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segunda-feira, 13 de junho de 2016

CAPÍTULOS 10 A 12 DO LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR (GRUPO 4)

MEDICINA E AÇÚCAR Basta dizer que, enquanto ninguém questiona a existência de um componente genético para a resistência à insulina, a grande diferença entre o estardalhaço e as evidências concretas tem dificultado a identificação dos genes envolvidos. Consequentemente, a base genética da resistência à insulina e, por extensão, do diabetes Tipo 2 , permenece desconhecida. Robins & Cotran Os médicos e o açúcar A maioria dos médicos não sabe o que é açúcar. As razões são compreensíveis, a começar pelo fato de que médico também é gente, já foi bebê e se alimentou de mamadeira de mingau de Maizena com açúcar preparada por sua mãe, comeu torta de aniversário com guaraná, juntamente com seus irmãos e amiguinhos. E Freud já explicou o quanto são marcantes as impressões que recebemos quando crianças. Os médicos também sabem sobre açúcar o que aprenderam nos bancos da faculdade. O festejado Guyton, por exemplo, diz que existem apenas três grandes fontes de carboidratos na dieta humana normal (o negrito é meu ). São eles a sacarose (açúcar de cana), a lactose e os amidos .96 Temos aqui um detalhe que a medicina devia prestar mais atenção: qual seria o consumo de sacarose se não existisse o famigerado do açucareiro? E o de frutose? A sacarose só é grande fonte de carboidratos sob a ditadura do açúcar. Com a vitória de nosso movimento político-nutricional, a presença dela na dieta, aí sim, normal, será residual, porque a própria natureza se encarrega de apresentá-la já convertida a glicose ou frutose. E a frutose natural no contexto dos nutrientes totais é também residual. A natureza deve ter boas razões para a administração moderada desses dois açúcares. Os livros de medicina não tratam do metabolismo da sacarose refinada em capítulo próprio como é feito com o álcool; os médicos estudam o metabolismo dos 96 Guyton, A. Op. cit. p. 624. carboidratos . O que acontece no organismo quando se ingere um copo de leite é bem diferente do que acontece com um copo de leite com Toddy ou Nescau. Mas o que é ensinado, neste caso, é que o problema chama-se gordura. A doutrinação contra a gordura a que são submetidos os médicos é tão violenta que chega a torná-los cegos. O doutor Leão Zagury, por exemplo, em Diabetes sem medo, à página 19 diz: Ao se alimentar, as pessoas ingerem açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais . Um verdadeiro ato falho: ele esqueceu de mencionar as gorduras. Por sorte Guidacci, que ilustrou o livro, não foi doutrinado e incluiu a gordura entre os alimentos da cesta básica desenhada por ele. E na mesma página: A glicose é a maior fonte de energia do organismo . Todos sabemos que um grama de glicose dá quatro calorias, contra nove calorias por grama de gordura. Aqui,em vez de ato falho houve autoengano97 . Outro exemplo interessantíssimo está em artigo do doutor Alexandro Gugliucci. Referindo-se à reação (Maillard) que ocorre entre açúcares e as proteínas que faz com que o doce de leite fique marrom, diz: a lactose e a glicose do leite reagem com a caseína e a lactoalbumina para dar complexas estruturas, de cor amarronzadas, que são precisamente AGEs- Produtos finais da glicação avançada de proteínas .98 Que eu saiba não se faz doce de leite contando apenas com a lactose e a glicose (componente da lactose do próprio leite) e sim com a grossa quantidade de sacarose adicionada. É a sacarose a fonte da glicose que glicosila e oxida o leite da mesma forma que faz com a hemoglobina e outras proteínas do corpo humano. Falta também um capítulo nos livros de medicina que trate das virtudes patológicas do açúcar. Leio em uma enciclopédia antiga, só encontrada em sebos, a Enciclopédia Brasileira Mérito, o verbete sacarismo: conjunto de fenômenos mórbidos, agudos ou crônicos que resultam da ingestão exagerada de açúcar . Os fenômenos constatados assemelham-se aos do alcoolismo, mas o mecanismo de sua produção é ainda mal conhecido , diz a enciclopédia. Mal estudado, digo eu. No filme Super Size Me, já vimos isso aqui, seu protagonista Morgan Spurlock, depois de um período alimentando-se da dieta açucarada do McDonalds, teve seu fígado comparado com o de um alcoólatra pelo médico que o examinava. O que nos leva a crer que o açúcar é qualquer coisa parecida com um tipo de álcool em pó. Leio o livro Mecanismos Básicos de Doenças, que trata de patologia dos processos gerais e estuda as causas e os mecanismos das doenças e da interação de agentes agressores e reações do organismo . E me ocorre que o açúcar pode ser entendido como um agente agressor do organismo: produto químico barato, travestido de alimento, o açúcar provoca cárie e obesidade, desidrata, desmineraliza, desvitaminiza, acidifica, irrita mucosas do tubo digestivo, desequilibra o sistema glandular endócrino e osmolar e ainda inferniza todo o organismo com o fenômeno da glicação não-enzimática de proteínas (GNP). Isso tudo não é razão suficiente para a sua inclusão nos livros de patologia? O metabolismo do álcool está lá. Qual a razão do privilégio para o açúcar? Ou será o dedo da ditadura do açúcar na redação dos livros médicos? E o mais interessante seria que fossem estudados os efeitos a longo prazo do consumo continuado da dieta açucarada, que a meu ver leva à obesidade, ao diabetes e outras doenças metabólicas e degenerativas. Fico aguardando o lançamento do livro Fisiopatologia do Açúcar. Em livros médicos mais antigos, de autores como Afrânio Peixoto, encontram-se rasgados elogios ao açúcar. Até Rinaldo de Lamare o açúcar sempre foi tido na mais alta 97 Sobre esse conceito vide Giannetti, E. Autoengano. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. 98 Gugliucci, A. Glicación de proteínas: rol protagónico de la hiperglicemia en las complicaciones crónicas de la diabetes mellitus in: Revista Medica del Uruguay, Vol.16 pp. 58-75 in: www.smu.org.uy. conta. O Dr. Lamare fala com entusiasmo do açúcar e tem um pouco de má vontade para com o mel. O Dr. João Curvo ao lidar com o tema açúcar dava uma no cravo e outra na ferradura. O Dr. Flávio Rotman gastou tinta e papel para defender o açúcar. A essa altura do campeonato acho imperdoável um médico não saber o que é açúcar e, sabendo do que se trata, não lhe dar combate. O Dr. João Uchôa Junior, por exemplo, diz com todas as letras: O açúcar natural glicose- é elemento vital ao nosso organismo; sendo assim nunca deve ser eliminado. O que já não falo do açúcar refinado, que, reconhecidamente faz mal à saúde .99 (negritos meus). Hoje em dia, na era da medicina biomolecular ou ortomolecular e dos oligoelementos, o açúcar tem que ser deslindado até o último cristal enantiomorfo, dextrógiro ou levógiro. Na página de um professor de química na internet (www.rossetti.eti.br) está dito que o organismo humano somente digere açúcar na forma dextrógira encontrada na natureza. E o açúcar do açucareiro? E o açúcar invertido ? Dos médicos alienígenas o que jogou mais duro com o açúcar foi Robert Atkins e com certeza por isso mesmo sempre foi tido como uma ovelha negra no pasto da medicina americana. Carboidrato assassino - era assim que ele se referia ao açúcar. Vale a pena recordar o momento em que o doutor Atkins descobriu o açúcar: No entanto, o que é mais espantoso são as provas que apontam para o açúcar... para o velho e simples açúcar que a maior parte das pessoas toma no café, come em doces, guloseimas e refrigerantes... como sendo um dos principais fatores para as hipertensões, doenças cardíacas, cansaço e uma quantidade de outros males crônicos e comuns . E o doutor Atkins assumiu como missão ensinar a como se livrar desse inimigo oculto em sua dieta .100 E ainda dizia O trabalho de descobrir onde o carboidrato assassino se encontra é fascinante . Isso explica o anátema que caiu sobre ele, que continua sendo perseguido até depois de morto. Atkins, não obstante, considerava o açúcar um carboidrato concentrado . Cleto Seabra Veloso, médico brasileiro que escreveu sobre nutrição na segunda metade do século que findou, classificava o açúcar como alimento derivado , assim como o pão é derivado do trigo. Ambos estavam errados. O açúcar não é alimento e muito menos derivado ou concentrado. Trata-se de um composto que foi isolado, quer dizer separado da cana-de açúcar, e ao cabo dessa operação de refino a sacarose deixa de ser alimento e entra para o time dos agentes químicos puros . O caldo de cana é um alimento, o melaço e a rapadura podem ser chamados de alimentos concentrados. A sacarose pura não se enquadra mais no conceito de alimento. Da mesma forma que não podemos confundir o oxigênio puro com o ar que respiramos. Os verdadeiros açúcares da natureza, a glicose e a frutose, não demandam hidrólise; já essa substância precursora de açúcar que é a sacarose antes de ser assimilada pelo organismo humano necessita de uma hidrólise depletora de nutrientes. A sacarose é ainda o substrato preferido das bactérias cariogênicas e é portadora de um lixinho químico fino resíduo do processo de refino. O aporte calórico proporcionado pela glicose do açúcar provoca hiperinsulinemia. E essa glicose extra contribuirá ainda para o fenômeno da lenta glicação e oxidação de todo o organismo. Já vimos no tópico sobre o de excesso de açúcar que trata-se de um conceito enganoso. A seguir um flagrante de médicos diante do dilema do alto consumo de açúcar nos longínquos meados do século XX, quando o consumo de açúcar era a metade do que é 99 Uchôa,J. Só é gordo quem quer. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 68. 100 Atkins,R & Linde S. A dieta da superenergia do Dr Atkins. Rio de Janeiro: Artenova, 1978, p. 19. hoje: O açúcar não contém vitaminas nem minerais. É quase 100% puro e proporciona gosto doce, necessário para realçar o paladar de muitas substâncias como chocolate e sucos de frutas. Desta maneira, o açúcar facilita a ingestão de vitaminas e minerais que seriam, de outro modo, rejeitados como constituinte da dieta.. Quando se conjetura sobre a influência que terá o tremendo consumo de açúcar sobre a incidência do diabetes no futuro, fica-se vacilante. Talvez nenhuma. Possivelmente, o tecido insular aumentará rapidamente a produção de insulina para satisfazer suas maiores necessidades. Existe pelo menos esta esperança . Esses parágrafos são do livro Os fundamentos farmacológicos da prática médica, de John Krants Jr e C. Jelleff Carr. Antes de o açúcar invadir a mesa da humanidade não me ocorre nenhum alimento que tenha deixado de ser consumido por falta de açúcar. Ao contrário, a humanidade passou a consumir belas porcarias que sem grandes quantidades de açúcar seriam intragáveis. Quanto à postura diante do tremendo consumo de açúcar , médicos ficarem torcendo pelas ilhotas de Langerhans parece-me um tanto quanto irresponsável. O vertiginoso amigo do Dr. Fukuda Açúcar, amigo ou vilão? Este é o título do livro lançado recentemente pelo médico Yotaka Fukuda. O livro, segundo o Jornal de Jundiaí on line, www.jj.com.br , esclarece de uma maneira clara (sic) de que forma o açúcar age no organismo humano. O interesse do Dr. Fukuda pelo açúcar teve início por ocasião de sua tese de doutorado sobre o efeito do açúcar no labirinto (órgão responsável pelo equilíbrio do corpo). Ainda segundo a página do jornal, o Dr. Fukuda é autor de três livros e mais de uma centena de artigos publicados em livros e revistas médicas, sendo 29 em revistas internacionais, e 53 orientações de tese de mestrado e doutorado. Com toda essa experiência na área médica, Yotaka Fukuda afirma que o açúcar é amigo , o grande problema é o consumo em excesso . O caderno Estilo do referido jornal entrevistou o Dr. Fukuda. Ele disse que o excesso de açúcar provoca hiperinsulinemia e que as principais doenças relacionadas ao açúcar são obesidade, diabetes Tipo 2, hipertensão arterial, labirintite e dislipidemia. O Dr. Fukuda esqueceu da cárie dentária, a mais popular epidemia provocada pelo açúcar. Mas respondendo ao jornal disse que para prevenir as doenças causadas pelo açúcar é necessário reduzir drasticamente o consumo de açúcar e praticar exercícios físicos .Indagado sobre o açúcar mascavo, o