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quinta-feira, 2 de junho de 2016

CAPÍTULOS DE 4 A 6 DO LIVRO NEGRO DO AÇÚCAR (GRUPO 2)

A EXPANSÃO DO IMPÉRIO DO AÇÚCAR
De dois quilos de açúcar por ano passou-se a 80 quilos por pessoa por ano, em apenas onze
gerações. Esta pode ser talvez a mais drástica mudança dietética na evolução do homem em seus 50
milhões de anos de existência.
Robert Atkins
O açúcar começou sendo usado como uma droga exótica em pequeníssimas
quantidades pela classe dominante. Hoje é o novo ópio das grandes massas (dos
intelectuais também). Esse processo expansionista teve início no século XV e vem até os
dias de hoje num crescendo inexorável.
O açúcar começou a deixar de ser uma droga rara vinda de longe depois que
espanhóis e portugueses começaram a produzir açúcar nas ilhas Canárias e da Madeira. A
partir de 1450 o preço do açúcar começou a baixar à medida que aumentava a oferta de
açúcar. Com o advento do açúcar colonial, segundo Edmund Lippmann, menos de um
século bastou para que o açúcar se tornasse um produto mundial.
O primeiro passo na escalada do açúcar rumo ao domínio mundial ocorreu com a
transição do seu estatuto de remédio para o de sobremesa e tempero: quando saiu das
mãos de boticários e alquimistas para as mãos de cozinheiros e confeiteiros. Os doces finos
de Veneza, os pastéis e o maçapão português, a douração do próprio açúcar ocasionou uma
mania de açúcar na Europa. Não obstante ainda era objeto de desejo de nobres e
burgueses.
A extensão do consumo de açúcar às massas ocoreu a partir de meados do século
XVII com a introdução na vida cotidiana dos europeus de três bebidas de origem tropical:
o chá da Índia, o café e o chocolate. Três bebidas amargas que revelaram-se grandes
transportadores de açúcar para a barriga da humanidade e ajudaram a popularizar e
expandir os domínios do açúcar.
O passo seguinte rumo a situação quase totalitária dos dias de hoje, ocorreu após a
revolução industrial que permitiu o refinamento, processamento e o adoçamento dos
alimentos já nas fábricas. O século XIX assistiu o nascimento da Coca-Cola que deu
origem à família dos refrigerantes que hoje são os principais transportadores de açúcar para
o ventre da raça humana.
E a ditadura do açúcar não se limita a um açucaramento do que entra pela boca. O
açúcar é um produto químico versátil e polivalente que se expande por outros setores da
vida moderna. Com ele se produz plásticos, cosméticos, agrotóxicos, cimento, tinta, ácidos
de todos os tipos e até um adoçante artificial. Desejo que a sucroquímica desenvolva até o
limite todas as possibilidades de aplicação da sacarose. Agora, faço questão de que saia da
mesa. Foi ela, a sacarose refinada, que transformou a mesa da humanidade nessa ração
patogênica que aí está.
Nas páginas que se seguem veremos alguns passos do avanço dessa ditadura.
A magia do açúcar
Sinergia é a única palavra que encontro para explicar o sucesso avassalador do
açúcar. O processo através do qual o açúcar conseguiu literalmente impregnar a vida da
humanidade. A forma a que o açúcar chegou - um pó branco e doce - é muito sedutora
e logo-logo desbancou o mel de abelha, que até o advento do açúcar refinado adoçava a
boca da humanidade. Todos conhecem os inconvenientes do mel que mela tudo. Além
das vantagens práticas, operacionais e econômicas em face do mel, coisas mágicas ajudaram
a civilização do açúcar a chegar ao seu apogeu.
A primeira coisa mágica a que me referi é o algodão doce - açúcar puro aquecido
e aerado. Com um instrumento desses os traficantes de açúcar seduzem nossas crianças
transformando-as nas legiões de viciados em açúcar em que se constitui o povo da
civilização do açúcar.
Derreta o açúcar por meio de aquecimento até o ponto de xarope, depois resfrie e
você tem a bala. Balas às quais se acrescentam sabores, qualquer sabor, balas de tamarindo,
de erva doce, docinhas, azedinhas, geladinhas etc. Continue aquecendo o açúcar até uma
temperatura mais alta ainda que você chega ao caramelo
EU QUERO CARAMELO!
Sem comentários.
E a maçã do amor? Mesmo depois de ter comido a maçã natural Eva bem que
poderia perfeitamente aproximar-se de Adão com uma maçã do amor espetada num palito
e sussurrar no ouvido dele o verso de uma canção antiga:
EU TENHO UM PECADO NOVO
E QUERO PECAR CONTIGO.
Restaria a Deus sair correndo, arrancando os cabelos, bater na porta do inferno e
pedir ajuda ao Diabo. A estrada que leva à perdição açucarada é larga, o cortejo de
guloseimas é infinito. E a estrada que leva à salvação da humanidade é estreita: há que se
comer arroz com casca, trigo integral, abóbora e batata, pão preto, tomar chá sem açúcar e
esquecer o pecado novo da Eva.
Em compensação você vai dar adeus às cáries, a obesidade e ao diabetes e vai curtir
o paraíso de viver com saúde - junto com uma Eva saradona, é claro.
O pão nosso que o diabo amassou
Se existe um alimento que poderíamos chamar de sagrado, é o pão. Não à toa pão
é sinônimo de alimento.
O pão existe há milhares de anos. Surgiu no Extremo Oriente e só chegou ao
Egito no tempo do Alto Império. Originalmente produzido sobre uma chapa de pedra
aquecida, depois usou-se uma grelha sobre carvões e só mais tarde é que surgiram as
formas de tijolo ou de barro. A padaria nasceu em Roma mas conheceu sua glória em
Portugal. A Enciclopédia e Dicionário Internacional, encontrável nos melhores sebos da
cidade, descreve assim a feitura do pão: Mistura-se a farinha com uma porção conveniente
de água que dissolve as partes solúveis (dextrina, glicose e sais) e faz encher, hidratando-as,
as partes insolúveis (amido e glúten); é assim que se forma, amassando-a,
convenientemente, uma massa homogênea. O processo de amassar na mão constitui ainda
hoje a regra geral, pois por esse processo obtém-se uma homogeneidade maior na massa do
que mecanicamente. A farinha é amassada na amassadeira à força de braços vigorosos.
Deita-se-lhe sal e fermento, começando depois a levedar e a crescer. Terminada a
fermentação faz-se os pães e levam-se a cozer .
O leitor deve ter notado que nessa história não entrou até agora o açúcar. Pão de
verdade se faz com farinha de trigo, água e sal; e o fato de o pão ser um alimento
fundamental da raça humana, em todos os rincões do planeta, fez de sua adulteração com
sacarose uma conquista de importância estratégica para a implantação da civilização do
açúcar O pão, hoje, é um dos fatores principais no projeto de viciar toda a população no
gosto do açúcar.
Hoje uma padaria moderna é um festival de açúcar; não é à toa que se chama
padaria e confeitaria . E é um ícone da civilização do açúcar, com seus sonhos e pães doces
que podem conter a cifra absurda de até 60% de açúcar.
Por falar em confeitaria, a ditadura do açúcar já estendeu seus tentáculos a todo o
universo do pão: têm açúcar o pão doce e o pão de sal, como o pão de forma e o pão
árabe, e, se bobear, até o pão ázimo dos judeus.
O açúcar transformou o pão nosso de cada dia no pão que o diabo amassou,
componente básico que é da ração patogênica que a ditadura do açúcar empurra goela
abaixo da humanidade.
Toda vez que você pegar um alimento industrializado no supermercado, leia as
informações nutricionais especialmente a lista de ingredientes. Os pães de fôrma sem
açúcar, por exemplo, (Firenze, Wickbold, Plus Vita etc.), fiéis à política da ditadura do
açúcar de diabolizar a gordura e livrar a cara do açúcar, em seus rótulos dizem que o pão é
sem gordura e sem açúcares ou com baixos teores de gordura.
Tais pães são tidos por dietéticos, mas isso é uma inversão de valores. Em
princípio nós, a turma do Açúcar zero, queremos o pão normal e não adulterado pelo
açúcar.
Dizer que o pão não contém açúcares é uma informação mentirosa. Se o pão é
feito de trigo e a gente sabe que trigo é um polímero de glicose e glicose é um tipo de
açúcar, logo, é impossível um pão sem açúcares . O certo é dizer que o pão não contém
açúcar e ponto final.
Aliás, mais certo ainda seria que o pão normal não mencionasse nada no rótulo e o
pão adulterado assumir que contém açúcar.
Gordura, repito, é alimento, e a deficiência de gordura no pão você corrige em casa,
passando manteiga.
Chocolate com pimenta
Em 1520 Montezuma, imperador asteca, mandou servir ao invasor espanhol,
Hernan Cortez, uma estranha bebida. Essa bebida, desconhecida no Velho Mundo, era o
chocolate, chamada pelos astecas de Kaj-kab ou Kakahuatl (água de cacau). A bebida
obtinha-se a partir da torrefação e trituração das sementes de cacau entre duas pedras.
Havia duas versões do chocolate, uma doce, com mel de abelhas, e outra aromatizada, com
pimenta vermelha. Os astecas conheciam também a baunilha, usada para melhorar o
paladar do chocolate.
