MEDICINA E AÇÚCAR
Basta dizer que, enquanto ninguém questiona a existência de um componente genético para a resistência à
insulina, a grande diferença entre o estardalhaço e as evidências concretas tem dificultado a identificação dos genes
envolvidos. Consequentemente, a base genética da resistência à insulina e, por extensão, do diabetes Tipo 2 , permenece desconhecida.
Robins & Cotran
Os médicos e o açúcar
A maioria dos médicos não sabe o que é açúcar. As razões são compreensíveis, a
começar pelo fato de que médico também é gente, já foi bebê e se alimentou de mamadeira
de mingau de Maizena com açúcar preparada por sua mãe, comeu torta de aniversário com
guaraná, juntamente com seus irmãos e amiguinhos. E Freud já explicou o quanto são
marcantes as impressões que recebemos quando crianças. Os médicos também sabem
sobre açúcar o que aprenderam nos bancos da faculdade. O festejado Guyton, por
exemplo, diz que existem apenas três grandes fontes de carboidratos na dieta humana
normal (o negrito é meu ). São eles a sacarose (açúcar de cana), a lactose e os amidos .96
Temos aqui um detalhe que a medicina devia prestar mais atenção: qual seria o
consumo de sacarose se não existisse o famigerado do açucareiro? E o de frutose?
A sacarose só é grande fonte de carboidratos sob a ditadura do açúcar. Com a
vitória de nosso movimento político-nutricional, a presença dela na dieta, aí sim, normal,
será residual, porque a própria natureza se encarrega de apresentá-la já convertida a glicose
ou frutose. E a frutose natural no contexto dos nutrientes totais é também residual. A
natureza deve ter boas razões para a administração moderada desses dois açúcares.
Os livros de medicina não tratam do metabolismo da sacarose refinada em capítulo
próprio como é feito com o álcool; os médicos estudam o metabolismo dos
96 Guyton, A. Op. cit. p. 624.
carboidratos . O que acontece no organismo quando se ingere um copo de leite é bem
diferente do que acontece com um copo de leite com Toddy ou Nescau. Mas o que é
ensinado, neste caso, é que o problema chama-se gordura.
A doutrinação contra a gordura a que são submetidos os médicos é tão violenta
que chega a torná-los cegos. O doutor Leão Zagury, por exemplo, em Diabetes sem medo, à
página 19 diz: Ao se alimentar, as pessoas ingerem açúcares, proteínas, vitaminas e sais
minerais . Um verdadeiro ato falho: ele esqueceu de mencionar as gorduras. Por sorte
Guidacci, que ilustrou o livro, não foi doutrinado e incluiu a gordura entre os alimentos da
cesta básica desenhada por ele. E na mesma página: A glicose é a maior fonte de energia
do organismo . Todos sabemos que um grama de glicose dá quatro calorias, contra nove
calorias por grama de gordura. Aqui,em vez de ato falho houve autoengano97
. Outro exemplo
interessantíssimo está em artigo do doutor Alexandro Gugliucci. Referindo-se à reação
(Maillard) que ocorre entre açúcares e as proteínas que faz com que o doce de leite fique
marrom, diz: a lactose e a glicose do leite reagem com a caseína e a lactoalbumina para dar
complexas estruturas, de cor amarronzadas, que são precisamente AGEs- Produtos finais
da glicação avançada de proteínas .98 Que eu saiba não se faz doce de leite contando apenas
com a lactose e a glicose (componente da lactose do próprio leite) e sim com a grossa
quantidade de sacarose adicionada. É a sacarose a fonte da glicose que glicosila e oxida o
leite da mesma forma que faz com a hemoglobina e outras proteínas do corpo humano.
Falta também um capítulo nos livros de medicina que trate das virtudes patológicas
do açúcar. Leio em uma enciclopédia antiga, só encontrada em sebos, a Enciclopédia
Brasileira Mérito, o verbete sacarismo: conjunto de fenômenos mórbidos, agudos ou crônicos
que resultam da ingestão exagerada de açúcar . Os fenômenos constatados assemelham-se
aos do alcoolismo, mas o mecanismo de sua produção é ainda mal conhecido , diz a
enciclopédia. Mal estudado, digo eu. No filme Super Size Me, já vimos isso aqui, seu
protagonista Morgan Spurlock, depois de um período alimentando-se da dieta açucarada do
McDonalds, teve seu fígado comparado com o de um alcoólatra pelo médico que o
examinava. O que nos leva a crer que o açúcar é qualquer coisa parecida com um tipo de
álcool em pó.
Leio o livro Mecanismos Básicos de Doenças, que trata de patologia dos processos
gerais e estuda as causas e os mecanismos das doenças e da interação de agentes
agressores e reações do organismo . E me ocorre que o açúcar pode ser entendido como
um agente agressor do organismo: produto químico barato, travestido de alimento, o açúcar
provoca cárie e obesidade, desidrata, desmineraliza, desvitaminiza, acidifica, irrita mucosas
do tubo digestivo, desequilibra o sistema glandular endócrino e osmolar e ainda inferniza
todo o organismo com o fenômeno da glicação não-enzimática de proteínas (GNP).
Isso tudo não é razão suficiente para a sua inclusão nos livros de patologia? O
metabolismo do álcool está lá. Qual a razão do privilégio para o açúcar? Ou será o dedo da
ditadura do açúcar na redação dos livros médicos?
E o mais interessante seria que fossem estudados os efeitos a longo prazo do
consumo continuado da dieta açucarada, que a meu ver leva à obesidade, ao diabetes e
outras doenças metabólicas e degenerativas.
Fico aguardando o lançamento do livro Fisiopatologia do Açúcar. Em livros médicos mais antigos, de autores como Afrânio Peixoto, encontram-se
rasgados elogios ao açúcar. Até Rinaldo de Lamare o açúcar sempre foi tido na mais alta
97 Sobre esse conceito vide Giannetti, E. Autoengano. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. 98 Gugliucci, A. Glicación de proteínas: rol protagónico de la hiperglicemia en las complicaciones
crónicas de la diabetes mellitus in: Revista Medica del Uruguay, Vol.16 pp. 58-75 in: www.smu.org.uy.
conta. O Dr. Lamare fala com entusiasmo do açúcar e tem um pouco de má vontade para
com o mel. O Dr. João Curvo ao lidar com o tema açúcar dava uma no cravo e outra na
ferradura. O Dr. Flávio Rotman gastou tinta e papel para defender o açúcar.
A essa altura do campeonato acho imperdoável um médico não saber o que é
açúcar e, sabendo do que se trata, não lhe dar combate. O Dr. João Uchôa Junior, por
exemplo, diz com todas as letras: O açúcar natural glicose- é elemento vital ao nosso
organismo; sendo assim nunca deve ser eliminado. O que já não falo do açúcar refinado, que, reconhecidamente faz mal à saúde .99 (negritos meus).
Hoje em dia, na era da medicina biomolecular ou ortomolecular e dos
oligoelementos, o açúcar tem que ser deslindado até o último cristal enantiomorfo, dextrógiro ou levógiro. Na página de um professor de química na internet
(www.rossetti.eti.br) está dito que o organismo humano somente digere açúcar na forma
dextrógira encontrada na natureza. E o açúcar do açucareiro? E o açúcar invertido ?
Dos médicos alienígenas o que jogou mais duro com o açúcar foi Robert Atkins e
com certeza por isso mesmo sempre foi tido como uma ovelha negra no pasto da medicina
americana. Carboidrato assassino - era assim que ele se referia ao açúcar. Vale a pena
recordar o momento em que o doutor Atkins descobriu o açúcar: No entanto, o que é mais
espantoso são as provas que apontam para o açúcar... para o velho e simples açúcar que a
maior parte das pessoas toma no café, come em doces, guloseimas e refrigerantes... como
sendo um dos principais fatores para as hipertensões, doenças cardíacas, cansaço e uma
quantidade de outros males crônicos e comuns . E o doutor Atkins assumiu como missão
ensinar a como se livrar desse inimigo oculto em sua dieta .100 E ainda dizia O trabalho
de descobrir onde o carboidrato assassino se encontra é fascinante . Isso explica o anátema
que caiu sobre ele, que continua sendo perseguido até depois de morto.
Atkins, não obstante, considerava o açúcar um carboidrato concentrado . Cleto
Seabra Veloso, médico brasileiro que escreveu sobre nutrição na segunda metade do século
que findou, classificava o açúcar como alimento derivado , assim como o pão é derivado
do trigo. Ambos estavam errados. O açúcar não é alimento e muito menos derivado ou
concentrado. Trata-se de um composto que foi isolado, quer dizer separado da cana-de
açúcar, e ao cabo dessa operação de refino a sacarose deixa de ser alimento e entra para o
time dos agentes químicos puros . O caldo de cana é um alimento, o melaço e a rapadura
podem ser chamados de alimentos concentrados. A sacarose pura não se enquadra mais no
conceito de alimento. Da mesma forma que não podemos confundir o oxigênio puro com
o ar que respiramos.
Os verdadeiros açúcares da natureza, a glicose e a frutose, não demandam hidrólise;
já essa substância precursora de açúcar que é a sacarose antes de ser assimilada pelo organismo
humano necessita de uma hidrólise depletora de nutrientes. A sacarose é ainda o substrato
preferido das bactérias cariogênicas e é portadora de um lixinho químico fino resíduo do
processo de refino. O aporte calórico proporcionado pela glicose do açúcar provoca
hiperinsulinemia. E essa glicose extra contribuirá ainda para o fenômeno da lenta glicação e
oxidação de todo o organismo.
Já vimos no tópico sobre o de excesso de açúcar que trata-se de um conceito
enganoso. A seguir um flagrante de médicos diante do dilema do alto consumo de açúcar
nos longínquos meados do século XX, quando o consumo de açúcar era a metade do que é
99 Uchôa,J. Só é gordo quem quer. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1986, p. 68. 100 Atkins,R & Linde S. A dieta da superenergia do Dr Atkins. Rio de Janeiro: Artenova, 1978, p. 19.
hoje: O açúcar não contém vitaminas nem minerais. É quase 100% puro e proporciona
gosto doce, necessário para realçar o paladar de muitas substâncias como chocolate e sucos
de frutas. Desta maneira, o açúcar facilita a ingestão de vitaminas e minerais que seriam, de
outro modo, rejeitados como constituinte da dieta.. Quando se conjetura sobre a influência
que terá o tremendo consumo de açúcar sobre a incidência do diabetes no futuro, fica-se
vacilante. Talvez nenhuma. Possivelmente, o tecido insular aumentará rapidamente a
produção de insulina para satisfazer suas maiores necessidades. Existe pelo menos esta
esperança . Esses parágrafos são do livro Os fundamentos farmacológicos da prática médica, de
John Krants Jr e C. Jelleff Carr. Antes de o açúcar invadir a mesa da humanidade não me
ocorre nenhum alimento que tenha deixado de ser consumido por falta de açúcar. Ao
contrário, a humanidade passou a consumir belas porcarias que sem grandes quantidades
de açúcar seriam intragáveis. Quanto à postura diante do tremendo consumo de açúcar , médicos ficarem torcendo pelas ilhotas de Langerhans parece-me um tanto quanto
irresponsável.
O vertiginoso amigo do Dr. Fukuda
Açúcar, amigo ou vilão? Este é o título do livro lançado recentemente pelo médico
Yotaka Fukuda. O livro, segundo o Jornal de Jundiaí on line, www.jj.com.br , esclarece de
uma maneira clara (sic) de que forma o açúcar age no organismo humano. O interesse do
Dr. Fukuda pelo açúcar teve início por ocasião de sua tese de doutorado sobre o efeito do
açúcar no labirinto (órgão responsável pelo equilíbrio do corpo). Ainda segundo a página
do jornal, o Dr. Fukuda é autor de três livros e mais de uma centena de artigos publicados
em livros e revistas médicas, sendo 29 em revistas internacionais, e 53 orientações de tese
de mestrado e doutorado. Com toda essa experiência na área médica, Yotaka Fukuda
afirma que o açúcar é amigo , o grande problema é o consumo em excesso . O caderno Estilo do referido jornal entrevistou o Dr. Fukuda. Ele disse que o
excesso de açúcar provoca hiperinsulinemia e que as principais doenças relacionadas ao
açúcar são obesidade, diabetes Tipo 2, hipertensão arterial, labirintite e dislipidemia.
O Dr. Fukuda esqueceu da cárie dentária, a mais popular epidemia provocada pelo
açúcar. Mas respondendo ao jornal disse que para prevenir as doenças causadas pelo
açúcar é necessário reduzir drasticamente o consumo de açúcar e praticar exercícios
físicos .Indagado sobre o açúcar mascavo, o médico diz que do ponto de vista de estímulo
à produção de insulina há pouca diferença entre o refinado e o mascavo.