médico diz que do ponto de vista de estímulo à produção de insulina há pouca diferença entre o refinado e o mascavo. Diz ainda que mel de abelhas ou qualquer adoçante artificial é melhor que açúcar, inclusive o aspartame, embora todos devam ser usados com moderação. O consumo de açúcar desde a infância, segundo ele, arma uma bomba que irá explodir três a quatro décadas após, na forma de infarto cardíaco, perda de visão etc. . Fukuda conclui dizendo que cada brasileiro anda consumindo 35 quilos de açúcar por ano e que o ideal seria 7 quilos. Sete quilos de açúcar por ano dão aproximadamente 20 gramas de açúcar por dia. Ora, tem gente usando essa quantidade de açúcar para adoçar apenas uma xícara de café. Mesmo limitado-me ao que o médico disse nessa curta entrevista sobre o açúcar, eu pergunto: com um amigo desses, alguém precisa de inimigo? A tese do Dr. Yotaka Fukuda é sobre alterações no funcionamento da orelha interna provocadas por flutuações da concentração sanguínea da glicose e da insulina. O doutor Fukuda, juntamente com seu orientador de tese, Dr. Luiz Mangabeira Albernaz, criou um modelo bioquímico para explicar de que forma a hiperinsulinemia conseqüência do consumo de açúcar acarretava distúrbios no labirinto, órgão responsável pelo equilíbrio das pessoas. A contribuição de Fukuda à medicina foi relacionar o consumo de açúcar à labirintite. Portanto quem gosta de comer açúcar deve prestar atenção aos seguintes sintomas: a manifestação clássica é a vertigem com sensação de que tudo está girando, podendo ocorrer náusea e vômitos, taquicardia, suor frio e palidez. Entre as crises vertiginosas suas vítimas sentem angústia, ansiedade, insegurança, depressão, pânico e até sensação de morte iminente. Associado à vertigem surgem o zumbido no ouvido, a irritabilidade a ruídos e risco de perda de audição. A tontura, além da giratória, típica da labirintopatia disglicêmica, pode manifestar-se como sensação de flutuação: as paredes, o chão e o teto parecem não estar fixos, aproximando-se ou se afastando. Outros sintomas para finalizar são enxaqueca, insônia e sonolência, vista embaçada e, claro, o equilíbrio fica comprometido. Agora, o mais importante de tudo - o tratamento para essas mazelas todas: basta deixar de comer açúcar. O doutor Yotaka Fukuda elaborou um interessante esquema teórico para explicar como o açúcar faz mal ao ser humano. Ele designou sua teoria como teoria dos três en ou tresen (encéfalo sistema nervoso; enzimas sistema digestivo; endócrino sistema glandular). O açúcar da dieta açucarada moderna age sobre esses três sistemas ativando um círculo vicioso destrutivo. A seguir, a descrição do funcionamento desse mecanismo. O açúcar age nos sistemas nervoso, digestivo e endócrino de forma intensa e sinérgica, um ativando o outro, originando um círculo vicioso. As porcarias açucaradas infelizmente estimulam todos os órgãos dos sentidos dos tolos, estimulando o apetite e a conseqüente gula. Quanto mais açúcar se ingere, mais as células do intestino se adaptam às necessidades secretando mais enzima sacarase, possibilitando absorção de quantidade cada vez maior de glicose, em tempo cada vez mais reduzido .101 Isso força a superprodução de insulina, que promove uma rápida transferência de glicose sanguínea para o interior das células, fazendo cair o nível de glicose. Essa hipoglicemia estimula a produção de glucagon, hormônio pancreático que entre outras funções ativa o centro da fome no cérebro, provocando a necessidade de comer mais açúcar. Para isso, estimula também a produção da sacarase. A nova ingestão de ração açucarada por sua vez vai provocar de novo a hiperinsulinemia, que por sua vez ... é o círculo vicioso movido a açúcar. A popular vertigem que até a tese do doutor Fukuda era tratada em seus sintomas passou a ser atacada em suas causas. Pacientes que estavam em tratamento por anos seguidos com medicamentos e até com cirurgia eram curados simplesmente evitando-se o açúcar , afirma o médico paulista. Para fechar com chave de ouro a participação do Dr. Fukuda vejamos o que ele nos diz sobre açúcar e alergia em seu livro. Alergia é uma reação do sistema imunológico a um corpo estranho ou a um agente agressor do organismo. Essa reação pode ser a contato, inalação, inoculações ou ingestão de moléculas ou substâncias às células de nosso 101 Fukuda, Yotaka. Op. cit., p. 67. organismo. E o açúcar, como um dos alimentos mais consumidos, é também uma das causas mais freqüentes (de alergia) . Vítimas privilegiadas do açúcar são os bebês - uma tremenda covardia. A dieta açucarada empurrada goela abaixo do bebê exige de seu corpinho uma quantidade de sacarase, a enzima específica para quebrar a molécula de açúcar que seu organismo não tem. A natureza não previu que o homem um dia iria adulterar até alimentos de bebês com um produto químico nocivo e insuspeito só porque é doce. Por causa disso algumas moléculas de sacarose são absorvidas e incorporadas pelo mecanismo denominado pinocitose (envolvimento das moléculas de açúcar pelas células intestinais). O sistema imunológico estranha aquele subversivo infiltrado no corpinho do bebê e aciona o sistema de defesa. Nesse processo são produzidas substâncias vasoativas como serotonina e histamina que, liberadas em grande quantidade, causam manifestações alérgicas em todo o organismo. Atenção, quem tem bebê em casa. Algumas manifestações alérgicas que podem ser causadas pelo açúcar: coceira, transpiração, furúnculo, vermelhidão, cera no ouvido, espirro, nariz entupido, edema, herpes, gengivite , afta, pigarro, tosse, rouquidão, respiração ruidosa, azia, má digestão, arroto, flatulência, fraqueza e palpitações no coração. Como vimos, o açúcar é um verdadeiro amigo da onça. A vida ou a morte do bebê? O livro A vida do bebê, do Dr. Rinaldo de Lamare, coroando uma trajetória de sucesso, recentemente foi publicado em fascículos anexos a um grande jornal, o que contribuiu para massificar ainda mais a sua influência. O livro ganhou status de um verdadeiro manual de instruções do bebê. Por pouco as mulheres não pariam o livro junto com a criança. O livro é de formato grande e na sobrecapa traz a foto de um lindo bebê de olhos azuis, que não é fácil achar no Brasil, país de povo mestiço. Peguei no livro para ver o que dizia sobre açúcar e fiquei estarrecido. Primeiro vejamos o entusiasmo que o Dr. Lamare manifesta sobre o açúcar. Açúcar é muito importante na vida do bebê , sentencia, apesar da ressalva: Quando se trata de açúcar comum a higiene não deve ser descuidada, sendo prudente juntá-lo ao leite de vaca antes de ser fervido, a fim de ser esterilizado ; e usar açúcar em tabletes, que vem recoberto de papel protetor . Ainda dentro das primeiras 24 horas de vida do recém-nascido o livro já recomenda mamadeira adoçada com Nidex (maltodextrina não fermentescível), porque nem sempre há tolerância do bebê ao açúcar comum, que pode provocar diarréia . Agora vejamos o que o Dr. Lamare acha de refrigerantes: não convêm à criança, mas temos de tolerá-los e o melhor que os médicos podem fazer, segundo ele, é reduzir o seu emprego e disciplinar a maneira de dá-lo , não o permitindo antes ou durante as refeições e sim depois delas. E ainda: É muito preferível, se não for possível dar um copo de leite (com açúcar), dar um suco de frutas frescas, feito na hora, açucarado . Quanto ao chocolate, é um alimento rico em valor nutritivo; contendo gordura e proteínas em grande dose e, além disto, o chocolate contém dois alcalóides . Em nenhum momento o Dr. Lamare menciona que 50% do chocolate é açúcar puro; aliás, se o fizesse seria certamente para dizer que isso é uma virtude do chocolate. Ainda falando de chocolate, nosso autor dá uma informação importante: que chocolate é rico em ácido oxálico, que quando misturado ao leite se combina com o cálcio deste formando o oxalato de cálcio, que não é absorvido pelo intestino. Ainda segundo o Dr. Rinaldo de Lamare, essa combinação destrói a importante função do leite, que é fornecer cálcio . Entretanto , continua, não se deve esquecer de dar alimentos ricos em cálcio, sobretudo o creme de leite e o doce de leite . Agora o ponto alto do livro é quando trata de constipação ou prisão de ventre em bebês de apenas 15 dias de nascido: o tratamento recomendado inclui aumentar a quantidade de açúcar, de uma colher, das de chá, a até uma ou duas colheres das de sopa bem cheias para cada cem gramas de alimentos (negrito meu).102 O Dr. Aderbal Sabrá, em seu livro Diarréia na infância, fornece informações que dão para compor uma explicação do que acontece no ventre do bebê do Dr. Lamare: A ingestão excessiva de açúcar produz uma diarréia por mecanismo osmolar secundária a esse excesso de ingestão de substância osmoticamente ativa com aporte acima da capacidade digestiva e absortiva. A superdose de açúcar impõe uma carga osmótica ao intestino delgado, causando uma aceleração do trânsito e aumento do volume líquido luminal com conseqüente diarréia . 103 Ainda dentro do assunto, falando sobre intolerância aos hidratos de carbono em crianças, diz o Dr. Sabrá: A manifestação clínica é diarréia aquosa explosiva, distensão abdominal, flatulência, vômitos e parada do crescimento. A escoriação perianal é comum 104 . O hidrato de carbono em questão aí é o açúcar, chamado por um nome genérico pelo qual são conhecidos a batata, o arroz e o pão mas que se diferencia deles por ser um agente químico agressor, o que explica o sofrimento das crianças que passam por esse problema. A diarréia prolongada é conseqüência freqüente da intolerância aos açúcares e a acidose metabólica é complicação da diarréia , acrescenta o Dr. Sabrá. Além disso, no cólon o açúcar é metabolizado por bactérias, produzindo ácidos graxos de cadeia curta e ácido lático e causando fezes ácidas, agravamento da diarréia, flatulência e dores abdominais. Num caso desses a solução é simples: basta zerar o consumo de açúcar para que o quadro mórbido desapareça. Para saber se uma criança é intolerante ao açúcar, utiliza-se o Teste de Tolerância à Glicose. Obriga-se a pobrezinha a ingerir uma solução a 10% de açúcar e espera-se que ela não vomite. Vômitos são ocasionais , segundo o Dr. Sabrá. Para evitar esse inconveniente , ainda segundo o médico, introduz-se a água com açúcar diretamente no duodeno com auxílio de sonda. Tremenda covardia. O inerme e pequeno ser fica sem sua única defesa diante do açúcar: a possibilidade de vomitar. A vida do bebê hoje está em sua 41ª edição, seu autor já faleceu e o livro foi revisto e ampliado pelo doutor Geraldo Leme que endossou as doces recomendações do Dr. 102 Lamare,R. de. A vida do bebê. Rio de Janeiro: Bloch, s/d, 32 edição, p.146. 103 Sabrá, A. Diarréia na infância. Rio de Janeio: Cultura Médica, 1982 p. 34. 