Os espanhóis levaram a novidade alimentícia do Novo Mundo para a Europa e lá o
chocolate foi adulterado: acrescentaram o açúcar e tiraram o mel. Isso ainda no século XVI
. Essa operação desastrosa para a humanidade foi um momento importante do avanço da
ditadura do açúcar devido à enorme popularidade alcançada pelo chocolate.
Depois da Espanha, onde surgiu a primeira fábrica em 1580 e a fórmula da bebida
era segredo de Estado, o chocolate chegou à Itália em 1606.
Maria Tereza, esposa de Luiz XIV da França, servia a bebida na Corte. Na
Inglaterra a primeira casa de chocolate surgiu em 1657: por essa época o chocolate já era
uma bebida popular na Holanda. Em 1828 o holandês Joannes Van Houten inventou um
método de extrair a manteiga de cacau e na segunda metade do mesmo século nascia o
chocolate ao leite , resultado da mistura de leite condensado e chocolate.
O chocolate originalmente, como vimos, era sem açúcar, temperado com mel,
baunilha ou pimenta.
A quantidade de açúcar que leva o chocolate ao leite é um mistério tão grande
quanto a quantidade de açúcar do leite condensado.
O chocolate contém - muitos conhecem porque a propaganda é muito grande -
uma substância chamada teobromina. Esse alcalóide, dizem, aciona a serotonina, um
neurotransmissor do cérebro que dá um barato , daí a figura do chocólatra, o viciado em
chocolate.
O açúcar do chocolate se esconde atrás da teobromina. É um caso típico de gato
escondido com o rabo de fora. A quantidade de teobromina na pasta de cacau é de 1,25%;
a do chocolate é menor ainda. E a quantidade de açúcar é de aproximadamente 50%. O
açúcar também desequilibra a produção de serotonina e é formador de hábito. Como saber
se o barato do chocolate deve-se à teobromina ou ao açúcar?
Segundo a indústria da doença, o problema do chocolate não é o açúcar e sim a
gordura. Daí a existência de chocolates dietéticos com baixos teores de gordura. O
chocolate original que os astecas consumiam era feito com manteiga de cacau e tudo, e eles
eram fortes e saudáveis.
A gordura, como vimos, é o boi de piranha da civilização do açúcar. Quando a
Globo pôs no ar uma novela chamada Chocolate com Pimenta cheguei a imaginar se isso
seria indício de alguma volta às origens do chocolate, sem açúcar. Mas é exatamente o
contrário: a divulgação da novela era acompanhada por uma onda de receitas de pratos
adocicados feitos com arroz, massa ou feijão e chocolate. Algumas eram difundidas no
programa de Ana Maria Braga. O objetivo é o avanço da ditadura da dieta açucarada.
Você sabia que dos três tipos de chocolate em barra disponíveis no mercado, o
comum, o diet e o branco, um é adulterado, o outro é falsificado e o terceiro nem chocolate
é?
Já vimos que o chocolate original descoberto pelos Astecas era feito com mel; o
chocolate que nós conhecemos foi adulterado com açúcar. A quantidade de açúcar usada
na fabricação de chocolate, segundo um antigo manual de Bromatologia, do professor
Alberto Coelho Magalhães Gomes, chega a 48%.
Para fabricar um chocolate dietético a Nestlé, ao trocar a montanha de açúcar que
adultera seu chocolate por uns pingos de adoçante químico, aproveitou o ensejo para
adicionar aveia ao chocolate. Chocolate com aveia, ainda segundo o manual de
Bromatologia, é chocolate falsificado.
Quanto ao mal denominado chocolate branco, não passa de manteiga de cacau com
leite e açúcar. É uma mentira. E não pode sequer ser chamado de chocolate.
Voltando ao manual de Bromatologia: ele menciona uma lei brasileira da época - o
livro é de 1927 - segundo a qual não era permitido que se chamasse de chocolate um
produto contendo mais de 68% de açúcar. Conhecendo bem o capitalismo selvagem
brasileiro, certamente essa lei foi feita para impor um limite no teor de açúcar adicionado
ao chocolate. Esse teor altíssimo ainda é mantido por resoluções atuais da Anvisa.
A revista Veja na edição 1836, de janeiro de 2004, traz matéria sobre chocolates
finos, coisa de gourmets. Diz que é modismo, mas que muitos estão dando ao chocolate o
mesmo tratamento que a vinhos finos: um objeto de prazer gustativo . Os produtores
desses chocolates artesanais chamam-se chocolatiers e os produtos são vendidos em
chocolaterias finas a preços altíssimos. O mais caro custa 180 dólares o quilo. Ficamos
sabendo por essa matéria que o chocolate que nós, o povo, consumimos, em vez de
manteiga de cacau é feito com gordura hidrogenada; a baunilha é sintética, feita
provavelmente de petróleo; e usa-se também na fabricação até parafina e, menos mal,
farinha de trigo Na produção em escala utiliza-se também margarina, óleo de coco ou
azeite de dendê.
Quem denuncia é o chocolatier americano Clay Gordon.
Agora o melhor da festa: os chocolates preferidos dos gourmets são os amargos, que
têm entre 60% e 85% de massa de cacau e quase nada de açúcar . E no quadro Como
identificar um bom chocolate , a Veja afirma que os produtos de má qualidade costumam
exalar açúcar e que os piores têm nódulos ou cristais de açúcar .
E finalmente, a propósito do assunto chocolate, não poderíamos deixar passar em
brancas nuvens um detalhe estelionatário. Alguém aí sabe a quantidade de açúcar do
Nescau ou do Toddy? Uns 70%? Um quilo de açúcar se compra com menos de um real;
como pode 400 gramas de um achocolatado desses custar o que custam? O consumidor
incauto paga chocolate e leva açúcar para casa. O movimento Açúcar zero convoca os
verdadeiros amantes do chocolate a fazer uma campanha para impedir legalmente que se
chame de chocolate a essas porcarias açucaradas que nos são impostas. Enquanto isso não
acontece quem quiser chocolate de verdade deve procurar o pó que é vendido com o nome
de cacau, a Behring fabrica. Lojas de produtos naturais também têm para vender, pena que
é mais caro.
O leite da moça
Alguém aí sabe qual a quantidade de açúcar presente no leite condensado?Nem eu.
Segundo o compêndio de Bromatologia do Dr. Alberto Coelho Magalhães Gomes o leite
condensado é o leite de vaca de que se retirou grande parte da água por meio de
evaporação em baixa temperatura até a redução de seu volume a 20 ou 25% do volume
original. Ainda segundo o livro, o açúcar é misturado ao leite antes da evaporação na
proporção de 13 a 15%.
Não sou bom de matemática mas, se misturarmos 15% de açúcar numa quantidade
qualquer de leite e depois reduzirmos esse volume, por evaporação, em quatro quintos
esses 15% se transformam em 75%. É muito açúcar! O Dr. César Pernetta, na obra
Alimentação da Criança, diz que não convém prescrever diluições inferiores a 1 por 5, sendo
preferível a diluição a 1 por 4. Se o objetivo da diluição é reconstituir o leite original, o
parâmetro do Dr. César está de acordo com o do livro de Bromatologia. Embora o
próprio Dr. César Pernetta tenha dito em seu livro que o leite condensado contém entre 40
e 45% de açúcar.
Para esclarecer o assunto resolvi tirar a dúvida com os próprios fabricantes e escrevi
para o serviço de atendimento ao consumidor dos fabricantes das marcas Moça, Glória e
Parmalat. Costumo dizer o que o tema açúcar é um tabu. Pois bem: Leite Moça e Leite
Glória ficaram em silêncio. Vejam a resposta da Parmalat:
CaroFernando
Recebemos o seu e-mail com muita satisfação e, em atenção ao seu questionamento, esclarecemos
que uma porção de 30gdeLeiteCondensadoParmalat contém 16,0gde carboidratos. Não dispomos da
quantidade separadamente de lactose (açúcar natural do leite) e de sacarose. Entretanto lembramos que a
Parmalat não dispõe de leite condensado indicado para diabéticos, ressaltamos que é preciso buscar
orientações de médicos ou nutricionistas.
Agradecemos seu contato econtinuamos à disposição .
A conclusão que tirei é que o leite fornecido à Parmalat deve ser oriundo de vacas
transgênicas que já dão leite açucarado, e que para saber a quantidade de sacarose do leite
condensado terei que interpelar uma dessas vacas.
Quanto ao leite condensado para diabéticos, é compreensível que nem a Parmalat
nem a Nestlé o fabriquem. Produzir leite condensado para diabéticos exige muita
tecnologia. Basta evaporar o leite da vaca e não acrescentar açúcar.
Sendo a porcaria açucarada que é, não sei por que o leite condensado está isento da
obrigação de colocar no rótulo uma advertência de que é inapropriado para a alimentação
de lactentes, semelhante à advertência que consta nas latas de leite em pó. O ideal seria
aquele aviso de que o produto deve ficar fora do alcance das crianças. Na página da
internet bengalegal.com.br li o depoimento de um diabético que conta que contraiu a
doença quando, ainda criança, mamou uma lata de leite condensado.
A Nestlé colocou no mercado já há algum tempo o Leite Mocinha, um sacolé cheio de
leite condensado justamente para ser mamado por nossas crianças - um crime de lesahumanidade
que ninguém viu. E todo mundo sabe que basta aquecer a lata, ainda fechada,
do leite condensado para que ele se transforme em doce de leite. Ou seja, o leite
condensado nada mais é que um doce de leite derretido. Os argentinos estão brigando com
os brasileiros no Mercosul por causa disso: eles querem que o doce de leite contenha não
mais que 30% de açúcar.
