segundo investigações feitas
em crânios de poucos séculos atrás, em diversas regiões da Europa, as cáries são raríssimas,
e isso apesar da diversidade de alimentação e da ausência de toda e qualquer utilização de
higiene dentária 57.
Por fim Silva Mello cita uma pesquisa de Pedersen que examinou os crânios de 25
groenlandeses anteriores ao século XVIII e encontrou seus dentes em estado admirável de
conservação, com apenas 0,8% de cáries. O médico americano Weston Price, autor de
Nutrition and phisical degeneration, pesquisou e descobriu que o índice de cáries entre povos
primitivos é de 1%.58
Hoje é científico, sabe-se sem sombra de dúvidas que a cárie dentária resulta da
combinação de três fatores: dente, bactérias cariogênicas e açúcar. Açúcar e não açúcares
ou carboidratos pegajosos .
A participação dos microorganismos ficou demonstrada por pesquisas em ratos
nascidos por cesariana e criados em câmaras assépticas, portanto livres de germes. Nesses
animais não se formava a cárie embora recebessem dieta cariogênica rica em
carboidratos .
56 Silva Mello, A. da. Alimentação, instinto e cultura. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956, p. 569.
57 Idem, p. 531.
58 Apud Silva Mello, A. da. O que devemos comer. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1964, p. 223.
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Se, entretanto, na saliva eram introduzidas bactérias, ao cabo de certo período
apareciam indícios de cárie. Como contraprova, foi constatado que a cárie não aparecia
quando a dieta cariogênica era levada diretamente ao estômago dos animais, através de
sondas. Em ambas as experiências a separação dos termos do binômio
carboidratos/bactéria levou a resultado negativo.59
Por meio dessas complicadas pesquisas envolvendo ratos que levavam uma vida
completamente artificial em câmaras de assepsia absoluta, ou tendo que comer através de
sondas, sem o prazer de roer o alimento, chegou-se à brilhante conclusão de que a
existência das cáries deve-se ao binômio bactérias/carboidratos.
Hoje já se sabe: o que faz com que os carboidratos sejam cariogênicos é a presença
do açúcar refinado. A sacarose é a única molécula capaz de produzir a placa bacteriana.
Uma pesquisa barata e simples, dispensando assepsia, sondas e cesarianas, colocaria isso em
pratos limpos. Pegue dois ratos normais com as respectivas bocas cheias de dentes e de
bactérias e a um deles forneça carboidrato açucarado e a outro forneça carboidrato natural
sem açúcar. As cáries aparecerão apenas nos ratos que se alimentam da dieta açucarada.
O dente é a vítima. A bactéria mais popular é a Dona Streptococcus Mutans, tão
generalizada na boca de todos (graças à dieta açucarada veremos isso mais adiante) que
constitui a flora bacteriana bucal. Em colônias chamadas placas bacterianas, com a ajuda
do açúcar elas produzem ácidos que irão desmineralizar o esmalte dos dentes e depois furálos.
Em linguagem técnica a bactéria cariogênica contém a enzima GTF (glicosiltranferase)
que fermenta a sacarose refinada e produz, graças a isso, ácidos. Os
monômeros de glicose resultantes da quebra do açúcar são rearrumados formando o PEC
(polisacarídeo extra celular), chamado dextrana, que nada mais é que a conhecida placa
bacteriana. Com isso outras bactérias são atraídas para essa festa, aumentando a espessura
da placa e conferindo-lhe consistência gelatinosa . Pronto, está armado o circo para a
produção da cárie dentária. O personagem principal é o açúcar - sem ele o espetáculo não
acontece.
Agora, recapitulando um pouco, o mais importante disto tudo é o seguinte: se você
tiver uma boca cheia de dentes e de bactérias e não ingerir açúcar, as bactérias não
conseguem produzir cárie. Pode comer o que você quiser, menos açúcar do açucareiro.
Sem açúcar na comida você pode se dar ao luxo de jantar e ir dormir sem necessidade de
escovar os dentes. E não terá pesadelos com cárie.
Por supuesto, você não pode comer também porcarias açucaradas tipo refrigerantes,
sorvetes, bolos, balas, biscoitos recheados, doces etc. O açúcar é condição sine qua non para
que a cárie seja produzida; a sacarose serve de substrato para que as bactérias se fixem na
superfície dentária. Sendo altamente energética, a sacarose ajuda a Streptococcus Mutans a
produzir mais ácidos que irão destruir o esmalte dos dentes.