Diz ainda que mel de abelhas ou qualquer adoçante artificial é melhor que açúcar, inclusive o aspartame, embora todos devam ser usados com moderação. O consumo de
açúcar desde a infância, segundo ele, arma uma bomba que irá explodir três a quatro
décadas após, na forma de infarto cardíaco, perda de visão etc. . Fukuda conclui dizendo que cada brasileiro anda consumindo 35 quilos de açúcar
por ano e que o ideal seria 7 quilos. Sete quilos de açúcar por ano dão aproximadamente
20 gramas de açúcar por dia. Ora, tem gente usando essa quantidade de açúcar para adoçar
apenas uma xícara de café.
Mesmo limitado-me ao que o médico disse nessa curta entrevista sobre o açúcar, eu pergunto: com um amigo desses, alguém precisa de inimigo?
A tese do Dr. Yotaka Fukuda é sobre alterações no funcionamento da orelha
interna provocadas por flutuações da concentração sanguínea da glicose e da insulina. O
doutor Fukuda, juntamente com seu orientador de tese, Dr. Luiz Mangabeira Albernaz, criou um modelo bioquímico para explicar de que forma a hiperinsulinemia conseqüência
do consumo de açúcar acarretava distúrbios no labirinto, órgão responsável pelo
equilíbrio das pessoas. A contribuição de Fukuda à medicina foi relacionar o consumo de
açúcar à labirintite. Portanto quem gosta de comer açúcar deve prestar atenção aos
seguintes sintomas: a manifestação clássica é a vertigem com sensação de que tudo está
girando, podendo ocorrer náusea e vômitos, taquicardia, suor frio e palidez.
Entre as crises vertiginosas suas vítimas sentem angústia, ansiedade, insegurança, depressão, pânico e até sensação de morte iminente. Associado à vertigem surgem o
zumbido no ouvido, a irritabilidade a ruídos e risco de perda de audição. A tontura, além
da giratória, típica da labirintopatia disglicêmica, pode manifestar-se como sensação de
flutuação: as paredes, o chão e o teto parecem não estar fixos, aproximando-se ou se
afastando.
Outros sintomas para finalizar são enxaqueca, insônia e sonolência, vista embaçada
e, claro, o equilíbrio fica comprometido. Agora, o mais importante de tudo - o
tratamento para essas mazelas todas: basta deixar de comer açúcar.
O doutor Yotaka Fukuda elaborou um interessante esquema teórico para explicar
como o açúcar faz mal ao ser humano. Ele designou sua teoria como teoria dos três en ou
tresen (encéfalo sistema nervoso; enzimas sistema digestivo; endócrino sistema
glandular). O açúcar da dieta açucarada moderna age sobre esses três sistemas ativando um
círculo vicioso destrutivo. A seguir, a descrição do funcionamento desse mecanismo.
O açúcar age nos sistemas nervoso, digestivo e endócrino de forma intensa e
sinérgica, um ativando o outro, originando um círculo vicioso. As porcarias açucaradas
infelizmente estimulam todos os órgãos dos sentidos dos tolos, estimulando o apetite e a
conseqüente gula. Quanto mais açúcar se ingere, mais as células do intestino se adaptam
às necessidades secretando mais enzima sacarase, possibilitando absorção de quantidade
cada vez maior de glicose, em tempo cada vez mais reduzido .101 Isso força a
superprodução de insulina, que promove uma rápida transferência de glicose sanguínea
para o interior das células, fazendo cair o nível de glicose. Essa hipoglicemia estimula a
produção de glucagon, hormônio pancreático que entre outras funções ativa o centro da
fome no cérebro, provocando a necessidade de comer mais açúcar. Para isso, estimula
também a produção da sacarase. A nova ingestão de ração açucarada por sua vez vai
provocar de novo a hiperinsulinemia, que por sua vez ... é o círculo vicioso movido a
açúcar.
A popular vertigem que até a tese do doutor Fukuda era tratada em seus sintomas
passou a ser atacada em suas causas. Pacientes que estavam em tratamento por anos
seguidos com medicamentos e até com cirurgia eram curados simplesmente evitando-se o
açúcar , afirma o médico paulista. Para fechar com chave de ouro a participação do Dr. Fukuda vejamos o que ele nos
diz sobre açúcar e alergia em seu livro. Alergia é uma reação do sistema imunológico a um
corpo estranho ou a um agente agressor do organismo. Essa reação pode ser a contato, inalação, inoculações ou ingestão de moléculas ou substâncias às células de nosso
101 Fukuda, Yotaka. Op. cit., p. 67.
organismo. E o açúcar, como um dos alimentos mais consumidos, é também uma das
causas mais freqüentes (de alergia) . Vítimas privilegiadas do açúcar são os bebês - uma tremenda covardia. A dieta
açucarada empurrada goela abaixo do bebê exige de seu corpinho uma quantidade de
sacarase, a enzima específica para quebrar a molécula de açúcar que seu organismo não
tem. A natureza não previu que o homem um dia iria adulterar até alimentos de bebês com
um produto químico nocivo e insuspeito só porque é doce.
Por causa disso algumas moléculas de sacarose são absorvidas e incorporadas pelo
mecanismo denominado pinocitose (envolvimento das moléculas de açúcar pelas células
intestinais). O sistema imunológico estranha aquele subversivo infiltrado no corpinho do
bebê e aciona o sistema de defesa. Nesse processo são produzidas substâncias vasoativas
como serotonina e histamina que, liberadas em grande quantidade, causam manifestações
alérgicas em todo o organismo.
Atenção, quem tem bebê em casa. Algumas manifestações alérgicas que podem ser
causadas pelo açúcar: coceira, transpiração, furúnculo, vermelhidão, cera no ouvido, espirro, nariz entupido, edema, herpes, gengivite , afta, pigarro, tosse, rouquidão, respiração
ruidosa, azia, má digestão, arroto, flatulência, fraqueza e palpitações no coração. Como
vimos, o açúcar é um verdadeiro amigo da onça. A vida ou a morte do bebê?
O livro A vida do bebê, do Dr. Rinaldo de Lamare, coroando uma trajetória de
sucesso, recentemente foi publicado em fascículos anexos a um grande jornal, o que
contribuiu para massificar ainda mais a sua influência. O livro ganhou status de um
verdadeiro manual de instruções do bebê. Por pouco as mulheres não pariam o livro junto
com a criança. O livro é de formato grande e na sobrecapa traz a foto de um lindo bebê de
olhos azuis, que não é fácil achar no Brasil, país de povo mestiço. Peguei no livro para ver
o que dizia sobre açúcar e fiquei estarrecido.
Primeiro vejamos o entusiasmo que o Dr. Lamare manifesta sobre o açúcar. Açúcar é muito importante na vida do bebê , sentencia, apesar da ressalva: Quando se
trata de açúcar comum a higiene não deve ser descuidada, sendo prudente juntá-lo ao leite
de vaca antes de ser fervido, a fim de ser esterilizado ; e usar açúcar em tabletes, que vem
recoberto de papel protetor . Ainda dentro das primeiras 24 horas de vida do recém-nascido o livro já recomenda
mamadeira adoçada com Nidex (maltodextrina não fermentescível), porque nem sempre
há tolerância do bebê ao açúcar comum, que pode provocar diarréia . Agora vejamos o
que o Dr. Lamare acha de refrigerantes: não convêm à criança, mas temos de tolerá-los e
o melhor que os médicos podem fazer, segundo ele, é reduzir o seu emprego e disciplinar
a maneira de dá-lo , não o permitindo antes ou durante as refeições e sim depois delas. E
ainda: É muito preferível, se não for possível dar um copo de leite (com açúcar), dar um
suco de frutas frescas, feito na hora, açucarado . Quanto ao chocolate, é um alimento rico em valor nutritivo; contendo gordura e
proteínas em grande dose e, além disto, o chocolate contém dois alcalóides . Em nenhum
momento o Dr. Lamare menciona que 50% do chocolate é açúcar puro; aliás, se o fizesse
seria certamente para dizer que isso é uma virtude do chocolate. Ainda falando de
chocolate, nosso autor dá uma informação importante: que chocolate é rico em ácido
oxálico, que quando misturado ao leite se combina com o cálcio deste formando o oxalato
de cálcio, que não é absorvido pelo intestino. Ainda segundo o Dr. Rinaldo de Lamare, essa combinação destrói a importante função do leite, que é fornecer cálcio . Entretanto , continua, não se deve esquecer de dar alimentos ricos em cálcio, sobretudo
o creme de leite e o doce de leite . Agora o ponto alto do livro é quando trata de
constipação ou prisão de ventre em bebês de apenas 15 dias de nascido: o tratamento
recomendado inclui aumentar a quantidade de açúcar, de uma colher, das de chá, a até
uma ou duas colheres das de sopa bem cheias para cada cem gramas de
alimentos (negrito meu).102
O Dr. Aderbal Sabrá, em seu livro Diarréia na infância, fornece informações que dão
para compor uma explicação do que acontece no ventre do bebê do Dr. Lamare: A
ingestão excessiva de açúcar produz uma diarréia por mecanismo osmolar secundária a esse
excesso de ingestão de substância osmoticamente ativa com aporte acima da capacidade
digestiva e absortiva. A superdose de açúcar impõe uma carga osmótica ao intestino
delgado, causando uma aceleração do trânsito e aumento do volume líquido luminal com
conseqüente diarréia . 103
Ainda dentro do assunto, falando sobre intolerância aos hidratos de carbono em
crianças, diz o Dr. Sabrá: A manifestação clínica é diarréia aquosa explosiva, distensão
abdominal, flatulência, vômitos e parada do crescimento. A escoriação perianal é comum
104
. O hidrato de carbono em questão aí é o açúcar, chamado por um nome genérico
pelo qual são conhecidos a batata, o arroz e o pão mas que se diferencia deles por ser um
agente químico agressor, o que explica o sofrimento das crianças que passam por esse
problema.
A diarréia prolongada é conseqüência freqüente da intolerância aos açúcares e a
acidose metabólica é complicação da diarréia , acrescenta o Dr. Sabrá. Além disso, no cólon o açúcar é metabolizado por bactérias, produzindo ácidos
graxos de cadeia curta e ácido lático e causando fezes ácidas, agravamento da diarréia, flatulência e dores abdominais.
Num caso desses a solução é simples: basta zerar o consumo de açúcar para que o
quadro mórbido desapareça.
Para saber se uma criança é intolerante ao açúcar, utiliza-se o Teste de Tolerância à
Glicose. Obriga-se a pobrezinha a ingerir uma solução a 10% de açúcar e espera-se que
ela não vomite. Vômitos são ocasionais , segundo o Dr. Sabrá. Para evitar esse
inconveniente , ainda segundo o médico, introduz-se a água com açúcar diretamente no
duodeno com auxílio de sonda.
Tremenda covardia. O inerme e pequeno ser fica sem sua única defesa diante do
açúcar: a possibilidade de vomitar.
A vida do bebê hoje está em sua 41ª edição, seu autor já faleceu e o livro foi revisto e
ampliado pelo doutor Geraldo Leme que endossou as doces recomendações do Dr.
102 Lamare,R. de. A vida do bebê. Rio de Janeiro: Bloch, s/d, 32 edição, p.146. 103 Sabrá, A. Diarréia na infância. Rio de Janeio: Cultura Médica, 1982 p. 34. 104 Idem., p. 46.
Lamare apesar de irem de encontro ao que recomendam profissionais e instituições de
saúde pública.
Prescrevendo o açúcar da maneira que o Dr. Rinaldo de Lamare prescreve, acho
que o livro deveria se chamar A morte lenta do bebê. Não à toa o livro é um verdadeiro
catálogo de doenças que acometem as pequenas e inermes vítimas da ditadura do açúcar. Inclusive uma misteriosa forma de diabetes do recém-nascido que aparece e desaparece por
encanto meses depois.105
Açúcar e gastroenterologia
O complexo sacarase-isomaltase também se distribui por todo o delgado, porém
em proporções decrescentes no íleo. Em quadros de ausência ou diminuição de atividade
desta enzima, frente à ingestão de sacarose, observamos a má absorção desse dissacarídeo o
que leva ao quadro de diarréia ácida, distensão e dor abdominal. Estas manifestações
clínicas podem estar presente já no primeiro dia de vida se a sacarose for ofertada como
nutriente ao recém-nascido, quer seja através do uso de chás e leites adoçados com
sacarose, ou de frutas e medicamentos na forma de xaropes que contenham este açúcar . Trecho do artigo Síndromes diarréicas congênitas de Adriana Ferrão Rodrigues e Ulysses
Fagundes Neto, ela Pós-Graduanda e ele Professor-Titular da disciplina Gastroenterologia
do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo.