A diferença entre o leite condensado e o leite em pó é que um é totalmente e o
outro parcialmente desidratado. Ambos necessitam ser misturados com água para voltar a
ter a forma original de leite de vaca. O leite em pó usado como substituto do leite
materno já causou muito estrago à raça humana, especialmente na África no século XX.
O leite condensado é muito mais perigoso que o leite em pó. Segundo o Dr. César
Pernetta, é evidente a inferioridade do leite condensado em relação aos leites em pó e
evaporado, em virtude da taxa elevada de açúcar que encerra .
O leite condensado possui todos os sólidos do leite de vaca, mas como é muito
grande a taxa de açúcar, 40 a 45%, não se pode em seu emprego atender às exigências de
proteínas e gorduras, sem sobrecarga apreciável de hidratos de carbono (leia-se açúcar).
Como tenho dito, o assunto açúcar é tabu. Vejam o malabarismo argumentativo do
Dr. César Pernetta: Assim, sua maior desvantagem não está propriamente no excesso de
açúcar, mas na deficiência relativa de proteínas e gorduras .
Mesmo assim, conclui o Dr. Pernetta, não se utiliza mais (leite condensado) na
alimentação do lactente sadio . 71
71 Pernetta, César. Alimentação da Criança. São Paulo: BYK-Procienx, 1979, p. 207.
Cerveja com açúcar
A cerveja é uma bebida muito apreciada pela humanidade. No Egito antigo, há
milhares de anos já se fazia um tipo de cerveja. Etíopes, hebreus, gregos e troianos, quase
todos os povos tinham suas cervejas. Cerveja pode ser feita a partir de diversos cereais.
Cerveja de verdade, porém, historicamente consagrada, é aquela que tem por base cevada e
lúpulo e, claro, fermento e água. A cevada é a substância transformada em álcool, o lúpulo
é o princípio amargo e a enzima saccharomyces cerevisiae transforma o amido da cevada em
álcool e gás carbônico.
O químico alemão Justus Von Liebig chamava a cerveja de pão líquido por saber que
em sua composição há diversas vitaminas e sais minerais.
A cerveja pode ser adulterada, ou melhor, fraudada, de diversas maneiras
utilizando-se outros cereais em vez da cevada, vide os cereais não maltados mencionados
nos rótulos de nossas cervejas (batata, milho, arroz); o glicerol que adocica é outro
adulterante. Há também o emprego fraudulento de sucedâneos do lúpulo.
Depois da revolução açucareira a cerveja tem sido assediada, para efeito de fraude,
por produtos derivados da cana de açúcar (açúcar invertido, melaço, caramelo). São os
carboidratos mencionados nos rótulos de nossas cervejas.
Mas essa avacalhação da cerveja não tem acontecido sem resistência. William Dufty
relata alguns episódios patrocinados pelos amantes da verdadeira cerveja ocorridos no
século XVII: Os provadores derramavam a bebida suspeita sobre um banco de madeira e
se sentavam bem em cima da poça com suas calças de fundilhos de couro. Decorridos o
tempo e a evaporação apropriados, o provador se levantava do banco. Se o derrière de
couro aderisse à madeira o fabricante estaria em apuros por ter adicionado açúcar à sua
cerveja. O cervejeiro descoberto adicionando açúcar à sua cerveja poderia ser atado a um
pelourinho ou expulso da cidade .72
Em 1516 no Estado da Baviera o monarca alemão Guilherme IV aprovou uma lei,
conhecida como Lei da Pureza, que determinava os ingredientes da cerveja. Essa lei está
em vigor até hoje na Alemanha, o único país no mundo a proibir por lei que se adultere
cerveja com açúcar. Um brinde a eles, Deutsche Bier über alles !
Infelizmente a cerveja devido à sua imensa popularidade é um dos principais
veículos usados pela ditadura do açúcar para encharcar a humanidade com o seu doce
veneno.
Como todo mundo está cada vez mais viciado em açúcar, os fabricantes de cerveja
devem ter percebido que quanto mais açúcar põem na cerveja mais vendem. Fica facilitada
a aquisição de legiões de consumidores de cerveja entre a juventude já viciada em
refrigerante. A galera troca uma porcaria adocicada por outra numa nice. Em tempo: eu já
havia escrito estas bem traçadas quando entrei no supermercado Pão de Açúcar em
Copacabana e descobri uma cerveja nova, brasileira, fabricada por uns excelsos lá de
Campos do Jordão, São Paulo. A cerveja chama-se Baden Baden e é fabricada segundo o
espírito da Lei da Pureza do Rei Guilherme IV. O rótulo menciona a existência de um
movimento mundial chamado The Craft Beer Renaissance, um movimento contrário à cupidez
72 Dufty, W. Op. cit., p. 36.
capitalista que avacalha com a cerveja usando açúcar. Desnecessário dizer que eu vibrei e
me emocionei e imediatamente desejei a esses valorosos brasileiros todo o sucesso do
mundo.
Convoco os amigos leitores, amantes de cerveja de verdade, a honrar a alvissareira
Baden Baden com sua preferência .
Sugiro também o lema da versão brasileira do Craft Beer Renaissance: Água suja de
açúcar, não. Queremos cerveja!
Barriga de cerveja
O caderno Jornal da Família de O Globo de 23 de novembro de 2003 trata em
matéria de capa do assunto cerveja e barriga. Os dois títulos: Cerveja não dá barriga e A
genética é a culpada .
O motivo da matéria foi uma pesquisa realizada por cientistas britânicos da
University College of London na República Tcheca envolvendo mais de 2.300 bebedores
de cerveja, entre homens e mulheres. As felizardas cobaias tchecas bebiam entre um e sete
litros de cerveja por semana e não desenvolveram barriga nenhuma. Os cientistas
britânicos concluíram que cerveja não dá barriga.
Mas como aqui no Brasil os brasileiros baseados no senso comum e na observação
sabem que cerveja dá barriga, a reportagem de O Globo, sempre citando autoridades e
personalidades, arranjou uma série de hipóteses e explicações para as concretas barrigas dos
brasileiros.
As causas apontadas eram as mais variadas, dependendo do personagem
consultado: ora era genética, ora a culpa era do tira-gosto. Para a cervejetariana Bia Paes
Leme, por exemplo, não se deve misturar sólidos e líquidos. E finalmente, como era de se
esperar, foram lembrados os bodes expiatórios de sempre - a gordura e o estilo de vida
sedentário.
Um tema tão interessante: cerveja, barriga, obesidade. E o açúcar, mais uma vez,
ficou de fora.
Será que a cerveja tcheca usada na pesquisa era cerveja mesmo ou essa água suja de
açúcar que aqui no Brasil chamam de cerveja? Sou capaz de apostar que era cerveja de
verdade.
Logo, a conclusão dos cientistas britânicos devia precisar: cerveja sem açúcar não
dá barriga.
Será que Zeca Pagodinho, lembrado na reportagem, sabe que ingere açúcar junto
com a cerveja que ele bebe? Será que o Cícero Pestana, roqueiro do conjunto Dr. Silvana,
sabe que quando bebe cerveja com pizza lambrecada de catchup e mostarda ele ingere açúcar
quatro vezes? Porque o açúcar está presente na cerveja, na massa da pizza, no catchup e na
mostarda?
No Brasil quem bebe cerveja e usa tira-gostos tipo pizza, lingüiça, nugetts, presunto
ou qualquer outra carne embutida, biscoitos salgados, amendoim japonês, todos
conspurcados com açúcar, em vez de estar se divertindo e comemorando a vida está, na
verdade, lentamente praticando suicídio.
Agora, a matéria em questão traz, é bem verdade, uma informação preciosa sem
citar a fonte, provavelmente um dos médicos consultados. No quadro sobre tipos de
barriga está dito que o barrigão tipo avental, aquela barriga flácida e que chega a dobrar por
cima da calça, resulta do consumo excessivo de doces e pudins. Confortou-me ler isto,
posto que defendo que obesidade não é doença. Uma pessoa pode ser gordinha ou
gordona e ser saudável. A pessoa gorda mórbida é a consumidora da dieta açucarada
moderna - o açúcar branco é o causador da gordura branca patológica. Quem não come
açúcar e é bom de garfo acumula gordura marrom, uma gordura saudável, vascularizada,
comum em bebês e esquimós.
Vinho com açúcar
Todos nós, brasileiros, estamos acostumados com os vinhos seco, suave e rascante;
há também o demi-sec. Nunca fui de beber muito vinho; minha bebida preferida era a
cerveja. Tinha pra mim que os homens preferiam vinho seco e as mulheres vinho suave.
Os muito machos, ficavam com o rascante. Depois que fiquei diabético e passei a me ligar
nessas coisas é que vim a descobrir que vinho suave é vinho com açúcar.
O suave aí é um termo enganador. O açúcar misturado a uma bebida alcóolica a
torna mais pesada, indigesta e capitosa (sobe à cabeça mais facilmente) e a ressaca é pior.
Vinho de verdade é uma bebida obtida por fermentação de uvas - e só. Açúcar no
vinho é apenas mais um capítulo da história do avanço da ditadura do açúcar.
Vinho com açúcar é vinho adulterado. Como diria um bravo português chamado
Paulo Carvalho que briga lá na Europa contra a presença de açúcar no vinho: Se entrar
açúcar não é vinho .