É isso aí: você pode consumir quaisquer outros açúcares (frutose, glicose,
galactose, maltose, lactose, etc.) que com eles Dona S. Mutans, não consegue produzir
cáries. É um caso pessoal, o parceiro dela é o açúcar refinado, e fim de papo. As doutoras
Marli Pugliesi Piccolo e Gláucia Garcia do portal Guia do bebê são conclusivas: É
impossível haver cáries na ausência de açúcar .
59 Bogliolo, L. Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan, 1981, p. 1134.
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Quem tem filho recém-nascido, está esperando um ou pretende ter, preste atenção
nas palavras do doutor Andrew Pacheco: Se não houver açúcar na dieta do bebê, os tipos
de bactéria que vão iniciar a colonização sobre os dentes não são cariogênicos. Quanto
mais tempo essas bactérias não cariogênicas puderem permanecer na boca, sem que as
bactérias causadoras de cárie se estabeleçam, melhor. Os dentes vão se tornar mais fortes
através de uma maior maturação do esmalte dentário. Os dentes, logo que erupcionam são
mais passíveis de se cariarem. O tecido dentário é mais poroso nessa época, menos
mineralizado, e, portanto se logo ao nascerem já houver açúcar na alimentação, a cárie se
instala e rapidamente destrói os dentes. As bactérias normais da flora bucal vão competir e
tentar impedir que as bactérias cariogênicas se instalem. Só vão perder (essa guerra) graças
ao açúcar .60
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define cárie como uma doença infecciosa
crônico-degenerativa e chama a Dona Streptococcus Mutans de sacarose-dependente. Essa
bactéria cariogênica é classificada pela moderna odontologia preventiva como uma
bactéria suplementar (população inferior a 1%). Uma presença, convenhamos, residual.
O que faz com que ela se multiplique e seja promovida ao time das bactérias indígenas
passando a ser dominante na flora bucal é o doce ambiente proporcionado pela dieta
açucarada moderna. Ou seja, o açúcar primeiro cria o exército inimigo e ainda oferece as
armas para a produção da cárie dentária.
Aliás, o açúcar é tão cariogênico que não precisa sequer tocar nos dentes para
provocar cárie. Charles McGee cita pesquisas sobre adição de açúcar refinado à ração de
ratos brancos lactantes que foi seguida do surgimento de cárie quando os dentes nasceram.
Também a injeção intra-abdominal de sacarose provocou aumento nas taxas de cárie. Isso
se explica porque a resistência de um dente às cáries depende do metabolismo dental
interno, sendo essencial, no mecanismo de defesa, a corrente de fluido da parte interna do
dente. O açúcar provoca uma reversão na corrente normal de fluidos, debilitando o esmalte
do dente e facilitando a vida das bactérias cariogênicas.61
E ainda dentro do capítulo do mal que o açúcar faz por vias endógenas, o inferno
causado pelas proteínas glicadas (Reação de Maillard) atinge quase todos os tecidos do
corpo humano e não poderia deixar de incluir a boca. Proteínas glicadas são proteínas
aleijadas depois de incorporar glicose através de uma reação simples na presença de
oxigênio. Com sua estrutura modificada, essas células têm suas funções biológicas também
alteradas e são responsávéis por diversas patologias. Os AGEs - produtos finais da glicação
avançada de proteínas, em última instância comprometem os vasos capilares, o tecido
conjuntivo, o colágeno, a hemoglobina , a membrana basal, e claro os tecidos
periodontais.62
Não esqueçamos também que a saúde começa pela boca e que a cárie dentária abre
essa porta por onde passam muitas doenças, dentre elas o câncer de boca, labirintites,
problemas de coluna e cardíacos, e doenças periodontais (gengivites e periodontites -
inflamação do periodonto, tecido que fixa o dente). Essas últimas podem causar desde a
perda dos dentes até problemas cardíacos graves. Aproximadamente 40% dos casos de
endocardite bacteriana (a doença do coração que mata), registradas pelo Incor Instituto
60 Pacheco, A. Op. cit.
61 McGee, Charles T. Op. cit., p. 82.
62 Informações sobre glicação de proteínas e doenças periodontais no portal Maringá saude. Mais
informações no tópico
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A gênese dos bonecos de açúcar.
do Coração, tinham origem em patologias da boca. Quarenta por cento das infecções
hospitalares são de origem odontogênica.