104 Idem., p. 46. Lamare apesar de irem de encontro ao que recomendam profissionais e instituições de saúde pública. Prescrevendo o açúcar da maneira que o Dr. Rinaldo de Lamare prescreve, acho que o livro deveria se chamar A morte lenta do bebê. Não à toa o livro é um verdadeiro catálogo de doenças que acometem as pequenas e inermes vítimas da ditadura do açúcar. Inclusive uma misteriosa forma de diabetes do recém-nascido que aparece e desaparece por encanto meses depois.105 Açúcar e gastroenterologia O complexo sacarase-isomaltase também se distribui por todo o delgado, porém em proporções decrescentes no íleo. Em quadros de ausência ou diminuição de atividade desta enzima, frente à ingestão de sacarose, observamos a má absorção desse dissacarídeo o que leva ao quadro de diarréia ácida, distensão e dor abdominal. Estas manifestações clínicas podem estar presente já no primeiro dia de vida se a sacarose for ofertada como nutriente ao recém-nascido, quer seja através do uso de chás e leites adoçados com sacarose, ou de frutas e medicamentos na forma de xaropes que contenham este açúcar . Trecho do artigo Síndromes diarréicas congênitas de Adriana Ferrão Rodrigues e Ulysses Fagundes Neto, ela Pós-Graduanda e ele Professor-Titular da disciplina Gastroenterologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Você pega uma criança que acabou de sair da barriga da mãe e dá açúcar a ela: na mamadeira ou no xarope passado pelo médico. A resposta do corpinho inerme do nenê a essa agressão é uma diarréia ácida, distensão e dor abdominal . Qual agressão? O que foi ofertado como nutriente simplesmente não é um nutriente, mas uma substância química nociva ao organismo humano. E também não se encontra essa substância em frutas . Uma fruta madura já apresenta a sacarose hidrolisada em glicose principalmente, e frutose em pequena escala. O que fica de sacarose é apenas um resíduo (1%). Essa confusão entre um produto químico isolado de um capim e um nutriente contido em frutas caracteriza essa ciência torta que estamos vendo. O bebê que não agüenta a agressão do produto químico ingerido é visto como sendo doente, culpado de ausência ou diminuição da atividade de suas enzimas. Vítima de alguma misteriosa herança autossômica recessiva . É ciência sob medida para atender os interesses da ditadura de pacote tecnológico do açúcar. A ecologia clínica A ecologia clínica ou medicina ambiental é uma tendência nova da medicina. Seus adeptos estão convencidos de que os fatores ambientais são de suma importância na etiologia das doenças especialmente as crônico-degenerativas. O ambiente que deu razão ao surgimento dessa nova medicina é o ambiente da sociedade industrializada moderna: poluído, estressante, cheio de produtos químicos, com poucos espaços etc. 105 Lamare, R. Op. cit., p. 635. O doutor Theron Randolph, um dos fundadores da Sociedade de Ecologia Clínica, assim esquematiza as diferenças entre essa nova medicina e a convencional na introdução ao livro de seu colega, Charles McGee, Como sobreviver à tecnologia: Ecologia Clínica Outros médicos Doenças crônicas Doenças agudas Fatores ambientais Mecanismos corporais Aspectos holísticos Aspectos analíticos Diagnóstico e tratamento individualizados (demonstração de causa e efeito; evitar ou minimizar os agressores ambientais demonstráveis). Diagnóstico e tratamento em massa (diagnóstico principalmente através de procedimentos laboratoriais; tratamento dos sintomas principalmente por meio de medicamentos). No meio de um universo patogênico tão abrangente, qual seja o ambiente poluído da sociedade industrial, o açúcar quase desaparece. Para os ecomédicos o açúcar é ruim mas está incluído no pacote dos carboidratos refinados como um figurante a mais ou em pé de igualdade com gorduras hidrogenadas, sal e aditivos químicos. Concordo no geral com a medicina ambiental, mas para mim o açúcar é o ator principal. Se o açúcar for retirado da mesa da humanidade o grosso das doenças degenerativas desaparece; restarão seqüelas, mas serão problemas menores. Uma generalização dessas, que faço com o açúcar, não se pode fazer partindo de nenhum outro fator ambiental ou nutricional isolado. Ou alguém aí acredita que retirando da dieta o sal, a gordura, algum conservante; ou do ambiente a poluição sonora ou o forno de microondas isso faça com que um leque de doenças crônicas desapareça? Isso infelizmente só vai poder ser confirmado com o fim da ditadura do açúcar e o desmantelamento da indústria da doença, mas uma contraprova pode ser posta em prática, desde já, pelo leitor: retire o açúcar de sua dieta e observe o que acontece com o seu corpo. O consumo de açúcar refinado desloca alimentos mais nutritivos da dieta, e isso causa uma queda na ingestão total de vitaminas e minerais a níveis que levam ao vagaroso desenvolvimento de doenças degenerativas .106 Essa frase do Dr. McGee mostra-nos como ele é um homem de boa vontade para com o açúcar. O fato de o açúcar deslocar alimentos mais nutritivos quer insinuar, por acaso, que o açúcar é um alimento menos nutritivo? Ou que, como a quantidade de alimentos que o açúcar desloca não é tão grande assim, se eu comer um pouquinho mais de alimentos nutritivos fica tudo bem? Acho que a ecologia clínica, a despeito da sofisticação de suas posições, passa a mão na cabeça do açúcar. Para McGee a culpa do açúcar no desenvolvimento das doenças degenerativas é indireta e essas doenças dever-se-iam à carência de nutrientes. O que esta citação tem de bom é associar o açúcar às doenças degenerativas, faltou a McGee enxergar que o açúcar está diretamente ligado a elas. Não porque deslocou nutrientes , mas porque causa danos ao metabolismo. E pior ainda: ele mesmo é um ladrão de nutrientes. O Dr. Joslin e o açúcar 106 McGee, Charles T. Op. cit., p. 101. A hipótese básica que sustento aqui é a de que a grande causa das doenças crônicas é a dieta humana envenenada pelo açúcar. Sobre isso vejamos o que diz o Dr. Elliot Joslin, verdadeiro papa da diabetologia durante todo o século XX. Joslin morreu em 1962 e a primeira edição do seu manual sobre diabetes é de 1918. Com a palavra o Dr. Joslin: Uma correlação interessante existe entre o tipo de alimento ingerido e a instalação do diabetes . Ele exemplifica com o famoso caso dos judeus iemenitas, vítimas de diabetes depois que foram trasladados para Israel, quando ficaram expostos a uma dieta ocidental que consiste de açúcar refinado em grande quantidade e carboidratos em abundância . Joslin acrescenta que em comunidades africanas, (a incidência de) diabetes entre os nativos é rara até que o amido e açúcar refinado sejam consumidos ; toxinas na dieta, o metabolismo orgânico ou um metabolismo autônomo poderiam todos desempenhar um grande papel (na instalação do diabetes), maior do que neste momento podemos saber ; e conclui que o mecanismo exato do papel da dieta na instalação do diabetes é desconhecido, mas a evidência de que a dieta está implicada na doença é muito sugestiva .107 Apesar de o Dr. Joslin achar uma correlação interessante e a evidência muito sugestiva, o fato é que a ciência nunca fez uma pesquisa séria para pôr esse assunto definitivamente em pratos limpos. E trata-se de uma pesquisa barata - basta selecionar dois grupos e de um deles suprimir a sacarose de sua dieta, o resto é ir conferindo os resultados. Nos anos 80 do século XX, o Harvard Nurses Study acompanhou a alimentação de 90 mil enfermeiras americanas divididas em diversos grupos durante mais de quatro anos para concluir com estardalhaço internacional que a gordura animal causava câncer de cólon. O Dr. Atkins pediu a um colega seu que telefonasse e fizesse a seguinte pergunta à equipe responsável: Doutores, quais foram as conclusões a respeito de câncer do seio e do cólon e ingestão de açúcar? Resposta: Não examinamos esse assunto. Não achamos que tivesse relevância . Reação indignada do Dr. Atkins: Noventa mil enfermeiras, minuciosamente estudadas, milhões de dólares dos contribuintes gastos através de institutos nacionais de saúde, e eles não estudaram o açúcar! Não estudaram porque usaram antolhos, é uma maneira medíocre de fazer ciência .108 Conclusão: que outra conclusão pode-se tirar senão a de que a ciência médica está nas mãos dos traficantes de açúcar? DIABETANDO109 A incidência de diabetes nos EUA tem aumentado proporcionalmente ao aumento do consumo per capta de açúcar. Dr. Frederick Banting 107 Krall,Leo P. Op. cit., p. 24. 108 Atkins,R. Op. cit., 2001, p. 211. 109 Este é o simpático título do livro do Dr. Gentil de Andrade. Vide Bibliografia. Anamnésia Anamnese é a historinha que todo doente conta ao médico sobre sua própria doença - onde está doendo, desde quando etc. A anamnese é importante para que o médico chegue ao diagnóstico. No caso do diabetes a anamnese vira anamnésia (híbrido da anamnese do doente com a amnésia do médico). Tanto o diabético quanto o obeso, a história que eles têm a contar é uma só: uma história de comilança de açúcar na forma de bolos e doces. Sem contar o fato de que o açúcar impregna inclusive os alimentos salgados. A anamnese do diabético revela a etiologia do diabetes, mas os médicos aprenderam na faculdade que a síndrome metabólica é de etiologia desconhecida. Daí o tabu que envolve o assunto. Reportagens sobre diabetes que aparecem com freqüência em revistas e jornais apresentam essa característica interessante, ou melhor, esse paradoxo engraçado, o jornalista que escreve a matéria dizendo uma coisa, citando autoridades médicas, e os diabéticos, quando lhes dão a palavra, com seu discurso padrão: eu era viciado em doces , adoro sorvetes e bolos , sou tarado por Leite Moça . Um exemplo: Sempre fui louca por doces. Nunca mais, porém, coloquei açúcar na boca. Às vezes, sonho que estou comendo chocolate e acordo com a boca salivando - depoimento de Elizabeth Salgueiro (Veja nº 1787, p. 79). O que está faltando para a solução desse paradoxo é a coragem de médicos e cientistas da nutrição para realizar as pesquisas necessárias. Daqui de meu canto sugiro humildemente a seguinte pesquisa: verificação das estatísticas de novos casos de diabetes em adultos e crianças, inclusive diabetes Tipo 1, nos dias subseqüentes a datas como Páscoa, dia de São Cosme e São Damião e festas natalinas. Podia-se pesquisar também o período posterior ao lançamento das garrafas de 600 ml e 2,5 litros de Coca-Cola. Minha hipótese é que um ovo de páscoa comido inteiro por uma criança tem um efeito semelhante a uma injeção de aloxana (substância usada para induzir diabetes em animais de laboratório), arrebentando de uma só vez com o pâncreas da infeliz. O Teste de Tolerância à Glicose (TTG) Sempre achei estranho esse teste. Por que não se testa a tolerância à glicose administrando-se um copo de suco de uvas pretas bem docinha (sem açúcar, claro)? Ou por que o teste de tolerância à sacarose não é feito com um copo de caldo de cana espremido na hora? O nosso corpo não tem a obrigação de ser tolerante a nenhum agente adoçante químico (caso do açúcar) nem a açúcar invertido ou glicose saída de um sacarificador, de onde deve ser extraída a glicose usada pela medicina. Quando a medicina inventou de pesquisar o indice glicêmico dos alimentos (a capacidade dos alimentos de provocar aumento dos níveis de açúcar no sangue), o alimento escolhido como padrão foi a glicose (uma substância química). Acontece que uma dose de glicose pura provocava, em alguns pacientes, sintomas de náuseas, retardo do esvaziamento gástrico em virtude da alta osmolaridade da substância, que interferiam nos resultados. Posteriormente adotou-se o pão branco que provoca respostas fisiológicas diferentes da glicose pura. Um dia a medicina vai adotar o pão integral quando sacar que o trigo refinado do pão branco é também um adulterador de resultados. As mesmas lógica e raciocínio deveriam valer para o teste de tolerância à glicose. O Dr. Aderbal Sabrá, em Diarréia na infância, cita pesquisa realizada por McNair et alii com esquimós da Groenlândia. Os pesquisadores estavam interessados em informações sobre incidência de má absorção de sacarose, e o método utilizado foi o famoso TTG. O livro não dá mais informações sobre a pesquisa. Por que os esquimós da Groenlândia? Certamente por ser um povo virgem no que respeita à dieta açucarada do homem civilizado. Esquimó come muita carne e gordura - aliás, esquimó significa comedor de carne crua, pecha que lhes foi impingida pelos índios do Canadá. O esquimó chama a si próprio de Inuit, o povo autêntico . A pesquisa revelou 10,5% de casos de intolerância ao açúcar, taxa surpreendentemente alta para o Dr. Sabrá.110 Isso prova minha teoria de que nenhum corpo tem a obrigação de tolerar nenhum veneno. Agora, faça o esquimó alimentar-se de nossa dieta açucarada e vinte anos depois, de acordo com a Lei Cleave, 10% dos esquimós estarão diabéticos, 50% com obesidade mórbida e 90% com cárie nos dentes. E ainda esqueci-me dos cardíacos e hipertensos. Depois que a Merck informou que 29,7 gramas de sacarose ou 25 gramas de glicose industrializadas matam uma ratazana de um quilo, para mim TTG é a mesma coisa que TTVR, Teste de Tolerância a Veneno de Rato. Tenho minhas suspeitas: esses números que indicam uma glicemia normal na faixa de 80 a 100 mg/ dl não seriam a glicemia normal para um boneco de açúcar (o cidadão da civilização do açúcar, aquele que se alimenta da dieta açucarada)? No dia em que a dieta açucarada for abolida certamente os níveis normais da glicemia serão mais baixos. Atkins também levantou suspeitas sobre o número escolhido para diagnosticar a hipoglicemia. Para ele a escolha desse número mágico (45mg %) atrasou por uma geração o progresso da medicina nessa área. Ainda segundo ele a maioria dos hipoglicêmicos não atinge nível tão baixo, mesmo quando estão acamados por causa disso.111Entre os sintomas que podem ser devidos à hipoglicemia estão depressão, fadiga, irritabilidade, nervosismo, tonturas, dor de cabeça, desmaio, sudorese, mãos e pés frios, fala arrastada, sonolência, esquecimento, insônia, preocupações, confusão, ansiedade, taquicardia, dores musculares, agessividade, indecisão, crises de choro, falta de concentração, contrações musculares, perturbações digestivas, síndrome de úlcera, medos e fobias, síndrome de pânico, comportamento suicida, convulsões, alergias, vista embaçada, vício em álcool e drogas, frigidez e impotência, falta de aproveitamento escolar, terrores, pesadelos e até perda de consciência. Esse mar de sintomas é provocado pelo singelo consumo da dieta açucarada moderna a qual, hiperinsulinizante que é, induz à hipoglicemia reativa. A solução Atkins indica: uma dieta pobre em carboidratos , isenta de açúcar digo eu. Ainda hoje a medicina recomenda açúcar para casos de crise de hipoglicemia. Mutatis mutandi é como querer apagar uma fogueira jogando querosene em cima. O açúcar usado como remédio vai originar uma nova onda de insulinemia que vai provocar nova hipoglicemia que irá demandar nova dose de açúcar. É o conhecido ciclo do açúcar. 