No Brasil, que segundo o General De Gaule não é um país sério, o uso de açúcar
pelos fabricantes de vinho era regulamentado pela Lei 6.678, de 8 de novembro de 1988.
Em fins dos anos noventa do século que findou tramitava na Câmara dos Deputados um
projeto de lei que pretendia dar maiores possibilidades de correção do mosto em
fermentação . A redação proposta para alterar trecho da lei vigente dizia: Ao mosto em
fermentação poderão ser adicionados, alternativa ou cumulativamente, álcool vínico, mosto
concentrado, sacarose e xarope de sacarose invertida .
O argumento usado para fundamentar o uso de açúcar no vinho era para corrigir
deficiências de açúcares na uva . Quem assinava esses argumentos era a Embrapa. Puro
cinismo: o Brasil, país no qual o sol é abundante, tem uvas mais doces que a Argentina ou
o Chile. A verdade é a cupidez do empresário brasileiro. O açúcar é um produto químico
barato que acelera a fermentação, e tempo no regime capitalista é dinheiro.
A avacalhação do vinho com açúcar teve início em 1799 e chama-se chaptalização,
em homenagem a seu inventor Jean-Antoine Chaptal. O uso de açúcar no processo de
vinificação criou um problema que não havia no processo clássico de fabricação do vinho.
O açúcar provoca um tremendo tumulto dentro das cubas de fermentação: a fervura
provocada eleva a temperatura, o que estragaria o vinho e interromperia a fermentação.
Para que as cubas não venham a explodir elas são envolvidas com tubulações de etilenoglicol
ou água gelada.73
73 Viotti, Eduardo. Guia dos vinhos brasileiros 2003. São Paulo: Market Press, 2002, p. 13.
Não sei se foi aprovado esse Projeto de Lei que alargava ainda mais o espaço de
intromissão do açúcar onde ele não foi chamado. Em se tratando de Brasil, provavelmente
foi. Mas nem tudo está perdido graças ao Mercosul. Acontece que argentinos e chilenos
não permitem por lei a adulteração de seus vinhos com açúcar e o Mercosul propôs como
objetivo a ser alcançado pelo Brasil parar com essas práticas.
É por isso que os vinhos argentinos e chilenos são apenas tinto ou branco, não têm
essa palhaçada de suave, seco etc. É por isso e por outras que os argentinos nos chamam
de macaquitos neste caso, com razão.
Hoje só bebo vinho argentino ou chileno. Por até menos de 10 reais encontramos
várias marcas de vinhos desses países nos supermercados ou casas especializadas.
Quanto aos vinhos brasileiros, os mais baratos suaves ou secos são honestos o
suficiente para colocar no rótulo, entre os ingredientes, açúcar ou sacarose. Os de cinco
reais para cima só admitem a presença de açúcar no tipo suave - convenhamos, vinho
seco com açúcar só pode ser o samba do crioulo doido do Stanislaw Ponte Preta. O uso de
açúcar deve melhorar o fluxo de caixa de quem fabrica o vinho doce mas prejudica as
qualidades organolépticas do produto final. Provavelmente é o lixo químico do açúcar que
torna o vinho nocivo à saúde. Os médicos pedem que se reduza o consumo de vinho a
uma taça pequena por dia quando vinho, desde os tempos de Jesus Cristo é uma bebida
que se bebe em caneco.
Açúcar para cachorro
Recentemente descobri que a carne enlatada para cachorros e gatos não contém
açúcar. Já sabia que carnes embutidas em geral - lingüiça, salaminho, mortadela, blanquet de
peru, presunto etc. -, para uso humano, incluem açúcar. Acabo de examinar o rótulo de
um produto da Nestlé à base de carne, para cachorro. A mesma empresa que quer que
nossas mulheres grávidas consumam porcarias feitas com Leite Moça evita dar açúcar a
cães e gatos. Qual a razão desta discriminação? Tenho para mim que a explicação é a
seguinte: se puserem açúcar na ração dos bichinhos, das duas uma: ou eles recusarão ou
comerão e sofrerão as conseqüências - os dentes estragarão, ficarão obesos mórbidos e
morrerão.
A política da indústria da doença para os animais é diferente da que é usada para os
seres humanos. Darcy Ribeiro morreu convicto de que ia virar pó e não um fantasma
errante a voar por aí. Mas ele continua vivo no que nos deixou, quando disse que no Brasil
não se encontra nenhuma galinha abandonada. Mas encontram-se crianças abandonadas
nas ruas.
A nutricionista Rebeca de Angelis teve sua atenção chamada para o fato de os
bichos estarem sendo melhor alimentados que as pessoas e escreveu: "Precisamos alertar a
todos no sentido de oferecer ao homem uma alimentação de acordo com suas necessidades
e suas atividades. Os veterinários e zootecnistas podem nos ajudar nessa tarefa .74
O líder comunista Luiz Carlos Prestes, quando esteve preso durante o Estado
Novo, foi submetido a tratamento degradante. Seu advogado, o Dr. Sobral Pinto,
74 Angelis, R. Op. cit., p. 18.
entendendo que nem os bichos mereciam tal tratamento, apelou para a Lei de Proteção aos
Animais. Vou considerar a possibilidade de apelar à Suipa, animal racional que sou, e
requerer igualdade de direitos com os animais irracionais que estão tendo o privilégio de
comer carne sem açúcar, ficando de fora da dieta açucarada patogênica que é imposta aos
seres humanos.
Picadinho açucarado
Tomate, cebola e alho com açúcar - O açúcar decididamente já tomou de
assalto a mesa da humanidade. Outro dia, numa lanchonete de comida árabe, interpelei o
garçom e ele confessou que a cebola frita leva açúcar para ficar com aquela corzinha de
caramelo. Ainda na lanchonete leio os rótulos dos vidros de molhos de alho e de
mostarda, todos mencionavam açúcar e até o molho de pimenta também entrou na dança.
Vinagrin - A amiga leitora tem vinagre em casa? Pensa que tem, é claro.Vá lá na
cozinha e confira, veja se é vinagre mesmo ou se está escrito em letras que não se destacam
no rótulo o neologismo agrin. Trata-se de uma nova porcaria produzida pela indústria de
açúcar. Quero meu velho vinagre de volta, feito de vinho fermentado.
Pizza, catchup e mostarda - Quem entra numa pizzaria e come pizza com
catchup e mostarda e toma uma Coca-Cola, talvez não saiba mas comeu açúcar quatro vezes:
na própria pizza, no catchup, na mostarda e na Coca-Cola. A ditadura do açúcar tem
vocação totalitária.
Pizza de chocolate - Não bastando o fato de a pizza normal já estar adulterada
pelo açúcar, os homens resolveram radicalizar com a pizza doce. E o marketing é peso
pesado: Faustão e Jô Soares têm se encarregado de propagandear a nova porcaria
açucarada. Nós, do movimento Açúcar zero, recomendamos a velha pizza salgada,
completamente isenta de açúcar e temperada com azeite de oliva.
Pão de batata - Outro dia, numa lanchonete Rei do Mate da vida, perguntei ao
caixa se o pão de batata com recheio de queijo cheddar continha açúcar. Ele fez uma cara de
espanto, pensou e disse que achava que não. Como eu disse que achava que sim ele pediu
a um colega para ir à geladeira e trazer o saco plástico com o bicho ainda congelado. Não
deu outra: pão de batata inglesa com recheio de queijo é recheado também de açúcar.
Nessas mesmas lojas o mate servido normalmente já vem açucarado; o anormal sou eu, que
quero sem açúcar.
Molho shoyo - A fórmula original do molho shoyo, tradicional molho de soja da
cozinha asiática, não incluía açúcar. O molho shoyo também entrou na dança do
açucaramento da cozinha da humanidade imposto pelos traficantes de açúcar. Esse molho,
vendido aos brasileiros nos supermercados, está adulterado pelo açúcar. Já deixei de comer
pratos japoneses, sushi, sashimi, por causa disso. O shoyo da marca Sakura tem uma versão
light sem sódio . Os fabricantes deveriam ter três versões do molho: a tradicional, sem
açúcar, uma versão açucarada e outra sem sal. Mas no mundo orwelliano em que vivemos é
capaz de quando surgir a versão sem açúcar ela ser chamada de diet, como se o normal
fosse a versão açucarada.
Amendocrem - Pasta de amendoim, o tradicional peanutbutter, é obrigatório na
mesa do americano. Lá na metrópole o cidadão pode escolher se quer a iguaria com ou
sem açúcar. Os supermercados de lá têm até máquinas de moer o amendoim na hora.
Para os aborígenes daqui, o fabricante só empurra a versão açucarada.
Carne de charque com açúcar - Carne sem gordura e com açúcar. Como
diriam alguns, é um pouco demais . De fato, a ditadura do açúcar acho que dessa vez foi
longe demais. Nos supermercados encontram-se à venda, acondicionados em embalagens
plásticas, pedaços de carne seca ou de charque, só que encharcados de açúcar em vez de sal.
O nome do produto é Jerky Beef. Devia chamar-se Junk beef (porcaria de carne). Os
fabricantes querem que você coma essa coisa a qualquer hora do dia como quem come
pipoca.
Algodão doce - Corre, corre, corre, curriola, vem chegando algodão doce,
algodão doce são os versos de uma alegre musiquinha para crianças tocada nos intervalos
do programa infantil de televisão de Daniel Azulay. Algodão doce é açúcar puro.