No Brasil, importante cidadela da civilização do açúcar, em média um jovem de 18
anos tem 18% de seus dentes cariados e 7% extraídos. Entre os adultos de 44 a 53 anos, o
número de cárie diminui para 7%, mas não é porque os mais velhos comem menos açúcar.
A razão é mais tétrica: esses adultos já não possuem 48% dos dentes.63
E 20% do povo brasileiro não possuem dente nenhum na boca.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a média de cáries em dentes
permanentes, por criança, aos 12 anos para investigar a situação da doença nos diversos
países.
Os países campeões do mundo em matéria de cárie são Peru (7,0), Chile (6,7),
Honduras (6,4). O Brasil figura ao lado de Equador, Ilhas Maurício e Suriname empatados
em 4,9. Não é preciso muita perspicácia para ver que estamos diante de um grupo de países
pobres e comedores de açúcar. Agora vejamos os índices de países consumidores da dieta
açucarada, porém ricos: Finlândia (1,2), Dinamarca (1,3), Inglaterra (1,4), Holanda (1,7),
EUA (1,8). Conclusão: Países grandes consumidores de açúcar cuja população tem dinheiro
para gastar com a parafernália da higiene bucal têm seus índices de cáries bastante
reduzidos.
Finalmente vejamos quem são os verdadeiros campeões do mundo em matéria de
ausência de cáries: Togo e Ruanda (0,3), Gana, Lesoto, Libéria e Uganda (0,4). Ou seja: é
só no coração da África, onde a dieta açucarada moderna não é imposta à população, que
encontra-se essa maravilha que é um ser humano sem cáries nos dentes.
Uma comparação interessante: o índice de cárie na China é baixo (0,7) contra (1,8)
dos Estados Unidos. Mas não pensem que é porque a China se modernizou e os chineses,
hoje, têm acesso à parafernália odontológica. É que na China cada cidadão consome por
ano menos de dez quilos de açúcar. Os americanos andam comendo uns cem quilos por
ano. O óbvio é ululante: a expansão da cárie dentária no mundo acompanha o avanço do
açucaramento da dieta humana.
E uma conclusão interessante. O uso da parafernália da higiene bucal não
consegue eliminar a cárie, apenas reduzir. Agora, dentistas mal informados pedem a
seus clientes que diminuam o consumo de açúcar, que não comam alimentos doces do
tipo pegajoso entre as refeições, que se escove bem os dentes, que usem fio dental, que
façam bochecho com bactericidas, que apliquem flúor e selante nos dentes e que,
especialmente, façam visitas regulares ao dentista. E quando a cárie a despeito de tudo isso,
aparece, os dentistas não fazem diferente dos outros médicos. Em vez de considerarem que
você foi vítima da dieta açucarada, consideram-no culpado de má higiene bucal. É o ramo
odontológico da indústria da doença.
A odontologia é uma ciência que encontra-se ainda na pré-história. Em sua
evolução ela conheceu três épocas: a idade do boticão (o alicate do dentista) na qual dor de
dente e cárie eram solucionados com a extração do dente; a idade do mercúrio na qual as
cáries eram obturadas; e a fase atual que é a idade do flúor na qual a dentística faz uso de
toda uma parafernália química e mecânica para ver se impedem as bactérias cariogênicas de
produzir a cárie. A odontologia atual acredita que a cárie é um problema de origem
becteriológica (pegaram dona S. Mutans para Cristo). Espero que depois destas linhas mal
traçadas os odontólogos percebam que a cárie é um problema de origem química - ela só

63 Folha Universal de 29 de fevereiro de 2004.
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passou a existir depois que a humanidade passou a adicionar aos alimentos um produto
químico cariogênico. E que a solução não exige nenhuma parafernália dispendiosa, basta
eliminar a tal substância.
Se a humanidade quiser erradicar esta que é a mais vergonhosa, disseminada e
humilhante de todas as epidemias, a solução está ao alcance da mão: Se o objetivo é
resolver definitivamente o problema, deveríamos optar pela eliminação total do açúcar . É
a opinião do bravo cirurgião-dentista Dr. Andrew Pacheco.64