110 Sabrá, Aderbal. Op. cit., p. 40. 111 Atkins, Robert C. Op. cit., 1977, pp. 73-75. Desconfio também do fato de se considerar normal a presença de hemoglobina glicada até o limite de 8%. Não seria a tal hemoglobina uma proteína aleijada pelo açúcar da dieta açucarada? Esses povos (cada vez mais difíceis de se encontrar) que não fazem uso da dieta açucarada (índios perdidos na Amazônia, esquimós siberianos) possuem no seu sangue hemoglobina glicada ? Para mim trata-se, mais uma vez, de medicina construída segundo os interesses da indústria da doença. O fato é que esses parâmetros utilizados pela medicina são precários na medida em que se aplicam a uma humanidade com o metabolismo alterado pelo consumo da dieta açucarada moderna. Eles mudam em função do avanço do açucaramento da dieta. É a medicina ad hoc. Uma medicina orientada para lidar com os bonecos glicosilados da civilização do açúcar. Açúcar e radicais livres O consumo diário compulsório da dieta açucarada moderna contribui para encharcar de glicose o organismo das pessoas. Vamos ver, com ajuda do Dr. Helion Póvoa, o que acontece lá por dentro. Segundo ele, TODOS NÓS (consumidores da dieta açucarada chamo a atenção) possuímos a hemoglobina glicada, não só os diabéticos; mas apenas os diabéticos a possuem em grau mais elevado, por razões óbvias. Seguindo uma linha de pesquisas inaugurada pelo médico italiano Dr. Ceriello, em 1991, sobre o papel dos radicais livres nos diabéticos, o Dr. Póvoa conjeturou que se eram os radicais livres que formavam a hemoglobina glicada, pessoas que sofrem de excesso de radicais livres certamente deviam passar por esse problema. E de fato ele constatou em pesquisas próprias que o estresse oxidativo tem a ver com o aumento da glicação, MESMO EM NÃO DIABÉTICOS. Muitos trabalhos posteriores, nessa linha de pesquisa, relacionaram problemas renais à glicação da membrana basal (uma proteína do rim). Outros trabalhos comprovaram que a arterioesclerose é causada pela glicação do colágeno e que a catarata é uma glicação do cristalino, e assim por diante. Quando adicionada a uma proteína a glicose reage e se incorpora a ela. No caso da hemoglobina, quando glicada ela tem seu trabalho de transporte de oxigênio pulmonar inibido, prejudicando dessa forma todo o organismo, especialmente as extremidades do corpo. As pesquisas do médico italiano Ceriello corroboradas pelo nosso Dr. Póvoa demonstraram que o fenômeno da glicação é uma mera reação de oxidação causada por radicais livres na presença de proteínas e açúcar, uma reação simples que acontece até fora do organismo e dispensa catalisadores químicos ou enzimas. 112 Na página Cidades on-line, Carlos Humberto Longobardi de Vilhena diz que especialistas em diabetes e metabolismo vêm alertando para o fato de que diabetes, longe de ser um distúrbio apenas pancreático, se comporta muito mais como uma doença vascular. E que o açúcar alto é um grave fator de risco, já que é causa importante de anoxia tissular (baixa oxigenação dos tecidos) e de aumento de formação de radicais livres em nível tissular. 112 Póvoa, Helion. A Chave da Longevidade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. Moral da história: acabando com a farra de açúcar na alimentação teremos menos glicose para atazanar nossas proteínas e nossos tecidos. A gênese dos bonecos de açúcar Não existe ainda uma teoria geral do diabetes e talvez nem venha a existir. Mas uma teoria geral muito mais ambiciosa, que explique todo o conjunto de doenças crônicas, já é possível vislumbrar no horizonte. Em 1912, quando no mundo civilizado cada pessoa consumia uns 20 quilos de açúcar anualmente, o cientista francês Louis Camille Maillard, da área de tecnologia de alimentos, fazendo pesquisas sobre a deterioração de alimentos, descobriu o papel do açúcar nesse processo. Ele demonstrou que a mudança de cor experimentada por certos alimentos ao envelhecer se devia a uma reação entre açúcares e proteínas. Os produtos finais dessa reação eram os responsáveis pela cor marrom que intrigava o pesquisador. A descoberta ganhou o nome de reação de Maillard e consiste numa glicação ou glicação não- enzimática de proteínas. O grupo aldeído dos açúcares redutores, diante de oxigênio, liga-se ao grupo amina das proteínas numa reação de condensação sem necessidade de enzimas. Em português claro: o açúcar se agarra à molécula de proteína aleijando-a, isto é, alterando sua estrutura e propriedades. O doutor Maillard, profético, sugeriu nas conclusões de seu relatório que suas descobertas diziam respeito aos diabéticos. Meio século depois, quando cada citoyen andava consumindo uns 60 quilos de açúcar por ano, foi descoberta a hemoglobina glicosilada (HbA1c), depois rebatizada para glicada . Com isso ficou claro que a glicação de proteínas não acontecia apenas in vitro, como nas experiências de Maillard, mas também in vivo. Isso mesmo, o açúcar contribui para deteriorar o ser humano em vida. A hemoglobina glicada nada mais é que uma proteína com sua estrutura alterada por uma molécula de glicose agarrada a ela. Aleijada pelo açúcar a hemoglobina fica prejudicada em sua função de oxigenar os capilares, facilitando a necrose. Segundo os médicos, em um cidadão normal a hemoglobina glicada oscila de 6% a 8%. Faço uma pergunta: índio, desses que ainda não se misturaram com os brancos, tem hemoglobina glicada? Se não tiver fica claro que achar normal a presença dela é caso de medicina escrita para atender a outros interesses, pois não? A indústria da doença não viu nada de mais nessa descoberta, e até arranjou uma utilidade prática para ela: a hemoglobina glicada serve para indicar o nível de açúcar no sangue dos últimos quatro meses (o tempo de vida de uma hemoglobina). É mais ou menos como utilizar os corpos de vítimas de homicídio por armas de fogo para estudos de balística, fazendo vista grossa para o crime. Outro cadáver é a frutosamina, um dos produtos iniciais da glicação: tem sido usada para monitorar o açúcar das duas últimas semanas. A reação de Maillard é um tipo de reação em cadeia. Os produtos iniciais da reação entre acúcares e proteínas são compostos intermediários instáveis proporcionais à concentração de glicose momentânea - as aldiminas (base de Schiff). Tais compostos poucos dias depois transformam-se em frutosaminas (composto de Amadori). A continuação da cascata de reações conduz à formação dos terríveis AGEs - Advanced glycation end products ou produtos finais do processo de glicação, compostos muito reativos que exercem diversas atividades biológicas deletérias. A doutora Elisa Biazzi fala deles de uma maneira engraçada: As células, em determinados momentos, lançavam um elemento estranho, emaranhado como uma teia de aranha e muito pegajoso. Seguindo pelo sangue, (os AGEs) grudavam nas paredes das artérias, alcançavam as articulações, fixando-se ali. Chegavam até o cristalino do olho, provocando cataratas, verdadeiras sementes de envelhecimento precoce .113 Eles gostam de se acumular na parede arterial (colágeno) e nas membranas basais glomerulares, induzindo à nefropatia; noutros capilares como os da retina levando à retinopatia, etc. As distintas etapas da reação de Maillard afetam todas as macromoléculas do organismo dotadas de grupos amina reativos e vida longa. Ou seja: as proteínas do plasma sanguíneo, as do compartimento intracelular e as da matriz extra celular (proteínas circulantes) e as estruturais componentes das membranas (colágeno, elastina, mielina, etc). A glicação de proteínas modifica significativamente suas propriedades físico- químicas e conseqüentemente sua atividade biológica. Os produtos iniciais da glicação afetam as proteínas modificando sua carga elétrica, solubilidade e mobilidade. Já os produtos finais, através de ligações cruzadas entre proteínas, modificam sua estrutura original, afetando suas funções vitais. As proteínas estruturais modificadas comprometem também as funções próprias do tecido de que fazem parte e conseqüentemente do órgão do qual o tecido é componente. A glicose que circula pelo sangue depende, para entrar nas células musculares, de uma ajudinha da insulina. Os músculos estriados são apenas uma fração (aproximadamente 30%) da área do corpo atingida pela glicose. Mas há um mundo de outras células e tecidos nos quais o açúcar entra sem pedir licença. A lista é grande: a começar pela própria hemoglobina que é livremente permeável à molécula de glicose sendo por isso suscetível a concentrações glicêmicas semelhante ao plasma, o sistema nervoso central e periférico, o sistema micro e macrovascular, os músculos lisos, os ácidos nucléicos, os fosfolipídios, a medula renal, o tecido conjuntivo, o colágeno, o cristalino, os hormônios, as enzimas etc. Justamente as partes do corpo onde ocorrem as complicações do diabetes. São tecidos insulino-independentes porque se nutrem exclusivamente de glicose e possuem transportadores (Glut) que não são regulados pela insulina. É nesse universo protéico que o açúcar faz a festa. Por não dependerem de insulina as portas estão abertas para o inimigo. Quer a vítima esteja alimentada ou em jejum os transportadores de glicose estão lá, ligados à membrana, a postos. Em situação de glicemia normal a velocidade de entrada de glicose nas células é proporcional à demanda de energia. Se existir hiperglicemia a glicose entra livremente pela célula e depois de fosforilada pela enzima aldose redutase; após atingir determinada concentração passa a inibir a ação dessa enzima. E continua a entrar até ficar em equilíbrio com a glicose circulante. Como a água da enchente de um rio que invade a casa de uma pessoa até o limite do nível das águas do próprio rio. O excesso de glicose livre no interior das células é o maior responsável pelas lesões típicas das complicações do diabetes. A glicose livre (não fosforilada) ativa nas células a via dos polióis, com formação excessiva de sorbitol e frutose. O aumento de sorbitol e frutose altera o metabolismo energético celular, a integridade da membrana e outras funções. O sorbitol se acumula na bainha de Schwann do tecido nervoso, acarretando mudança na função dos nervos, com alteração na condução nervosa, mudança na sensibilidade e perda de fibras nervosas. Isso se explica porque esse poliól ocasiona estresse hiperosmótico nas células e outros problemas (diminuição do monoinositol celular), ocasionando dano. As demais glicoses livres ligam-se não-enzimaticamente a proteínas, ácidos nucléicos e até fosfolipídios, gerando, em última instância, PEGAs produtos finais de glicação avançada. Tanto a glicose quanto a frutose podem auto-oxidar-se na presença de oxigênio, originando um dicarbonilo e o radical ânion superóxido, ambos responsáveis pelo estresse oxidativo na célula. 