É triste ver crianças atracadas com um palito com aquela couve-flor de açúcar
colorida . Açúcar e corante, nada mais.
Bem que a vaquinha Gilda poderia fazer um abaixo-assinado, pedindo ao Daniel
Azulay para mudar a letra da música e pedir à curriola para fugir da cárie dentária e da
obesidade infantil evitando o algodão doce. Foge, foge, foge curriola...
Biscoitos de polvilho - Quem freqüenta as praias do Rio de Janeiro ou o trem
da Central do Brasil conhece e já comeu biscoitos de polvilho da marca Globo. Têm duas
versões, doce e sal , como anuncia o vendedor ambulante. São umas rosquinhas tão
leves que quando mastigadas dissolvem e desaparecem na boca, e não enchem a barriga de
ninguém. Desde meus dezesseis anos que consumo a guloseima e sempre preferi a versão
salgada. Outro dia, lendo as informações sobre os ingredientes do biscoito, vi que o sabor
salgado levava açúcar.
Descobri, trinta anos depois, do alto do meu diabetes mellitus, que o direito de você
escolher entre sal ou açúcar não existe.
Inulina - Inulina é um polímero de frutose, encontra-se na raiz de alcachofra e no
dente de leão. É produzida industrialmente a partir de sacarose. Nos supermercados já
existe, à venda, leite longa vida com fibras . Essas fibras são a tal da inulina. Teria sido
extraída da alcachofra ou é um polímero obtido da sacarose? Fibras sintetizadas em
laboratório e adicionadas ao leite. Parece-me um tanto absurdo. Quem quiser fibra no
leite pode adicionar germe de trigo, farelo de aveia ou de trigo, com a vantagem de estar se
alimentando. Essa inulina aí, aposto, não deve significar nada. É apenas mais um passo no
avanço da ditadura do açúcar.
Isomaltulose É um tipo de açúcar presente em estado natural no caldo da cana.
Industrialmente é obtido a partir da sacarose com uma ajudinha da mesma enzima que
trabalha na formação da cárie (glicosil-transferase) e utilizado na fabricação de doces e
chicletes.
Homeopatia Será que os adeptos dessa medicina sabem que os glóbulos
homeopáticos os pellets são preparados a partir de uma mistura de sacarose com
lactose? E que a forma preferida, no caso de medicação para crianças, contém apenas
açúcar?
Sucralose - O caçula dos adoçantes artificiais é feito de uma mistura de açúcar
(você não tem para onde fugir) com o princípio ativo da água sanitária. Patenteado pela
Johnson & Johnson, o processo consiste na troca de três grupos de hidrogênio-oxigênio da
molécula da sacarose por três átomos de cloro.
Creme dental - Algumas marcas são adoçadas com açúcar-alcool especialmente o
xilitol, mas algumas marcas dirigidas às crianças usam açúcar mesmo. Adoçar creme dental
justamente com o substrato com o qual a cárie é produzida, dá para entender?
Cigarro Um capítulo de Sugar blues é sobre cigarro e açúcar. O homem branco
aprendeu a fumar com os índios. Só que o tabaco usado no cachimbo da paz dos índios
não era curtido em solução açucarada. William Dufty cita pesquisas que notaram que em
países que não usam açúcar no fabrico de cigarros os casos de câncer são menores.
Vitamina de abacate Nossos vizinhos latinoamericanos usam abacate em
saladas temperado com sal e azeite. Adulterado com açúcar é coisa de brasileiro.
Xarope de milho - O velho e conhecido Karo, aquele que parece mel mas não é,
era obtido por hidrólise de amido de milho. Hoje o Karo é metade xarope de milho e
metade xarope de açúcar de cana. O xarope de milho é usado pela indústria de alimentos
para adoçar bolos, sorvetes, biscoitos. Só fornece calorias; nenhum nutriente.
Maionese - Segundo os dicionários, maionese é uma espécie de molho frio, feito
de azeite, vinagre, sal, pimenta, mostarda e ovos batidos. Ou pelo menos era assim. Hoje a
maionese comprada nos supermercados leva açúcar, certamente a título de conservante,
para diminuir a acidez e também para dar um gostinho doce, já que está todo mundo
viciado em açúcar.
Empada - O amigo leitor prefere empada de frango, de camarão, ou de palmito?
Agora tem mais duas opções: chocolate e Romeu e Julieta (goiabada e queijo). Este é talvez
o passo mais recente da ditadura da sacarose.
Milho e ervilha em lata - Dois outros exemplos do avanço do açucaramento da
dieta humana: aquela agüinha onde ficam afundados os grãos de milho ou ervilha (ou
picles) é água com açúcar.
Salmoura - Que pelo nome não se perca é aquela porção de água saturada de sal,
usada na conservação de carnes. A essa altura do campeonato acho que é desnecessário
dizer que algumas salmouras encontráveis nos supermercados estão subvertidas pelo
açúcar. É o fim da picada.
Lingüiça, mortadela e presunto - Açúcar na lingüiça!? É a reação espontânea da
maioria das pessoas quando são informadas de que carnes embutidas em geral incluem
açúcar entre seus conservantes.
Figo seco O figo seco é um troço melequento, mas todo mundo me dizia que é
apenas o fruto desidratado. Tentei no Google relacionar figo seco com açúcar mas não
conseguí. Finalmente numa delicatessen ví um pacote do produto importado e nas
informações nutricionais estava lá sugar . Mais de 50% do figo seco é açúcar do
açucareiro. Se não vivêssemos no reino do Big Brother a porcaria chamarse-ia doce de figo.
Essa lista é infindável. Praticamente todo alimento industrializado contém açúcar, a
títulos os mais variados, isso porque o açúcar é um produto químico muito versátil: ele
conserva, dá textura, dá cor (caramelo), é usado como excipiente, acelera ou retarda a
fermentação de pães ou o mosto de bebidas fermentadas - e até adoça. Os traficantes de
açúcar descobiram há um século que o açúcar adicionado aos alimentos industrializados é
mais fácil de ser empurrado goela abaixo da humanidade. Além de ser,segundo o maior
usineiro do mundo, 600% mais lucrativo que a venda de açúcar destinado ao açucareiro
doméstico.75
(Fazer tabela) Título: Distribuição da montanha de açúcar produzida no país.
Consumo direto: 65%; Indústria: 35%. Sendo: Refrigerantes 40%; Chocolates, balas
e biscoitos 31,5%; Alimentos 10%; Sorvetes 5%; Pães 5%; Vinhos 3%; Outros 4%; Frutas
1,5%.
A DITADURA EM AÇÃO
75 Rubens Ometto em entrevista à revista Exame de junho de 2005.
Em nossa época, fortes pressões comerciais afetam as convicções alimentares.
Dr. Herman Taller
Falsificação de sucos de frutas
Em um site da Geocities há um relatório da Altaga (Associação de Licenciados em
Ciência e Tecnologia de Alimentos da Galícia) sobre o problema da adulteração de sucos
de frutas por adição de sacarose. O texto considera falta de escrúpulos a adulteração e uma
deslealdade comercial suscetível de punição. Mas, bonzinhos, dizem que isso não chega a
constituir um problema de saúde pública e que eles estão interessados apenas no aspecto de
venda de gato por lebre. O texto diz que as alterações mais freqüentes são adição de água,
açúcares, frutos de valor comercial inferior, extratos secundários de frutos e corantes.
Segundo o relatório, quando a mistura de açúcares adicionada tem uma distribuição
de glicídeos semelhante à das frutas que dão origem ao sumo a adulteração não é detectável
pela análise do perfil de açúcares do produto final.
Os traficantes de açúcar usando métodos de hidrólise controlada obtêm xaropes de
sacarose e de amido de milho com teores desejáveis de sacarose, glicose e frutose. Dessa
forma é possível adulterar facilmente sucos de frutas uma vez que se consegue no caldo
adulterador as mesmas proporções dos açúcares naturais dos sucos. Adultera-se não
apenas sucos mas até polpas de frutas congeladas. O relatório discorre ainda sobre
sofisticadas análises de laboratório que permitem descobrir se houve adulteração mediante
detecção do teor de sorbitol, por exemplo, comparando-o com o teor normal da fruta.
Ainda segundo o relatório da Altaga, os açúcares adulterantes normalmente
utilizados são a sacarose, o xarope de milho rico em frutose (XMRF), o meio de açúcar de
cana invertido (MACI) e o meio de açúcar de beterraba invertido (MABI) .
A idéia dos traficantes de açúcar é adicionar os tais xaropes adulterantes aos sucos
de frutas industrializados e não mencionar isto nos rótulos e quiçá tascar um sem adição
de açúcar .
Uma vilania dessas não é só um problema de saúde pública; é um problema de
saúde moral da classe capitalista que não tem qualquer escrúpulo diante da possibilidade de
lucro.
A indústria da doença e a ciência
A página do jornal V alor Econômico na internet reproduz matéria divulgada pelo
Financial Times segundo a qual 13 das principais revistas médicas internacionais
denunciaram recentemente o crescimento da influência das multinacionais farmacêuticas
sobre as descobertas científicas e publicaram advertências de que grandes lucros estão
corrompendo os teste clínicos envolvendo seres humanos.
As revistas, entre as quais New England Journal of Medicine, Journal of American Medical
Association e publicações de outros países, alertaram, em editoriais publicados
simultaneamente, para o fato de essas grandes empresas fazerem uso de grupos de
pesquisas privados, sem vínculos com o meio acadêmico, denominados de Organizações
de Pesquisa sob Contrato. Tais organizações prestam serviços mais baratos e menos
independentes que as instituições acadêmicas.