Você pega uma criança que acabou de sair da barriga da mãe e dá açúcar a ela: na
mamadeira ou no xarope passado pelo médico. A resposta do corpinho inerme do nenê a
essa agressão é uma diarréia ácida, distensão e dor abdominal . Qual agressão? O que foi
ofertado como nutriente simplesmente não é um nutriente, mas uma substância
química nociva ao organismo humano. E também não se encontra essa substância em
frutas . Uma fruta madura já apresenta a sacarose hidrolisada em glicose principalmente, e
frutose em pequena escala. O que fica de sacarose é apenas um resíduo (1%). Essa
confusão entre um produto químico isolado de um capim e um nutriente contido em frutas
caracteriza essa ciência torta que estamos vendo. O bebê que não agüenta a agressão do
produto químico ingerido é visto como sendo doente, culpado de ausência ou
diminuição da atividade de suas enzimas. Vítima de alguma misteriosa herança
autossômica recessiva . É ciência sob medida para atender os interesses da ditadura de
pacote tecnológico do açúcar.
A ecologia clínica
A ecologia clínica ou medicina ambiental é uma tendência nova da medicina. Seus
adeptos estão convencidos de que os fatores ambientais são de suma importância na
etiologia das doenças especialmente as crônico-degenerativas. O ambiente que deu razão
ao surgimento dessa nova medicina é o ambiente da sociedade industrializada moderna:
poluído, estressante, cheio de produtos químicos, com poucos espaços etc.
105 Lamare, R. Op. cit., p. 635.
O doutor Theron Randolph, um dos fundadores da Sociedade de Ecologia Clínica, assim esquematiza as diferenças entre essa nova medicina e a convencional na introdução
ao livro de seu colega, Charles McGee, Como sobreviver à tecnologia:
Ecologia Clínica Outros médicos
Doenças crônicas Doenças agudas
Fatores ambientais Mecanismos corporais
Aspectos holísticos Aspectos analíticos
Diagnóstico e tratamento individualizados
(demonstração de causa e efeito; evitar ou
minimizar os agressores ambientais
demonstráveis).
Diagnóstico e tratamento em massa
(diagnóstico principalmente através de
procedimentos laboratoriais; tratamento dos
sintomas principalmente por meio de
medicamentos).
No meio de um universo patogênico tão abrangente, qual seja o ambiente poluído
da sociedade industrial, o açúcar quase desaparece. Para os ecomédicos o açúcar é ruim
mas está incluído no pacote dos carboidratos refinados como um figurante a mais ou em
pé de igualdade com gorduras hidrogenadas, sal e aditivos químicos. Concordo no geral
com a medicina ambiental, mas para mim o açúcar é o ator principal. Se o açúcar for
retirado da mesa da humanidade o grosso das doenças degenerativas desaparece; restarão
seqüelas, mas serão problemas menores. Uma generalização dessas, que faço com o
açúcar, não se pode fazer partindo de nenhum outro fator ambiental ou nutricional isolado.
Ou alguém aí acredita que retirando da dieta o sal, a gordura, algum conservante; ou do
ambiente a poluição sonora ou o forno de microondas isso faça com que um leque de
doenças crônicas desapareça?
Isso infelizmente só vai poder ser confirmado com o fim da ditadura do açúcar e
o desmantelamento da indústria da doença, mas uma contraprova pode ser posta em
prática, desde já, pelo leitor: retire o açúcar de sua dieta e observe o que acontece com o
seu corpo.
O consumo de açúcar refinado desloca alimentos mais nutritivos da dieta, e isso
causa uma queda na ingestão total de vitaminas e minerais a níveis que levam ao vagaroso
desenvolvimento de doenças degenerativas .106 Essa frase do Dr. McGee mostra-nos como
ele é um homem de boa vontade para com o açúcar. O fato de o açúcar deslocar alimentos
mais nutritivos quer insinuar, por acaso, que o açúcar é um alimento menos nutritivo?
Ou que, como a quantidade de alimentos que o açúcar desloca não é tão grande assim, se
eu comer um pouquinho mais de alimentos nutritivos fica tudo bem? Acho que a ecologia
clínica, a despeito da sofisticação de suas posições, passa a mão na cabeça do açúcar. Para
McGee a culpa do açúcar no desenvolvimento das doenças degenerativas é indireta e essas
doenças dever-se-iam à carência de nutrientes. O que esta citação tem de bom é associar o
açúcar às doenças degenerativas, faltou a McGee enxergar que o açúcar está diretamente
ligado a elas. Não porque deslocou nutrientes , mas porque causa danos ao metabolismo. E pior ainda: ele mesmo é um ladrão de nutrientes.
O Dr. Joslin e o açúcar
106 McGee, Charles T. Op. cit., p. 101.
A hipótese básica que sustento aqui é a de que a grande causa das doenças crônicas
é a dieta humana envenenada pelo açúcar. Sobre isso vejamos o que diz o Dr. Elliot Joslin,
verdadeiro papa da diabetologia durante todo o século XX. Joslin morreu em 1962 e a
primeira edição do seu manual sobre diabetes é de 1918.
Com a palavra o Dr. Joslin: Uma correlação interessante existe entre o tipo de
alimento ingerido e a instalação do diabetes . Ele exemplifica com o famoso caso dos
judeus iemenitas, vítimas de diabetes depois que foram trasladados para Israel, quando
ficaram expostos a uma dieta ocidental que consiste de açúcar refinado em grande
quantidade e carboidratos em abundância . Joslin acrescenta que em comunidades
africanas, (a incidência de) diabetes entre os nativos é rara até que o amido e açúcar
refinado sejam consumidos ; toxinas na dieta, o metabolismo orgânico ou um
metabolismo autônomo poderiam todos desempenhar um grande papel (na instalação do
diabetes), maior do que neste momento podemos saber ; e conclui que o mecanismo
exato do papel da dieta na instalação do diabetes é desconhecido, mas a evidência de que a
dieta está implicada na doença é muito sugestiva .107
Apesar de o Dr. Joslin achar uma correlação interessante e a evidência muito
sugestiva, o fato é que a ciência nunca fez uma pesquisa séria para pôr esse assunto
definitivamente em pratos limpos. E trata-se de uma pesquisa barata - basta selecionar
dois grupos e de um deles suprimir a sacarose de sua dieta, o resto é ir conferindo os
resultados. Nos anos 80 do século XX, o Harvard Nurses Study acompanhou a
alimentação de 90 mil enfermeiras americanas divididas em diversos grupos durante mais
de quatro anos para concluir com estardalhaço internacional que a gordura animal causava
câncer de cólon. O Dr. Atkins pediu a um colega seu que telefonasse e fizesse a seguinte
pergunta à equipe responsável: Doutores, quais foram as conclusões a respeito de câncer
do seio e do cólon e ingestão de açúcar? Resposta: Não examinamos esse assunto. Não
achamos que tivesse relevância . Reação indignada do Dr. Atkins: Noventa mil
enfermeiras, minuciosamente estudadas, milhões de dólares dos contribuintes gastos
através de institutos nacionais de saúde, e eles não estudaram o açúcar! Não estudaram
porque usaram antolhos, é uma maneira medíocre de fazer ciência .108 Conclusão: que
outra conclusão pode-se tirar senão a de que a ciência médica está nas mãos dos traficantes
de açúcar?
DIABETANDO109
A incidência de diabetes nos EUA tem aumentado proporcionalmente ao aumento do consumo per capta
de açúcar.
Dr. Frederick Banting
107 Krall,Leo P. Op. cit., p. 24. 108 Atkins,R. Op. cit., 2001, p. 211. 109 Este é o simpático título do livro do Dr. Gentil de Andrade. Vide Bibliografia.
Anamnésia
Anamnese é a historinha que todo doente conta ao médico sobre sua própria doença
- onde está doendo, desde quando etc. A anamnese é importante para que o médico
chegue ao diagnóstico. No caso do diabetes a anamnese vira anamnésia (híbrido da
anamnese do doente com a amnésia do médico). Tanto o diabético quanto o obeso, a
história que eles têm a contar é uma só: uma história de comilança de açúcar na forma de
bolos e doces. Sem contar o fato de que o açúcar impregna inclusive os alimentos
salgados. A anamnese do diabético revela a etiologia do diabetes, mas os médicos
aprenderam na faculdade que a síndrome metabólica é de etiologia desconhecida. Daí o tabu
que envolve o assunto. Reportagens sobre diabetes que aparecem com freqüência em
revistas e jornais apresentam essa característica interessante, ou melhor, esse paradoxo
engraçado, o jornalista que escreve a matéria dizendo uma coisa, citando autoridades
médicas, e os diabéticos, quando lhes dão a palavra, com seu discurso padrão: eu era
viciado em doces , adoro sorvetes e bolos , sou tarado por Leite Moça . Um exemplo:
Sempre fui louca por doces. Nunca mais, porém, coloquei açúcar na boca. Às vezes, sonho que estou comendo chocolate e acordo com a boca salivando - depoimento de
Elizabeth Salgueiro (Veja nº 1787, p. 79). O que está faltando para a solução desse
paradoxo é a coragem de médicos e cientistas da nutrição para realizar as pesquisas
necessárias. Daqui de meu canto sugiro humildemente a seguinte pesquisa: verificação das
estatísticas de novos casos de diabetes em adultos e crianças, inclusive diabetes Tipo 1, nos
dias subseqüentes a datas como Páscoa, dia de São Cosme e São Damião e festas natalinas. Podia-se pesquisar também o período posterior ao lançamento das garrafas de 600 ml e 2,5
litros de Coca-Cola. Minha hipótese é que um ovo de páscoa comido inteiro por uma
criança tem um efeito semelhante a uma injeção de aloxana (substância usada para induzir
diabetes em animais de laboratório), arrebentando de uma só vez com o pâncreas da infeliz.
O Teste de Tolerância à Glicose (TTG)
Sempre achei estranho esse teste. Por que não se testa a tolerância à glicose
administrando-se um copo de suco de uvas pretas bem docinha (sem açúcar, claro)? Ou
por que o teste de tolerância à sacarose não é feito com um copo de caldo de cana
espremido na hora? O nosso corpo não tem a obrigação de ser tolerante a nenhum agente
adoçante químico (caso do açúcar) nem a açúcar invertido ou glicose saída de um
sacarificador, de onde deve ser extraída a glicose usada pela medicina.
Quando a medicina inventou de pesquisar o indice glicêmico dos alimentos (a
capacidade dos alimentos de provocar aumento dos níveis de açúcar no sangue), o
alimento escolhido como padrão foi a glicose (uma substância química). Acontece que
uma dose de glicose pura provocava, em alguns pacientes, sintomas de náuseas, retardo do
esvaziamento gástrico em virtude da alta osmolaridade da substância, que interferiam nos
resultados. Posteriormente adotou-se o pão branco que provoca respostas fisiológicas
diferentes da glicose pura. Um dia a medicina vai adotar o pão integral quando sacar que o
trigo refinado do pão branco é também um adulterador de resultados. As mesmas lógica e
raciocínio deveriam valer para o teste de tolerância à glicose.
O Dr. Aderbal Sabrá, em Diarréia na infância, cita pesquisa realizada por McNair et
alii com esquimós da Groenlândia. Os pesquisadores estavam interessados em
informações sobre incidência de má absorção de sacarose, e o método utilizado foi o
famoso TTG.
O livro não dá mais informações sobre a pesquisa. Por que os esquimós da
Groenlândia? Certamente por ser um povo virgem no que respeita à dieta açucarada do
homem civilizado. Esquimó come muita carne e gordura - aliás, esquimó significa comedor
de carne crua, pecha que lhes foi impingida pelos índios do Canadá. O esquimó chama a si
próprio de Inuit, o povo autêntico . A pesquisa revelou 10,5% de casos de intolerância ao açúcar, taxa
surpreendentemente alta para o Dr. Sabrá.110
Isso prova minha teoria de que nenhum corpo tem a obrigação de tolerar nenhum
veneno. Agora, faça o esquimó alimentar-se de nossa dieta açucarada e vinte anos depois, de acordo com a Lei Cleave, 10% dos esquimós estarão diabéticos, 50% com obesidade
mórbida e 90% com cárie nos dentes. E ainda esqueci-me dos cardíacos e hipertensos.
Depois que a Merck informou que 29,7 gramas de sacarose ou 25 gramas de glicose
industrializadas matam uma ratazana de um quilo, para mim TTG é a mesma coisa que
TTVR, Teste de Tolerância a Veneno de Rato.
Tenho minhas suspeitas: esses números que indicam uma glicemia normal na faixa
de 80 a 100 mg/ dl não seriam a glicemia normal para um boneco de açúcar (o cidadão da
civilização do açúcar, aquele que se alimenta da dieta açucarada)? No dia em que a dieta
açucarada for abolida certamente os níveis normais da glicemia serão mais baixos.