113 Biazzi, E. Op. cit., p. 133. O radical livre que resulta da oxidação da frutose é responsável pela maior parte da formação de ligações cruzadas entre proteínas, os AGEs. Esses produtos finais da glicação avançada alteram a estrutura e as funções das proteínas e induzem ainda processos de antigenicidade que perpetuam a lesão. Ainda segundo a doutora Biazzi, essas moléculas de proteínas hipertrofiadas são o subproduto do metabolismo de células superalimentadas de quem consome alimentos cozidos, gorduras, açúcares e proteínas de origem animal, e ocorriam principalmente no organismo de diabéticos. Elisa Biazzi é ligada aos Adventistas de Sétimo Dia e mistura religião com ciência. Os adventistas valorizam o vegetarianismo e alimentos crus. Se o problema é proteína aleijada por glicose e frutose, o que é que a carne da dieta tem a ver com isso? A médica portuguesa Maria da Silva Azevedo, em artigo sobre a bioquímica do diabetes, cita Unger como tendo sido o primeiro a falar de diabetes como uma síndrome secundária a uma hiperglicemia. E também Cahill, que já havia proposto uma etiopatogenia comum para explicar o diabetes e suas complicações. Cita também, nas conclusões de seu artigo, dados de experiências recentes com as ilhotas de Langerhans incubadas na presença de concentrações de glicose, onde se verificou a ativação de citocinas e produção de NO (óxido nítrico) provocando um estresse oxidativo e lesão das células beta. As células beta do pâncreas, lembra a médica, são muito vulneráveis à oxidação por possuírem poucas defesas anti-oxidantes. E finalmente menciona outras experiências em que ratos, mantidos com hiperglicemia induzida, apresentaram lesão das células beta causadas pelo estabelecimento de um processo auto-imune. Silva Azevedo conclui lembrando que a glicação não- enzimática de proteínas (GNP) poderá ainda ser responsável pela resistência à ação da insulina, posto que atinge tanto a insulina quanto os receptores dela. 114 Já vimos com o doutor Helion Póvoa que a glicação de proteínas não é privilégio de diabéticos, ela atinge também os não diabéticos. Colágeno glicado tem sido observado em indivíduos com hiperglicemia leve não diagnosticados como diabéticos. Sabe-se também que pequenas elevações da glicemia podem causar disfunção endotelial e possivelmente, dar início à aterogênese. A hiperglicemia, mesmo não havendo diabetes, causa glicação das LDL que as torna agressivas ao endotélio e a outras células. A futura teoria geral das doenças crônicas chegará necessariamente a uma sistematização dos males causados pelo açúcar. A porta de entrada é a boca, onde a sacarose desempenha o papel de combustível exclusivo com o qual as bactérias cariogênicas produzem cárie. Tendo chegado ao sangue e glicado a hemoglobina, à exceção dos músculos estriados, todo o organismo fica exposto ao assédio da glicose livre. Ficam passíveis de glicação: o colágeno que, alterado, irá contribuir para tromboses e outras doenças vasculares; a LDL, que glicada se torna imunogênica, o organismo passa a produzir anticorpos anti-LDL glicada; a glicação do cristalino que antecede as cataratas senis; a glicação das células beta pancreáticas explica o diabetes; a glicaçao das membranas basais caracteriza as microangiopatias; a glicação da insulina explicaria sua ineficácia; e a glicação dos receptores de insulina a resistência insulínica; a glicação dos nervos causa neuropatias; colágeno tissular glicado é típico de envelhecimento. E assim por diante. Já havia dito que a medicina não havia mapeado a festa que o açúcar faz no organismo. Estava pensando apenas em digestão e metabolismo. Essa teoria geral a que me refiro é muito mais complexa: será o mapeamento a ser feito pelo pessoal da bioquímica fina. Um mapa que faça a síntese das várias hipóteses alternativas e complementares para os mecanismos pelos quais o açúcar leva às diferentes doenças crônicas, a começar pelo emaranhado das reações de Maillard; a aceleração da função da enzima aldose redutase (via 114 Azevedo,M. da S. Bioquímica da diabetes in: Duarte, R.(org). Diabetologia clínica. Lisboa: Lidel, 1997, pp. 35-42. dos polióis); o estresse oxidativo (radicais livres); o estresse carbonílico; o transtorno de atividade da proteína kinasa C e a pseudo-hipoxial; o transtorno no metabolismo das lipo- proteínas; e o transtorno da atividade das citocinas. Entre os cientistas já existe o consenso de que a glicose em si mesma é tóxica e a frutose mais tóxica ainda. E nós leigos sabemos que o açúcar do açucareiro é um mero fornecedor de glicose e frutose usado para encharcar os alimentos que irão encharcar nossos corpos com essas substâncias tóxicas. E agora, José? Creio não estar forçando nenhuma barra ao sustentar que o consumo diário da dieta açucarada moderna é a grande fonte desse manancial de glicose (e frutose) que vai aos poucos glicosilando , estressando e oxidando o organismo de toda a humanidade dos dias de hoje. Em minha modesta opinião de leigo, o açúcar é o fio de Ariadne que conduzirá à teoria geral explicativa das doenças crônicas, e quiçá explicará também as doenças auto-imunes. A natureza não ia levar bilhões de anos aperfeiçoando uma máquina para depois seus componentes começarem a se estranhar entre si. Foi só depois que o ser humano aprendeu a isolar de uma gramínea essa substância de reserva de açúcares e adicioná-la aos alimentos, açúcares esses que reagem com proteínas alterando suas estruturas e funções, que passou a haver esse estranhamento e teve início a produção de anti-corpos contra componentes do próprio corpo. Uma espécie de loucura que tomou conta do organismo. Resta à indústria da doença tentar provar que o mar de glicose que transforma seres humanos em bonecos de açúcar vem das bananas, da lentilha e do arroz e não dessa substância isolada de um capim e adicionada aos alimentos.115 Teoria geral do diabetes Antigamente, quando se comia menos açúcar, um indivíduo levava no mínimo quarenta anos para ficar diabético. O diabetes era conhecido como uma doença que dava em velhos. Com o aumento do consumo de açúcar, agora se leva muito menos tempo. Isso bagunçou com os esquemas classificatórios que a medicina criou para os diabéticos. A tipologia antiga era rica: havia o tipo infantil e o adulto, o pré-diabético, o assintomático, o químico, o obeso, o gestacional, o do recém-nascido, o insípido, o florido e o bronzeado. Tinha até o diabético emocional . Depois evoluiu para basicamente dois graus: o Tipo 1 e o Tipo 2. E acaba de entrar em cena o Tipo 3 que tem a ver com o mal de Alzheimer. A confusão no meio de campo começou com o DJIM, diabetes juvenil de incidência na maturidade. Hoje o diabetes não escolhe idade nem sexo nem etnia ou profissão para aparecer. Quanto mais açucarada for a dieta maior será a incidência de diabetes. E é cada vez mais comum a diabetologia falar em diabetes não classificado. Todos nós somos condenados a ingerir uma dieta açucarada desde que nascemos - isso na hipótese feliz de que nossas mães escaparam do diabetes gestacional, situação em que o açúcar chega pelo cordão umbilical. Possivelmente já nascemos envenenados pelo açúcar ingerido por nossos pais e quiçá com seqüelas genéticas devidas ao consumo de açúcar por nossos avós. Antigamente, quando o consumo era menor, o açúcar da dieta agia como um veneno administrado homeopaticamente. Hoje, com a aceleração do açucaramento da 115 Fontes: Rull et alii. Diabetes mellitus, complicaciones crónicas. México: Interamericana/McGraw- Hill, 1992; Duarte, R.(org.). Op. cit.; Gugliucci,A. Op. cit. ração humana as doses são cavalares mesmo. O alimento, como sabemos, é ao mesmo tempo o cimento que constrói o corpo e o combustível que o movimenta; o açúcar é um adulterador desse cimento. Como dissemos o envenenamento pelo açúcar começa cedo já com adição de açúcar ao mingau servido em mamadeiras ou com as papinhas industrializadas da Nestlé, oferecidas a crianças que deveriam estar mamando no peito da mãe. O objetivo é viciar o pimpolho ainda no colo da mãe. Mais tarde essa criança em vez de leite puro vai querer Toddy e no lugar de uma fruta vai preferir sorvete ou doce. A ingestão diária da dieta açucarada leva ao distúrbio do metabolismo pelo caminho do descontrole do funcionamento do sistema glandular endócrino. Combinado com o processo de glicação não-enzimática de proteínas são abertas assim as portas para as doenças crônicas, metabólicas e degenerativas. Como o açúcar é ingerido em doses diferenciadas e cada pessoa tem uma individualidade biológica , ele atinge as pessoas também diferenciadamente. Num recém- nascido uma colher de sopa de açúcar (que o livro A vida do bebê prescreve como remédio caseiro) é uma verdadeira overdose de veneno que responde pelo estranho tipo de diabetes que ataca recém-nascidos, uma condição que regride quando passa o efeito da bomba de açúcar. Diante de açúcar, e especialmente de porcarias açucaradas, crianças não têm limite: elas vivem expostas a doses cavalares de açúcar. Num pâncreas já esfalfado pelo consumo cotidiano de açúcar uma dose cavalar de açúcar (ovo de páscoa, lata de leite condensado) arrebenta com ele de modo definitivo. É o diabetes Tipo 1, pelo menos o idiopático. Mesmo que alguém aparente ter agüentado o tranco durante a infância e por um milagre ficado livre das cáries, da obesidade e do diabetes infantil isso não quer dizer que seja imune ao açúcar: ele continua a desenvolver seu lento trabalho de destruição, via glicação degenerativa, roubando minerais, vitaminas e até desidratando o organismo. Há um termo militar que se aplica bem ao caso: trabalho de sapa, é o que o açúcar faz em seu corpo. Se o incauto comedor de açúcar é mulher, quando grávida ela passa a comer por dois e sem querer vai comer açúcar em dobro habilitando-se a contrair diabetes gestacional; e se continuar comendo açúcar terá um bebê macrossômico, uma teratologia causada pelo açúcar que encharca a grávida diabética. O diabetes gestacional é outro tipo de diabetes passageiro: depois que a criança nasce, a mãe volta a ingerir as doses normais de açúcar e o diabetes desaparece. O terceiro tipo de diabetes transitório é o que some depois que um obeso diabético para de comer açúcar e emagrece: juntamente com o açúcar vai embora a doença. O diabetes Tipo 2 se instala tão lenta e silenciosamente que você não percebe. É comum o caso de mortes acontecerem a pessoas que ficaram diabéticas sem perceber e que continuaram se alimentando da dieta açucarada. Pequenas coisas como dificuldade de reter a urina, um arranhão na pele que demora a cicatrizar, dormência ou formigamento nas extremidades do corpo que as pessoas costumam atribuir à velhice que vem chegando são na verdade sintomas que prenunciam o diabetes. Ainda não é a doença; se a pessoa nesse ponto parasse de comer açúcar mandaria o diabetes para o espaço. Inocente, incauta e abandonada pelo Ministério da Saúde continua se alimentando da dieta assassina até que um dia um empurrãozinho tipo um pudim de leite condensado fará o papel da gota de açúcar que faltava para transbordar o pote. O pâncreas entrega os pontos e se rende ao bombardeio: você contraiu diabetes. Os sintomas são conhecidos: boca seca, muita sede, perda de peso, visão turva, fadiga, muita urina e muita fome. Essa cornucópia de sintomas significa que seu pâncreas se escangalhou por causa do regime de trabalho forçado a que foi submetido ao longo de sua vida. Ou porque as células beta foram prejudicadas pela glicação degenerativa. O diabetes não tem cura. Resta parar de comer açúcar, comer com moderação, fazer exercícios ou, em casos mais graves, tomar comprimidos antiglicemiantes e até injeções de insulina visando prolongar a vida. Não tem cura mas tem prevenção. Se desde a infância o açúcar for afastado da dieta de uma pessoa ela jamais ficará diabética mesmo com histórico familiar . Ficará livre também de cárie dentária, obesidade mórbida e outras mazelas crônicas e degenerativas. O caminho rumo ao diabetes começou com a administração ditatorial de uma dieta anormal açucarada à raça humana. O aumento da insulina é uma reação normal do pâncreas ao veneno calórico que foi adicionado ao alimento. A intolerância à glicose ocorre quando o organismo começa a fraquejar e a deteriorar-se diante do assédio continuado desse veneno. Quando todo o povo voltar a se alimentar de comida normal, isto é, sem açúcar, todas as doenças que o açúcar provoca desaparecerão. É tautológico mas tem gente que não enxerga. Isso será um verdadeiro