Nos Estados Unidos, 60% das dotações de pesquisa do setor farmacêutico foram
destinados às CROs (sigla em inglês) em 2000. Segundo a denúncia, a supervisão dessas
Organizações de Pesquisas privadas é insuficiente para assegurar o grau desejável de
confiabilidade dos testes clínicos: Os resultados dos testes podem ser engavetados, em vez
de publicados, casa sejam desfavoráveis ao patrocinador do produto , advertem os
editorias.
Os críticos dessa prática receiam que vantagens financeiras comprometam a
objetividade dos cientistas e ponham os pacientes em risco.
Essa denúncia é feita no momento em que o setor farmacêutico está sendo
criticado por causa dos altos preços cobrados de países pobres por medicamentos
responsáveis por salvar vidas e está também sofrendo processos e tendo que recolher
medicamentos do mercado em virtude de problemas com efeitos colaterais de drogas para
obesidade, diabetes etc.
Tudo isso confirma o que já dissemos aqui: a indústria da doença tem em suas
mãos a ciência, os governos e a literatura, inclusive a científica.
Em todo caso a Associação Médica Americana exortou universidades e hospitais a
exigir que seus pesquisadores revelem todo e qualquer interesse financeiro que possam ter
em produtos que estão sendo submetidos a testes clínicos. As 13 publicações também
comprometeram-se a elevar seus próprios padrões de publicação e pesquisa. Meno male.
Segundo pesquisa realizada em 2002 no fim do mundo, isto é, na Finlândia, a
prática de uma dieta pobre em gorduras, sacarose e rica em fibras combinadas com
exercícios físicos pode evitar 60% de novos casos de diabetes. Tal combinação também
reduz a pressão sanguínea. O estudo foi conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde
Pública, da Finlândia, e acompanhou 500 finlandeses por um período de dois a seis anos.
O objetivo da pesquisa, a prevenção do diabetes, segundo o professor Jaskko Tuomilehto,
responsável pelo trabalho, não é um tópico sexy no mundo da pesquisa médica e, por mais
incrível que possa parecer, ninguém pede ou deseja financiar um estudo como esse ,
declarou ele à agência Reuters.
Um fato desses deixa claro como a ciência é um fator subordinado no sistema geral
da indústria da doença. Se o Dr. Tuomilehto ao invés de se preocupar com gordura
simplesmente eliminasse da dieta do grupo pesquisado a sacarose teria obtido, em vez de
60, 100% de sucesso.
A ditadura do açúcar e o aspartame
De acordo com a revista eletrônica do Departamento de Química da Universidade
Federal de Santa Catarina, a QMCWEB, o adoçante aspartame tem sido vítima de uma
campanha de difamação. Várias indústrias açucareiras espalharam na mídia e na internet
uma boataria sobre os grandes males provocados pelo aspartame. Centenas de spams, via
e-mail, chegam até hoje à redação do QMCWEB, alertando para os perigos do aspartame.
Na internet milhares de sites dedicam-se exclusivamente a incentivar o boicote ao
aspartame. Sem nenhum fundamento científico, estes boatos visam denegrir a imagem
deste adoçante que pode comprometer os lucros das usinas de açúcar , diz a revista. O
aspartame é um adoçante que se destaca por várias razões, entre elas: doçura semelhante à
do açúcar, não deixa sabor residual desagradável e, ao contrário do açúcar, retarda ou inibe
a formação de placa baceriana e a desmineralização do esmalte dos dentes. Essa
perseguição, pela ditadura do açúcar, ao aspartame tem origem remota. Em reunião de
dezembro de 1968, sob a égide da ONU, a Organização Internacional do Açúcar,
composta de 24 países entre exportadores e importadores de açúcar, aprovou um
documento no qual, entre seus objetivos, constava a observação atenta da evolução do
uso de ciclamatos e outros dulcificantes artificiais .76 Pelo visto a Internacional do Açúcar
não se limitou ao papel do papagaio na piada do português (na verdade uma coruja que
não falava mas prestava muita atenção).
Não obstante a denúncia o pessoal do QWCWEB tem a cabeça feita pela ideologia
do açúcar: muitas pessoas, por motivo de saúde ou estética, precisam evitar o consumo de
açúcar , diz o QMC . Não são apenas os doentes e os vaidosos que precisam evitar o
açúcar, Todos nós precisamos detonar o açúcar, produto químico nocivo à saúde. O
QMCWEB reclama que o Aurélio grafou carboidrato e defende que o correto seria
carbohidrato. Com isso demonstra, numa seara alheia, um rigor que falta na sucroquímica
quando diz que o açúcar que utilizamos em casa contém a sacarose . Errado: açúcar não
contém sacarose, açúcar é sacarose. A não ser que o QMCWEB pense conosco que sabemos
que açúcar contém 99,5% de sacarose e 0,5% de lixo químico fino.
A TROPA DE CHOQUE DO AÇÚCAR
Cavalo carregado de açúcar, até o rabo é doce.
Provérbio nordestino
76 Brasil/ Açúcar. Rio de Janeiro: IAA, 1972, Coleção Canavieira no 08, p. 174.
Quando o açúcar apareceu na vida da humanidade consideravam-no um sal
doce , espécie de mel de abelha em pó. É claro que foi bem recebido. Inicialmente foi
objeto de desejo das classes dominantes, porque era caro e raro. Depois virou remédio,
prescrito para tudo que era tipo de doença. Quando chegou à mesa foi uma festa. Durante
o século XVI a Europa caiu de boca no açúcar. Além das sobremesas, doces finos, maçapão
etc., colocava-se açúcar em tudo que era tipo de prato: sopa, lentilha, peixe, carnes
vermelhas. Colocava-se açúcar no vinho e bebia-se até água com açúcar.
Cristóvão Colombo assim se referiu ao açúcar: o alimento melhor e mais saudável
do mundo ao pedir aos reis de Espanha, em 1494 que enviasse para São Domingos dez
caixas de açúcar e 50 pipas de melaço (Lippmann).
Mas tão logo ficou claro a que veio o açúcar e levantaram-se as vozes da resistência
ao seu avanço, para cada detrator do açúcar havia um defensor , um membro da tropa
de choque.
Talvez isso explique a longevidade da ditadura. Sendo os males do açúcar um
assunto polêmico , tem prevalecido até hoje o in dubio pro reo.
Hoje, apesar de a banda boa da comunidade científica apontar para o açúcar como
sendo o agente responsável pela natureza patogênica da alimentação do homem
contemporâneo, de não passar de um produto químico infiltrado no meio dos alimentos,
de ser um agente agressor do metabolismo humano, de ter inaugurado uma era patológica
na história da humanidade, o açúcar ainda conta com uma aguerrida e qualificada equipe de
defensores, entre os quais médicos, nutricionistas e até químicos. Uma verdadeira tropa de
choque. Nas páginas seguintes tratarei de alguns desses guerreiros.
O nutrólogo da Universidade de Harvard
Considero o doutor Fredrick Stare um representante preeminente da tropa de
choque do açúcar. Em primeiro lugar porque o homem não é pouca coisa: é nada menos
que membro fundador do Departamento de Nutrição da Universidade de Harvard. Em
segundo porque é autor de uma gracinha que entrou para a História. Um conceito
importante a que chegou a resistência à sucro-ditadura foi o de que açúcar não nutre, sendo
apenas caloria vazia. E o doutor Stare se saiu com esta: Não é correto pensar nele como
calorias vazias . Os açúcares são, na verdade, calorias cheias - cheias de energia! ; e
fundamenta: Já que o açúcar raramente é consumido sozinho, torna mais saborosos
muitos alimentos, tais como sorvetes, bolos e biscoitos, que são ricos nos elementos
nutritivos que faltam ao açúcar .77 Nas duas citações, o que percebemos? Na primeira um
cinismo entusiasmado e na segunda o reconhecimento envergonhado de que açúcar é
caloria vazia mesmo, no açúcar não apenas faltam nutrientes, como quer o doutor - eles
estão completamente ausentes.. E o homem ainda tem coragem de socorrer-se de
elementos nutritivos de belas porcarias açucaradas...
William Dufty cita trecho de uma entrevista dele à revista W, versão quinzenal de
Women s Wear Daily, na qual o Dr. Stare diante da crise do petróleo de 1973 propõe aos
americanos uma estranha solução: Devemos cultivar alimentos que requeiram o mínimo
77 Stare,F.J.Gordo ou Magro?. Rio de Janeiro: CM/LTC, 1989, p.54.
possível de terras para a produção de um máximo de energia. Por exemplo, são necessários
0,15 acres de terra para produzir um milhão de calorias de açúcar; são necessários 17 acres
de terra para produzir um milhão de calorias de carne. Calorias são energia e eu
recomendaria que a maioria das pessoas, suavemente, dobrasse seu consumo diário de
açúcar . E depois de manifestar a esperança de que o governo americano aprovasse a
adição de vitaminas ao açúcar, sapecou: Não existe um alimento perfeito, nem mesmo o
leite materno .78
A defesa que o doutor Stare faz do açúcar não pára por aí: segundo ele,
recentemente, o açúcar vem sendo injustamente acusado como culpado de uma série de
distúrbios, inclusive diabetes, hipoglicemia, moléstias cardíacas, cáries dentárias,
incapacidades de aprendizagem, e, claro, obesidade. Conforme comprovadas pesquisas
científicas têm demonstrado constantemente, a única dessas doenças em que o açúcar pode
realmente ser um fator determinante é a cárie dentária . 79
Faltou seriedade a Stare ao falar em pesquisas cientificas sem mencionar as fontes.