Atkins também levantou suspeitas sobre o número escolhido para diagnosticar a
hipoglicemia. Para ele a escolha desse número mágico (45mg %) atrasou por uma
geração o progresso da medicina nessa área. Ainda segundo ele a maioria dos
hipoglicêmicos não atinge nível tão baixo, mesmo quando estão acamados por causa
disso.111Entre os sintomas que podem ser devidos à hipoglicemia estão depressão, fadiga, irritabilidade, nervosismo, tonturas, dor de cabeça, desmaio, sudorese, mãos e pés frios, fala
arrastada, sonolência, esquecimento, insônia, preocupações, confusão, ansiedade, taquicardia, dores musculares, agessividade, indecisão, crises de choro, falta de
concentração, contrações musculares, perturbações digestivas, síndrome de úlcera, medos e
fobias, síndrome de pânico, comportamento suicida, convulsões, alergias, vista embaçada, vício em álcool e drogas, frigidez e impotência, falta de aproveitamento escolar, terrores, pesadelos e até perda de consciência.
Esse mar de sintomas é provocado pelo singelo consumo da dieta açucarada
moderna a qual, hiperinsulinizante que é, induz à hipoglicemia reativa. A solução Atkins
indica: uma dieta pobre em carboidratos , isenta de açúcar digo eu. Ainda hoje a medicina
recomenda açúcar para casos de crise de hipoglicemia. Mutatis mutandi é como querer
apagar uma fogueira jogando querosene em cima. O açúcar usado como remédio vai
originar uma nova onda de insulinemia que vai provocar nova hipoglicemia que irá
demandar nova dose de açúcar. É o conhecido ciclo do açúcar.
110 Sabrá, Aderbal. Op. cit., p. 40. 111 Atkins, Robert C. Op. cit., 1977, pp. 73-75.
Desconfio também do fato de se considerar normal a presença de hemoglobina
glicada até o limite de 8%. Não seria a tal hemoglobina uma proteína aleijada pelo açúcar da
dieta açucarada? Esses povos (cada vez mais difíceis de se encontrar) que não fazem uso da
dieta açucarada (índios perdidos na Amazônia, esquimós siberianos) possuem no seu
sangue hemoglobina glicada ? Para mim trata-se, mais uma vez, de medicina construída
segundo os interesses da indústria da doença.
O fato é que esses parâmetros utilizados pela medicina são precários na medida em
que se aplicam a uma humanidade com o metabolismo alterado pelo consumo da dieta
açucarada moderna. Eles mudam em função do avanço do açucaramento da dieta. É a
medicina ad hoc. Uma medicina orientada para lidar com os bonecos glicosilados da
civilização do açúcar.
Açúcar e radicais livres
O consumo diário compulsório da dieta açucarada moderna contribui para
encharcar de glicose o organismo das pessoas. Vamos ver, com ajuda do Dr. Helion
Póvoa, o que acontece lá por dentro.
Segundo ele, TODOS NÓS (consumidores da dieta açucarada chamo a atenção)
possuímos a hemoglobina glicada, não só os diabéticos; mas apenas os diabéticos a
possuem em grau mais elevado, por razões óbvias. Seguindo uma linha de pesquisas
inaugurada pelo médico italiano Dr. Ceriello, em 1991, sobre o papel dos radicais livres nos
diabéticos, o Dr. Póvoa conjeturou que se eram os radicais livres que formavam a
hemoglobina glicada, pessoas que sofrem de excesso de radicais livres certamente deviam
passar por esse problema. E de fato ele constatou em pesquisas próprias que o estresse
oxidativo tem a ver com o aumento da glicação, MESMO EM NÃO DIABÉTICOS. Muitos trabalhos posteriores, nessa linha de pesquisa, relacionaram problemas renais à
glicação da membrana basal (uma proteína do rim). Outros trabalhos comprovaram que a
arterioesclerose é causada pela glicação do colágeno e que a catarata é uma glicação do
cristalino, e assim por diante.
Quando adicionada a uma proteína a glicose reage e se incorpora a ela. No caso da
hemoglobina, quando glicada ela tem seu trabalho de transporte de oxigênio pulmonar
inibido, prejudicando dessa forma todo o organismo, especialmente as extremidades do
corpo. As pesquisas do médico italiano Ceriello corroboradas pelo nosso Dr. Póvoa
demonstraram que o fenômeno da glicação é uma mera reação de oxidação causada por
radicais livres na presença de proteínas e açúcar, uma reação simples que acontece até fora
do organismo e dispensa catalisadores químicos ou enzimas. 112 Na página Cidades on-line, Carlos Humberto Longobardi de Vilhena diz que
especialistas em diabetes e metabolismo vêm alertando para o fato de que diabetes, longe
de ser um distúrbio apenas pancreático, se comporta muito mais como uma doença
vascular. E que o açúcar alto é um grave fator de risco, já que é causa importante de anoxia
tissular (baixa oxigenação dos tecidos) e de aumento de formação de radicais livres em nível
tissular.
112 Póvoa, Helion. A Chave da Longevidade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
Moral da história: acabando com a farra de açúcar na alimentação teremos menos
glicose para atazanar nossas proteínas e nossos tecidos.
A gênese dos bonecos de açúcar
Não existe ainda uma teoria geral do diabetes e talvez nem venha a existir. Mas uma
teoria geral muito mais ambiciosa, que explique todo o conjunto de doenças crônicas, já é
possível vislumbrar no horizonte.
Em 1912, quando no mundo civilizado cada pessoa consumia uns 20 quilos de
açúcar anualmente, o cientista francês Louis Camille Maillard, da área de tecnologia de
alimentos, fazendo pesquisas sobre a deterioração de alimentos, descobriu o papel do
açúcar nesse processo. Ele demonstrou que a mudança de cor experimentada por certos
alimentos ao envelhecer se devia a uma reação entre açúcares e proteínas. Os produtos
finais dessa reação eram os responsáveis pela cor marrom que intrigava o pesquisador. A
descoberta ganhou o nome de reação de Maillard e consiste numa glicação ou glicação não- enzimática de proteínas. O grupo aldeído dos açúcares redutores, diante de oxigênio, liga-se
ao grupo amina das proteínas numa reação de condensação sem necessidade de enzimas.
Em português claro: o açúcar se agarra à molécula de proteína aleijando-a, isto é, alterando sua estrutura e propriedades. O doutor Maillard, profético, sugeriu nas
conclusões de seu relatório que suas descobertas diziam respeito aos diabéticos.
Meio século depois, quando cada citoyen andava consumindo uns 60 quilos de açúcar
por ano, foi descoberta a hemoglobina glicosilada (HbA1c), depois rebatizada para
glicada . Com isso ficou claro que a glicação de proteínas não acontecia apenas in vitro, como nas experiências de Maillard, mas também in vivo. Isso mesmo, o açúcar contribui
para deteriorar o ser humano em vida. A hemoglobina glicada nada mais é que uma
proteína com sua estrutura alterada por uma molécula de glicose agarrada a ela. Aleijada
pelo açúcar a hemoglobina fica prejudicada em sua função de oxigenar os capilares, facilitando a necrose.
Segundo os médicos, em um cidadão normal a hemoglobina glicada oscila de 6%
a 8%. Faço uma pergunta: índio, desses que ainda não se misturaram com os brancos, tem
hemoglobina glicada? Se não tiver fica claro que achar normal a presença dela é caso de
medicina escrita para atender a outros interesses, pois não?
A indústria da doença não viu nada de mais nessa descoberta, e até arranjou uma
utilidade prática para ela: a hemoglobina glicada serve para indicar o nível de açúcar no
sangue dos últimos quatro meses (o tempo de vida de uma hemoglobina). É mais ou
menos como utilizar os corpos de vítimas de homicídio por armas de fogo para estudos de
balística, fazendo vista grossa para o crime. Outro cadáver é a frutosamina, um dos
produtos iniciais da glicação: tem sido usada para monitorar o açúcar das duas últimas
semanas.
A reação de Maillard é um tipo de reação em cadeia. Os produtos iniciais da
reação entre acúcares e proteínas são compostos intermediários instáveis proporcionais à
concentração de glicose momentânea - as aldiminas (base de Schiff). Tais compostos
poucos dias depois transformam-se em frutosaminas (composto de Amadori). A
continuação da cascata de reações conduz à formação dos terríveis AGEs - Advanced
glycation end products ou produtos finais do processo de glicação, compostos muito reativos
que exercem diversas atividades biológicas deletérias. A doutora Elisa Biazzi fala deles de
uma maneira engraçada: As células, em determinados momentos, lançavam um elemento
estranho, emaranhado como uma teia de aranha e muito pegajoso. Seguindo pelo sangue, (os AGEs) grudavam nas paredes das artérias, alcançavam as articulações, fixando-se ali.
Chegavam até o cristalino do olho, provocando cataratas, verdadeiras sementes de
envelhecimento precoce .113 Eles gostam de se acumular na parede arterial (colágeno) e nas
membranas basais glomerulares, induzindo à nefropatia; noutros capilares como os da
retina levando à retinopatia, etc.
As distintas etapas da reação de Maillard afetam todas as macromoléculas do
organismo dotadas de grupos amina reativos e vida longa. Ou seja: as proteínas do plasma
sanguíneo, as do compartimento intracelular e as da matriz extra celular (proteínas
circulantes) e as estruturais componentes das membranas (colágeno, elastina, mielina, etc).
A glicação de proteínas modifica significativamente suas propriedades físico- químicas e conseqüentemente sua atividade biológica. Os produtos iniciais da glicação
afetam as proteínas modificando sua carga elétrica, solubilidade e mobilidade. Já os
produtos finais, através de ligações cruzadas entre proteínas, modificam sua estrutura
original, afetando suas funções vitais.
As proteínas estruturais modificadas comprometem também as funções próprias
do tecido de que fazem parte e conseqüentemente do órgão do qual o tecido é
componente.
A glicose que circula pelo sangue depende, para entrar nas células musculares, de
uma ajudinha da insulina. Os músculos estriados são apenas uma fração (aproximadamente
30%) da área do corpo atingida pela glicose. Mas há um mundo de outras células e tecidos
nos quais o açúcar entra sem pedir licença. A lista é grande: a começar pela própria
hemoglobina que é livremente permeável à molécula de glicose sendo por isso suscetível a
concentrações glicêmicas semelhante ao plasma, o sistema nervoso central e periférico, o
sistema micro e macrovascular, os músculos lisos, os ácidos nucléicos, os fosfolipídios, a
medula renal, o tecido conjuntivo, o colágeno, o cristalino, os hormônios, as enzimas etc. Justamente as partes do corpo onde ocorrem as complicações do diabetes. São tecidos
insulino-independentes porque se nutrem exclusivamente de glicose e possuem
transportadores (Glut) que não são regulados pela insulina.
É nesse universo protéico que o açúcar faz a festa. Por não dependerem de insulina
as portas estão abertas para o inimigo. Quer a vítima esteja alimentada ou em jejum os
transportadores de glicose estão lá, ligados à membrana, a postos.
Em situação de glicemia normal a velocidade de entrada de glicose nas células é
proporcional à demanda de energia. Se existir hiperglicemia a glicose entra livremente pela
célula e depois de fosforilada pela enzima aldose redutase; após atingir determinada
concentração passa a inibir a ação dessa enzima. E continua a entrar até ficar em equilíbrio
com a glicose circulante. Como a água da enchente de um rio que invade a casa de uma
pessoa até o limite do nível das águas do próprio rio.
O excesso de glicose livre no interior das células é o maior responsável pelas lesões
típicas das complicações do diabetes. A glicose livre (não fosforilada) ativa nas células a via
dos polióis, com formação excessiva de sorbitol e frutose. O aumento de sorbitol e frutose
altera o metabolismo energético celular, a integridade da membrana e outras funções. O
sorbitol se acumula na bainha de Schwann do tecido nervoso, acarretando mudança na
função dos nervos, com alteração na condução nervosa, mudança na sensibilidade e perda
de fibras nervosas. Isso se explica porque esse poliól ocasiona estresse hiperosmótico nas
células e outros problemas (diminuição do monoinositol celular), ocasionando dano. As
demais glicoses livres ligam-se não-enzimaticamente a proteínas, ácidos nucléicos e até
fosfolipídios, gerando, em última instância, PEGAs produtos finais de glicação avançada.
Tanto a glicose quanto a frutose podem auto-oxidar-se na presença de oxigênio, originando um dicarbonilo e o radical ânion superóxido, ambos responsáveis pelo estresse
oxidativo na célula.