chute no pau da barraca da indústria da doença. A indústria da doença é uma das colunas de sustentação da exploração capitalista. A exploração do homem pelo homem passa pela administração de uma dieta que o tornará um ser adoentado para em seguida se ganhar dinheiro com isso. A dieta açucarada moderna é a mais perfeita forma de controle social jamais inventada pelo capitalismo. Todos conhecemos a máxima dividir para governar . Nos dias de hoje seria adaptada para enfraquecer e adoecer para dominar . Uma população de bonecos de açúcar na qual os que não estão doentes e gastando seu tempo e dinheiro com médicos e medicamentos estão preocupados em não ficar doentes, às voltas com higiene bucal, hábitos alimentares e de vida saudáveis , um povo assim tem menos tempo e saúde para se preocupar com democracia ou revolução. Sônia Hirsch acertou na mosca quando disse nosso doce prazer não é só nossa sentença de morte. É a maior fonte de lucros de um sistema (...) que só visa o poder para ter mais lucros . E conclui: Por isso a doença interessa tanto. A saúde não, a saúde é subversiva porque não dá lucro a ninguém .116 Pau de açúcar Que entre as complicações do diabetes estão diversas neuropatias, retinopatias, nefropatias, e que isso significa que o diabético pode ficar cego, ter os pés amputados, e ficar brocha, todo mundo sabe. Já essa complicação do diabetes é novidade: a doença de Peyronie. Distúrbio que atinge principalmente homens a partir dos 50 anos. Trata-se de uma doença degenerativa que afeta a elasticidade do pênis, provavelmente por glicação dos tecidos. Se a elasticidade for mais afetada em um dos lados, no momento da ereção o pênis vai entortar para esse lado afetado. Se o comprometimento afetar o pênis como um todo o resultado será um encolhimento: ele ficará menor. É comum no decorrer da doença, crônica e progressiva, o pênis perder até 5 centímetros de comprimento. No decorrer da evolução dessa doença, o homem pode ficar impotente.117 116 Hirsch, Sônia. Sem açúcar, com afeto. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1984, p. 31. 117 Santos, Bayard F. A medida do homem. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2000 p. 155. Angola é aqui Angola foi palco de uma das últimas guerras por tabela em que se engalfinhavam as duas superpotências que patrocinavam a Guerra Fria. Com o fim da guerra em Angola uma das seqüelas que restaram foi o problema dos mutilados. Muitos milhares de angolanos perderam pés e pernas por causa das minas que coalhavam o território do país, uma herança tétrica da Guerra Civil. O problema adquiriu uma dimensão tal que chamou a atenção da princesa Diana, que visitou Angola e pediu ajuda internacional. O Brasil não enfrentou nenhuma guerra civil aberta no tempo mencionado mas tem também sua legião de mutilados. Muitos milhares de brasileiros perdem por amputação não traumática dedos, pés ou pernas por causa de gangrena diabética. Consta que nos Estados Unidos todo ano mais de 80 mil cidadãos perdem suas extremidades inferiores por causa disso. No Brasil não se sabe o dado estatístico, mas sei que apenas um hospital no Rio de Janeiro, o Hospital da Lagoa, amputa membros de mais de duas mil pessoas por ano. Aposto como os mutilados da ditadura do açúcar são em número maior que o número dos mutilados de todas as guerras que já tivemos até hoje. Só vamos poder comparar quando a cortina de açúcar for rasgada. As estatísticas da destruição que as doenças do açúcar causam são escamoteadas da população. Aliás não só da população: você que me lê e é médico sabe o número de brasileiros que perdem membros por causa de gangrena diabética? ou quantos fazem hemodiálise por causa de nefropatia diabética? ou quantos ficam cegos por causa de retinopatia diabética? ou quantos ficam aleijados por causa de neuropatia diabética? ou quantos morrem por causa de cardiopatias ou acidentes vasculares cerebrais por serem diabéticos? ou quantas são as vítimas da mais disseminada e vergonhosa forma de amputação, a dentária? Estreptozotocina e açúcar A estreptozotocina (STZ) é, em jargão médico, uma droga citotóxica seletiva das células beta do pâncreas. Pela administração dessa droga é possível induzir diabetes em ratos de laboratório de três formas: a) Ação tóxica. Uma dose única elevada (50 mg/ Kg) provoca diabetes irreversível em 24 horas; b) Ação inflamatória. Doses baixas, repetidas provocam, algum tempo depois, um diabetes semelhante ao Tipo 1; c) Dose baixa no período neonatal. Os ratos, quando adultos, desenvolvem um diabetes semelhante ao Tipo 2.118 Qualquer semelhança com os seguintes fatos será mera coincidência?: a) Ação tóxica. Uma lata de leite condensado mamada de uma só vez por uma criança provoca diabetes Tipo 1; b) Ação lenta. Refrigerantes, sorvetes, bolos e doces consumidos 118 Duarte, Rui (org.) Op cit., p. 36. normalmente todos os dias provocam diabetes Tipo 2 seja na infância, na juventude ou na idade adulta. Os ratos diabéticos O Dr. Robert Atkins cita pesquisa de M. Cohen de 1972, publicada na revista Metabolism, na qual a equipe do Dr. Cohen conseguiu gerar uma estirpe completa de ratos diabéticos, alimentando-os com açúcar e acasalando seletivamente os animais mais sensíveis a esse produto. Outros estudos publicados entre 1964 e 1972 sobre ratos demonstraram que todo o processo começa com a deterioração da tolerância à glicose, geralmente compensada com hiperinsulinismo e que continua tragicamente na direção do diabetes.119 Se o avanço da ditadura da dieta açucarada não for interrompido logo, a humanidade um dia não passará de uma raça de seres diabéticos, obesos, hipertensos e desdentados. Diabetologia ontem e hoje Desde que existe, a diabetologia nunca aceitou a tese de que o consumo de açúcar explica a etiologia da doença. No tempo do doutor Joslin, verdadeiro papa da disciplina, a diabetologia fazia umas generalizações que hoje vemos como folclóricas. Os judeus, como já vimos, eram apresentados como uma raça de alta incidência de diabetes, ao contrário de negros, indianos, japoneses e chineses. Trabalhadores braçais seriam mais resistentes ao diabetes que trabalhadores urbanos e intelectuais. Mulheres solteiras seriam menos afetadas que as casadas e no geral as mulheres seriam mais vitimadas que os homens. Povos primitivos desconheciam a doença. A diabetologia concluiu que o diabetes chegava a ser uma doença característica de países civilizados , cujos povos eram mais bem alimentados . A propósito dessa última conclusão o médico brasileiro Francisco Arduino disse, de maneira jocosa, assumida por ele mesmo, que diabetes não é para quem quer mas para quem pode .120 Com o avanço do conhecimento, houve uma tendência na diabetologia de abandonar essas afirmações pelo que elas tinham de inconsistentes. Por exemplo, grupos de japoneses que imigraram para o Havaí e Califórnia e aderiram à dieta açucarada dos americanos começaram a ficar diabéticos e a morrer de doenças do coração. Para ficar por aqui por perto a revista Endocrinologia & Metabolismo menciona estudo com um grupo de nipo-brasileiros residente em Bauru, São Paulo, acompanhado durante sete anos: desnecessário dizer o que esses nisseis e sanseis comem. Mas a conclusão do estudo, feito pela Universidade Federal de São Paulo, diz que a epidemia de Diabetes Mellitus atinge proporções alarmantes entre os nipo-brasileiros. Ao lado de fatores genéticos, a adiposidade central deve estar contribuindo para este caso .121 Ainda não se fizeram pesquisas comparando os casos de diabetes entre japoneses antes e depois do açucaramento da culinária daquele país. Hoje a cozinha típica japonesa está fortemente adulterada pelo açúcar: o caldo que dá liga ao arroz de sushis e sashimis, os molhos de conservas e outros molhos como o shoyo, peixes processados para fazer imitação de outros 119 Atkins, Robert. Op. cit., 2001, p. 149. 120 Arduino,F. Conheça seu diabetes. Porto Alegre: Globo, 1965, p. 13. 121 Endocrinologia & Metabolismo, vol 45, nº 5, Suplemento 1, out. de 2001, p. S560. alimentos, tudo leva açúcar. Com isso o mito japonês caiu por terra. Os judeus americanos que gostam de dinheiro e de açúcar de fato eram fortes candidatos ao diabetes, mas judeus da península arábica, comedores de carne, não. Povos primitivos em geral são livres de doenças crônicas; já os índios da tribo pima, os mais civilizados dos Estados Unidos, são conhecidos pelos altos índices de diabetes. Segundo a diabetologia de hoje, ao contrário da de ontem, os negros ficam diabéticos mais que os brancos. A medicina silencia sobre essa reviravolta na predisposição genética dos negros e é cega e surda diante do óbvio ululante: eles estão comendo mais açúcar. Negros americanos, por exemplo, comedores de fast food, são gordos, diabéticos e cardíacos, o que não ocorre com os negros africanos, que comem carne de pangolin e correm atrás de veados. Quanto aos trabalhadores braçais versus intelectuais é claro que enquanto o trabalhador brasileiro, por exemplo, comia carne seca com abóbora ou feijão com arroz e carne era menos atingido pelo diabetes. Hoje, almoçando um prato feito acompanhado por uma Coca-Cola de 600ml e uma sobremesa de pudim de leite condensado... O diabetes vai de vento em popa. O avanço do açucaramento da dieta da humanidade empastelou todas essas diferenças que a diabetologia clássica enxergava, tanto no que diz respeito à incidência do diabetes quanto à própria classificação dos diabéticos. Hoje fica diabético qualquer indivíduo de qualquer povo, de qualquer lugar, de qualquer faixa etária, de qualquer sexo ou profissão, a depender apenas da quantidade de açúcar que esteja ingerindo e, é claro, de diferenças biológicas individuais. A diabetologia de hoje é uma ciência sofisticada às voltas com autofosforilação de receptores de insulina, mutações no DNA mitocondrial, anormalidades no cromossomo 6, agenesia congênita das ilhotas, ou transmissão autossômica. Mas, tal qual a velha diabetologia, desconhece a etiologia do diabetes, embora ambas compartilhem a certeza de que o açúcar não tem nada a ver com isso. A nova diabetologia desconfia até do leite de vaca122 . Já o leite condensado está acima de qualquer suspeita. Acalento a hipótese de que uma lata de leite condensado mamada por uma criança tem um efeito semelhante ao de uma injeção de aloxana num rato de laboratório. Como seria um crime alguém fazer uma experiência desse tipo em laboratório, a Nestlé resolveu ajudar e colocou à venda o Leite Mocinha , um sacolé de leite condensado justamente para ser mamado por nossas crianças. É só falar com o IBGE e conferir se houve ou não aumento nas estatísticas de novos casos de diabetes infantil posterior ao lançamento do produto. CLÍNICA GERAL Sem a glicose natural dos cereais, legumes e frutas a gente não anda, não pensa, não funciona. Já com o açúcar refinado a gente anda, a gente pensa, a gente funciona... mal. Sônia Hirsch 122Idem p. S561. Açúcar e candidíase Diz-nos o Dr. Atkins que 60% de seus pacientes têm resistência à glicose, que 30% deles apresentam proliferação do fungo candida albicans e que nos Estados Unidos os médicos evitam diagnosticar a doença por causa da sua origem iatrogênica (conseqüência de tratamento médico). A candida albicans é encontrada normalmente no corpo humano e compreende em geral 10% do espectro de microorganismos do trato intestinal. A proliferação para além desse limite dá-se em conseqüência de fatores como uso prolongado de antibióticos; contato com o mercúrio usado em obturações de prata nos dentes; uso do anticoncepcional predinizona e outros esteróides; e principalmente quando uma pessoa é exposta a uma dieta rica em açúcar e cereais refinados. Os antibióticos destroem os lactobacilos presentes na flora intestinal que inibem a proliferação do fungo. As pílulas anticoncepcionais, também. E o mercúrio compromete o sistema imunológico, facilitando a vida da dona cândida. Já o açúcar, o Dr. Atkins não deixa por menos: segundo ele o açúcar constitui o maior fator de proliferação no caso dos fungos . E prossegue: Os que estão infestados pela candida devem manter distância de sorvete, bombons, bolos, xarope de milho, frutose, xarope de maçã, melado, etc. . 