Se o açúcar fosse causador apenas de cárie, um verdadeiro flagelo que atinge o grosso da
humanidade, já seria motivo suficiente para se expulsar esse elemento da dieta humana.
Afinal, a saúde não começa pela boca? Cárie não é uma ponte para uma série de doenças?
Mesmo admitindo que o açúcar provoca cárie ele ainda faz uma ressalva, mas a
emenda fica pior que o soneto: Mesmo assim os açúcares pegajosos ou amidos
comidos entre as refeições, e não seguidos da devida limpeza dos dentes, são responsáveis
por ela . Na ressalva, Stare nega o papel do açúcar e põe a culpa das cáries nos açucares
pegajosos ou amidos . Já deu para perceber que o homem apesar de médico não é sério.
Mas a despeito disso não é burro, e adverte, com clara má vontade: No entanto uma
palavra de advertência é devida: quantidades excessivas de açúcar - ou de qualquer outra
substância podem perturbar o processo metabólico de tal modo que influenciem o
aparecimento ou desenvolvimento de certas condições clínicas adversas .
O químico da Universidade de Pittsburgh
Será que alguém poderia, por favor, me explicar por que, quando os componentes
do melado são retirados, a sacarose pura restante de repente passa a ser ruim e danosa à
saúde? Essa pergunta em tom sincero é feita pelo professor de química da Universidade
de Pittsburgh Robert Wolke e está em seu livro O queEinstein disseaoseu cozinheiro a ciência
na cozinha. E acrescenta que a afirmação de que o açúcar refinado faz mal, para ele é um
mistério . É uma afirmação sem sentido .
Se essa pergunta, quase um apelo, fosse feita por um leigo eu acharia natural, mas
vinda de um professor de química de uma universidade americana fiquei tentado a
responder. Vamos à tentativa: o livro do professor Wolke é sobre cozinha. Ninguém se
interessa por cozinha sem gostar de comer. O homem deve ser um gourmet. É difícil você
78 Dufty,W. Op. cit., p. 123.
79 Stare,F.J. Op. cit., p. 53.
achar um gourmet que fale mal de açúcar. E certamente o gourmet falou mais alto do que o
químico.
O miolo da pergunta do professor é por que a sacarose pura passa a ser danosa?
Respondo com outra pergunta. Nós respiramos uma mistura de oxigênio, hidrogênio e
nitrogênio. Alguém poderia, por favor, me explicar por que se alguém ficar respirando
oxigênio puro vai morrer? A sacarose passa a ser danosa exatamente depois de pura;
misturada no caldo de cana ela não faz mal a ninguém. Acho difícil que o professor Wolke
tenha acesso à minha resposta e como respondi-lhe com outra pergunta continuarei com
minha tentativa por outros meios. Como do lado de cá estou euzinho, e do outro um
professor de química da tropa de choque do açúcar, faço como um bom lutador de kravmagá
e ataco no ponto fraco do açúcar, a cárie dentária.
Durante muito tempo houve dúvidas, apesar do óbvio ululante, de que açúcar
produzia cárie. Hoje o processo foi desnudado e está cientificamente estabelecido. É
condição sine qua non para que venha a haver cárie a presença de açúcar refinado.
Infelizmente, professor Wolke, a sacarose contida na cenoura, no ananás ou na maçã não
provoca cárie; só a sacarose pura que restou do processo de refino do caldo de cana depois
que os componentes do melaço foram retirados. A gente não sabe como o professor
reagiria: talvez ele dissesse mas quem produz a cárie não é o açúcar e sim a bactéria
cariogênica . Eu rebateria dizendo que de fato é a bactéria, dona StreptococcusMutans, quem
produz a cárie, acontece que ela só produz cárie com a ajuda da sacarose pura. Ela não
produz cárie nem com a sacarose natural do caldo de cana nem com outros açúcares
(glicose, frutose, lactose). A sacarose pura e refinada é cúmplice do crime de cárie dental. E
agora, professor? Dá para admitir que o açúcar é ruim e danoso para a saúde? Ainda não?
Então vou continuar. A sacarose que o senhor chama de pura na verdade não é 100%
pura e sim apenas 99,5%; tem 0,5% de impurezas, mas como eu jogo duro contra o açúcar
chamo de lixo químico fino. Por exemplo, de acordo com o Inmetro a sacarose tem
0,005% de metais pesados; os outros componentes desse lixinho químico residual o leitor
pode ver no tópico sobre toxicologia do açúcar. As quantidades são muito pequenas, mas
é material tóxico; e as pessoas andam consumindo muito açúcar. O cidadão americano,
por exemplo, consome anualmente 80 quilos de açúcar, logo, ele ingeriu
homeopaticamente ao longo de um ano uma boa dose de veneno.
Finalizando é de estranhar que o homem sendo químico desconheça a reação de
Maillard, os corpos de Amadori, a base de Schiff e os AGEs ou produtos finais de glicação
avançada. A série de reações químicas em cadeia provocadas pelo excesso de glicose no
corpo humano cujo resultado é a glicação degenerativa de proteínas, uma enxurrada de
radicais livres e estresse oxidativo. Se ele desse uma navegada pelo site da Merck veria que
apenas 29 gramas de sacarose pura matam um rato de um quilo de peso. Ele teria que
admitir que pelo menos para a cobaia da Merck a sacarose refinada fez muito mal.
O médico brasileiro
O doutor John Yudkin, médico britânico e autor do livro Sweet and Dangerous, é um
herói da resistência à ditadura do açúcar. Desde os anos 60 do século XX ele vem
denunciando o papel do açúcar como causador de uma série de doenças, entre elas as
doenças cardiovasculares. Segundo ele os portadores de doenças coronarianas são grandes
comedores de açúcar e os que mais morrem desse mal são, justamente, aqueles que mais
comem açúcar. Tudo isso por causa das alterações metabólicas induzidas pelo consumo da
doce droga.
O doutor Flavio Rotman é um médico brasileiro que tomo como exemplo de
membro da tropa de choque do açúcar. Não é nada pessoal, posto que a maioria dos
médicos pensa como ele, mas é que o doutor Flavio gastou tempo, papel e tinta para
defender o açúcar, mesmo admitindo que nenhum estudo de vulto foi levado realmente a
cabo sobre o efeito de uma dieta baixa em sacarose e a incidência de doença coronariana
arterioesclerótica , e nem o contrário: Um estudo prospectivo para explorar a possível
relação entre a ingestão de sacarose e a incidência de infarto . 80
Pedir uma pesquisa séria sobre o efeito de uma dieta isenta de sacarose, no
contexto da ditadura do açúcar, certamente é querer demais.
No livro de sua autoria A prevenção do infarto para jovens o doutor Rotman abriu
espaço para vários estudos que falharam em suportar a hipótese do doutor Yudkin.
Segundo Rotman, desde o nascimento da hipótese de Yudkin, sugerindo a associação
entre consumo de sacarose e doença coronariana, foi reportado por vários pesquisadores,
em vários trabalhos, que, estatisticamente, o consumo de açúcar nos portadores de
coronariopatia não era maior do que nos indivíduos considerados normais . E prossegue:
Em animais também não foi possível induzir arteriosclerose pela ingestão acentuada de
açúcar refinado . E mais: Nenhum efeito, a longo prazo, de uma dieta rica em hidratos
de carbono ou sacarose, na incidência da doença coronariana, foi devidamente
comprovado . E mais ainda: Sabe-se hoje que a relação entre a ingestão de sacarose e a
prevalência de infarto do miocárdio sempre esteve mais ligada às mudanças da ingestão de
gorduras do que à ingestão propriamente dita de sacarose . E finalmente, ainda segundo
Rotman, indivíduos com doença coronariana não demonstram melhora clínica nem
redução na freqüência de novos infartos, quando a sacarose ou outros carboidratos são
basicamente reduzidos, e não existe nenhuma evidência em autópsias para suportar uma
relação entre ingestão de carboidratos e sacarose com o infarto do miocardio (...) Em
populações consumindo grandes quantidades de sacarose, a média de consumo não excede
18% da energia total da alimentação diária, e em bases individuais o consumo de sacarose
nunca conseguiu exceder 30% da energia consumida em um dia , acrescenta.
Não satisfeito em defender a sacarose como um todo, ele sai em defesa até de suas
partes componentes obtidas por hidrólise, a glicose e a frutose. Se realmente a glicose
encontrada na sacarose (açúcar refinado) está implicada na gênese da arteriosclerose, o
amido das frutas, os legumes e cereais devem estar também . E em defesa da frutose:
Sobre o consumo crônico da frutose encontrada na sacarose, o trabalho de Nikkila, na
Finlândia, foi devidamenrte claro ao não demonstrar qualquer efeito sobre a incidência de
infarto .
Agora vejam o mais curioso disso tudo. Ao concluir o capítulo no qual trata desses
assuntos, Rotman diz que mesmo com os fatos acima relacionados somos propensos a
restringir globalmente não só o açúcar refinado como a gordura saturada da dieta de
prevenção do infarto do miocárdio .