113 Biazzi, E. Op. cit., p. 133.
O radical livre que resulta da oxidação da frutose é responsável pela maior parte da
formação de ligações cruzadas entre proteínas, os AGEs. Esses produtos finais da glicação
avançada alteram a estrutura e as funções das proteínas e induzem ainda processos de
antigenicidade que perpetuam a lesão.
Ainda segundo a doutora Biazzi, essas moléculas de proteínas hipertrofiadas são o
subproduto do metabolismo de células superalimentadas de quem consome alimentos
cozidos, gorduras, açúcares e proteínas de origem animal, e ocorriam principalmente no
organismo de diabéticos. Elisa Biazzi é ligada aos Adventistas de Sétimo Dia e mistura
religião com ciência. Os adventistas valorizam o vegetarianismo e alimentos crus. Se o
problema é proteína aleijada por glicose e frutose, o que é que a carne da dieta tem a ver
com isso?
A médica portuguesa Maria da Silva Azevedo, em artigo sobre a bioquímica do
diabetes, cita Unger como tendo sido o primeiro a falar de diabetes como uma síndrome
secundária a uma hiperglicemia. E também Cahill, que já havia proposto uma etiopatogenia
comum para explicar o diabetes e suas complicações. Cita também, nas conclusões de seu
artigo, dados de experiências recentes com as ilhotas de Langerhans incubadas na presença
de concentrações de glicose, onde se verificou a ativação de citocinas e produção de NO
(óxido nítrico) provocando um estresse oxidativo e lesão das células beta. As células beta
do pâncreas, lembra a médica, são muito vulneráveis à oxidação por possuírem poucas
defesas anti-oxidantes.
E finalmente menciona outras experiências em que ratos, mantidos com
hiperglicemia induzida, apresentaram lesão das células beta causadas pelo estabelecimento
de um processo auto-imune. Silva Azevedo conclui lembrando que a glicação não- enzimática de proteínas (GNP) poderá ainda ser responsável pela resistência à ação da
insulina, posto que atinge tanto a insulina quanto os receptores dela. 114
Já vimos com o doutor Helion Póvoa que a glicação de proteínas não é privilégio
de diabéticos, ela atinge também os não diabéticos. Colágeno glicado tem sido observado
em indivíduos com hiperglicemia leve não diagnosticados como diabéticos. Sabe-se
também que pequenas elevações da glicemia podem causar disfunção endotelial e
possivelmente, dar início à aterogênese. A hiperglicemia, mesmo não havendo diabetes, causa glicação das LDL que as torna agressivas ao endotélio e a outras células.
A futura teoria geral das doenças crônicas chegará necessariamente a uma
sistematização dos males causados pelo açúcar. A porta de entrada é a boca, onde a
sacarose desempenha o papel de combustível exclusivo com o qual as bactérias
cariogênicas produzem cárie. Tendo chegado ao sangue e glicado a hemoglobina, à exceção
dos músculos estriados, todo o organismo fica exposto ao assédio da glicose livre. Ficam
passíveis de glicação: o colágeno que, alterado, irá contribuir para tromboses e outras
doenças vasculares; a LDL, que glicada se torna imunogênica, o organismo passa a
produzir anticorpos anti-LDL glicada; a glicação do cristalino que antecede as cataratas
senis; a glicação das células beta pancreáticas explica o diabetes; a glicaçao das membranas
basais caracteriza as microangiopatias; a glicação da insulina explicaria sua ineficácia; e a
glicação dos receptores de insulina a resistência insulínica; a glicação dos nervos causa
neuropatias; colágeno tissular glicado é típico de envelhecimento. E assim por diante.
Já havia dito que a medicina não havia mapeado a festa que o açúcar faz no
organismo. Estava pensando apenas em digestão e metabolismo. Essa teoria geral a que me
refiro é muito mais complexa: será o mapeamento a ser feito pelo pessoal da bioquímica
fina. Um mapa que faça a síntese das várias hipóteses alternativas e complementares para
os mecanismos pelos quais o açúcar leva às diferentes doenças crônicas, a começar pelo
emaranhado das reações de Maillard; a aceleração da função da enzima aldose redutase (via
114 Azevedo,M. da S. Bioquímica da diabetes in: Duarte, R.(org). Diabetologia clínica. Lisboa: Lidel,
1997, pp. 35-42.
dos polióis); o estresse oxidativo (radicais livres); o estresse carbonílico; o transtorno de
atividade da proteína kinasa C e a pseudo-hipoxial; o transtorno no metabolismo das lipo- proteínas; e o transtorno da atividade das citocinas.
Entre os cientistas já existe o consenso de que a glicose em si mesma é tóxica e a
frutose mais tóxica ainda. E nós leigos sabemos que o açúcar do açucareiro é um mero
fornecedor de glicose e frutose usado para encharcar os alimentos que irão encharcar
nossos corpos com essas substâncias tóxicas. E agora, José?
Creio não estar forçando nenhuma barra ao sustentar que o consumo diário da
dieta açucarada moderna é a grande fonte desse manancial de glicose (e frutose) que vai aos
poucos glicosilando , estressando e oxidando o organismo de toda a humanidade dos
dias de hoje. Em minha modesta opinião de leigo, o açúcar é o fio de Ariadne que
conduzirá à teoria geral explicativa das doenças crônicas, e quiçá explicará também as
doenças auto-imunes. A natureza não ia levar bilhões de anos aperfeiçoando uma máquina
para depois seus componentes começarem a se estranhar entre si. Foi só depois que o ser
humano aprendeu a isolar de uma gramínea essa substância de reserva de açúcares e
adicioná-la aos alimentos, açúcares esses que reagem com proteínas alterando suas
estruturas e funções, que passou a haver esse estranhamento e teve início a produção de
anti-corpos contra componentes do próprio corpo. Uma espécie de loucura que tomou
conta do organismo. Resta à indústria da doença tentar provar que o mar de glicose que
transforma seres humanos em bonecos de açúcar vem das bananas, da lentilha e do arroz e
não dessa substância isolada de um capim e adicionada aos alimentos.115
Teoria geral do diabetes
Antigamente, quando se comia menos açúcar, um indivíduo levava no mínimo
quarenta anos para ficar diabético. O diabetes era conhecido como uma doença que dava
em velhos. Com o aumento do consumo de açúcar, agora se leva muito menos tempo. Isso bagunçou com os esquemas classificatórios que a medicina criou para os diabéticos. A
tipologia antiga era rica: havia o tipo infantil e o adulto, o pré-diabético, o assintomático, o
químico, o obeso, o gestacional, o do recém-nascido, o insípido, o florido e o bronzeado. Tinha até o diabético emocional . Depois evoluiu para basicamente dois graus: o Tipo 1 e
o Tipo 2. E acaba de entrar em cena o Tipo 3 que tem a ver com o mal de Alzheimer.
A confusão no meio de campo começou com o DJIM, diabetes juvenil de
incidência na maturidade. Hoje o diabetes não escolhe idade nem sexo nem etnia ou
profissão para aparecer. Quanto mais açucarada for a dieta maior será a incidência de
diabetes. E é cada vez mais comum a diabetologia falar em diabetes não classificado.
Todos nós somos condenados a ingerir uma dieta açucarada desde que nascemos -
isso na hipótese feliz de que nossas mães escaparam do diabetes gestacional, situação em
que o açúcar chega pelo cordão umbilical. Possivelmente já nascemos envenenados pelo
açúcar ingerido por nossos pais e quiçá com seqüelas genéticas devidas ao consumo de
açúcar por nossos avós.
Antigamente, quando o consumo era menor, o açúcar da dieta agia como um
veneno administrado homeopaticamente. Hoje, com a aceleração do açucaramento da
115 Fontes: Rull et alii. Diabetes mellitus, complicaciones crónicas. México: Interamericana/McGraw- Hill, 1992;
Duarte, R.(org.). Op. cit.; Gugliucci,A. Op. cit.
ração humana as doses são cavalares mesmo. O alimento, como sabemos, é ao mesmo
tempo o cimento que constrói o corpo e o combustível que o movimenta; o açúcar é um
adulterador desse cimento.
Como dissemos o envenenamento pelo açúcar começa cedo já com adição de
açúcar ao mingau servido em mamadeiras ou com as papinhas industrializadas da Nestlé, oferecidas a crianças que deveriam estar mamando no peito da mãe. O objetivo é viciar o
pimpolho ainda no colo da mãe. Mais tarde essa criança em vez de leite puro vai querer
Toddy e no lugar de uma fruta vai preferir sorvete ou doce.
A ingestão diária da dieta açucarada leva ao distúrbio do metabolismo pelo caminho
do descontrole do funcionamento do sistema glandular endócrino. Combinado com o
processo de glicação não-enzimática de proteínas são abertas assim as portas para as
doenças crônicas, metabólicas e degenerativas.
Como o açúcar é ingerido em doses diferenciadas e cada pessoa tem uma
individualidade biológica , ele atinge as pessoas também diferenciadamente. Num recém- nascido uma colher de sopa de açúcar (que o livro A vida do bebê prescreve como remédio
caseiro) é uma verdadeira overdose de veneno que responde pelo estranho tipo de diabetes
que ataca recém-nascidos, uma condição que regride quando passa o efeito da bomba de
açúcar.
Diante de açúcar, e especialmente de porcarias açucaradas, crianças não têm limite:
elas vivem expostas a doses cavalares de açúcar. Num pâncreas já esfalfado pelo consumo
cotidiano de açúcar uma dose cavalar de açúcar (ovo de páscoa, lata de leite condensado)
arrebenta com ele de modo definitivo. É o diabetes Tipo 1, pelo menos o idiopático.
Mesmo que alguém aparente ter agüentado o tranco durante a infância e por um
milagre ficado livre das cáries, da obesidade e do diabetes infantil isso não quer dizer que
seja imune ao açúcar: ele continua a desenvolver seu lento trabalho de destruição, via
glicação degenerativa, roubando minerais, vitaminas e até desidratando o organismo. Há
um termo militar que se aplica bem ao caso: trabalho de sapa, é o que o açúcar faz em seu
corpo.
Se o incauto comedor de açúcar é mulher, quando grávida ela passa a comer por
dois e sem querer vai comer açúcar em dobro habilitando-se a contrair diabetes
gestacional; e se continuar comendo açúcar terá um bebê macrossômico, uma teratologia
causada pelo açúcar que encharca a grávida diabética. O diabetes gestacional é outro tipo
de diabetes passageiro: depois que a criança nasce, a mãe volta a ingerir as doses normais
de açúcar e o diabetes desaparece. O terceiro tipo de diabetes transitório é o que some
depois que um obeso diabético para de comer açúcar e emagrece: juntamente com o açúcar
vai embora a doença.
O diabetes Tipo 2 se instala tão lenta e silenciosamente que você não percebe. É
comum o caso de mortes acontecerem a pessoas que ficaram diabéticas sem perceber e que
continuaram se alimentando da dieta açucarada. Pequenas coisas como dificuldade de reter
a urina, um arranhão na pele que demora a cicatrizar, dormência ou formigamento nas
extremidades do corpo que as pessoas costumam atribuir à velhice que vem chegando são
na verdade sintomas que prenunciam o diabetes. Ainda não é a doença; se a pessoa nesse
ponto parasse de comer açúcar mandaria o diabetes para o espaço. Inocente, incauta e
abandonada pelo Ministério da Saúde continua se alimentando da dieta assassina até que
um dia um empurrãozinho tipo um pudim de leite condensado fará o papel da gota de
açúcar que faltava para transbordar o pote. O pâncreas entrega os pontos e se rende ao
bombardeio: você contraiu diabetes. Os sintomas são conhecidos: boca seca, muita sede, perda de peso, visão turva, fadiga, muita urina e muita fome. Essa cornucópia de sintomas
significa que seu pâncreas se escangalhou por causa do regime de trabalho forçado a que
foi submetido ao longo de sua vida. Ou porque as células beta foram prejudicadas pela
glicação degenerativa.
O diabetes não tem cura. Resta parar de comer açúcar, comer com moderação, fazer exercícios ou, em casos mais graves, tomar comprimidos antiglicemiantes e até
injeções de insulina visando prolongar a vida.
Não tem cura mas tem prevenção. Se desde a infância o açúcar for afastado da dieta
de uma pessoa ela jamais ficará diabética mesmo com histórico familiar . Ficará livre
também de cárie dentária, obesidade mórbida e outras mazelas crônicas e degenerativas.
O caminho rumo ao diabetes começou com a administração ditatorial de uma dieta
anormal açucarada à raça humana. O aumento da insulina é uma reação normal do
pâncreas ao veneno calórico que foi adicionado ao alimento. A intolerância à glicose ocorre
quando o organismo começa a fraquejar e a deteriorar-se diante do assédio continuado
desse veneno.