123 Ainda segundo o Dr. Atkins, a lista de problemas que a proliferação do fungo pode deflagrar é vastíssima e inclui, a título de amostra, sem querer aterrorizar mas já aterrorizando os que gostam de açúcar: letargia, fadiga, depressão, dificuldade de concentração, dor de cabeça, prisão de ventre, dor de barriga, diarréia, gases, problemas respiratórios, do trato urinário e dos órgãos genitais. O sintoma mais comum é a barriga inchada, especialmente o baixo ventre protuberante, denunciador de gases no intestino grosso. Açúcar e memória Altos níveis de açúcar no sangue prejudicam a memória e provocam o encolhimento do hipocampo. Nós demonstramos que a regulagem da glicose está associada com disfunções de memória e com o encolhimento do hipocampo , afirma o Dr. Antonio Convit, professor de psiquiatria e diretor médico do Centro para a Saúde do Cérebro da Universidade de Nova York. Nosso estudo indica que essa deficiência pode contribuir para falhas de memória que ocorrem com o envelhecimento e levanta a possibilidade de que melhorar a tolerância à glicose pode acabar com problemas de conhecimento associados à idade , acrescenta o professor.124 A pesquisa estudou 30 homens e mulheres com idades entre 53 e 89 anos não diabéticos, mas alguns deles tendo níveis de açúcar no sangue mais altos que o normal (pré- diabéticos). 123 Atkins,R. C. Op. cit., 2001, p. 160. 124 Revista on-line. Procedimentos da Academia Nacional de Ciência, segundo o site da BBC de 04/02/2003. O grupo teve o cérebro escaneado por ressonância magnética para medir o tamanho do hipocampo. O grupo com altos níveis de glicose mostrou um hipocampo menor e teve resultados piores nos testes para memória recente. O hipocampo, segundo os pesquisadores, é uma área particularmente vulnerável e que pode sofrer danos com o tempo. Portanto, quem não quiser ter problemas de memória ou ficar caduco mais cedo já sabe o caminho: é parar de comer açúcar. O Dr. Convit fala em melhorar a tolerância à glicose . Isso significa tolerância ao bombardeio da glicose da dieta açucarada moderna. É melhor eliminar o açúcar e poupar o organismo. E por falar em hipocampo. A doutora Suzanne de la Monte da Escola Médica de Brown, nos Estados Unidos vem seguindo uma linha de pesquisa que aponta para as causas do mal de Alzheimer, até aqui de etiopatogenia desconhecida. Essa doença crônico- degenerativa leva à perda de memória e demência. Segundo ela a falta de insulina cerebral ou a resistência à sua ação leva a degeneração do hipocampo e ao desenvolvimento da doença. A isso estão chamando de diabetes tipo III. A meu ver esse é mais um caso para a folha corrida do açúcar. A glicação degenerativa de proteínas com certeza explica esse processo. A gente sabe que tanto o próprio hormônio quanto seus receptores e até a própria estrutura dos órgãos que servem de base são vítimas da ação destrutiva do mar de glicose e frutose da dieta açucarada. Esses dados estão no último número sobre diabetes da revista Saúde . Lá eles estavam como uma azeitona no pastel alheio. Aqui é mais um tijolinho na pirâmide explicativa do movimento Açúcar zero. Açúcar e sistema imunológico A Dra. Eliza Biazzi, autora do livro Diabetes: um guia prático, cita pesquisas realizadas em laboratórios da universidade californiana de Lomalinda, Estados Unidos, que demonstraram que o açúcar enfraquece a capacidade do sistema de defesa do corpo humano. Segundo essas pesquisas cada célula de defesa do organismo, os leucócitos, qual valente guerreiro, tem capacidade para abater 14 bactérias nocivas. No entanto basta a ingestão de seis colheres de chá de açúcar para que nosso guerreiro fique enfraquecido e só consiga destruir 10 soldados inimigos. Se o consumo de açúcar subir para 24 colheres de chá, nossa célula de defesa só conseguirá abater uma bactéria nociva, abrindo com isso os flancos da nossa saúde aos exércitos inimigos responsáveis por nossas doenças. Açúcar e doenças Pesquisa citada pelo Dr. Atkins. Em 1969, o Dr. Sheldon Reiser realizou um estudo com voluntários demonstrando que uma dieta que fornece 18% de suas calorias do açúcar produzia concentrações significativamente mais altas de lipídios e insulina do que uma dieta com apenas 5% de calorias extraídas de açúcar.125 Na Islândia, doenças cardíacas e diabetes eram quase desconhecidas até a década de 1930, embora a dieta típica islandesa fosse riquíssima em gordura. Em princípios da década de 1920 a dieta açucarada civilizada chegou por lá; e perto de vinte anos depois foi a vez da chegada das modernas doenças degenerativas.126 Na Iugoslávia e na Polônia as altas taxas de doenças cardíacas, em meados do século XX, foram concomitantes à quadruplicação da ingestão de açúcar, que ocorreu a despeito de uma queda no consumo de gordura animal. 127 Açúcar e mau colesterol Mau colesterol, o temível colesterol LDL, pouca gente sabe disso, na verdade são apenas proteínas de baixa densidade modificadas pelo açúcar. O colesterol que normalmente é um formador de membranas celulares e de hormônios, aleijado pelo processo conhecido como glicação não-enzimática de proteínas, passa a fazer mal tornando-se fortemente aterogênico, isto é, entupidor de vasos sanguíneos. Quando você pergunta ao seu médico o que fazer para aumentar o nível do colesterol bom (HDL), ele recomenda exercícios físicos. Com isso você queima o açúcar que iria aleijar as partículas de LDL- colesterol, aumentando assim relativamente o nível de colesterol bom. Um médico afinado com nossa filosofia nutricional pediria a você para eliminar o açúcar de sua dieta, cortando assim o mal pela raíz. Açúcar antibiótico Na página da Revista Vittalle na internet, somos informados sobre pesquisa a respeito da ação antibacteriana da sacarose, de autoria de Rodrigues, Bobek, Schwersz e Calegari. Objetivos do trabalho: a) determinar a ação bacteriana da sacarose; b) avaliar a atividade exercida por esse carboidrato sobre germes gram positivos e gram negativos; c) caracterizar seu mecanismo de ação. Conclusão dos pesquisadores: como hipótese a respeito do mecanismo de ação, destacamos: a) efeito bactericida devido à elevada pressão osmótica das soluções concentradas de açúcar; b) efeito bacteriostático por inibição da atividade enzimática; c) efeito de captação das partículas microbianas (similar ao uso de camadas de gases). Esta última hipótese, sugerida pelo efeito do açúcar in vivo, deverá ser testada. Sugiro pesquisa a respeito do comportamento desse agente bacteriostático de alta osmolaridade no organismo humano, especialmente no das crianças. Açúcar e folclore medicinal 125 Atkins, Robert. Op. cit., 2001, p. 184. 126 Idem p. 205. 127 Idem p. 205. De médico e de louco todo mundo tem um pouco, diz o provérbio. O açúcar hoje se encontra muito entranhado no imaginário popular. Todo mundo conhece alguma fórmula, alguma receita feita com o habitante do açucareiro. As donas de casa lavam filtro usando açúcar à guisa de sapóleo. As moças massageiam o rosto com creme contendo açúcar como esfoliante. Os espíritas dão defumador de ervas misturado com açúcar. Doentes misturam açúcar à pomada que passam na ferida crônica da perna. As lavadeiras cozinham roupas manchadas em água com açúcar. Usar açúcar misturado com Coca-Cola para lavar a pia, ou ao defumador para fazer mais fumaça é até compreensível. Mas quanto a esse uso medicinal do açúcar: no famigerado soro caseiro, aplicado sobre feridas, como calmente , laxante , etc. Acho que o Ministério da Saúde devia se pronunciar. Crime caseiro A mistura de água com sal resulta em um soro fisiológico natural. Uma solução de cloreto de sódio a base de um a dois gramas de sal para um litro de água tomada fria, acalma a sede. Em um país tropical como o Brasil segundo o nutricionista Ruy Coutinho, deveria ser adotado o uso de água salgada nos locais de trabalho onde o indivíduo elimine muito suor . E também, aconselhável que durante o verão se fizesse uso de água salgada, na solução mencionada acima, afim de evitar mal estar, irritação e cansaço . No último verão foi muito divulgado pela televisão em horário nobre propaganda do famoso soro caseiro , constituído de água, sal e açúcar. Sabendo que o açúcar é um composto químico que vem acompanhado de um lixinho constituído de substâncias tóxicas, possui alta osmolaridade e é cariogênico. Fica a pergunta que remédio é esse, administrado inclusive a bebês de tenra idade? Açúcar e cromo Em www.hospitalar.com um artigo da Dra. Sylvana Braga intitulado Cromo, uma esperança natural para diabéticos e obesos, já começa afirmando que o cromo participa do metabolismo, potencializando os efeitos da insulina, melhorando a captação de glicose pelas células e agindo nos receptores insulínicos da membrana celular. Segundo a Dra. Sylvana, em 1994 John Vincent, médico da Universidade do Alabama (Estados Unidos), associou a deficiência de cromo na alimentação à intolerância à glicose. A dieta açucarada moderna imposta hoje a quase toda humanidade é pobre em cromo assim como em uma infinidade de minerais, vitaminas e oligoelementos. A alimentação rica em cromo age diminuindo a formação de tecido adiposo (gordura branca mórbida) e aumentando a saudável gordura marrom, termogênica e vascularizada. O cromo tem sido utilizado na preparação de atletas, posto que ao potencializar a insulina aumenta a massa muscular e a performance. Pesquisas sobre o uso de cromo têm sido realizadas em todo mundo, da Áustria a Israel. O site da American Diabetes Association (ADA) dá conta de todas elas. O Dr. Atkins já sabia das virtudes do cromo e administrava picolinato de cromo aos seus clientes. Esse picolinato é invenção patenteada, como sói acontecer no âmbito da indústria da doença, mas nós, o povo, podemos nos abastecer de cromo usando como suplemento o velho conhecido brócolis e também levedo de cerveja. Nas palavras da Dra. Sylvana, para melhor absorção deste mineral é importante reduzir a ingestão de alimentos refinados, principalmente do açúcar branco . A Dra. Sylvana é reumatologista graduada pela UFRJ e pós-graduada em Fisiatria. Considero essa informação um verdadeiro achado que precisa ser aprofundado. As palavras-chave além de cromo são gordura branca, gordura marrom e calorias negativas. Se médicos nutrólogos e químicos conseguirem sistematizar esses conhecimentos uma verdade-necessidade virá à tona: chegou a hora de dar um basta no açúcar! O sedentário e o obeso; o tranqüilo e o gordinho Sedentário é uma pessoa normal. Mesmo quem está parado está queimando calorias. É perfeitamente concebível uma vida saudável num claustro. Pense num monge budista cuja atividade física mais intensa é o tai chi chuan. O que vai determinar uma vida sedentária saudável é o que se come; a alimentação terá que ser necessariamente frugal. Gordo também é uma pessoa normal. Pense num lutador de sumô, um exemplo de situação-limite. A existência de um gordinho saudável depende também do que ele come. É só na civilização do açúcar que sedentários e gordinhos passaram a ser anatematizados. Os médicos do establishment da ditadura do açúcar consideram a obesidade doença. Essa civilização encharca as pessoas de açúcar e suas calorias inúteis e patogênicas e quer impor como ideal de vida a atividade física. A dieta açucarada moderna vitima toda a sociedade com tudo que é tipo de doença degenerativa e em seguida usa o recurso ideológico de pôr a culpa nas vítimas, fazendo-as crer que a culpa de suas mazelas são seus maus hábitos alimentares (para atingir os gordinhos) e o estilo de vida sedentário (para atingir os tranqüilos). A natureza não obriga ninguém a se esfalfar. Se você se alimenta saudavelmente, isto é, fica longe da dieta açucarada, se for frugal será um magro saudável; e se for guloso será um gordo saudável. No meu caso, por exemplo, quando eu era um boneco de açúcar a corrida para mim era um sacrifício, eu voltava para casa esfalfado. Hoje, sem os quilinhos a mais das gorduras do açúcar, corro mais do que antes sem sentir sequer que tenho um coração batendo no peito. Nos anos 70 do século XX o médico americano Keneth Cooper fez os bonecos de açúcar do mundo inteiro correrem até que começaram a ocorrer casos de morte em seguidores fieis da prática de corridas. O doutor Cooper escreveu um novo livro autocrítico, propondo em vez de corridas, caminhadas. Magro doente e obeso mórbido