Ele defende ainda que o açúcar deve ser abolido (negrito meu) da dieta do obeso
e do diabético. E para as pessoas normais dos povos ocidentalizados, o açúcar e produtos
açucarados não devem ultrapassar 7% das calorias totais nas 24 horas .81
Deu para entender? O homem defende com unhas e dentes a sacarose para depois
propor essa redução drástica do consumo da droga. É menos que a proposta da OMS
Organização Mundial de Saúde, que defende uma redução para 10% das calorias totais
ingeridas. Vejamos o que significam 7% de açúcar por dia. Na famosa dieta de 2.500 Kcal,
80 Rotman, Flávio. A prevenção do infarto para jovens. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 57.
81 Idem, p. 58.
7% equivalem a 175 Kcal de reserva de mercado para os traficantes de açúcar, ou 40 e
poucos gramas de açúcar. Uma Coca-Cola de 600 ml já ultrapassa esse marco pela
quantidade de açúcar que contém.
A verdade é a seguinte, o açúcar faz mal em qualquer quantidade. Hoje o açúcar
tem sido consumido em grande quantidade e está fazendo um grande mal à humanidade. É
só olhar em volta e ver os dentes cariados, as crianças obesas, os hipertensos, os
amputados, os cegos e os impotentes (esses três últimos: gangrena, retinopatia e neuropatia
diabéticas).
Reduzir o consumo de açúcar para 7% ou 10% é apenas querer que o açúcar faça
um pouco menos mal do que está fazendo. Zerar o consumo é melhor.
Os três mosqueteiros australianos
São duas nutrólogas, Jennie Brand-Miller , Kaye Foster-Powel e um diabetólogo,
Stephen Colagiuri. Jennie já publicou 16 livros e 140 artigos em revistas científicas e
atualmente lidera uma equipe de doze pesquisadores interessada em carboidratos; Kaye é
formada e fez pesquisas pela Universidade de Sydney, Austrália; Stephen, também da
mesma universidade, é autor de mais de cem estudos científicos. Todos são especialistas em
índice glicêmico e escreveram o livro A nova revolução da glicose, um inventário de sofismas
que vendeu mais de um milhão de exemplares.
O índice glicêmico pretende calcular o impacto na glicemia (açúcar no sangue)
causado pelos diferentes alimentos. Determinados carboidratos fazem o açúcar do sangue
subir mais que outros. As razões são várias: o teor de carboidrato do alimento, o fato do
cereal ser refinado ou integral, de o grão do cereal estar inteiro ou triturado, de estar mais
ou menos cozido, do tipo de amido (amilose ou amilopectina), do prato de carboidrato
estar ou não acompanhado de gordura ou açúcar, etc.
Dos alimentos que fazem a taxa de açúcar no sangue subir muito diz-se que tem
um IG (índice glicêmico) alto, o contrário é IG baixo. Batata frita, por exemplo, tem um
índice glicêmico mais baixo que o da batata cozida. Essa informação surpreende algumas
pessoas acostumadas com a diabolização da batata frita, mas é que a gordura que impregna
as fritas diminui a velocidade da digestão fazendo com que o açúcar suba mais devagar no
sangue.
A pesquisa do índice glicêmico baseia-se na comparação dos diversos
carboidratos com um alimento de referência. O alimento escolhido como padrão foi a
glicose pura (uma substância isolada quimicamente). Devido aos problemas que a ingestão
de glicose pura causava, outros pesquisadores passaram a usar o pão branco como padrão.
Mas, segundo os três mosqueteiros, terminou prevalecendo a glicose. O índice glicêmico da
glicose foi definido como sendo igual a 100 e todos os alimentos são classificados em uma
tabela de 0 a 100.
Alguns alimentos espantosamente têm índice glicêmico acima de 100. Os três
mosqueteiros não dão detalhes apenas falam em alimentos que contêm amido que são
digeridos na velocidade da luz . Uma perguntinha, por que esse fabuloso amido não foi
escolhido como padrão? São os mistérios da ciência. Outro mistério é o fato de alguns
alimentos como laticínios e porcarias açucaradas chamados por eles de alimentos
apetitosos e densos de energia - apresentarem ao mesmo tempo baixo índice glicêmico e
provocar altas taxas de insulina. Para os três mosqueteiros isso talvez seja um bom
resultado, pois o aumento da insulina contribui para o nível baixo da glicemia . (pp.75-76)
O que é mistério para essa troica de qualificadíssimos nutrólogos australianos não
é para um modesto médico português, o doutor Emílio Peres. Para ele o açúcar engana o
organismo fazendo-o pensar que está diante de uma enorme quantidade de amido e exige
do pâncreas uma produção exagerada e excessiva de insulina . (vide tópico sobre a IDR de
açúcar)
O cálculo do índice glicêmico dos carboidratos não seria apenas uma curiosidade
científica? Um corpo novo e curioso de conhecimentos poderia ser criado ao se classificar
os alimentos quanto à reação provocada na quantidade de insulina no sangue e medir o
índice insulinogênico; ou quanto à reação nos sucos gástricos, para ajudar quem sofre de
azia a elaborar uma dieta. E até o índice cocogênico para classificar os alimentos quanto ao
potencial de gerar fezes. Isso iria ajudar os que sofrem de prisão de ventre.
Para os três mosqueteiros o açúcar tem um problema de imagem . Não à toa o
livro A nova revolução da glicose é uma verdadeira peça de propaganda de açúcar (médicos no
papel de marqueteiros). Logo no começo eles se propõem a derrubar alguns mitos , entre
esses mitos (para mim, verdades): a) Açúcar é um veneno para diabéticos; b) Açúcar
causa diabetes; c) Açúcar engorda; d) Dietas ricas em açúcar são menos nutritivas . No
meio do livro e no fim têm seções de perguntas e respostas, várias delas sobre açúcar.
E o açúcar é defendido com argumentos que são um primor: O açúcar não tem
propriedades engordativas especiais (p.16). Ora, como ninguém come açúcar puro, açúcar
é exatamente isso propriedade obesificante em pó que as pessoas adicionam aos
alimentos. E se fosse só isso seria ótimo, é também propriedade cariogênica,
insulinogênica, e outras patogenias.
Outro primor: Estudos mostram que dietas ricas em açúcares (provenientes de
diversos alimentos, entre eles laticínios e frutas), geralmente têm níveis mais altos de
micronutrientes como cálcio, riboflavina e vitamina C do que dietas pobres em açúcar .
Entenderam? Eles estão dizendo algo parecido com: ponha açúcar no seu ovo que essa
beleza açucarada é um alimento riquíssimo e começam a citar os nutrientes... do ovo!
Conspícuos membros da tropa de choque os três mosqueteiros em seu livro são
pródigos na propaganda do açúcar. Chegam ao ponto de prescrever o consumo de açúcar.
Nosso conselho é utilizar o açúcar como meio de aumentar a palatabilidade de alimentos
nutritivos (como o açúcar mascavo no mingau, o mel nos cereais ou a geléia no pão) . Não
entendi, falam de açúcar e põem a mãe natureza no meio (o mel). A verdade é o contrário
disso aí, o açúcar é usado para conferir palatabilidade a belas porcarias que sem ele seriam
intragáveis.
Para eles é normal um adulto consumir entre 50 e 60g de açúcar (200 ou 240 Kcal)
por dia. E crianças entre 30 e 50 gramas (120 ou 200 Kcal) por dia. Sendo essas
quantidades consideradas por eles um patamar moderado . Para avaliarmos o tamanho
desse absurdo o Dr. Flávio Rotman, insuspeito porque membro da tropa de choque,
recomenda para adultos apenas no máximo 7% das calorias totais em 24 horas. E
quando eles falam em açúcar, com certeza estão pensando apenas no açucareiro. Ninguém
sabe o teor de açúcar, por exemplo, do presunto; o qual se encontra, além de camuflado,
abafado por outro sabor forte que é o sal.
Segundo os três mosqueteiros os problemas de imagem do açúcar devem-se a
pesquisas com ratos que utilizaram quantidades incríveis de açúcar puro . Pura mentira.
Quem criou problemas de imagem para os adoçantes, foram pesquisas utilizando
quantidades incríveis de adoçante por longos períodos, resultando em câncer nos
bichinhos. As pesquisas sobre o açúcar são feitas por gente séria e ignorada pela mídia. A
dose de açúcar para matar (não apenas provocar câncer) um rato de um quilo de peso (um
legítimo gabiru) é de apenas 29,7 gramas. Isto está registrado no site da Merck ( já vimos
isso no tópico sobre toxicologia do açúcar). O Dr. Bart Hoebel, da Universidade de
Princeton (também como já vimos no capítulo Pegando pesado), provou que açúcar causa
dependência usando soluções açucaradas com apenas 25% de sacarose. E isso não é nada.
O mais triste é o problema de imagem que o açúcar está a infligir ao ser humano como um
todo, deformando-lhe a silhueta com a obesidade mórbida, e o sorriso com a destruição
dos seus dentes.
Concluindo eu diria que a teoria do índice glicêmico não deixa de ter sua
utilidade, você saber que o espaguete provoca um aumento de açúcar no sangue menor que
o arroz, e conhecer todos os fatores que influem no impacto glicêmico constitui um avanço
da ciência da nutrição. Mas aproveitar isso para promover o açúcar é baixaria, é
irresponsabilidade, é desonestidade intelectual. Ou então é ciência sob medida

encomendada pelos traficantes de açúcar.

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