Quando todo o povo voltar a se alimentar de comida normal, isto é, sem açúcar, todas as doenças que o açúcar provoca desaparecerão. É tautológico mas tem gente que
não enxerga. Isso será um verdadeiro chute no pau da barraca da indústria da doença. A
indústria da doença é uma das colunas de sustentação da exploração capitalista. A
exploração do homem pelo homem passa pela administração de uma dieta que o tornará
um ser adoentado para em seguida se ganhar dinheiro com isso. A dieta açucarada moderna
é a mais perfeita forma de controle social jamais inventada pelo capitalismo. Todos
conhecemos a máxima dividir para governar . Nos dias de hoje seria adaptada para
enfraquecer e adoecer para dominar . Uma população de bonecos de açúcar na qual os que não estão doentes e gastando
seu tempo e dinheiro com médicos e medicamentos estão preocupados em não ficar
doentes, às voltas com higiene bucal, hábitos alimentares e de vida saudáveis , um povo
assim tem menos tempo e saúde para se preocupar com democracia ou revolução. Sônia
Hirsch acertou na mosca quando disse nosso doce prazer não é só nossa sentença de
morte. É a maior fonte de lucros de um sistema (...) que só visa o poder para ter mais
lucros . E conclui: Por isso a doença interessa tanto. A saúde não, a saúde é subversiva
porque não dá lucro a ninguém .116
Pau de açúcar
Que entre as complicações do diabetes estão diversas neuropatias, retinopatias, nefropatias, e que isso significa que o diabético pode ficar cego, ter os pés amputados, e
ficar brocha, todo mundo sabe.
Já essa complicação do diabetes é novidade: a doença de Peyronie. Distúrbio que
atinge principalmente homens a partir dos 50 anos. Trata-se de uma doença degenerativa
que afeta a elasticidade do pênis, provavelmente por glicação dos tecidos. Se a elasticidade
for mais afetada em um dos lados, no momento da ereção o pênis vai entortar para esse
lado afetado. Se o comprometimento afetar o pênis como um todo o resultado será um
encolhimento: ele ficará menor.
É comum no decorrer da doença, crônica e progressiva, o pênis perder até 5
centímetros de comprimento. No decorrer da evolução dessa doença, o homem pode
ficar impotente.117
116 Hirsch, Sônia. Sem açúcar, com afeto. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1984, p. 31. 117 Santos, Bayard F. A medida do homem. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2000 p. 155.
Angola é aqui
Angola foi palco de uma das últimas guerras por tabela em que se engalfinhavam as
duas superpotências que patrocinavam a Guerra Fria. Com o fim da guerra em Angola uma
das seqüelas que restaram foi o problema dos mutilados. Muitos milhares de angolanos
perderam pés e pernas por causa das minas que coalhavam o território do país, uma
herança tétrica da Guerra Civil.
O problema adquiriu uma dimensão tal que chamou a atenção da princesa Diana, que visitou Angola e pediu ajuda internacional.
O Brasil não enfrentou nenhuma guerra civil aberta no tempo mencionado mas
tem também sua legião de mutilados. Muitos milhares de brasileiros perdem por amputação
não traumática dedos, pés ou pernas por causa de gangrena diabética. Consta que nos
Estados Unidos todo ano mais de 80 mil cidadãos perdem suas extremidades inferiores por
causa disso.
No Brasil não se sabe o dado estatístico, mas sei que apenas um hospital no Rio de
Janeiro, o Hospital da Lagoa, amputa membros de mais de duas mil pessoas por ano.
Aposto como os mutilados da ditadura do açúcar são em número maior que o
número dos mutilados de todas as guerras que já tivemos até hoje. Só vamos poder
comparar quando a cortina de açúcar for rasgada.
As estatísticas da destruição que as doenças do açúcar causam são escamoteadas da
população. Aliás não só da população: você que me lê e é médico sabe o número de
brasileiros que perdem membros por causa de gangrena diabética? ou quantos fazem
hemodiálise por causa de nefropatia diabética? ou quantos ficam cegos por causa de
retinopatia diabética? ou quantos ficam aleijados por causa de neuropatia diabética? ou
quantos morrem por causa de cardiopatias ou acidentes vasculares cerebrais por serem
diabéticos? ou quantas são as vítimas da mais disseminada e vergonhosa forma de
amputação, a dentária?
Estreptozotocina e açúcar
A estreptozotocina (STZ) é, em jargão médico, uma droga citotóxica seletiva das
células beta do pâncreas. Pela administração dessa droga é possível induzir diabetes em
ratos de laboratório de três formas: a) Ação tóxica. Uma dose única elevada (50 mg/ Kg)
provoca diabetes irreversível em 24 horas; b) Ação inflamatória. Doses baixas, repetidas
provocam, algum tempo depois, um diabetes semelhante ao Tipo 1; c) Dose baixa no
período neonatal. Os ratos, quando adultos, desenvolvem um diabetes semelhante ao Tipo
2.118
Qualquer semelhança com os seguintes fatos será mera coincidência?: a) Ação
tóxica. Uma lata de leite condensado mamada de uma só vez por uma criança provoca
diabetes Tipo 1; b) Ação lenta. Refrigerantes, sorvetes, bolos e doces consumidos
118 Duarte, Rui (org.) Op cit., p. 36.
normalmente todos os dias provocam diabetes Tipo 2 seja na infância, na juventude ou na
idade adulta.
Os ratos diabéticos
O Dr. Robert Atkins cita pesquisa de M. Cohen de 1972, publicada na revista
Metabolism, na qual a equipe do Dr. Cohen conseguiu gerar uma estirpe completa de ratos
diabéticos, alimentando-os com açúcar e acasalando seletivamente os animais mais
sensíveis a esse produto.
Outros estudos publicados entre 1964 e 1972 sobre ratos demonstraram que todo o
processo começa com a deterioração da tolerância à glicose, geralmente compensada com
hiperinsulinismo e que continua tragicamente na direção do diabetes.119
Se o avanço da ditadura da dieta açucarada não for interrompido logo, a
humanidade um dia não passará de uma raça de seres diabéticos, obesos, hipertensos e
desdentados.
Diabetologia ontem e hoje
Desde que existe, a diabetologia nunca aceitou a tese de que o consumo de açúcar
explica a etiologia da doença. No tempo do doutor Joslin, verdadeiro papa da disciplina, a
diabetologia fazia umas generalizações que hoje vemos como folclóricas. Os judeus, como
já vimos, eram apresentados como uma raça de alta incidência de diabetes, ao contrário
de negros, indianos, japoneses e chineses. Trabalhadores braçais seriam mais resistentes ao
diabetes que trabalhadores urbanos e intelectuais. Mulheres solteiras seriam menos afetadas
que as casadas e no geral as mulheres seriam mais vitimadas que os homens. Povos
primitivos desconheciam a doença. A diabetologia concluiu que o diabetes chegava a ser
uma doença característica de países civilizados , cujos povos eram mais bem
alimentados . A propósito dessa última conclusão o médico brasileiro Francisco Arduino
disse, de maneira jocosa, assumida por ele mesmo, que diabetes não é para quem quer mas
para quem pode .120
Com o avanço do conhecimento, houve uma tendência na diabetologia de
abandonar essas afirmações pelo que elas tinham de inconsistentes. Por exemplo, grupos
de japoneses que imigraram para o Havaí e Califórnia e aderiram à dieta açucarada dos
americanos começaram a ficar diabéticos e a morrer de doenças do coração. Para ficar por
aqui por perto a revista Endocrinologia & Metabolismo menciona estudo com um grupo
de nipo-brasileiros residente em Bauru, São Paulo, acompanhado durante sete anos:
desnecessário dizer o que esses nisseis e sanseis comem. Mas a conclusão do estudo, feito
pela Universidade Federal de São Paulo, diz que a epidemia de Diabetes Mellitus atinge
proporções alarmantes entre os nipo-brasileiros. Ao lado de fatores genéticos, a
adiposidade central deve estar contribuindo para este caso .121 Ainda não se fizeram
pesquisas comparando os casos de diabetes entre japoneses antes e depois do
açucaramento da culinária daquele país. Hoje a cozinha típica japonesa está fortemente
adulterada pelo açúcar: o caldo que dá liga ao arroz de sushis e sashimis, os molhos de
conservas e outros molhos como o shoyo, peixes processados para fazer imitação de outros
119 Atkins, Robert. Op. cit., 2001, p. 149. 120 Arduino,F. Conheça seu diabetes. Porto Alegre: Globo, 1965, p. 13. 121 Endocrinologia & Metabolismo, vol 45, nº 5, Suplemento 1, out. de 2001, p. S560.
alimentos, tudo leva açúcar. Com isso o mito japonês caiu por terra. Os judeus americanos
que gostam de dinheiro e de açúcar de fato eram fortes candidatos ao diabetes, mas judeus
da península arábica, comedores de carne, não. Povos primitivos em geral são livres de
doenças crônicas; já os índios da tribo pima, os mais civilizados dos Estados Unidos, são
conhecidos pelos altos índices de diabetes. Segundo a diabetologia de hoje, ao contrário da
de ontem, os negros ficam diabéticos mais que os brancos. A medicina silencia sobre essa
reviravolta na predisposição genética dos negros e é cega e surda diante do óbvio ululante: eles
estão comendo mais açúcar. Negros americanos, por exemplo, comedores de fast food, são
gordos, diabéticos e cardíacos, o que não ocorre com os negros africanos, que comem
carne de pangolin e correm atrás de veados.
Quanto aos trabalhadores braçais versus intelectuais é claro que enquanto o
trabalhador brasileiro, por exemplo, comia carne seca com abóbora ou feijão com arroz e
carne era menos atingido pelo diabetes. Hoje, almoçando um prato feito acompanhado por
uma Coca-Cola de 600ml e uma sobremesa de pudim de leite condensado... O diabetes vai
de vento em popa.
O avanço do açucaramento da dieta da humanidade empastelou todas essas
diferenças que a diabetologia clássica enxergava, tanto no que diz respeito à incidência do
diabetes quanto à própria classificação dos diabéticos. Hoje fica diabético qualquer
indivíduo de qualquer povo, de qualquer lugar, de qualquer faixa etária, de qualquer sexo ou
profissão, a depender apenas da quantidade de açúcar que esteja ingerindo e, é claro, de
diferenças biológicas individuais.
A diabetologia de hoje é uma ciência sofisticada às voltas com autofosforilação de
receptores de insulina, mutações no DNA mitocondrial, anormalidades no cromossomo 6, agenesia congênita das ilhotas, ou transmissão autossômica. Mas, tal qual a velha
diabetologia, desconhece a etiologia do diabetes, embora ambas compartilhem a certeza de
que o açúcar não tem nada a ver com isso.
A nova diabetologia desconfia até do leite de vaca122
. Já o leite condensado está
acima de qualquer suspeita. Acalento a hipótese de que uma lata de leite condensado
mamada por uma criança tem um efeito semelhante ao de uma injeção de aloxana num rato
de laboratório. Como seria um crime alguém fazer uma experiência desse tipo em
laboratório, a Nestlé resolveu ajudar e colocou à venda o Leite Mocinha , um sacolé de
leite condensado justamente para ser mamado por nossas crianças. É só falar com o IBGE
e conferir se houve ou não aumento nas estatísticas de novos casos de diabetes infantil
posterior ao lançamento do produto.
CLÍNICA GERAL
Sem a glicose natural dos cereais, legumes e frutas a gente não anda, não pensa, não funciona. Já com o açúcar
refinado a gente anda, a gente pensa, a gente funciona... mal.
Sônia Hirsch
122Idem p. S561.
Açúcar e candidíase
Diz-nos o Dr. Atkins que 60% de seus pacientes têm resistência à glicose, que 30%
deles apresentam proliferação do fungo candida albicans e que nos Estados Unidos os
médicos evitam diagnosticar a doença por causa da sua origem iatrogênica (conseqüência
de tratamento médico). A candida albicans é encontrada normalmente no corpo humano e
compreende em geral 10% do espectro de microorganismos do trato intestinal. A
proliferação para além desse limite dá-se em conseqüência de fatores como uso prolongado
de antibióticos; contato com o mercúrio usado em obturações de prata nos dentes; uso do
anticoncepcional predinizona e outros esteróides; e principalmente quando uma pessoa é
exposta a uma dieta rica em açúcar e cereais refinados.
Os antibióticos destroem os lactobacilos presentes na flora intestinal que inibem a
proliferação do fungo. As pílulas anticoncepcionais, também. E o mercúrio compromete
o sistema imunológico, facilitando a vida da dona cândida. Já o açúcar, o Dr. Atkins não
deixa por menos: segundo ele o açúcar constitui o maior fator de proliferação no caso dos
fungos . E prossegue: Os que estão infestados pela candida devem manter distância de
sorvete, bombons, bolos, xarope de milho, frutose, xarope de maçã, melado, etc. . 123
Ainda segundo o Dr. Atkins, a lista de problemas que a proliferação do fungo pode
deflagrar é vastíssima e inclui, a título de amostra, sem querer aterrorizar mas já
aterrorizando os que gostam de açúcar: letargia, fadiga, depressão, dificuldade de
concentração, dor de cabeça, prisão de ventre, dor de barriga, diarréia, gases, problemas
respiratórios, do trato urinário e dos órgãos genitais.