são os comedores de açúcar. Bebês, os que mamam (não os que comem papinhas açucaradas da Nestlé), e esquimós, os que comem carne e gordura cruas, têm corpos constituídos de gordura marrom dura e saudável. Gordura branca e flácida, celulite e colesterol LDL, características de obesidade mórbida, tem quem come açúcar branco, pão branco e arroz branco. Isso não é mera coincidência. Atividade física e açúcar Água é um assunto de importância vital. Ela é tão importante para o corpo que um déficit de apenas 1% já é suficiente para despertar a sensação de sede. E um déficit de 20% é suficiente para matar uma pessoa. Um professor de meu sobrinho Hélder ensinou a ele em sala de aula (peço vênia para a citação) que para digerir um copo de refrigerante o organismo humano tem que despender dois copos de água corporal. Logo, quando um adolescente mama 600 ml de Coca-Cola seu corpinho vai ser roubado em mais de um litro de água. O Dr. Turíbio Leite de Barros Neto, fundador e coordenador do Cemafe (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), em seu livro Exercício, saúde e desempenho físico, ao falar sobre a necessidade de hidratação durante a atividade física recomenda que se beba muito líquido antes, durante e depois. Para aterrorizar os ativistas físicos, ele lembra que num dia quente a perda de água durante o exercício é da ordem de um a dois litros por hora, e que às vezes a sensação de sede é saciada antes da reposição do volume hídrico necessário. Portanto, numa situação semelhante, beba água mesmo sem ter sede. Agora vamos ao que nos interessa. O Dr. Turíbio alerta que não devemos ingerir bebidas cuja concentração seja maior que a do nosso sangue, ou seja, refrigerantes, sucos adoçados etc. . O que importa será repor líquidos através da ingestão de água ou de líquidos isotônicos . O Gatorade, a mais famosa bebida isotônica, anda fazendo propaganda enganosa na TV, vendendo o produto como sendo melhor que água para abastecer atletas em atividade porque você quando sua, fazendo exercícios, perde não só água mas potássio, sódio etc. Segundo o Dr. Emanoel Goldberger, autor do livro Alterações do Equilíbrio Hídrico, Eletrolítico e Ácido-base, cada litro de Gatorade, por exemplo, fornece vinte e um mEq de íons sódio, três mEq de íons potássio e cinqüenta gramas de glicose. Isto equivale a aproximadamente um grama de sal . 128 Resumindo, beber uma garrafa de Gatorade é a mesma coisa que você beber água acompanhada de uma pitada de sal. E o que o Gatorade apresenta como vantagem em relação à água, os carboidratos , na verdade é uma desvantagem. O açúcar invertido ou xarope de amido, misturado ao Gatorade, é um carboidrato não nutritivo que vai demandar nutrientes do próprio corpo para ser metabolizado. Resta o consolo de que o Gatorade faz menos mal que a Coca-Cola; esta tem 10% de açúcar e o outro apenas 5% de açúcar já hidrolisado, de mais fácil aceitação pelo organismo, embora nutricionalmente inútil. Em outras palavras, refrigerantes ou sucos de frutas adoçados com açúcar devem ser evitados por quem pratica atividades físicas, pois provocam desequilíbrio osmolar e desidratam. Corra e morra mais rápido Os estresses a que está exposta uma pessoa normal diferem muito em intensidade daqueles provocados pelo exercício físico. No capítulo sobre fisiologia do esporte de seu livro, Guyton diz que os extremos de exercício extenuante se continuados por período de tempo ligeiramente prolongados , facilmente poderiam ser letais. E 128 Goldberger, Emanoel. Alterações do equilíbrio hídrico, eletrolítico e ácido-base. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan, 1978, p. 69. ainda segundo ele, em uma pessoa com febre extremamente alta , o metabolismo corporal aumenta em apenas uns 100% acima do normal. Já durante uma corrida de maratona, o metabolismo do corpo aumenta até uns 2000% acima do normal. O esporte tem a ver com os limites extremos da maioria dos mecanismos corporais, conclui o autor citado. Quem se alimenta da dieta açucarada moderna, sem querer faz uma opção pelo suicídio lento, mas se quiser acelerar esse processo o caminho é a pratica de exercícios físicos. Num boneco de açúcar a prática de exercícios físicos tem o dom de acelerar o envelhecimento das células. A causa é o aumento excessivo do número de radicais livres no corpo, formados durante a respiração celular. O número de radicais livres aumenta muito e, quando a alimentação não é adequada para atender as necessidades de antioxidantes, o dano celular se acentua e acelera o envelhecimento , explica o professor Danilo Wilhelm Filho do Dpto. de Ecologia e Zoologia da UFSC, segundo matéria jornalística disponível na página do Conselho Federal de Nutricionistas na internet. Ainda segundo essa fonte, mais de duzentas doenças estão diretamente relacionadas com os radicais livres. A formação dessa substância no organismo ocorre durante a queima de açúcares quando partículas de oxigênio são liberadas e se transformam em radicais superóxidos, espécie de moléculas-vampiro, eletronicamente desequilibradas. Os radicais livres buscam outras moléculas, átomos ou compostos do corpo para se estabilizarem. Quem quiser fugir da velhice precoce já sabe: o primeiro passo é detonar o açúcar da dieta. Ele contribui duplamente para o envelhecimento: primeiro fornecendo um substrato gratuito, inútil e nutricionalmente desnecessário; depois, quando já transformado em gordura, facilitando o envelhecimento, uma vez que a obesidade em si é fator de aumento de radicais livres, segundo informa, a matéria citada que recomenda alguns alimentos ricos em vitaminas antioxidantes e minerais essenciais, entre eles a prosaica batata. Ah, sim: se você não come açúcar, ou seja, não é um boneco glicosilado, pode correr à vontade que faz bem. Obesidade nos Estados Unidos Vira e mexe tenho me deparado com matérias de jornal a respeito de obesidade em geral e obesidade infantil em particular. Obesidade, todos sabem, está virando uma espécie de praga nacional nos Estados Unidos. É mais que uma epidemia, uma verdadeira pandemia. Aqui no Rio de Janeiro o prefeito César Maia já entrou nessa guerra e até pediu à Riotur que eliminasse a exigência de que o Rei Momo tenha que ser gordo, além de outras providências, como proibir a venda de porcarias açucaradas em cantinas de escolas. Em todo o mundo têm pipocado iniciativas de combate à obesidade, leis novas estão surgindo nesse sentido, já tem gente até levando à barra dos tribunais a indústria de alimentos e cadeias de lanchonetes tipo fast food. As matérias jornalísticas atiram para todos os lados. Quem lê essas matérias tenho certeza de que deve se sentir como cego no meio de um tiroteio. Engraçado é que no que se diz há sempre o endosso de autoridades médicas. Tenho uma reportagem que foi publicada originalmente no TheNewYork Times e reproduzida em O Globo de 28 de junho de 2003. São citados Paul Rozin, professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia; Brian Wasnink, professor de ciência nutricional da Universidade de Illinois; Kelly Brownel, professor de psicologia da universidade de Yale, especialista em desordens alimentares ; e finalmente Margo Wootan, diretora de política nutricional do Centro de Ciência Para o Interesse Público. Toda essa equipe de escol da psicologia e da nutrologia para dizer as seguintes besteiras: a) as pessoas estão obesas por causa do tamanho do copo de pipoca, tão grande que é chamado de balde ; b) os refrigerantes também são servidos em baldes ; c) o tamanho dos sanduíches é também exagerado; d) as porções de alimentos, em geral, idem; e) o preço baixo e as promoções estimulam as pessoas a comer mais; f) outros fatores são a disponibilidade e a grande variedade de alimentos oferecidos à população. Em resumo, nos Estados Unidos existiria uma cultura pela qual a comida é oferecida em grandes quantidades e em todos os lugares. O professor Kelly Brownel classifica a sociedade americana, no que diz respeito à comida, de ambiente tóxico . Agora é a minha vez. O problema é a obesidade e no entanto não se tocou na palavra açúcar, o que é natural, e não se falou também em gordura nem em fritura nem em colesterol, o que é de se estranhar. Acho que a história da carochinha da gordura e do colesterol caiu no ridículo depois dos livros dos doutores Atkins e McCully. A indústria da doença pelo visto está procurando novos bodes expiatórios para manter oculto o veneno da alimentação do homem moderno; agora a culpa é da oferta generosa de comida em todos os lugares e a toda hora. Não é mais a questão dos maus hábitos alimentares . O boneco de açúcar é nesse caso um idiota completo, que se lhe for oferecido um X-Tudo de um palmo de altura e uma tubaína de 980 ml ele vai e come. O cidadão americano médio anda consumindo perto de 80 quilos de açúcar por ano. Retire todo esse açúcar de sua dieta que ela ficará livre de aproximadamente 800 calorias inúteis ingeridas diariamente. Calorias essas devidas exclusivamente ao açúcar, que só serve para gerar doenças. Não é preciso diminuir o tamanho do Big Mac nem do copo de pipoca. Quando se come um sanduíche que leva dois hambúrgueres, queijo, salada, picles, mostarda, catchup e pão com gergelim, se come açúcar seis vezes. É difícil apontar algum desses ingredientes que não contenha açúcar. O que tem que ser diminuído, ou melhor, suprimido, é o açúcar. Açúcar pela contramão Este tópico ficaria melhor escrito pelo Dr. Jacintho Leite Aquino Rego , psicoproctologista de fama internacional que escreve na coluna humorística Agamenon , no jornal O Globo... Antigamente, quando um doente estava nas últimas, tão mal a ponto de não mais poder alimentar-se pela via natural, isto é, pela boca, a criatividade médica desenvolveu a arte de introduzir alimentos pelo reto - no bom sentido, como diria o Dr. Aquino Rego . Ninguém deve pensar, todavia, que seja possível alguém sobreviver indefinidamente sendo alimentado pela contramão do tubo digestivo. A parte do alimento aproveitada pelo reto, segundo especialistas, é de aproximadamente um quarto do total. E o tratamento não se poderia prolongar por mais de dez dias sob pena de perda de eficácia. A eficácia dos clisteres alimentícios era muito relativa e, segundo o Dr. Adamastor Barboza, sua valia é menos material que moral e visava proporcionar a paz de espírito àqueles que, se vendo privados de alimentação per os (pela boca), temem deperecer por carência alimentar . 129 129 Barbosa, Adamastor. Regimes e doenças. Rio de Janeiro: Ed. Leite Ribeiro, 1923, p. 277. Pelo ânus, através de sonda de borracha mole lubrificada com azeite, introduzia-se tudo o que é tipo de alimento: gema de ovo, leite, sal de cozinha, vinho, amido e, claro, açúcar. Não aleatoriamente mas obedecendo a fórmulas prescritas por especialistas. Não obstante havia um porém: o açúcar não podia ser usado em concentrações maiores que 10 a 15 gramas para cada 300 cc de líquido, sob pena de atuar como irritante da mucosa intestinal. Mesmo assim, após a administração de açúcar via retal era comum acontecer o aparecimento de glicosúria (açúcar na urina). Mas o doutor Adamastor sai em defesa do açúcar: Não cuidemos que haja diabetes, isto é devido a que a penetração do açúcar na economia se dá em parte pela veia hemorroidária inferior, a qual, como sabemos, não é tributária do sistema porta . Resumindo: o tubo digestivo começa na boca e termina no ânus. Na entrada, isto é, na boca, o açúcar provoca cárie dentária; chegando ao estômago, tem o dom de irritar as mucosas gástricas e acidificar o bolo alimentar, provocando uma série de distúrbios na digestão. A carga de calorias inúteis adicionadas pelo açúcar vai bagunçar o funcionamento do sistema endócrino, forçando a produção de insulina extra. No duodeno o açúcar pode ser responsável por diarréias provocadas por desequilíbrios osmolares. E na reta final, ou melhor, no reto, finalmente o açúcar irrita as delicadas mucosas do ânus, como acabamos de ver. Moral da história: o açúcar é um pó branco que faz estragos na entrada, no interior e na saída do tubo digestivo. Finalizamos parafraseando o famoso pensamento do Dia, quer dizer, do Globo da coluna Agamenon : Açúcar nas hemorróidas alheias é refresco

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