O sintoma mais comum é a barriga inchada, especialmente o baixo ventre
protuberante, denunciador de gases no intestino grosso.
Açúcar e memória
Altos níveis de açúcar no sangue prejudicam a memória e provocam o
encolhimento do hipocampo. Nós demonstramos que a regulagem da glicose está
associada com disfunções de memória e com o encolhimento do hipocampo , afirma o Dr. Antonio Convit, professor de psiquiatria e diretor médico do Centro para a Saúde do
Cérebro da Universidade de Nova York. Nosso estudo indica que essa deficiência pode
contribuir para falhas de memória que ocorrem com o envelhecimento e levanta a
possibilidade de que melhorar a tolerância à glicose pode acabar com problemas de
conhecimento associados à idade , acrescenta o professor.124 A pesquisa estudou 30 homens e mulheres com idades entre 53 e 89 anos não
diabéticos, mas alguns deles tendo níveis de açúcar no sangue mais altos que o normal (pré- diabéticos).
123 Atkins,R. C. Op. cit., 2001, p. 160. 124 Revista on-line. Procedimentos da Academia Nacional de Ciência, segundo o site da BBC de
04/02/2003.
O grupo teve o cérebro escaneado por ressonância magnética para medir o
tamanho do hipocampo. O grupo com altos níveis de glicose mostrou um hipocampo
menor e teve resultados piores nos testes para memória recente.
O hipocampo, segundo os pesquisadores, é uma área particularmente vulnerável e
que pode sofrer danos com o tempo.
Portanto, quem não quiser ter problemas de memória ou ficar caduco mais cedo já
sabe o caminho: é parar de comer açúcar.
O Dr. Convit fala em melhorar a tolerância à glicose . Isso significa tolerância ao
bombardeio da glicose da dieta açucarada moderna. É melhor eliminar o açúcar e poupar o
organismo.
E por falar em hipocampo. A doutora Suzanne de la Monte da Escola Médica de
Brown, nos Estados Unidos vem seguindo uma linha de pesquisa que aponta para as causas
do mal de Alzheimer, até aqui de etiopatogenia desconhecida. Essa doença crônico- degenerativa leva à perda de memória e demência. Segundo ela a falta de insulina cerebral
ou a resistência à sua ação leva a degeneração do hipocampo e ao desenvolvimento da
doença. A isso estão chamando de diabetes tipo III.
A meu ver esse é mais um caso para a folha corrida do açúcar. A glicação
degenerativa de proteínas com certeza explica esse processo. A gente sabe que tanto o
próprio hormônio quanto seus receptores e até a própria estrutura dos órgãos que servem
de base são vítimas da ação destrutiva do mar de glicose e frutose da dieta açucarada.
Esses dados estão no último número sobre diabetes da revista Saúde . Lá eles
estavam como uma azeitona no pastel alheio. Aqui é mais um tijolinho na pirâmide
explicativa do movimento Açúcar zero.
Açúcar e sistema imunológico
A Dra. Eliza Biazzi, autora do livro Diabetes: um guia prático, cita pesquisas realizadas
em laboratórios da universidade californiana de Lomalinda, Estados Unidos, que
demonstraram que o açúcar enfraquece a capacidade do sistema de defesa do corpo
humano.
Segundo essas pesquisas cada célula de defesa do organismo, os leucócitos, qual
valente guerreiro, tem capacidade para abater 14 bactérias nocivas. No entanto basta a
ingestão de seis colheres de chá de açúcar para que nosso guerreiro fique enfraquecido e só
consiga destruir 10 soldados inimigos.
Se o consumo de açúcar subir para 24 colheres de chá, nossa célula de defesa só
conseguirá abater uma bactéria nociva, abrindo com isso os flancos da nossa saúde aos
exércitos inimigos responsáveis por nossas doenças.
Açúcar e doenças
Pesquisa citada pelo Dr. Atkins. Em 1969, o Dr. Sheldon Reiser realizou um
estudo com voluntários demonstrando que uma dieta que fornece 18% de suas calorias do
açúcar produzia concentrações significativamente mais altas de lipídios e insulina do que
uma dieta com apenas 5% de calorias extraídas de açúcar.125
Na Islândia, doenças cardíacas e diabetes eram quase desconhecidas até a década de
1930, embora a dieta típica islandesa fosse riquíssima em gordura. Em princípios da
década de 1920 a dieta açucarada civilizada chegou por lá; e perto de vinte anos depois
foi a vez da chegada das modernas doenças degenerativas.126
Na Iugoslávia e na Polônia as altas taxas de doenças cardíacas, em meados do
século XX, foram concomitantes à quadruplicação da ingestão de açúcar, que ocorreu a
despeito de uma queda no consumo de gordura animal. 127
Açúcar e mau colesterol
Mau colesterol, o temível colesterol LDL, pouca gente sabe disso, na verdade são
apenas proteínas de baixa densidade modificadas pelo açúcar. O colesterol que
normalmente é um formador de membranas celulares e de hormônios, aleijado pelo
processo conhecido como glicação não-enzimática de proteínas, passa a fazer mal tornando-se
fortemente aterogênico, isto é, entupidor de vasos sanguíneos. Quando você pergunta ao
seu médico o que fazer para aumentar o nível do colesterol bom (HDL), ele recomenda
exercícios físicos. Com isso você queima o açúcar que iria aleijar as partículas de LDL- colesterol, aumentando assim relativamente o nível de colesterol bom. Um médico afinado
com nossa filosofia nutricional pediria a você para eliminar o açúcar de sua dieta, cortando
assim o mal pela raíz.
Açúcar antibiótico
Na página da Revista Vittalle na internet, somos informados sobre pesquisa a
respeito da ação antibacteriana da sacarose, de autoria de Rodrigues, Bobek, Schwersz e
Calegari. Objetivos do trabalho: a) determinar a ação bacteriana da sacarose; b) avaliar a
atividade exercida por esse carboidrato sobre germes gram positivos e gram negativos; c)
caracterizar seu mecanismo de ação.
Conclusão dos pesquisadores: como hipótese a respeito do mecanismo de ação, destacamos: a) efeito bactericida devido à elevada pressão osmótica das soluções
concentradas de açúcar; b) efeito bacteriostático por inibição da atividade enzimática; c)
efeito de captação das partículas microbianas (similar ao uso de camadas de gases). Esta
última hipótese, sugerida pelo efeito do açúcar in vivo, deverá ser testada.
Sugiro pesquisa a respeito do comportamento desse agente bacteriostático de alta
osmolaridade no organismo humano, especialmente no das crianças.
Açúcar e folclore medicinal
125 Atkins, Robert. Op. cit., 2001, p. 184. 126 Idem p. 205. 127 Idem p. 205.
De médico e de louco todo mundo tem um pouco, diz o provérbio. O açúcar hoje
se encontra muito entranhado no imaginário popular. Todo mundo conhece alguma
fórmula, alguma receita feita com o habitante do açucareiro. As donas de casa lavam filtro
usando açúcar à guisa de sapóleo. As moças massageiam o rosto com creme contendo
açúcar como esfoliante. Os espíritas dão defumador de ervas misturado com açúcar. Doentes misturam açúcar à pomada que passam na ferida crônica da perna. As lavadeiras
cozinham roupas manchadas em água com açúcar.
Usar açúcar misturado com Coca-Cola para lavar a pia, ou ao defumador para
fazer mais fumaça é até compreensível. Mas quanto a esse uso medicinal do açúcar: no
famigerado soro caseiro, aplicado sobre feridas, como calmente , laxante , etc. Acho que
o Ministério da Saúde devia se pronunciar.
Crime caseiro
A mistura de água com sal resulta em um soro fisiológico natural. Uma solução de
cloreto de sódio a base de um a dois gramas de sal para um litro de água tomada fria, acalma a sede. Em um país tropical como o Brasil segundo o nutricionista Ruy Coutinho, deveria ser adotado o uso de água salgada nos locais de trabalho onde o indivíduo elimine
muito suor . E também, aconselhável que durante o verão se fizesse uso de água salgada, na solução mencionada acima, afim de evitar mal estar, irritação e cansaço . No último
verão foi muito divulgado pela televisão em horário nobre propaganda do famoso soro
caseiro , constituído de água, sal e açúcar. Sabendo que o açúcar é um composto químico
que vem acompanhado de um lixinho constituído de substâncias tóxicas, possui alta
osmolaridade e é cariogênico. Fica a pergunta que remédio é esse, administrado inclusive
a bebês de tenra idade?
Açúcar e cromo
Em www.hospitalar.com um artigo da Dra. Sylvana Braga intitulado Cromo, uma
esperança natural para diabéticos e obesos, já começa afirmando que o cromo participa do
metabolismo, potencializando os efeitos da insulina, melhorando a captação de glicose
pelas células e agindo nos receptores insulínicos da membrana celular.
Segundo a Dra. Sylvana, em 1994 John Vincent, médico da Universidade do
Alabama (Estados Unidos), associou a deficiência de cromo na alimentação à intolerância à
glicose.
A dieta açucarada moderna imposta hoje a quase toda humanidade é pobre em
cromo assim como em uma infinidade de minerais, vitaminas e oligoelementos.
A alimentação rica em cromo age diminuindo a formação de tecido adiposo
(gordura branca mórbida) e aumentando a saudável gordura marrom, termogênica e
vascularizada.
O cromo tem sido utilizado na preparação de atletas, posto que ao potencializar a
insulina aumenta a massa muscular e a performance.
Pesquisas sobre o uso de cromo têm sido realizadas em todo mundo, da Áustria a
Israel. O site da American Diabetes Association (ADA) dá conta de todas elas. O Dr.
Atkins já sabia das virtudes do cromo e administrava picolinato de cromo aos seus clientes.
Esse picolinato é invenção patenteada, como sói acontecer no âmbito da indústria da
doença, mas nós, o povo, podemos nos abastecer de cromo usando como suplemento o
velho conhecido brócolis e também levedo de cerveja.
Nas palavras da Dra. Sylvana, para melhor absorção deste mineral é importante
reduzir a ingestão de alimentos refinados, principalmente do açúcar branco . A Dra. Sylvana é reumatologista graduada pela UFRJ e pós-graduada em Fisiatria.
Considero essa informação um verdadeiro achado que precisa ser aprofundado. As palavras-chave além de cromo são gordura branca, gordura marrom e calorias negativas.
Se médicos nutrólogos e químicos conseguirem sistematizar esses conhecimentos uma
verdade-necessidade virá à tona: chegou a hora de dar um basta no açúcar!
O sedentário e o obeso; o tranqüilo e o gordinho
Sedentário é uma pessoa normal. Mesmo quem está parado está queimando
calorias. É perfeitamente concebível uma vida saudável num claustro. Pense num monge
budista cuja atividade física mais intensa é o tai chi chuan. O que vai determinar uma vida
sedentária saudável é o que se come; a alimentação terá que ser necessariamente frugal.
Gordo também é uma pessoa normal. Pense num lutador de sumô, um exemplo de
situação-limite. A existência de um gordinho saudável depende também do que ele come.
É só na civilização do açúcar que sedentários e gordinhos passaram a ser
anatematizados.
Os médicos do establishment da ditadura do açúcar consideram a obesidade doença. Essa civilização encharca as pessoas de açúcar e suas calorias inúteis e patogênicas e quer
impor como ideal de vida a atividade física. A dieta açucarada moderna vitima toda a
sociedade com tudo que é tipo de doença degenerativa e em seguida usa o recurso
ideológico de pôr a culpa nas vítimas, fazendo-as crer que a culpa de suas mazelas são seus
maus hábitos alimentares (para atingir os gordinhos) e o estilo de vida sedentário (para
atingir os tranqüilos). A natureza não obriga ninguém a se esfalfar. Se você se alimenta
saudavelmente, isto é, fica longe da dieta açucarada, se for frugal será um magro saudável; e
se for guloso será um gordo saudável. No meu caso, por exemplo, quando eu era um
boneco de açúcar a corrida para mim era um sacrifício, eu voltava para casa esfalfado.
Hoje, sem os quilinhos a mais das gorduras do açúcar, corro mais do que antes sem sentir
sequer que tenho um coração batendo no peito. Nos anos 70 do século XX o médico
americano Keneth Cooper fez os bonecos de açúcar do mundo inteiro correrem até que
começaram a ocorrer casos de morte em seguidores fieis da prática de corridas. O doutor
Cooper escreveu um novo livro autocrítico, propondo em vez de corridas, caminhadas.
Magro doente e obeso mórbido são os comedores de açúcar. Bebês, os que
mamam (não os que comem papinhas açucaradas da Nestlé), e esquimós, os que comem
carne e gordura cruas, têm corpos constituídos de gordura marrom dura e saudável. Gordura branca e flácida, celulite e colesterol LDL, características de obesidade mórbida, tem quem come açúcar branco, pão branco e arroz branco. Isso não é mera coincidência.
Atividade física e açúcar
Água é um assunto de importância vital. Ela é tão importante para o corpo que um
déficit de apenas 1% já é suficiente para despertar a sensação de sede. E um déficit de 20% é
suficiente para matar uma pessoa. Um professor de meu sobrinho Hélder ensinou a ele em
sala de aula (peço vênia para a citação) que para digerir um copo de refrigerante o
organismo humano tem que despender dois copos de água corporal. Logo, quando um
adolescente mama 600 ml de Coca-Cola seu corpinho vai ser roubado em mais de um litro
de água.
O Dr. Turíbio Leite de Barros Neto, fundador e coordenador do Cemafe (Centro
de Medicina da Atividade Física e do Esporte), em seu livro Exercício, saúde e desempenho físico, ao falar sobre a necessidade de hidratação durante a atividade física recomenda que se beba
muito líquido antes, durante e depois. Para aterrorizar os ativistas físicos, ele lembra que
num dia quente a perda de água durante o exercício é da ordem de um a dois litros por
hora, e que às vezes a sensação de sede é saciada antes da reposição do volume hídrico
necessário. Portanto, numa situação semelhante, beba água mesmo sem ter sede. Agora
vamos ao que nos interessa. O Dr. Turíbio alerta que não devemos ingerir bebidas cuja
concentração seja maior que a do nosso sangue, ou seja, refrigerantes, sucos adoçados
etc. . O que importa será repor líquidos através da ingestão de água ou de líquidos
isotônicos . O Gatorade, a mais famosa bebida isotônica, anda fazendo propaganda
enganosa na TV, vendendo o produto como sendo melhor que água para abastecer atletas
em atividade porque você quando sua, fazendo exercícios, perde não só água mas potássio, sódio etc. Segundo o Dr. Emanoel Goldberger, autor do livro Alterações do Equilíbrio
Hídrico, Eletrolítico e Ácido-base, cada litro de Gatorade, por exemplo, fornece vinte e um
mEq de íons sódio, três mEq de íons potássio e cinqüenta gramas de glicose. Isto equivale
a aproximadamente um grama de sal . 128
Resumindo, beber uma garrafa de Gatorade é a mesma coisa que você beber água
acompanhada de uma pitada de sal. E o que o Gatorade apresenta como vantagem em
relação à água, os carboidratos , na verdade é uma desvantagem. O açúcar invertido ou
xarope de amido, misturado ao Gatorade, é um carboidrato não nutritivo que vai demandar
nutrientes do próprio corpo para ser metabolizado.
Resta o consolo de que o Gatorade faz menos mal que a Coca-Cola; esta tem 10%
de açúcar e o outro apenas 5% de açúcar já hidrolisado, de mais fácil aceitação pelo
organismo, embora nutricionalmente inútil. Em outras palavras, refrigerantes ou sucos de
frutas adoçados com açúcar devem ser evitados por quem pratica atividades físicas, pois
provocam desequilíbrio osmolar e desidratam.
Corra e morra mais rápido
Os estresses a que está exposta uma pessoa normal diferem muito em
intensidade daqueles provocados pelo exercício físico. No capítulo sobre fisiologia do
esporte de seu livro, Guyton diz que os extremos de exercício extenuante se continuados
por período de tempo ligeiramente prolongados , facilmente poderiam ser letais. E
128 Goldberger, Emanoel. Alterações do equilíbrio hídrico, eletrolítico e ácido-base. Rio de Janeiro:
Guanabara/Koogan, 1978, p. 69.
ainda segundo ele, em uma pessoa com febre extremamente alta , o metabolismo corporal
aumenta em apenas uns 100% acima do normal. Já durante uma corrida de maratona, o
metabolismo do corpo aumenta até uns 2000% acima do normal. O esporte tem a ver com
os limites extremos da maioria dos mecanismos corporais, conclui o autor citado.
Quem se alimenta da dieta açucarada moderna, sem querer faz uma opção pelo
suicídio lento, mas se quiser acelerar esse processo o caminho é a pratica de exercícios
físicos. Num boneco de açúcar a prática de exercícios físicos tem o dom de acelerar o
envelhecimento das células. A causa é o aumento excessivo do número de radicais livres no
corpo, formados durante a respiração celular. O número de radicais livres aumenta muito
e, quando a alimentação não é adequada para atender as necessidades de antioxidantes, o
dano celular se acentua e acelera o envelhecimento , explica o professor Danilo Wilhelm
Filho do Dpto. de Ecologia e Zoologia da UFSC, segundo matéria jornalística disponível
na página do Conselho Federal de Nutricionistas na internet.
Ainda segundo essa fonte, mais de duzentas doenças estão diretamente relacionadas
com os radicais livres. A formação dessa substância no organismo ocorre durante a
queima de açúcares quando partículas de oxigênio são liberadas e se transformam em
radicais superóxidos, espécie de moléculas-vampiro, eletronicamente desequilibradas. Os
radicais livres buscam outras moléculas, átomos ou compostos do corpo para se
estabilizarem.
Quem quiser fugir da velhice precoce já sabe: o primeiro passo é detonar o açúcar da
dieta. Ele contribui duplamente para o envelhecimento: primeiro fornecendo um substrato
gratuito, inútil e nutricionalmente desnecessário; depois, quando já transformado em
gordura, facilitando o envelhecimento, uma vez que a obesidade em si é fator de aumento
de radicais livres, segundo informa, a matéria citada que recomenda alguns alimentos ricos
em vitaminas antioxidantes e minerais essenciais, entre eles a prosaica batata. Ah, sim: se
você não come açúcar, ou seja, não é um boneco glicosilado, pode correr à vontade que faz
bem.
Obesidade nos Estados Unidos
Vira e mexe tenho me deparado com matérias de jornal a respeito de obesidade em
geral e obesidade infantil em particular. Obesidade, todos sabem, está virando uma espécie
de praga nacional nos Estados Unidos. É mais que uma epidemia, uma verdadeira pandemia. Aqui no Rio de Janeiro o prefeito César Maia já entrou nessa guerra e até pediu à Riotur
que eliminasse a exigência de que o Rei Momo tenha que ser gordo, além de outras
providências, como proibir a venda de porcarias açucaradas em cantinas de escolas.
Em todo o mundo têm pipocado iniciativas de combate à obesidade, leis novas
estão surgindo nesse sentido, já tem gente até levando à barra dos tribunais a indústria de
alimentos e cadeias de lanchonetes tipo fast food. As matérias jornalísticas atiram para todos
os lados. Quem lê essas matérias tenho certeza de que deve se sentir como cego no meio
de um tiroteio. Engraçado é que no que se diz há sempre o endosso de autoridades
médicas. Tenho uma reportagem que foi publicada originalmente no TheNewYork Times e
reproduzida em O Globo de 28 de junho de 2003.
São citados Paul Rozin, professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia;
Brian Wasnink, professor de ciência nutricional da Universidade de Illinois; Kelly Brownel, professor de psicologia da universidade de Yale, especialista em desordens alimentares ; e
finalmente Margo Wootan, diretora de política nutricional do Centro de Ciência Para o
Interesse Público.
Toda essa equipe de escol da psicologia e da nutrologia para dizer as seguintes
besteiras: a) as pessoas estão obesas por causa do tamanho do copo de pipoca, tão grande
que é chamado de balde ; b) os refrigerantes também são servidos em baldes ; c) o
tamanho dos sanduíches é também exagerado; d) as porções de alimentos, em geral, idem;
e) o preço baixo e as promoções estimulam as pessoas a comer mais; f) outros fatores são a
disponibilidade e a grande variedade de alimentos oferecidos à população.
Em resumo, nos Estados Unidos existiria uma cultura pela qual a comida é
oferecida em grandes quantidades e em todos os lugares. O professor Kelly Brownel
classifica a sociedade americana, no que diz respeito à comida, de ambiente tóxico . Agora é a minha vez. O problema é a obesidade e no entanto não se tocou na
palavra açúcar, o que é natural, e não se falou também em gordura nem em fritura nem em
colesterol, o que é de se estranhar. Acho que a história da carochinha da gordura e do
colesterol caiu no ridículo depois dos livros dos doutores Atkins e McCully. A indústria da
doença pelo visto está procurando novos bodes expiatórios para manter oculto o veneno
da alimentação do homem moderno; agora a culpa é da oferta generosa de comida em
todos os lugares e a toda hora. Não é mais a questão dos maus hábitos alimentares . O
boneco de açúcar é nesse caso um idiota completo, que se lhe for oferecido um X-Tudo
de um palmo de altura e uma tubaína de 980 ml ele vai e come.
O cidadão americano médio anda consumindo perto de 80 quilos de açúcar por
ano. Retire todo esse açúcar de sua dieta que ela ficará livre de aproximadamente 800
calorias inúteis ingeridas diariamente. Calorias essas devidas exclusivamente ao açúcar, que
só serve para gerar doenças.
Não é preciso diminuir o tamanho do Big Mac nem do copo de pipoca. Quando se
come um sanduíche que leva dois hambúrgueres, queijo, salada, picles, mostarda, catchup e
pão com gergelim, se come açúcar seis vezes. É difícil apontar algum desses ingredientes
que não contenha açúcar. O que tem que ser diminuído, ou melhor, suprimido, é o açúcar.
Açúcar pela contramão
Este tópico ficaria melhor escrito pelo Dr. Jacintho Leite Aquino Rego , psicoproctologista de fama internacional que escreve na coluna humorística
Agamenon , no jornal O Globo... Antigamente, quando um doente estava nas últimas, tão mal a ponto de não mais
poder alimentar-se pela via natural, isto é, pela boca, a criatividade médica desenvolveu a
arte de introduzir alimentos pelo reto - no bom sentido, como diria o Dr. Aquino Rego . Ninguém deve pensar, todavia, que seja possível alguém sobreviver indefinidamente sendo
alimentado pela contramão do tubo digestivo.
A parte do alimento aproveitada pelo reto, segundo especialistas, é de
aproximadamente um quarto do total. E o tratamento não se poderia prolongar por mais
de dez dias sob pena de perda de eficácia. A eficácia dos clisteres alimentícios era muito
relativa e, segundo o Dr. Adamastor Barboza, sua valia é menos material que moral e
visava proporcionar a paz de espírito àqueles que, se vendo privados de alimentação per os
(pela boca), temem deperecer por carência alimentar . 129
129 Barbosa, Adamastor. Regimes e doenças. Rio de Janeiro: Ed. Leite Ribeiro, 1923, p. 277.
Pelo ânus, através de sonda de borracha mole lubrificada com azeite, introduzia-se
tudo o que é tipo de alimento: gema de ovo, leite, sal de cozinha, vinho, amido e, claro, açúcar. Não aleatoriamente mas obedecendo a fórmulas prescritas por especialistas. Não
obstante havia um porém: o açúcar não podia ser usado em concentrações maiores que 10
a 15 gramas para cada 300 cc de líquido, sob pena de atuar como irritante da mucosa
intestinal. Mesmo assim, após a administração de açúcar via retal era comum acontecer o
aparecimento de glicosúria (açúcar na urina). Mas o doutor Adamastor sai em defesa do
açúcar: Não cuidemos que haja diabetes, isto é devido a que a penetração do açúcar na
economia se dá em parte pela veia hemorroidária inferior, a qual, como sabemos, não é
tributária do sistema porta . Resumindo: o tubo digestivo começa na boca e termina no ânus. Na entrada, isto é, na boca, o açúcar provoca cárie dentária; chegando ao estômago, tem o dom de irritar as
mucosas gástricas e acidificar o bolo alimentar, provocando uma série de distúrbios na
digestão. A carga de calorias inúteis adicionadas pelo açúcar vai bagunçar o funcionamento
do sistema endócrino, forçando a produção de insulina extra. No duodeno o açúcar pode
ser responsável por diarréias provocadas por desequilíbrios osmolares. E na reta final, ou
melhor, no reto, finalmente o açúcar irrita as delicadas mucosas do ânus, como acabamos
de ver. Moral da história: o açúcar é um pó branco que faz estragos na entrada, no interior
e na saída do tubo digestivo.
Finalizamos parafraseando o famoso pensamento do Dia, quer dizer, do Globo da
coluna Agamenon : Açúcar nas hemorróidas alheias é refresco
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